Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Os problemas da arquitectura

por Zilda Cardoso, em 13.01.09

 

 

A fotografia da casa que eu não pedi licença para reproduzir aqui, espero que António Mateus que a apresenta no seu blogue  Selva Urbana não se zangue comigo, representa a coisa mais bonita que eu tenho visto em matéria de casas e lugares de paz e serenidade.

É uma beleza: harmoniosa, bem proporcionada, bem desenhada, optimamente construída...

Gostava de estar lá neste momento, talvez um pouco mais cedo, quando o sol brilhava, e depois quando aqui o horizonte todo em tons de vermelho e laranja, claramente avisava que ele se preparava para adormecer. Eu penetraria na casa como se se tratasse de um lugar secreto, misterioso, sagrado.

Como seria o lá dentro? Mágico, só podia.

A luz? Há pequenos pontos de luz na entrada, suspensos no ar como estrelas a indicar um caminho. Pararam ali, àquela porta, ela própria colocada num ponto extraordinário da fachada que me parece um elemento arquitectónico independente.

A casa é uma construção de pedra de esquisitos muros, com um telhado de duas águas sobreposto, ou de uma água de um lado e de água e meia do outro lado. É do lado da uma-água que está a porta. E o telhado não é rectilíneo mas côncavo.

A disposição das pedras de diferentes formas e volumes, sobrepostas aparentemente at random na fachada evoca um passado pré-histórico. Não há sensação de peso mas também não há simetria nem perfeição técnica. Ou antes há uma perfeição que não é a que conhecemos. Há suavidade e há genuinidade.

Além desse mínimo edifício, adivinha-se um conjunto de outros colocados aqui e ali, telhados a espreitar, sem dúvida para dar solução a problemas e necessidades práticas.

Foi a extrema subtileza do valor estético do conjunto que me fascinou. Porém, a casa central semelhante a um templo (lembrei-me da famosa Igreja de Ronchamp, de Corbusier, mas não…) e possivelmente construída sobre ruínas de outros templos mais antigos… entusiasmou-me para a pesquisa.

Seria de procurar ali vestígios arqueológicos? Inscrições na pedra? Gravuras, túmulos e altares? Um novo cromlech?

 

Por um momento, tinha pensado que estivesse incorporada na paisagem num lugar geográfico definido, mas não é isso, não é nada disso. A casa não nasceu com a paisagem, foi projectada, desenhada na colina verdejante com o que a circunda pelo mesmo arquitecto: o longe, o céu, os montes e os vales, as árvores e os matizes de tudo.

 

Helena Matta 2006, diz a foto, mas não explica se é lugar sagrado.

 

Ou profano? Vamos lá ver: quereria algum dos nossos banqueiros viver lá? Ou dos nossos políticos? Ou dos nossos treinadores de futebol? Ou das super-vedetas desse desporto?


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:05


13 comentários

De Augusto Küttner de Magalhães a 14.01.2009 às 11:58

De momento depois de ter gostado imenso da forma como nos descreve todo este "lindo" espaço, pareceu que durante momentos por lá andámos, fico-me pela sua pergunta, tão adequada ao "momentum":
- vamos lá ver? quereria algum dos nossos banqueiros viver lá?ou dos nossos treinadores de futebol? ou das super-vedetas desse futebol?
Posso responder à ultima? Não! dado que um Ferrari - automóvel que acho fantastico para ser visto à distância e não ser destruído num qualquer tunel no UK - não se daria bem naquele ambiente!!!!

De Zilda Cardoso a 15.01.2009 às 11:09

Pois não, Augusto Magalhães! Não que sejam monstros, mas são sensíveis a outros problemas, interessam-se por outras coisas. E encontram apoio.

De Augusto Küttner de Magalhães a 15.01.2009 às 14:36

Zilda Cardoso, vou discordar, desta vez. Monstros não são evidentemente! Sensíveis a outros problemas é que não concordo, penso que aqui/ali não há qualquer sensibilidade, haverá e já é muito!!! interesse por outras "coisas".
Sendo evidente que não podemos, nem devemos ser todos iguais, seria uma maçada, MAS por vezes certos assuntos deveriam a "todos" sensibilizar!!! Quanto áqueles encontrarem apoio, sem dúvida, haja ou não crise!!!!Se não tivessem apoio(s) talvez outras "coisas" melhor estivessem!!!

