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Juan Munoz

por Zilda Cardoso, em 12.11.08

 

 

 

Fui ao Museu de Serralves ver a exposição retrospectiva de Juan Munoz.

Em muitas salas fiquei amarfanhada com tanta tristeza e tamanha solidão, mas não na sala central onde um grande grupo conversa e se diverte. São figuras encenadas que sugerem situações reais. De muito longe, tive a ilusão de que eram pessoas a conversar, todas de cinzento com iguais traços sorridentes. Estavam muito entretidas umas com as outras e eu não estava ali para nada.

The Wasteland é uma grande instalação, para mim muito original, com uma triste e pequena figura, ligeiramente desproporcionada, sentada numa prateleira fixada na parede, de pernas penduradas, a olhar um mundo que é um pavimento feito como de azulejos, de padrão repetitivo, que eu pisei a medo ao querer aproximar-me da figura solitária ao fundo. Não sei se queria saber o que ela tinha para me dizer. Ou se receava que ela não tivesse nada para me dizer.

E há a figura ao espelho que talvez espreite para dentro de si própria, e que é surpreendente. Estive alguns minutos a espreitar também e a não compreender. E vi o reflexo do jardim e o da sala e o da figura e o meu. Bastava que me deslocasse um pouco para um lado ou para o outro e tudo era diferente, e tão diferente.

Há um outro trabalho em que duas figuras com máscara estão na frente do espelho. Por que razão estão mascaradas? Diferentemente do outro trabalho, neste não é possível ver qualquer reflexo no espelho. Não nos vemos.

Há figuras com base arredondada em vez de pernas e pés, e por isso não se movimentam nem parecem ver nem ouvir: têm teias nos olhos e encostam a orelha à parede para escutar, sem resultado. São figuras patéticas e comoventes.

E muitos outros trabalhos merecem atenção e reflexão. Vou voltar e ler alguma coisa dos entendidos sobre esta extraordinária exposição.

Gostava de saber opiniões vossas. Querem dizer-me? 

 

 

 

 

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publicado às 10:48


10 comentários

De Augusto Küttner de Magalhães a 12.11.2008 às 13:03

Penso também ser um pouco assustador, ou desconfortável, mas interessante de ser visto, os "homens" são mais pequenos que nós, são alguns cinzentos e sizudos, outros nem tanto! Uns andam perdidos! Outros encontram-se! Os mais entendidos podem melhor comentar, mas é uma exposição muito interessante, de alguém que morreu jovem, e que nos deixou muito em, e como pensar! Também espero mais post da Zilda sobre mais detalhes desta exposição, do que Munoz quis fazer, como, porquê!!!!!

De Augusto Küttner de Magalhães a 14.11.2008 às 15:13

Zilda ontem estive outra vez a olhar para os dois mais claros - não de cor cinzenta, no andar de cima, que com uma mascara de cartão na cara olham-se no espelho...impressionante! Zilda, explique-nos mais, sobre o seu ponto de vista, o que isto pode significar..

De Zilda Cardoso a 16.11.2008 às 09:42

Ainda bem que pôde voltar, meu caro Augusto de Magalhães, e ver com atenção e interessar-se. É na verdade uma exposição extraordinária, pelo que desperta em nós. Também voltarei lá, logo que possível e depois de ler os analistas sabedores. Mas verdadeiramente importante é o que cada um de nós tem para dizer depois de observar e de imaginar.

De Augusto Küttner de Magalhães a 18.11.2008 às 16:23

É mesmo o que diz, observar! Sabe que li que alguém - e com todo o direito - achou piada aos dois corpos pendurados no hall do Museu. A mim fizeram-me pensar em alguém desorientado, não sei qual a razão! Daí cada um observar à sua maneira!

De outraidade a 12.11.2008 às 16:18

Segundo li (porque tenho de ser honesta pouco sei de Juan Munoz) trata-se de uma espécie de "contador de histórias". Mas interessante no que escreve é transmitir-nos o seu envolvimento com as "cenas" e as figuras dessa exposição. Permita-me dizer que se fica com a percepção de que vale a pena ver para descobrir, não sabemos o quê mas descobrir que, por exemplo, nem sempre os espelhos têm reflexo, não é preciso ser cego para não ver ou só ouvimos o que queremos. Mas qualquer destas minhas interpretações é discutível porque outros dirão, a propósito do mesmo, outras verdades não menos verdadeiras. Afinal essa exposição será um desafio à imaginação de cada um.

De Zilda Cardoso a 16.11.2008 às 09:29

O valor de uma obra de arte está muito nas interpretações que sugere. É um espaço sugestivo. Quantas mais interpretações houver, mais conseguida foi a obra. E nem precisamos de saber qual a intenção do autor - pode ser uma crítica desesperada - quase sempre é - ou haver uma intenção de divertir. O que importa é pôr-nos a reflectir sobre os n/ comportamentos, sobre as n/ acções. Talvez ao vermos a triste figura que, muitas vezes, fazemos possamos corrigir... Na obra está isso como representação e podemos ver-nos como num palco.

De Jotacê a 14.11.2008 às 16:21

só vi as da entrada quando fomos falar com a Elvira Leite mas achei demais: tanto as de base arredondada a caminho do bengaleiro como as outras suspensas no átiro central... acho-as divertidas (pelos vistos, ao contrário da maioria).

De Augusto Küttner de Magalhães a 15.11.2008 às 11:10

Desde a primeira vez que os vi, mesmo esses pendurados no hall da entrada, algo me passou, não sei qual a razão, que não achei divertido, mas penso que devia ser essa a primeira sensação. Talvez por ter lido a biografia do Munoz, antes de ver. Não sei!

De Zilda Cardoso a 16.11.2008 às 09:36

É uma possibilidade. As interpretações que fazemos dependem da n/ maneira de encarar o mundo, da n/ cultura, da n/ disposição no momento. Também acho que algumas cenas são divertidas, outras são muito tristes. A vida também é assim, embora se possa ver sempre, para n/ tranquilidade, o lado melhor de cada acontecimento. Só avançamos com optimismo.

De mariadelourdesbeja a 15.11.2008 às 12:13

Zilda: provavelmente já pensou que me perdi por aí, pela blogoesfera... Tive um problema com o meu computador e estive "orfã" ou "viúva" durante uma semana. É uma estranha sensação de isolamento... Experiências novas advenientes da parte boa que o progresso tem...Antes, tinha recebido comentários seus,simpáticos e "estimulantes". Que bom !
Agora, chego aqui e encontro-me com esta sua interessante e interessada visita à exposição MUÑOZ. Apenas o conheço de suportes livrescos ou derevistas/jornais da especialidade. Mas, do que a Zilda descreve, especialmente da sua experiência com o espelho, fiquei de súbito a pensar no ALBERTO CAEEIRO, o MESTRE, como eles dizem, e pareceu-me perceber as mesmas atitudes de fazer coincidir o "SER" com o "ESTAR", de defesa da "existência objectiva" contra o "pensamento", que ele até acha que faz doer... Estarei muito enganada ? Pelo menos, curiosa estou... Quero ainda felicitá-la pelás belas escolhas que fez para a legendagem dos seus cogumelos... Até breve ! Mªde Lourdes

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