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Comporto-me no mundo como se ele fosse meu!
O mundo! Como se este fosse o local apropriado para as minhas brincadeiras e também para toda a espécie de judiarias. Porque é isso que tenho feito ao longo da minha vida sem ser perturbada.
Calculo que os outros, meus coabitantes neste planeta, procedem do mesmo modo.
Por isso, o mundo está um nojo, dizem, poluído até mais não. E poluído material e espiritualmente.
Vou-me dando conta de algo desse teor, se bem que me esforce por olhar de preferência para o mar, o céu, a lua e as estrelas... e do mesmo modo, para as árvores, os pequenos arbustos, as flores... o que me agrada.
Para este pássaro que brinca a meus pés, um pardal tão minúsculo que se batesse as asas … Talvez ouvisse um ruido de asas, talvez aumentasse o silêncio, não sei, não sou cientista, apenas gosto de fazer perguntas.
Aprecio a beleza de alguns insectos, sou muito selectiva acerca destes.
Procuro sempre libélulas que me apareciam todos os dias na Casa da Eira, deslumbrantes. Este ano, vi uma com asas transparentes, belamente coloridas, corpo fusiforme e olhos compostos, também mais pequena do que era hábito ver.
Não posso deixar de falar das borboletas, neste contexto, aquelas que batem as asas aqui (em Moledo, por exemplo) e alguma coisa de tremendo pode acontecer do outro lado do mundo.
Ando sempre à cata delas, noto que cada vez há menos, são mais pequenas, menos assombrosas nas suas cores e desenhos decorativos…
O que deixa supor a razão porque não tem acontecido nada de muito grave ultimamente nem na América do Norte nem nas Filipinas como um tornado de proporções gigantescas em consequência do seu bater de asas minhoto: há muito menos asas a bater!
E mesmo olhando de preferência para o mar, vejo o que vai pelas praias – o lixo material, quero dizer. E vou apanhando os plásticos…mas que é isso? Quando é que eu apanharia todos os plásticos…?
Não falo ainda do lixo não-material.
(E se ensinássemos os meninos a não deitar o seu lixo para o chão, o seu lixo material que suja como qualquer outro? Isso sim seria marcante).
Usamos todo o tipo de violência contra os nossos próximos e consideramo-nos lesados porque as formigas comem o “nosso” açúcar (elas até já nem vão ao açúcar, já perceberam que é perigoso). Ou porque alguns insectos atacam a “nossa” fruta. E fazemos a destruição em massa desses vizinhos sem que, num contexto geral, alguma coisa o justifique.
Eu confesso: não me lembro de alguém me ter oferecido o mundo. Nem com condições nem incondicionalmente. Que direitos tenho sobre ele?
De algum modo, tenho que alterar as minhas rotinas quase todas, sob pena de perder o dom da fala e os neurónios “tout court”.
Devo alterar para ter o que pensar, alguma coisa nova, de preferência produto de uma decisão importante.
Todas as decisões têm a sua importância, todas são importantes: obrigam a escolher entre coisas que parecem, ao mesmo tempo, significantes e insignificantes.
Para ter em que pensar e principalmente para ter de que falar e com quem falar, é preciso uma certa agitação de vida, já que pensar sem falar, sem respostas, não é assim muito útil para alguém.
Eu penso, não posso deixar de pensar, mas que utilidade tem isso se não passar daí? Sou bastante resmungona quando falo sozinha, mas acho que os meus argumentos, os que contrariam as minhas afirmações primeiras, não são convincentes. Não interessam a nenhuma ciência.
Lá ao fundo, ao fundo, perto do mar, a poucos quilómetros de mim, vejo duas cadeiras de descanso voltadas para o sol – que não pára quieto. Ainda está alto, mas vai desaparecer, eu sei, e embora não queira saber para onde, quero saber por onde...
É certo que sairá por este lado do mundo.
Gosto de saber o lado onde se põe ou se vai o Sol, seja onde for que eu esteja. Dá-me segurança, sei onde estou eu, também. Para alguém que me queira encontrar, posso dizer: estou do lado do Sol, do seu pôr. Acho que não se pode ser mais claro.
E é muito divertido!
Mudei de sítio, alias estou em dois sítios com pessoas diferentes, com possibilidades de falar vários tipos de linguagem. Não passará de possibilidade.
Não tenho grande conversa para estes meus companheiros de viagem que só falam das notícias dos noticiários da TV. Como é que antes da TV se espalhavam as notícias? De que se falava?
Reparei que os Srs. Trump e Putin aparecem muito nos ecrãs hoje. O que terão combinado? O que estarão a dizer?
Não vale a pena ouvir, se bem que pudessem estimular a minha imaginação e criatividade. Talvez despertem mesmo assim, apenas pelos seus gestos e penteados, caretas e momices…
Figuras ridículas! Que cada vez são mais numerosas em palcos e ecrãs. Carnaval sem data marcada. Nada vale nada (que fantástica conclusão!).
Fui comprar umas coisas, dentro da ideia de que quebrar rotinas, quaisquer, é bom. Gastei tão pouco dinheiro que não pude usar o cartão. Magnífico!
Fiquei dez minutos a remexer na mala para encontrar moedas que em tempos valiam bastante, mas agora não servem para quase nada (quero dizer aquela quantidade de escudos serviam e chegavam para uma boa sopa).
