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Gostaria que a minha escrita se assemelhasse a um jardim silvestre.
Penso em certos jardins que vi algures e há muito tempo em campos de golfe. Nunca nada me agradou mais.
Há certas zonas, dentro do campo, que me merecem a melhor atenção. E são os canteiros (dão-lhes outro nome), naquele caso, totalmente preenchidos com flores semi-selvagens.
Nos campos que me apraz recordar, as flores nesses espaços eram em profusão, rigorosamente escolhidas (parecia-me) segundo as suas formas – delicadíssimas, as cores, os perfumes, não exigentes quanto a tratamento, mas todas com as mesmas exigências, dispostas a agradar sem clamar (bradar) atenção…
São zonas-do-meu-contentamento, supõem conhecimentos muito variados e aprofundados, alguma sabedoria (diria bom-senso), capacidade de atrair pelo seu sabor. De convencer do seu valor?
Não impondo regras, não impondo coisa alguma.
Partilhando também ou principalmente a beleza do mundo.
Nesse tempo, ficava-me por ali, embora fosse suposto caminhar sem fim atras de uma bola ou seguir os que a seguiam.
Era ali que fazia as minhas observações e descobertas e me sentia feliz.
Por isso, hoje desejo que a minha escrita seja um campo de flores silvestres.
Aquelas horas que cada dia tem a mais e que são tão difíceis de passar porque não têm fundamentação, poderão ser preenchidas com espectáculos de T.V.?
Poderão eles fazer esquecer o que não agrada, isto é, a nossa vida… se for patética, sem finalidade, sem jeito?
Poderiam… se não fossem tão sem graça.
A vida que já foi interessante, pode ser reconstruída de modo a voltar a sê-lo?
É essa a questão.
Todos esperam que os mais velhos se esqueçam de si próprios, para que os que não são mais-velhos tenham razão para os esquecerem e serem desculpados alegremente.
No entanto, os mais velhos não podem esperar que seja inventada uma vida para eles (nós), interessante e útil à humanidade. Devemos inventá-la, à nossa medida. E isso é o que está a ser difícil.
A nossa medida? Cada pessoa se vê de certa maneira, possivelmente diferente da maneira como outra qualquer pessoa a vê. Pode haver muitas formas desiguais de ver e de entender, de ser e de querer para qualquer um.
Contudo, esta prosa poderá ser encarada como parte da “grande conversa universal” e justificação para essas horas sem justificação - alguma coisa dessa ordem.
Como disse, sobram sempre muitas horas, cada dia.
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