Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Nunca acabará, parece-me, este dia.
Há horas e horas que o Sol ronda esta casa alta, como se a namorasse.
De manhã, vi-o entrar habilmente, nos quartos do lado nascente. Tantas horas depois, parece ter intenção de terminar o dia … não sei se terminará… entrando na sala, do lado oposto, depois de iluminar a varanda dos segredos e das revelações (segredos não confidências).
Mas vejo que está ainda muito acima do horizonte, espelha na água que brilha, fulge, como quem consumiu milhares de estilhaços de espelhos cortantes e sem cor.
O vento acalmou, o mar caminha brando e lento em diagonal para a praia queimada, ao longe. E para as rochas um pouco mais velhas, essas, sim, cheias de segredos, de confidências e de mistérios. Mas agarradas ao local desde há milhões de anos, para sempre.
O céu prossegue de uma preclara e ingénua cor e os pássaros passam no sentido habitual, se bem que voando e esvoaçando sem ruído, inconvictos.
Não, o dia não vai terminar hoje, será adiado. As horas não acabarão, não sei como poderia acabar o dia.
O que me deixa apreensiva é a contagem, os cômputos, isto… este prolongamento insustentável e incompreensível que vai desalinhar a nossa vida, descompô-la.
E o Astro nunca dirá adeus, estou certa disso. Só fica mais belo e acolhedor com as luzes douradas todas acesas dentro dele. Muito afável, apesar do cansaço que impôs, sabe aconchegar com os seus raios fulgentes.
Vou ficar pela varanda, seduzida.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.