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Apenas… conchas

por Zilda Cardoso, em 17.02.19

 

 

Olho o mar (todos os dias da minha vida)…

Teria, devia ter, desejo de tocar, de mergulhar

na massa penetrável, talvez iluminada.

 

Tive o desejo, sim. Outrora.

Interroguei-me sobre os corais e as grutas de Sophia

Li poetas... apaixonados pelo mar…

 

Já não tenho essa vontade, conheço-o, é frio, salgado

e talvez me levasse para longe, para o não alumiado.

 

Mas não quero ir, assim levada.

As aventuras hoje terminam à tona de água

os barcos, os que atravessam o horizonte

e mal lhe tocam… ainda anseio embarcá-los…

 

Mas bastam-me os reflexos do sol e do céu no mar

 e as estrelas à noite, e a Lua quando vem.

 

Não quero aprofundar-me, quero as conchas

que sei que as há por aí, prodigiosas.

Quero que venham ter comigo à praia fosca.

 

Percorro quilómetros húmidos, nessa esperança

terão batido antes contra as rochas duras

estilhaçadas as de que tenho os bolsos cheios.

 

Tento remendá-las, colo as várias formas, os pedaços

misturo cores, dou-lhes feições, já que morreram.

 

É agora cada concha coisa nova 

e eu regresso feliz das que gerei

musicais, espiraladas, como turbantes

ou búzios, beijinhos, lapas, estrombos

que se tocam e tocam quando as ligo.

 

Ouço-as no meu ouvido cantando

o mar de brandos escolhos e perigo…

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:47

...

por Zilda Cardoso, em 17.02.19

 

Apenas… conchas 

 

Olho o mar, todos os dias da minha vida…

Teria, devia ter, desejo de lhe tocar, de mergulhar

naquela massa penetrável, talvez iluminada.

 

Tive o desejo, sim. Outrora.

Interroguei-me sobre os corais e as grutas de Sophia

Li os poetas que conheço apaixonados pelo mar…

Já não tenho essa vontade, conheço-o, é frio, salgado

e talvez me levasse para longe, para o não alumiado.

 

Mas não quero ir, assim levada.

As aventuras hoje terminam à tona de água

os barcos, os que atravessam o horizonte

e mal lhe tocam… ainda anseio embarcá-los…

 

Mas bastam-me os reflexos do sol e do céu no mar

 e as estrelas à noite, e a Lua quando vem.

 

Não quero aprofundar-me, quero as conchas

que sei que as há por aí, prodigiosas.

Quero que venham ter comigo à praia fosca.

 

Percorro quilómetros húmidos, nessa esperança

terão batido antes contra as rochas duras

estilhaçadas as de que tenho os bolsos cheios.

 

Tento remendá-las, colo as várias formas, os pedaços

misturo cores, dou-lhes feições, já que morreram.

 

É agora cada concha coisa nova 

e eu regresso feliz das que gerei

espiraladas, como turbantes, musicais

ou búzios, beijinhos, lapas, estrombos

que se tocam e tocam quando as ligo.

 

Ouço-as no meu ouvido cantando

o mar de brandos escolhos e perigo…

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publicado às 10:45

A quem contarei o que ouvi e vi?

por Zilda Cardoso, em 09.02.19

 

Das profundezas do Oceano

o ruído aterrador… que causa natural o provocou?

(Não quero saber doutra nenhuma)

 

À superfície é só espuma doce contra as rochas!

O mar nunca murmura como o rio…

Os barcos ao longe vogam vagamente

são brandos, nem parecem vivos.

 

Com o passar da tarde, do tempo

a bem dizer, o ruído esvai-se.

As vagas em diagonal continuam

dançando ou meneando-se

a uma cadência musical desconhecida. 

 

Não há acerto nem concerto.

 

É Inverno hoje, dia de varanda

de beira-mar, solheiro… sem vento….

Fico… e foge…vai fugindo o dia.

 

De madrugada, uma cidade alta

inteira, largamente iluminada,

entra no porto acanhado, penetra

e ali fica, a noite e o dia, cintilante

de cores e brilhos e pedaços de espelhos.

 

Como pôde entrar? Não pôde, introduziu-se…

(Falta-me discernimento).

 

Foi um dia diferente, perturbador:

choveu sol, fragor imenso, luz difusa

e também doçura e fantasia.

Ao que parece, nesta nova tarde,

choveu magia.

 

É desconcerto.

 

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publicado às 19:56

A quem contarei o que ouvi e vi?

por Zilda Cardoso, em 09.02.19

Das profundezas do Oceano

o ruído aterrador… que causa natural o provocou?

(Não quero saber doutra nenhuma)

 

À superfície é só espuma doce contra as rochas!

O mar nunca murmura como o rio…

                                                                     

Os barcos ao longe vogam vagamente

são brandos, nem parecem vivos.

 

Com o passar da tarde, do tempo

a bem dizer, o ruído esvai-se.

As vagas em diagonal continuam

dançando ou meneando-se

a uma cadência musical desconhecida. 

 

Não há acerto nem concerto.

 

É Inverno hoje, dia de varanda

de beira-mar, solheiro… sem vento….

Fico… e foge…vai fugindo o dia.

 

De madrugada, uma cidade alta

inteira, largamente iluminada,

entra no porto acanhado, penetra

e ali fica, a noite e o dia, cintilante

de cores e brilhos e pedaços de espelhos.

 

Como pôde entrar? Não pôde, introduziu-se…

(Falta-me discernimento).

 

Foi um dia diferente, perturbador:

choveu sol, fragor imenso, luz difusa

e também doçura e fantasia.

Ao que parece, nesta nova tarde,

choveu magia.

 

É desconcerto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A quem contarei o que ouvi e vi?

 

 

Das profundezas do Oceano

o ruído aterrador… que causa natural o provocou?

(Não quero saber doutra nenhuma)

 

À superfície é só espuma doce contra as rochas!

O mar nunca murmura como o rio…

                                                                                      

Os barcos ao longe vogam vagamente

são brandos, nem parecem vivos.

 

 

Com o passar da tarde, do tempo

a bem dizer, o ruído esvai-se.

As vagas em diagonal continuam

dançando ou meneando-se

a uma cadência musical desconhecida. 

 

Não há acerto nem concerto.

 

É Inverno hoje, dia de varanda

de beira-mar, solheiro… sem vento….

Fico… e foge…vai fugindo o dia.

 

De madrugada, uma cidade alta

inteira, largamente iluminada,

entra no porto acanhado, penetra

e ali fica, a noite e o dia, cintilante

de cores e brilhos e pedaços de espelhos.

 

Como pôde entrar? Não pôde, introduziu-se…

(Falta-me discernimento).

 

Foi um dia diferente, perturbador:

choveu sol, fragor imenso, luz difusa

e também doçura e fantasia.

Ao que parece, nesta nova tarde,

choveu magia.

 

É desconcerto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 19:50




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