Depois reparei que tinha esquecido o telemóvel algures, muito longe. Uma trabalheira ir buscá-lo, mas é quebra suficiente de rotina e como tal bem-vindo.
Não falei com ninguém que valesse o esforço de falar e me permitisse não perder o dom.
Vou ligar o televisor, talvez me ponha aos gritos de tão mau que é tudo aquilo. Estímulo bastante para criar palavras novas, bonitas, cheias de significado. Não devo perder a esperança.
Amanhã é dia de feira, a 4ª. E deverá ser ocasião para grandes falatórios como são falas de feira, falácias, palrações. Será curioso.
Gosto destas feiras, o que pode provar que não morreu a criança que sempre houve dentro de mim. É o único sentido que encontro para esta conversa mole.
Por vezes, há diferenças fundamentais na paisagem, no que contemplo todas as manhãs da minha janela.
Hoje, do meu habitual sítio de observação, não vi porque não havia… mar, mas uma cortina cinzenta cobria tudo o que costumo analisar e admirar dali. E que é muito para além de mar. É cidade também.
Talvez o mar esteja por trás dela, isto é, da cortina, do lado sul e su-sudoeste. Não estou nada certa. Não o vejo, não o ouço, não o cheiro… não tenho a certeza. Apenas recordo haver mar aqui.
Contudo as recordações não são necessariamente verdadeiras.
É uma diferença fundamental, haver mar ou haver cortina, não é um detalhe.
O mar habitualmente ocupa 80% do que posso observar da janela. Hoje o que vejo é só a cortina. É uma triste paisagem cinzenta, um pouco suja, sem brilho, sem sonoridades. Sem movimentos.
Olhei fascinada, apesar de tudo, durante algum tempo, esperando alguma inovação. Espero sempre a novidade, descobrir a boa notícia.
Esta cortina assim parada, não me é inteiramente desconhecida, já a vi antes.
Daí a pouco, do lado contrário ao sítio onde costumo topar o mar, começou a acontecer qualquer coisa… como uma luz. Que aumentou de intensidade, de veemência; aumentou, aumentou… se dilatou…cresceu.
E principiaram a sobrevir coisas interessantes; coisas coloridas, formas esquisitas e muito diversificadas. A passarada cruzou o espaço num sentido e no outro em frente a mim. E repetiu várias vezes o que parecia um jogo.
Enfim.
Enfim… imaginem… a notícia inteira: o mar reapareceu no sítio do costume, embaciado, mas com pequenas ondas brancas a agitar-se e rochas negras estáticas, pousadas nas beiras da areia, na praia.
Foi como se uma luz se acendesse do lado da cidade, contrário ao mar, e se deslocasse e subisse e seguisse na direcção do mar com intenção de o iluminar, de o fazer dar-se a ver. Para que tudo ficasse claro.
É importante a clareza… essencial que tudo fique claro para se poder ler.
Concluí que o mundo é sempre novo porque se modifica, sem que se desloque. Apenas a luz ou o Sol-e-a-sua-luz se movem e alteram o ambiente. Que, desse modo, está sempre em mudança (porque o Sol se muda), mas nada sai dali.
Estou a tentar interpretar, ler bem.
Tudo passa, diz-se, e se há “o que fica do que passa” (F. Pessoa), amanhã como será?
Aprecio escutar a vibração do mundo, por isso, saio para a esplanada, para o passeio, para a beira-mar com sol ou com chuva, ao encontro de qualquer coisa decisiva ou desconcertante ou disponível…
Casa almofadada afasta-me da verdade do mundo ou do que quer que seja mais parecido com a realidade.
Aqui dou conta das diferenças, as que nos fazem amar o mundo como ele é, segundo li: temperaturas, cores, ruídos não só de asas, visões, cheiros, programas e critérios, matizes, enunciados, atrocidades, vagas de mentiras e lugares comuns, estereótipos… E tanta coisa mais.
E pergunto com assombro para que é usado o silêncio?
Qualquer melodia é outra ouvida à mistura com as sonoridades da esplanada, com os voos e os guinchos das aves repontonas, com os clarões de luz natural e o infinito tilintar dos jogos de numerosos espelhos. É Primavera outra vez em princípios de Julho.
Estou atenta à vibração do mundo que é muito mais do que movimento. É muito mais que tudo porque se mistura com tudo.
Tudo que é nada de qualquer género.
E não sei se há “mundos que são doutra maneira”.
Há magia flamante, sem dúvida, e sussurros, alusões enigmáticas e ressoar de trombetas. E um par de patos no lago. Tinha ido procurar os meus amigos, só avistei aqueles dois válidos, pareciam gémeos, de bela plumagem castanha com estranhas formas desenhadas; imponentes, concentrados, pousados na beira do lago.
Não os conhecia: pareceram-me protótipos dos que hão-de vir e encher o lago de novo; ou esculturas imóveis. Não eram comuns, eram perfeitos.
Não podia fotografá-los por serem mágicos ou habitantes da miragem, não ficariam gravados. Talvez alguém muito sensível… com clarividência bastante… conseguisse desmitificar os comoventes feixes de indícios em redor do par!?
Não sei.
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