Há talvez dez anos, conversei com um casal extraordinariamente interessante que me pediu para escrever a entrevista que eu lhes faria e que seria publicada algures com determinado objectivo. Tanto quanto me recordo, nada chegou a ser divulgado. Acontece que encontrei o rascunho desse trabalho; retomo-o agora, mesmo sem saber o que aconteceu ao propósito em que tão apaixonadamente se empenhavam.
Ele, Legrais, cidadão francês, ela, oriental, Yen Bay, tinham um projecto europeu de negócio com uma base muito concreta mas certamente difícil de realizar por pessoas tão sonhadoras e entusiastas por um programa que seria de re)conciliação, alguma coisa de que muito se falou na circunstância.
"Considerando que o mundo dos negócios se constrói fora de Portugal, sentindo os industriais portugueses o perigo de exclusão, tentam realizar alguma coisa eficaz. Algo que nivelará as diferenças entre o Norte e o Sul da Europa..."
Confesso que ignoro o que aconteceu aos industriais portugueses neste campo, não sei se existe o Triângulo Textil Europeu, mas o que ainda me fascina é a forma como Legrais falou da missão dos Portugueses no mundo: era sobre este tema que ele derramava a sua paixão.
‘Ao Apóstolo S. Tiago tinha sido confiada a Península Ibérica como lugar de pregação da mensagem cristã; depois da sua morte, o túmulo tornou-se objecto de veneração e a Galiza centro de peregrinação de crentes de todo o mundo. Mas a Mensagem permaneceu por demasiado tempo cristalizada em Compostela; era necessário espalhá-la de novo.
Foi essa missão que coube aos Portugueses que deviam, antes de mais, existir como povo independente. De facto, o mesmo sentido de humanismo social, o mesmo intercâmbio de culturas que se realizou durante séculos em Compostela orientou a Viagem dos Portugueses – a sua peregrinação pelo Mundo’.
Mais ou menos assim, Legrais falou da missão dos Portugueses e de Portugal como o novo povo escolhido por Deus, a quem ama acima de todos os outros e a quem confiou a missão de perpetuar o Verbo. Certamente em termos muito mais poéticos.
Haveria momentos na história de Portugal envoltos em mistério em que pode ter havido intenções e votos secretos, recomendações, indicações, vontades, altos desígnios: o momento da formação do reino e o das grandes descobertas dos séculos XV e XVI foram alguns citados.
(Voltarei a falar deste projecto e da missão dos portugueses no mundo)