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O que me inspira?
(para a escrita deste tipo de textos…)
Tenho várias musas. E também um sentimento.
A primeira musa e a mais importante é a paisagem. Da minha varanda, vejo o mar, o céu, as nuvens, o Sol, os barcos, o misterioso horizonte… Da casinha de Moledo, vejo os relvados, as árvores, os canteiros rústicos, as flores silvestres, o céu azul, as nuvens brancas e uma profusão de estrelas à noite. E o horizonte que é muito mais próximo do que em qualquer outro lugar.. A que quase chego com as mãos.
É a tranquilidade desses lugares que me atrai…
Há também a transparência dos rios - românticos e bons estímulos para escrever poesia, há a beleza e os trinados dos pássaros…
É tudo paisagem.
Em 2º, há os acontecimentos do dia na cidade e no mundo. São as notícias lidas ou ouvidas nos jornais, na rua… e os factos observados que estimulam a reflexão e o desejo de transmitir alguma coisa com interesse para outros.
Em 3º lugar, há a releitura de trechos dos meus autores favoritos e que tanto pode ser a Lírica de Camões como a filosofia e os pensamentos lógicos de autores contemporâneos. Cito G. Steiner que anda sempre comigo, e também R.Barthes, E. Prado Coelho, Eduardo Lourenço… Agustina na sua Embaixada a Calígula, Sophia inultrapassável, Mia Couto com uma linguagem tão inspiradora, Gonçalo M. Tavares cheio de imaginação e de temas novos.
E muito para além disto, inspira-me um sentimento: o de que me cabe retribuir com um trabalho a vida que me foi dada. E esforço-me.
Sinto a responsabilidade.
Nunca tentei dominar o mundo.
Aproveito o que me é oferecido e me rodeia e tento compensar com um trabalho que de algum modo seja útil ou interesse a alguém.
Desde há algum tempo, sei …que deve ser um trabalho que me agrade e que possa realizar sem esforço excessivo.
Estarei a fazer alguma coisa mais do que sobreviver?
Gostaria de estar. Esforço-me por estar.
Todos os seres humanos terão capacidade de absorver e de transmitir o que foi pensado por outros e lhes foi transmitido. São ensinamentos preciosos fundamentais para a sobrevivência, sobretudo, nos primeiros anos de vida.
Temos, porém, outras aptidões.
Teremos estado abertos, durante a nossa existência, a ideias passadas pelos que sabem mais, é certo. E a outras resultantes da própria experiência – de observação e de reflexão.
Porém, podemos e devemos ajustar (amalgamar, combinar, unir) tudo isso e trabalhar por ir mais além.
Seria um desperdício não aproveitar as nossas capacidades naturais. Por que repetir o que foi pensado e dito e executado talvez um número infinito de vezes? E já não aproveita a ninguém…?
Temos imaginação e capacidade de raciocínio e de concentração para criar pensamentos originais e ir além do que nos ensinaram. Pensamentos ordenados, lúcidos e corajosos, sabedores e sábios.
De que vão resultar factos novos e actividades úteis para a comunidade que não será estável, que não é estável, mas estará sempre em evolução para o considerado melhor para todos.
Pelo menos, não destruidor, se bem que inclua as crises.
Abrange, do mesmo passo, os saltos qualitativos que sempre resultam das crises.
Pergunto-me se será possível apaixonar-me por mim nesta altura da vida do mundo e da minha vida em particular?!
Não o creio.
Mas sendo assim, estou tramada.
Tudo o que não posso realizar neste momento é o que tenho vontade de realizar, de criar, de executar, de confeccionar… e está-me interdito por lei. Por lei universal.
Como posso passar por estas proibições tranquilamente e começar a minha viagem à India?
E com estas reais marteladas na parede da minha casa, sem parar o dia todo, de manhã até às 6 da tarde a complicar? A amenizar?
Amanhã será o mesmo, prometeram-me.
E não me é permitido sair daqui.
Ainda que custe a algumas pessoas que muito estimo, este ambiente não prepara para a alegria nem para o bem-estar nem para a paixão nem mesmo para a optima disposição que temos obrigação de ter já que dispomos, entre milhares de belas coisas, de uma varanda e de um mar, de um horizonte brilhante e de um Sol dourado, e de maravilhosos barcos à vela, género caravelas transatlânticas.
Interrogo ainda: posso não-estar-alegre? Só por uns dias? Até isto terminar? Isto que é --- o geral e este particular? Posso?
É que desta vez, há o depois.
Assim:
Preciso apaixonar-me pela vida nesta idade do mundo para poder concretizar esse o que for.
E não arrisco apaixonar-me por o que for agora?
É complicado.
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