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arrumadores e negligências

por Zilda Cardoso, em 30.04.09

Eu era feliz nas ruas desta cidade. Sem arrumadores.

Durante alguns anos, o lugar foi muito melhor para viver que qualquer outro. ELES estavam a ser bem tratados noutro lado e as ruas eram primorosas. Circulava-se e estacionava-se livremente.

Acontece que, agora e não sei por quanto tempo, as mesmas ruas estão cheias de mandões: arrume aqui! Ponha acolá! Faça marcha atrás! Mais para a direita! Mais para a esquerda!

Eu fico a fumegar.

Detesto-os, não por outra razão, mas porque não gosto de ser mandada, sem mais. São repressivos, o que não é de admitir depois de todo o trabalho que tiveram os capitães simpáticos de Abril para nos libertar de espartilhos e de normas.

Apetece-me fazer tudo ao contrário, porque está em jogo, não a vida, mas a minha liberdade.

É certo que às vezes me corre mal. Como há dias. O meu carro estava estacionado, enviesado de frente para o passeio. E, ao meu lado, o da direita, só havia uma árvore acanhada de permeio, estacionado perfeitamente a direito, perpendicular ao passeio. Ao fazer marcha atrás para sair, raspei com o meu o outro carro que era grande, novo, negro e brilhante, e ficou tocado de pó branco numa extensão de um palmo.

 

 

 

Não houve qualquer ruído, apenas uma leve raspadela, um "deslizado silêncio", como diria Sophia.

O suficiente para que o caso me seja custoso, muito custoso ou caro, como é costume: não posso acreditar na realidade dos preços das oficinas de reparação de automóveis. São sempre inconvenientes e desproporcionados, mas que faço?

Da vez próxima (!), vou lembrar-me, não apenas de ter mais cuidado com direcções oblíquas como a da chuva e com rectas, diagonais e perpendiculares de modo que as tangentes não aconteçam, mas de dar valor aos arrumadores.

Afinal sempre podem realizar um trabalho útil, se quiserem.

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publicado às 12:29


5 comentários

De Augusto Küttner de Magalhães a 30.04.2009 às 17:26

Mais um vivido post, tão bem contado, de resto como sempre, cheio de realidades incontornáveis e difíceis de superar. De facto o que fazer a tanto arrumador? Não sei!!!! Quanto a estacionamento, continuamos a ver também e ainda , condutores sem um mínimo de respeito pelos peões e pelos outros condutores. Refiro-me aos estacionamentos usuais em cima das passadeiras, se vamos como peão, é confuso porque o condutor de algum veiculo em movimento, pode não se aperceber que “aquilo” é uma passadeira, se vamos como condutores, podemos não nos aperceber da tal passadeira, dado estar ali indevidamente um carro parado. O tal civismo, que já “era”.

De Augusto Küttner de Magalhães a 30.04.2009 às 17:55

Estas “coisas” fazem-nos pensar nesta sociedade cada vez mais individualistas em que estamos instalados. Cada um olha por si, e os outros, bem os outros, são os outros!eu ainda com o meu ombro escangalhado, estou com alguma dificuldade em guiar, principalmente em fazer manobras, por que me dói. Assim tenho duas opções ou ando a pé, e se com tempo vou a todo o lado sempre a pé, ou quando a minha mulher tem disponibilidade, guia-me, e em último recurso vou guiando, se bem que por dor ou estupidez, já raspei em duas manobras o pára-choques de trás do carro, o que vale foi de raspão em garagens…mal do carro, foi pouquinho, vai ficar assim….. Mas realmente estamos com uma tão grande falta de civismo, que todo um bocadinho dia a dia, temos que dar para esse peditório. Tenho feito umas pequenas reclamações, ainda não no livro de reclamações no local onde faço fisioterapia em função de situações que acho desumanas relativamente a Pessoas que ali vão por necessidade de querer recuperar o que perderem, e vejo tanto egoísmo. A propósito: Ontem assisti a uma Conferencia com o Prof. Daniel Serrão – brilhante, excelente para a sua idade – e embora não concorde totalmente com alguns princípios que defende, ontem fez-nos aprender, aquilo que se sabe cada vez mais sobre o nosso cérebro. Tenho lido umas coisas do nosso António Damásio, mas efectivamente ali ao vivo o Prof. Daniel Serrão a propósito de recuperações de avc´s, que vejo lá na fisioterapia, quando estou a ver se mexo o ombro, disse que está tudo no cérebro e quem tiver um avc tem que ter força para dar ordens ao cérebro para ele fazer mexer a mão, a perna!!! Estas pequenas coisas são muito para quem quer recuperar o que perdeu. E muitos perdem saúde, e querem recuperá-las, muitos perdemos civismo, respeito por Valores e queremos recuperá-los….

