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Preciso fórmula mágica

por Zilda Cardoso, em 24.03.18

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imagem da internet

 

De que me esqueci…?

É manhã cedo e estou de coração apertado… tão pequeno já, tão despojado, sem a mais leve reminiscência, sem que evoque minimamente o que foi esquecido…e ficou em suspenso!

Como posso ter-me esquecido?

Preocupo-me. Preciso de descobrir...

É caso muito importante que devia absolutamente ter compreendido e a que teria dado seguimento. Por que alguém está à espera, é essencial, não posso deixar passar. Devo contrapor, reconheço.

A verdade é que não sei de que se trata? Será qualquer coisa que está no gravador… (que gravador?) para objectar, a que devia ter respondido já, sob pena grave?!

Onde posso procurar saber? A quem perguntar? Não ouço o mais leve sussurro de bater de asas, nenhum ressoar ou eco na minha cabeça…

É tudo vago, tão incerto! Não sei nada de nada que se possa relacionar com… o quê?

Deve ser importante, o que for, dado que me aflige, me faz doer bem no fundo, o coração, me perturba sobremaneira, com dilaceramento…angústia… Não conheço palavras suficientemente fortes que deem ideia.

Me inquieta não saber o que me inquieta. A quem perguntar se sabe. E sinto-me frágil, magoada.

Nada me desassossega mais do que esta indefinição, este deserto instalado em mim, a sede... Acho-me apanhada a meio de qualquer coisa, como quem vem do nada e se retira para o deserto sem nada a contrapor.

É esgotante.

E tenho medo, não sou capaz de realizar o que parece esperar-se de mim…

…e me deixou para sempre ansiosa.

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publicado às 13:46

"Uma vaga ideia do que seja pensar“

por Zilda Cardoso, em 21.03.18

 

Como não somos capazes de estar ou de ser sem pensar e já que os pensamentos se produzem ininterruptamente e em torrente, a quantidade de pensamentos produzidos - de actos de pensamento - é infinita, e constitui o que suponho ser o pensamento.

A qualidade do pensamento varia tremendamente com o ser pensante e o instante que passa e o afecta. Depende, portanto, de características pessoais e de circunstâncias.

Entre um pensamento disciplinado como o dos filósofos clássicos e o nosso palrar quotidiano e sem rumo, há inúmeras gradações de qualidade.

Como toda a gente, nasci com uma certa capacidade de pensar. Na minha torrente impetuosa diária, começa por haver um sentido. Posso querer pensar ou aprofundar certa noção mas, o que me acontece, na maior parte das vezes, é qualquer ruido ou visão, qualquer movimento subtil me toque, interfira, desvie o pensamento que se vai desenvolver noutro sentido e talvez mesmo se perca numa barafunda perturbadora.

Barafunda perturbadora… estilhaços, fragmentos tão pequenos, cada vez mais pequenos à medida que se sentem perseguidos, de tal modo que é impossível compor ou recompor com eles um pensamento coerente. Abandonar esse rumo e voltar ao início é impossível - aquele pensamento curioso ou mesmo admirável nunca mais se encontra.

Parece tudo tão difuso! O processo… como é difícil de entender!

Todo o esforço se transforma num desperdício sem que, em algum momento, tenha sido abandonada por nós, seres que pensam, a actividade primordial de pensar. Estamos ainda a ver o caos e a interrogarmo-nos sobre como foi possível ele acontecer, e porquê; o nosso pensamento parece ou fica sumido, mas nunca se perde a capacidade de pensar.

Esta é a minha experiência. Tentei a meditação para obter uma concentração que me permita não me dispersar de forma radical. E é possível. Mas … nunca ganhei o hábito da meditação para a qual é necessário um empenho considerável.

Explico: o que estava a tentar fazer no meu pensar, era aprofundar e lançar o pensamento que tivesse algum interesse para os meus familiares, para os meus amigos, para a humanidade (grandes propósitos!); pensamentos simples com origem definida, mas em que ninguém tinha pensado antes, qualquer cometimento no campo da filosofia, da lógica, da arte, da literatura… afastado do que é trivial e que os filósofos chamam “o bric-à-brac, o refugo e o lixo da nossa corrente mental”. Queria transformar isso em pensamento razoavelmente relevante.

Que bons e grandes desejos! E que bonito propósito!

A verdade é que os estilhaços que persigo e de que não consigo apoderar-me é o que sobra, é tudo com que fico depois de perseguição aturada. É tudo, isto é, é nada, menos que nada.

Lembro-me do que afirma Steiner, que cita W. Pauli, físico austríaco e prémio Nobel, a propósito de falsos teoremas que “não estão sequer errados”. É um pensamento brilhante e contento-me com a ideia de que os meus pensamentos agora estilhaçados e perdidos para mim e para todos, NÃO ESTAVAM SEQUER ERRADOS. Tão mal formulados que é impossível provar que estavam errados. Logo, não se perdeu grande coisa.

