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Desconcerto, opus nº 2

por Zilda Cardoso, em 01.11.08

 

 

Continuo a leitura das Oitavas de Camões.

O Poeta escreve: “… se este estranho desconcerto novamente (ou pela primeira vez?) no mundo se mostrasse, que por livre que fosse e mui esperto, não era de espantar se me espantasse”.

Quinhentos anos depois, anos de liberdade e de esperteza, seria de espantar se qualquer de nós se espantasse ainda com o estado do mundo.

Ele está desconcertado e foi posto assim pelos que o habitam e o vão desarrumando desde há muitos séculos ou desde sempre. Não sei se alguma vez o compuseram ou intentaram alinhá-lo ou se, por sistema, deixaram isso aos heróis e semi-deuses, quiçá aos deuses. Que não tiveram muito êxito.

“Não é para causar mui grande espanto que mal tão mal olhado dure tanto”. 

O que parece estar a acontecer, já aconteceu mil vezes antes.

Talvez seja mais divertido assim, por isso não nos empenhamos em compô-lo.

 

 

Pensando bem, já tem havido tentativas, mas com o decorrer dos séculos, vão ficando esquecidas.

Será mais interessante deste modo, sobretudo para quem o aprecie de grande distância e de fora.

Acontece que não é só o nosso planeta no seu interior que está desconcertado, mas o sistema. Vejam o Sol no seu movimento anual: em vez de traçar um percurso certinho em volta da Terra, paralelamente ao equador, ele faz uma trajectória elíptica, por isso, o ângulo horário medido entre a elíptica do Sol e o equador não é constante. E a órbita da Terra em torno do Sol é elíptica também, por isso, o movimento do Sol é mais rápido nos meses de Inverno. De tudo resulta que   não há nenhum dia igual ao outro, por mais que se procure… e que se mude a hora...e que não gostemos de a mudar. Nem mesmo os dias do ano anterior da mesmíssima época são iguais aos deste ano.

 

 

 

 

E sobre o Sol, reparem, o seu movimento não é autêntico como seria de esperar tratando-se de um assunto fundamental. Sabemos que é aparente e tudo o que concluímos sobre o seu movimento é a dissimular, é astucioso, camuflado, mascarado. Dizemos: o Sol roda em volta da Terra, mas sabemos que é a Terra que gira em volta do Sol.

E assim por diante: tudo desconcertado.

Como assim? Não podemos fazer nada? Ou vamos concertar isto? Ou consertar? Fingiremos que acreditamos e continuamos a seguir o exemplo das estrelas que, (acontece com o Sol), aparentemente brilham para nós?

 

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publicado às 10:23


6 comentários

De outraidade a 01.11.2008 às 15:53

De facto, este mundo é um perfeito desconcerto. O que nos vale é acreditarmos que este desconcerto se vai concertando tal como todo o Universo vai conseguindo o seu próprio equilíbrio. Enquanto assim formos andando, lá nos vamos contentando...ou não.

De Jotacê a 01.11.2008 às 21:08

concordo e descobri uma teoria ou melhor... tive uma epifania: no dia em que as órbitas deixarem de ser elípticas e passarem a circulares as vibrações cósmicas mudarão e os homens e mulheres passarão a seres perfeitos e... mais importante ainda verdadeiramente felizes!!! :)

De Zilda Cardoso a 01.11.2008 às 21:34

É melhor que comecem a ser felizes já!Não devem esperar pela eliminação das elípticas, pode demorar muito tempo.

De mariana a 02.11.2008 às 13:02

Olá zilda, as vezes passo por aqui, e gosto! Nunca dá para fazer tudo o que queremos quando estaos fora da nossa rotina. É raro ir ao Porto, ainda mais agora que moro no algarve ( coisa que tenho muita pena ). Mas vou muito a Lisboa, trabalhar principalmente, a semana que vem lá estarei. Mas tenho a certeza que outras oportunidade de encontro viram.
Um bom domingo para si.

De Zilda Cardoso a 02.11.2008 às 16:29

Obrigada pelas s/ visitas. As m/ fotos são uma desgraça, terá que me dar umas lições. Os s/ trabalhos são lindíssimos. Tenho agora um filho todo envolvido na publicação de um livro de fotos; vou dar-lhe o s/ endereço de blog, pode ser que queiram trocar impressões. Um abraço

De Augusto Küttner de Magalhães a 04.11.2008 às 15:06

Muito interessante esta abordagem. Efectivamente isto está cada vez mais desconcertado aos mais diversos níveis. E agora que estamos TODOS em grande crise, até parece que TODOS procuramos consertos, todos queremos reparar o que fomos estragando - UNS MUITO MAIS QUE OUTROS - , até ecológicamente. Mas quando conseguIrmos - consguirem - sobreviver à crise, já ninguem se lembrará do desconcerto, do Tratado de Quoto, do ambiente, do seu IGUAL! vAMOS DESCONCERTAR UM POUCO MAIS....

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