De Marcolino Duarte Osorio a 01.05.2009 às 12:04

Olá, Zilda!

Um belissimo 1º de Maio!

Aqui, por Lisboa, o Rei Sol está soberbo, e a temperatura convidativa para dar um pequeno passeio à beira rio, já que das multidões me resgurdo bastante.

Arrumadores de automóveis...

Já em 1968 eles existiam. Era eu solteiro. Quando me deslocava à Feira Popular de Lisboa, quase que diáriamente, onde ía jantar um petisco, lá estava a miudagem e alguns adolescentes a indicar-me um lugar ainda vago. Dava-les uma moedinha de Cinco Tostões. Além do lugar aparecido como por milagre, ainda tomavam conta do meu Mini Cooper.

Eles sabiam onde eu estava sempre. Por vezes insinuavam-se, e lá lhes dava de comer uma bifana no pão. Fazia-o porque sabia de cor e salteado os seus dramas de vida: Filhos de prostitutas e de pais ausentes...

Devido ao aumento da Tóxico Depêndencia e do alcoolismo, quase que se entrou pela profissionalização de Arrumador de Carros e outros estratagemas para se obter dinheiro. Olhe que não é assim tão fácil. É uma questão de nos imaginarmos a esmolar ou por necessidade ou por estratagema.

Por outro lado, disputam-se parques de estacionamento. Dentro dos próprios parques, há fronteiras, estabelecidas pelos grupos, cujos membros se revezam, para obter o pecúlio necessário e sufuciente para adquirir a droga, e o alcool.

Locais há, em que alguns elementos, conhecedores dos gostos dos seus «clientes», se oferecem para arranjar uma «miúda» ou mesmo indicar certos locais onde se exerce a prostituição juvenil, para não falar noutro género bem mais aberrante.

Corporativisvo..., é o que se tem que saber vencer, para se entrar no Mundo dos Arrumadores, no Mundo dos «Ceguinhos» pedintes nos transportes públicos, ou dos Caça Esmolas, com e sem crianças ao colo, muitas delas alugadas ou pedidas emprestadas..., para fazer de conta que se passam dificuldades de monta, é perigoso, não vá o novo elemento, por mais andrajoso que se apresente, roubar-lhes uma série de mpedinhas que vai arrecadando porque é mais um a fazer-lhes concorrência.

Depois há ainda os falsos Ceguinhos. Passam os dias de mão estendida, arrecadando moedinha a moedinha, vindas das boas almas dos transeuntes.

Neste caso, uma grande Amiga minha, contou-me que diáriamente passava por cego, postado numa dada rua, a caminha do seu trabalho. Cumprimentavam-se. Um dia vestiu-se de preto, por qualquer razão, menos a de luto profundo. Ao passar pelo Falso Cego, e depois dos cumprimentos trocados, e donativo entregue, ele inquiriu-a se lhe tinha falecido algum familiar.

Surpreendida, quase estarrecida, não gritou de raiva porque ele, convincente, a acalmou, pedindo-lhe por tudo para não lhe estragar aquele «Ganha Pão», já que, emprego, nunca tinha conseguido arranjar, e este trabalho, sempre lhe ía dando para ajudar no sustento da casa.

Pois é, estimada Amiga, o mundo à nossa volta, por vezes, quando olhamos apenas para os nossos interêsses, assemelha-se ao sistema Planetário...

A maioria das pessoas «olha» com desdém e com uma certa agressividade, estes Arrumadores e os restantes estrategas da pedinchice. Mas eles têm os seus Códigos de Ética, de Honra e de Solidariedade, tal como os restantes seres humanos, mas com códigos bem diferentes, adaptados à sua maneira de estar na Vida...

Inverosímil? É uma questão de se estar atento, e saber falar, com esses seres humanos, apardados de nós, só Deus sabe os seus motivos. Digo, saber falar, porque quando alguém deseja saber algo, das nossas vidas privadas, fechamo-nos às suas perguntas.

Um bom fim de semana!

De mariah a 05.05.2009 às 09:09

o seu blog tem reflexões muito interessantes.
Voltarei.


De Zilda Cardoso a 05.05.2009 às 20:16

Muito obrigada. Será sempre bem-vinda, Mariah.

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