De Cabecilha a 14.01.2009 às 18:49

esta casa é para viver de fora a olhar para ela... é então que realiza a sua função, do mesmo modo que algumas obras do Siza são para ver de dentro a olhar para fora!

De Zilda Cardoso a 15.01.2009 às 11:11

Concordas com a ideia de obra de arte para esta casa?!

De Augusto Küttner de Magalhães a 15.01.2009 às 14:42

Good question????

De Augusto Küttner de Magalhães a 15.01.2009 às 14:41

Não percebi, o ver de dentro a olhar para fora do Siza! Talvez dizendo que são espaços bonitos, mas onde não se vive....., não se está bem lá dentro, pelo que se olha para ...fora! Se é esta a perspectiva, 100% de acordo!! Está-se muito bem em Serralves - gosto imenso de Serralves! - se for rápido, se demorarmos, notamos situações qe não são feitas para pessoas lá estarem....nem uma pequena rampa de acesso a cadeiras de dificientes tem na entrada!!!! A biblioteca, não é bem ...é uma mistura com o Museu!!!! O Auditório é muito bonito, muito amplo, mas de dificiculdade acrescida descer as escadas....mas gosto de Serralves!!

De A.Kayrox a 14.01.2009 às 21:07

Ainda bem que sempre encontrou ! É linda sim Senhora . Porém ainda admiro mais como a Zilda é capaz de produzir um texto como esse a propósito dessa casa ou dessa fotografia !
Ainda gostava de desafiar um dos famosos arquitetos da nossa praça para ver o que saía ! Que diriam ?
A.Kayrox

De Zilda Cardoso a 14.01.2009 às 21:48

Muito obrigada pelo seu comentário. Os n/ arquitectos diriam coisas muito mais interessantes, mas decerto se interrogariam sobre os conhecimentos técnicos extraordinários de quem soube construir um muro como aquele. Já reparou nas diferenças de tamanho e de formas das pedras? E na maneira como estão colocadas? Como se equilibra o muro, os muros que sustentam o telhado aparentemente todo desequilibrado? Provavelmente há um século desafiando tempo e tempestades? Considero esta casa uma obra de arte, uma belíssima obra, e o seu autor um grande artista.

De Augusto Küttner de Magalhães a 15.01.2009 às 14:43

Excelente!

De VIGUILHERME a 15.01.2009 às 08:29

Viajei através desta maquina do tempo e do espaço e dei no seu blogue com a esta casa /espaço/registo....rural,primeva,solida e frágil,que desafia o tempo,e se sobrepõe mas colando-se á natureza numa paisagem de caminho a caminhar,onde se fantasiam tempos e memórias......seria de visitar?! ou melhor revisitar,para sentir o lugar e a alma da casa .......

De Zilda Cardoso a 15.01.2009 às 11:06

Gostava de visitar a casa... se soubesse onde ela existe. Talvez descobrisse outras coisas interessantes. Não creio que pudesse ficar muito desiludida: a obra de arte lá estaria desafiando o tempo e justamente a fantasia.
Quanto ao mistério e ao sagrado... sente-se e vem de tempos imemoriais.
Podemos contar muitas histórias acerca desta imagem.

De Maria João Brito de Sousa a 15.01.2009 às 15:05

Vou dar a minha modesta opinião. Esta casa é mesmo uma obra de Arte. Esta casa representa a minha concepção de arte. Tem uma rudeza subtil que me encantou... em segundos (ou menos?) senti que era assim que eu sempre tinha desenhado e escrito... e quanto mais criança, mais assim era. Não há simetria nem perfeccionismo técnico e, no entanto, cativou-me!
Não me interessa se conseguiria ou não viver nela. Sinto-a. É bela, mágica.
Peço desculpa por utilizar tanto a primeira pessoa, mas se eu fosse uma casa, seria essa casa.
Um abraço.

Comentar post





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

  Pesquisar no Blog



Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2021
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2020
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2019
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2018
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2017
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2016
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2015
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2014
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2013
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2012
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2011
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2010
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2009
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2008
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D