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COMPRAS COM DESCONTO

por Zilda Cardoso, em 10.01.09

 

 

Não gosto de fazer compras, mas de vez em quando devo... e lá vou. Sei como é importante esta acção tanto nas casas de família como em lugares de negócio.

Tenho uma amiga que foi antiquária - comprava e vendia objectos com mais ou menos um século. Ela dizia respondendo a perguntas sobre o sucesso do seu negócio: "A única coisa que me importa é comprar barato. Desde que compre barato, não me preocupo mais. O sucesso da venda está desde logo garantido."

Nunca me esqueci destas palavras que surgem cheias de sabedoria se lhes acrescentarmos que o objecto comprado barato deve agradar àqueles a que se destina. Ou se entendermos que no termo barato está já incluída a ideia… essa ideia: a de que vai agradar, a de que é conveniente, a de que o objecto é necessário. Tudo isso e mais… estarão incluídos no barato. Quero dizer, barato não é apenas o que tem baixo preço, ou antes, o que custa pouco dinheiro, mas devem estar implícitas nesse conceito todas as outras características.

De modo que é importante saber fazer compras. Quando tinha a galeria de arte e sobretudo a de “design” comprava sabendo que se tratava de objectos que custavam muito dinheiro, mas que podiam agradar a um grupo que apreciava novidades, coisas de formas simples e cumpridoras da sua função.

Eu não sabia exactamente onde estava esse conjunto de pessoas ou se era suficientemente grande para constituir o grupo de que a Galeria precisava para poder subsistir. Tive que arriscar. Na verdade, queria mudar o gosto dominante naquele sector, substituí-lo por um mais moderno. E mais alegre e luminoso. Acreditei que podia fazê-lo, e que era importante consegui-lo. Queria que toda a gente quisesse e apreciasse na sua própria casa uma decoração verdadeiramente contemporânea no gosto e nos materiais.

Depois de estudar o assunto e de reflectir – de formar o meu próprio gosto – achei que podia confiar nele e comecei a comprar.

Comprei segundo o meu prazer, confiando e arriscando.

Por força de exposições contínuas dos mais diversos objectos de "design" contemporâneo e da publicação de artigos em revistas e em catálogos, penso que consegui o meu objectivo. Tenho muitas histórias para contar sobre este projecto já antigo, mas hoje propus-me falar de compras. Boas compras domésticas.

Recebi pelo correio dois vales de desconto de 10% em artigos vendidos em determinados supermercados e, embora deteste todo o tipo de acções que nos levam a consumir mais, muito estratégicas e próprias de sociedades de consumo, como vales, cartões, promoções e não sei quê, decidi desta vez, dada a crise, aproveitar. E lá fui, munida dos vales.

Peguei num carro de compras vermelho e enorme e empurrei-o alegremente por todo o espaço do mercado. Enchi-o dos mais variados produtos de que realmente precisava, se bem que tivesse podido distribuí-los por 2 ou 3 dias de compras e acarretar para casa sacos menos pesados sem dores de costas. Porém, era forçoso aproveitar o desconto.

Pronto, (fazem lá ideia!), meti embalagens de peixe, de carne, de fruta, de legumes, de cereais, de manteiga, de… de… Olhem, enchi a transbordar.

Na Caixa, a empregada pediu-me o cartão e eu exibi também orgulhosamente o vale de desconto. Para minha surpresa, a empregada disse: “Esse vale é só a partir de 15 de Janeiro”.

Empalideci. Ia morrendo. Não tenho razão para detestar estas promoções sofisticadas?

Fiquei furiosa comigo. Voltei a colocar no carro vermelho a dezena de sacos cheios, empurrei o carro (sempre a resmungar contra a minha estupidez), pelo centro comercial fora, desci ao lugar de aparcamento, empurrei mais um quilómetro por entre a centena de carros estacionados, enfim, larguei aquilo tudo na mala do meu, e voltei atrás para deixar o carro das compras no lugar certo.

 

 

 

 

Aprende, repeti alto e bom som. Aprende!

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publicado às 14:14


9 comentários

De * * Grilinha * * a 10.01.2009 às 21:44

Não resisti

Ontem à noite quase fazia o mesmo.
Faço as compras online e como recebi os talões de desconto (aqueles que só valem a partir de 15 de Janeiro) decidi começar a encomendar mais isto e mais aquilo e já agora aquilo que tb está a esgotar na dispensa.
Na hora do pagamento coloco o nº do vale de desconto e a mensagem salta no ecrã "talão inválido"

Inválido??? Olhei para a data "Válido de 15 a 21 de janeiro" o outro "Válido de 12 a 18 de Fevereiro"
Voltei atrás, apaguei, apaguei, apaguei, ........
Reduzi para quase metade as compras

Se fosse no supermercado fazia como tu

Aprende!! Aprende!!!

De VIGUILHERME a 11.01.2009 às 06:59

Nunca ouviu dizer #Deus escreve direito por linhas tortas".......quem não está com os deuses ,estes pregam partidas.....você não é consumidora de hipermercados ,como bem disse e até pensa outras coisas......estes deuses responderam-lhe ......sempre se pode mudar ......é uma brincadeira minha esta interpretação ,mas achei piada! ! !não leve a mal Zilda........