A que conclusões poderia eu chegar?

Dizem os sábios que a maior parte de nós, orgulhosos sapiens a viver neste planeta no século XXI, não tem mais do que uma vaga ideia do que seja pensar. Acredito nisso quando considero pensar como pensar. E poucos estão interessados em pensar, seja como for. Ou antes apenas  se for fácil, repetido milhões de vezes, e não implique disciplina e organização, grande capacidade mental e poder de concentração.

Já que o pensar é inevitável, o que há para escolher é a qualidade do pensar, é a categoria em que o nosso pensar se integra.

O certo é que podemos pensar sem limite sobre qualquer tema e de temas sem fim. Quero dizer, não há assuntos que não possamos rebater. Qualquer de nós. Não devemos pensar que não vamos chegar a nenhuma conclusão importante. Podemos chegar.

Todavia, as grandes mentes pensarem de forma exigente, com disciplina e concentração… tem subido valor. Os pensamentos de grande nível intelectual, disciplinados, rigorosos, originais e prolongados, quero dizer, continuados, capazes de levar a grandes descobertas são muito raros e apenas eles, os génios, os inventam e os transformam em linguagem de modo a serem aproveitados pela humanidade, para o bem de todos.

No entanto, sabemos que o que parece mais óbvio, pode revelar-se errado em qualquer momento, estamos sempre a supor e nada mais. Toda a ciência é provisória, mas talvez nos consigamos aproximar de qualquer coisa, não será acção totalmente inútil.

Quanto a mim, prometo-me, a cada passo, sair do “palrar ininterrupto do quotidiano”, cada vez mais vulgar, segundo ouço, e tentar voltar ao princípio da minha simples actividade pensadora a respeito de qualquer tema que me estimule, seguir um caminho novo ou o mesmo, eleger diferentes premissas ou considerar que não tenho cérebro suficientemente complexo (ou suficientes conhecimentos) e ficar por aí. Além do mais, não sei de todo se aquilo que acabei de descobrir tinha sido pensado antes por outrem. E se havia alguma realidade em tudo isso. Nunca terei a certeza de que a conclusão a que cheguei contém qualquer resquício de verdade. E, quem sabe, haverá afinal conhecimentos que me sejam inteiramente vedados?!

Não temos maneira de entender o pensamento senão usando o pensamento: isto é outra dificuldade apontada por Steiner. Não há distância entre o sujeito e o objecto, aprendi que tem de haver para chegarmos ao conhecimento. Pensamos o pensamento pensando, que esquisito! E acontece pensarmos em objectos que nunca existiram, disto tenho muita experiência. Penso na perfeição e na verdade, por exemplo, com muita frequência. Que são o quê? Que existem onde?

Provavelmente, o termo pensamento está mal definido. Steiner admite que o pensamento é a nossa essência, visto que morremos quando deixamos de pensar, apenas deixamos de pensar quando morremos tal como quando deixamos de respirar.

Não conseguimos deixar de morrer quando deixamos de pensar. Apenas conseguimos deixar de pensar quando morremos. É assim?

Pergunto: a nossa essência será apenas isso… o pensar?

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publicado às 11:22

O propósito da minha vida

por Zilda Cardoso, em 14.03.18

Analisei a minha vida inúmeras vezes, para trás, para a frente, para a frente para trás, durante muitos anos.

O continuar a interrogar-me sobre o propósito da minha existência em geral e da de toda a gente em particular continua a dar ânimo e dignidade à minha vida.

Às vezes, concluo duma forma outras de outra - não chego a ficar desiludida, Por que haveria de ir mais além do que Santo Agostinho, por exemplo? Mas nunca deixei de estar interessada em descobrir.

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publicado às 19:13

Cada dia… como num conto de fantasia

por Zilda Cardoso, em 06.03.18

DSC06585.JPG

  

Do meu balcão, contemplo a paisagem

renovada pela manhã, todas as manhãs:

o mar, o céu, as nuvens, as árvores, as rochas…

como se tivessem nascido enquanto dormia.

 

Mas hoje penso: que conhecimento adquiri

da contemplação do que me rodeia e vi?

 

Do que está perpectuamente em movimento

 não haverá saber, dá-me prazer mas não sei mais

do que ontem sabia da sua substância.

 

De modo que me animo no balcão

em devir como tudo o mais, 

sou também outra - renascida ou nova

cada dia. Tento  ainda encontrar

os brilhos novos do mar, conhecer

as danças, as formas e as cores das nuvens

o índigo do azul do céu

pensando: se confrontar a mudança

em vez de a contemplar, poderei conhecer?

 

Porém, acredito com Parménides que não adquiro

saber do que muda, do não-ser

o ser é o único que é e se pode entender.

Isto é aparência, imaginação, devaneio, quimera,

conto em movimento ou vento.

 

Não é realidade, é o prazer que aqui vivo

e experimento com os meus sentidos

cada dia: não é relevante, mas é tal a vida.

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publicado às 09:59




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