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Não te ocorre nada mais divertido do que esse fascinante estado de espírito? – perguntei a quem me sugeriu este assunto para uma conversa consigo. Consigo.
Que tema tão aborrecido! E mais estúpido…! – acrescentei.
Fui em primeiro lugar ao dicionário. Encontrei: tédio, fastio, repugnância… e outros igualmente expressivos.
Posso escolher à-vontade: nenhum serve. Nem um define isto que é detestável, que causa enfado, que enfastia. Na verdade, é uma coisa vaga, por definição. Indefinível. Que atacou o mundo todo duma vez só. Ao mesmo tempo, quero dizer.
Daria a vida por alterá-lo! Por eliminá-lo.
A verdade é que posso dar a minha vida à-vontade, isto não se modificará, muito menos, eliminará.
Isto a que chamo ISTO é uma coisa grande de mais para poder ser eliminada por uma pessoa, por um grupo, por uma multidão.
E queremos eliminá-la. Então o que fazer?
Que aborrecimento gigantesco me toma o corpo, a casa, a varanda, a cidade, o Atlântico…? Não posso meter isto no bolso nem escondê-lo por trás do televisor! Não posso ocultá-lo.
Enterrá-lo, talvez possa.
Seria uma experiência gratificante porque o maior aborrecimento é não ter nada para fazer. Se o acto for duro… com enxada e tal… melhor.
Poderá enterrar-se, sim, é duro, implica esforço físico - tem mais probabilidade de resultar.
Ainda se pode talvez sentir doutra maneira, seja, levemente, mas… esse sentir leva a nada. Esqueça.
E observar?
Não vejo as gaivotas passar. As gaivotas não passam. Estão lá e mais nada, ao longe, imóveis.
E não há nenhum barco por aí.
O enorme Atlântico está muito aborrecido de olhar, para olhar. Cinzento, esverdeado, sem alegria de viver, hoje, de brincar, de criar, de respeitar… Sem talento para aventuras.
Só um enfado medonho! Vive-se com tempestades tenebrosas, não se vive neste tédio. Estava completamente enganada.
Nem sequer me lembro, não quero lembrar-me do movimento habitual até há algum tempo, neste lugar.
Aqui agora não há esplendor, nenhum jogo de espelhos. Há ausência.
Que interesse tem poder usar o silêncio de múltiplas maneiras? Dar-lhe muito diversos usos?
E já agora como se usa o silêncio neste aborrecido tempo pacífico? Dê-me só um uso possível e agradável neste ambiente. Dormir é melhor, dormir pode incluir o sonho.
Realmente não é disto que precisamos.
Mas do que virá a seguir à crise, à perturbação, à guerra, ao intervalo, à falha, ao não-produtivo. O depois será melhor do que o antes. Por que incluirá este, esta experiência.
Vamos trabalhar! Depressa!
Recomeçar. Qualquer coisa!
Estou certa de que este mar, hoje, aqui e até ao horizonte está coberto de estilhaços de um espelho fulgente de gigantesca amplitude. Alguém muito poderoso o terá quebrado por brincadeira e os fragmentos – os estilhaços – cobrem agora toda a superfície fluida, em frente a mim.
São o mar de todas as auréolas e transparências; de fragmentos de várias intensidades de brilho; de diferentes energias e ritmos, de movimentos e alegrias, de vibrações e risos.
Correm todas as fracções numa certa direção ou noutra e voltam, espumam contra ou ficam espraiando-se agilmente sem se desprenderem, sem se desligarem, seduzidas e a seduzir.
Um desejo desperta em mim: o de me aproximar e ver se os espelhos, cada um deles, reflete ou reflectem o céu com as suas nuvens brancas de formas artísticas; se o vento; ou se me refletem, incendiando o meu pensamento, como doutras vezes.
Os estilhaços cintilantes glorificam o lugar. Pergunto: esse espelho em fascinantes fragmentos – o que me deixará ver através dele? “Through the looking glass” reverberante?
O que verei através dele se me aproximar o bastante?
Um mundo de magia e de fantasia? Um mundo sem medos? Com todas as espertezas e insolências (à maneira de L.C.) que fazem a vida valer a pena? Para os mais jovens, pelo menos.
Será isso?
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