De outraidade a 11.01.2009 às 14:14

Depois de ler o que escreveu, soltei uma forte gargalhada. Não, nem seria educado da minha parte rir-me de si! Ri-me de mim, porque só olho para as letras gordas desse tipo de panfletos. Por isso, já me aconteceram episódios muito semelhantes. Sentimo-nos apanhados surrateiramente mas... já caímos.

De CC a 11.01.2009 às 15:35

Também eu tenho imenso sucesso com os talões de desconto!!!...
O que mais me irrita é os descontos que só podem ser feitos na próxima compra. Aconteceu-me isso numa livraria. Atingi um determinado número de pontos. Dava um desconto de 10 € mas só podia descontar na próxima compra. Paguei, saí da livraria e voltei a entrar. Comprei outro livro e pedi o desconto. Fiz tudo com o mesmo funcionário para ver se exemplificando ele percebia que a imposição não tinha qualquer sentido.

De Zilda Cardoso a 11.01.2009 às 15:54

Agradeço ao grupo solidário que tb se aborrece com compras e com promoções, com cartões e com pontos, parece coisa de meninos pequenos. Mas para os negociantes dá resultado, apesar do trabalho e do preço do trabalho. É assim que se vive... contrariado ou alegremente...ou distraidamente. Já me sinto um pouco menos estúpida. Tenho sempre a sensação de que estou a ser levada e considerada de pouca idade mental quando me propõem aquele tipo de negócios. Seria muito mais correcto e justo se os negociantes fizessem o mínimo preço, igual para todos. Por absurdo que pareça aos economistas, para mim, o mercado obedecendo cegamente às leis da oferta e da procura não é justo nem democrático. Faz-se de manhas, de habilidades, de espertezas saloias.

De Augusto Küttner de Magalhães a 13.01.2009 às 14:39

Penso que se há classe que esteja totalmente confusa- apesar de o não quererem assumir, são os economista! Sai tudo ao contrário, pelo q8e talvez fosse uma boa altura dos próprios repensarem tanta coisa, a bem deles e de todos nós!!!

De Augusto Küttner de Magalhães a 13.01.2009 às 14:36

Zilda Cardoso, todo este seu post é fantástico, desde o comprar "barato" da sua amiga antiquária, até a não ser "empurrada" por quem nos quer fazer ser consumidores compulsivos! Eu também recebi esse vale de descontos de 10%. Um reparei que era para utilizar a partir de meados de Janeiro, e vinha outro que se separava por um picotado, penso que para meados de Fevereiro. Dei-os, a uns amigos que semanalmente fazem compras nesses estabelecimentos, e até aproveitam aquela filosofia de desconto no combustivel e depois na compras e vice.versa. Trata-se de uma famíla maior do que o usual hoje ( 1,2 filhos por mulher, quando a taxa de substituição deveria ser 2,3, e mesmo assim por pouco mas ultrapassam esta ultima). Mas a mim também me aborrece que me incentivem a comprar, até coloquei um daqueles papeis de "não publicidade" na caixa do correio, mas por consenso familiar foi retirado!!!

De KI a 14.01.2009 às 03:24

Cada vez mais, mas desde sempre, detesto grandes superficies. Cansam-me fazem-me perder mais tempo, perco-me entre isto e aquilo que não preciso, ando quilómetros para buscar uma garrafa de água com gás e depois me lembro que preciso de uma coisa qualquer que já só se encontra no outro extremo do supermercado. Deveriam aproveitar os espaços comerciais para treino de sprinters, decerto dava lucro!

E depois é tão melhor e sabe tão bem conhecerem-nos na mercearia, na retrosaria, na farmácia... pronto sou eu que tenho a mania e não gosto mesmo nada de supermercados. Aliás eu se trabalhasse num endoidecia ora lá vai a senhora dos patins em direcção á caixa para informar um qualquer preço fictício, ora cá apita da Charcutaria e do Talho o número da próxima senha, ora lá fazem birra meia dúzia de fedelhos coitadinhos que não gostam nada deste passeio de fim-de-semana, ora lá me dão uma informação errada e me fazem percorrer corredores trocados...

Definitivamente, quem me dera poder recorrer apenas ao consumo no bairro tão mais caro, tão sem promoções, tão com tempo para conversar e para sorrir...

Já agora aproveito para reparar na foto, eu fazia essa figura engraçada qd era pequenina e o meu avô brincava a dizer que assim até conseguia ver o número do prato :)

Desejo-lhe um excelente 2009. Um beijo,

Lina [ para saber que sou menina :)]

De Cabecilha a 14.01.2009 às 18:55

eu gosta é da frase "desconto EM cartão"!! Não é desconto NO cartão é EM cartão...

e quando se tem EM cartão valores de desconto a funcionário pergunta se quer descontar logo ou se guarda para mais tarde.

quando perguntei se havia pessoas que não descontavam logo... disse que sim que guardavam para alturas em que estivessem mais aflitas!

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