
No princípio existiam o Caos e a Noite, o negro Érebo e o profundo Tártaro; mas não havia a Terra nem o Ar nem o Céu. E a Noite nos infinitos recessos de Érebo gera o primeiro entre todos, o Ovo de negras asas; e deste ovo, fecundado pelos ventos, nasce no devido tempo Eros, o deus cobiçado, de dorso resplandecente e asas de ouro, semelhante aos torvelinhos rápidos como o vento.
Assim começou Aristófanes a falar dos primeiros seres divinos, baseado na antiga teogonia órfica. Eu digo de outra maneira, claro, que sei eu? Mas estou igualmente fascinada por aquele amanhecer tão nocturno.
Digo: a luz nasce do nada naquele ninho que se enche dela por magia. Que transborda. Não tem ainda cor, nada cintila. É estranho o tom da luz que irradia.
Os pássaros pesados e negros rondam ameaçadores, por quê?, houve antes festim, quando a luz não era nem esboço. Ainda nada cintila, é verdade, mas já ouço a música de Emanuel Nunes enquanto observo, como se uma orquestra tocasse sem sons visíveis, apenas dentro de mim. É o tom da música que dá aquela espécie de cor a mudar de cor.
Do festim nocturno vai finalmente sair a luz. Da negra noite, vem o dia que há-de ser brilhante.
(Imagem gentilmente oferecida por Marcolino Osório)
(Aconselho-os a vê-la o mais ampliada possível)