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Os maldispostos têm razão

por Zilda Cardoso, em 30.01.09

Estou muitas vezes de acordo com os maldispostos, como Vasco Pulido Valente. Se ele algum dia enunciar as boas perspectivas de alguma coisa ir correr bem; se algum dia se mostrar feliz consigo e com o mundo, sorridente e aguardando… inclinado a esperar o melhor no melhor dos mundos… atenção algo estará errado nele e no mundo. Ou a esperança mudou de sentido ou simplesmente de significado.

Até há pouco tempo, um dicionário era para a vida, para muitas gerações de vidas, para sempre. Actualmente, as palavras mudam a cada passo de significado. Por isso, antes de construirmos e de pronunciarmos qualquer frase num simples diálogo, temos que explicar que diabo de significado atribuímos a cada uma das palavras que pensamos usar. De outra forma, não nos entenderemos, como é bom de ver. 

Pode ser esta uma das razões porque andamos para aqui todos a flanar e a blá blá, blá blá, blá blá-nar sem que alguma coisa seja dita. Alguma coisa que se entenda. Mas o que diz e escreve Vasco Pulido Valente, toda a gente sabe sobre o que é, e entende.

É fácil, nos tempos que correm, estar de acordo com ele. E eu estou muitas, muitas vezes. Como hoje.

No Público, escreve: …”tenho uma aversão a ‘escândalos’ sejam de que espécie forem e uma incapacidade nata para os perceber. A história do tio, do primo, do licenciamento, do prazo, do e.mail”……… “do processo e por aí fora é, para mim, puro mistério e um objecto de absoluto desinteresse. Não porque não me interesse saber”…, “mas porque desde o princípio me perdi no meio da embrulhada”.

“O cidadão comum que partilha com orgulho a minha indiferença e opacidade, vai fatalmente concluir que houve ali enredo. Tanto mais que a polícia inglesa – por definição acima da intriga indígena –“ (Será? pergunto eu) “se meteu no assunto e chegou ao excesso de investigar o próprio primeiro-ministro”.


Estou muito de acordo com ele. E pergunto também o que significa isto:  a polícia inglesa!? Então há uma “conspiração”? Contra os ingleses? Ou não há nenhuma conspiração? Ou não é contra os ingleses? E que sabem eles de “poderes ocultos” e de “campanha negra”?

Teremos de ser nós, cidadãos comuns, a deslindar o caso, nenhum serviço secreto chegará alguma vez a atingir... Não poderia explicar-nos. E não explica, tudo é enredado e encalacrado, não explicado.

Continuarão estas palavras e as outras que vemos e ouvimos repetidas em cada jornal, em todos os meios de comunicação, a ter o significado que lhes é atribuído no dicionário ainda em uso, ou noutro já aprovado mas ainda em não-uso? Ou tudo isso passou à história e o que acontece não é nada do que julgamos estar a acontecer ou ter acontecido?

O dicionário usado nos nossos dias não é o que conhecemos e desfolhamos desde sempre, não é nenhum dos que reconhecemos. E os acordos não são para cumprir, por isso, nem sequer são precisos dicionários.

Não são precisos dicionários nem significados preconcebidos, previstos, premeditados. Os significados têm que inventar-se à medida que vamos precisando deles. Por isso, V.P.V. e todos nós nos perdemos na embrulhada. É que não estamos habituados a usar assim tanto a imaginação. E ponto final.

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publicado às 14:55


11 comentários

De VIGUILHERME a 31.01.2009 às 14:15

Neste momento é tudo e todos muito ........criativos,ficcionistas ,ou hiperrealistas.....estou de acordo com esta rede toda embrulhada ,e cheia de nós,mas os tempos predispõem a isso ,a velocidade é supersónica o pensamento e a escrita a maior parte das vezes não a acompanha ,logo,curto -circuitos na informação e na sua análise,como no seu tratamento e ....todos querem dar notícias ,fazer notícias ,escrever,denunciar,divulgar ,boatar,.......as redes de comunicação são mais velozes que aviões t.g.v....que o som ,que quase o pensamento (este ainda para já é do própio e com sua gestão em bytes mas tenho receio que um dia ainda possa ser invadido pelas novas tecnologias e seja necessario pagar para pensar -pela situação ser rara --)por isso adaptar-se a estas novas tecnologias é de dificil aprendizagem e deve ter muitos erros e desajustes de linguagem para se atingir o equilibrio e a harmonia ou para passar deste caos/big,bang ,de inovações tecnologicas e de informações para um novo paradigma /ou nova realidade .......quanto tempo demorou a passagem do seculo xix para o xx e como se adaptou as pessoas á nova tecnologai da industrialização ?da bomba atómica?mas agora é uma guerra estranha e desconhecida pala velocidade imprimida e pelas novas redes de comunicação /construção /e /destruição ....vou confessar -vos que escrevo com reticências para dar oportunidade das pessoas poderem por vezes preencher os espaços pois meu pensamento é lento e necessita de tempo para "levedar" .......e ....escrever .....e ....com as novas tecnólogias nunca se sabe onde se vai parar ......mas a NATUREZA ainda nos ensina a desacelarar e a manter ritmos de pousio para poder semear e frutificar......espero que o Homem seja sabio e reconheça os verdadeiros valores desta Terra.......

De Zilda Cardoso a 03.02.2009 às 16:06

Seguindo o seu exemplo, seremos todos sábios. Ainda bem que existem as novas tecnologias que, como foram inventadas pelo homem e não por um Satanás, são muito proveitosas. Confio nelas e acho que em todas as épocas, desde que se conhece a existência do Homem, houve novas tecnologias que o fizeram progredir e viver melhor. Provavelmente em cada "tempo", em cada ruptura houve essa confusão que fez dela única. É a tal época de crise que nunca deixará de ser enquanto viver um só homem: ele estará sempre em conflito consigo mesmo.

