Na Casa de Serralves, que foi residência do segundo conde de Vizela, assisti ontem à inauguração da exposição de Ruhlmann, mestre da art-déco francesa.
Ruhlmann nasceu em 1879 em França numa família de artesãos com quem aprendeu o ofício de operário pintor. A sua ambição era ser artista pintor, mas acabou por remodelar a empresa familiar orientando-a para trabalhos de decoração. Abriu um atelier de desenhadores para a criação de têxteis, papéis e tapetes. Mais tarde, interessou-se por móveis que a princípio mandou executar nos excelentes marceneiros da sua cidade. Participou em exposições importantes nacionais e internacionais.
Quando o Conde de Vizela, “um homem do mundo e grande viajante”, quis remodelar a sua propriedade no Porto para vir aqui morar, visitou em Paris a Exposição Internacional de Artes Decorativas e foi seduzido pelo mobiliário de Ruhlmann a quem encomendou peças sofisticadas, elegantes e modernas para decorar a casa projectada por Marques da Silva.
O interessante é que se desenvolveu uma relação intensa entre os dois. O proprietário dirigiu e controlou as obras até ao mais pequeno detalhe, encomendou aos melhores artistas e mandou construir uma nova casa e os jardins que a circundam com grande entusiasmo e saber. Pode afirmar-se que Marques da Silva foi o seu intérprete e “coordenador de todas as opções” da construção.
Toda esta extraordinária obra artística foi alguns anos depois vendida ao industrial Delfim Ferreira, conde de Riba d'Ave e a ele, mais tarde, adquirida pelo Estado português. Com muitos apoios e ajudas de empresas particulares faz, no presente, as nossas delícias de portuenses sempre queixosos de falta de espaços atraentes, convidativos para meditar na oportunidade de iniciativas desafiantes como a do Conde de Vizela.
Enfim para compreender a sua “certa maneira de estar no mundo” e, do mesmo modo, o que pode ser chamado “o espírito do lugar”.