De VIGUILHERME a 03.02.2009 às 17:23

Respondi a seu comentário,pelo link ,mas vou repeti-lo aqui:(não sei se sera mesmo igual ,não a gravei)

Não me terei expressado bem ,sou a favor das novas tecnólogias ,elas nos ajudam a melhorar a nosa qualidade de vida,assim as saibamos utilzar bem e a bem de um mundo cada vez melhor e mais sabio....mas ....há um tempo de aprendizagem e de saber estar com elas e de as utilizar....e cada um tem o seu tempo próprio,....mas ha´esse tempo de ajuste,de período de transição,...de passagem, onde a crise,/ conflito tera de ser sabiamente resolvido ,sem excluir o saber antigo mas reajusta-lo com o novo de modo a encontrar-se um novo equilibrio..e...o tempo é sempre bom conselheiro .....

De Zilda Cardoso a 03.02.2009 às 18:57

Estou de acordo consigo. Apenas quis repetir que "todas as épocas são de crise", de confusão, de conflito etc. E que o falar em novas tecnologias me trouxe a ideia de que possivelmente não há tal coisa. A insistência com que se fala em NOVAS tecnologias leva-me a pensar um pouco mais profundamente no significado da coisa. Não há nada novo: tanto faz que estejamos a ler Platão como Eça de Queiroz damo-nos conta de que, a nível de sentimentos e de emoções e de procedimentos, é tudo velhíssimo. E a nível técnico... há com certeza algo diferente em cada época, mas a reacção à novidade é a mesma, o impacto, a grandeza do benefício em relação ao que havia imediatamente antes é idêntica. É por isso que o falar em novas seja-o-que-for, sejam máquinas medonhas que nos hão-de devorar apesar de criadas por nós... não colhe comigo.
Agradeço os s/ comentários são sempre muito bem-vindos. VIGUILHERME tem montes de ideias interessantes que gostaríamos todos de conhecer.

De Augusto Küttner de Magalhães a 03.02.2009 às 22:30

Sem dúvida, se for tudo normal, ficaremos todos robotizados, e talvez seja tudo uma grande maçada, há a necesidade de haver bom senso, e talvez seja isso que está a faltar, mas tantas vezes na História isto já conteceu. Onde houver homem, há bom, e há mau...

De Augusto Küttner de Magalhães a 03.02.2009 às 14:44

Totalmente em acordo! Mas gosto mais de ler o VPV do que de o ouvir, mas sempre que o leio estou de acordo!

De Augusto Küttner de Magalhães a 03.02.2009 às 17:44

Leia-se no Expresso ultimo, o Miguel Sousa Tavares, que também é um pouco mal-disposto, e que até se pega com o VPV, e veja-se se ele não tem razão no que ali escreve!

De Zilda Cardoso a 03.02.2009 às 18:59

Augusto Magalhães... não quer resumir para nós o que o Expresso traz de Miguel Sousa Tavares, que, sim, é outro mal-disposto. São todos muito inteligentes estes mal-dispostos!

De Augusto Küttner de Magalhães a 03.02.2009 às 20:08

Deixo aqui, só uns extractos da crónica do Miguel Sousa Tavares no Expresso de 31 de Janeiro, referindo duas minhas opiniões: por vezes MST escreve com demasiada previsibilidade e ao lermos o titulo e o primeiro paragafo já sabemos ou adivinhamos o fim, outras vezes é excessivamente arrogante e senhor de suas ideias, que se torna maçador, mas aqui, acho que com todas estas carateristicas, passa uma mensagem `histeria colectiva que não é só de bastantes jornalistas:

“É possível que Portugal se torne ingovernável e que deixe de reunir condições para existir. Enquanto país independente “-----“...não há presentemente, substituto para governar Portugal e, assim sendo, a execução em lume brando de José Sócrates é a pior possivel para 2009”-----“Ninguem pode exigir a José Sócrates, ao contrario do que alguns histéricos jornalistas acham, que inverta o onús da prova criminal. Mas o ónus de provar a boa-fé política com que agiu, essa, cabe-lhe por inteiro. E disso depende o futuro próximo.jornalistas “
Em tempos o filosofo José Gil, escreveu um livro muito interessante porque real, com o titulo Portugal: Medo de Existir, o titulo diz tudo. Em 2008 houve um ciclo muito interessante de Conferências às 5ªs feiras, com variadas personalidades de renome e interesse neste país, as conferencias ou o ciclo chamavasse Portugal: Sim ou não?
E claro que todos os intervenientes diziam que a resposta era sempre SIM, mas quando os ouvíamos parecia que a resposta seria NÃO ou no minimo NIM!!!!!!!!!... a ultima conferencia foi com Eduardo Lourenço e José Gil, e ficámos quase todos os presentes depois dos ouvir no NIM, a fugir para o NÃO. Isto vem aqui a propósito do MST, referir aquilo que muitos tantas vezes pensamos: É possível que Portugal se torne ingovernável e que deixe de reunir condições para existir. Enquanto país independente “--

De Primavera a 16.02.2009 às 13:10

Tantas vezes que me chamam mal disposta....
E? Do I bother?!! No :)

De Cabecilha a 16.02.2009 às 13:12

pois a mim põe-me mal disposto a tendência pos portugas de se depreciarem face aos estrangeiros e pelos vistos a começar pelos intelectuais mal dispostos... se a polícia inglesa está acima da intriga indígena é estúpido de dizer porque já houve muitos motivos para virem cá cheirar e no país deles também têm comportamentos bem intriguistas... os ingleses queridos ainda há dias protestavam por haver portugueses lá a trabalhar... vão mas é para aquela parte... e tratem da rainha...

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