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O silêncio do lugar

por Zilda Cardoso, em 17.09.17

 

Não sei bem o que é... é o que for, existe, não existe... Não sei bem o que é. Não posso definir.

Seria natural que quisesse desenhar ou fotografar estes jardins de Serralves, mas vim com outro propósito. E, sabem, não sei bem desenhar e também não sei usar bem e tirar o máximo proveito de uma máquina fotográfica, como desejava. De modo que, se bem que em condições de grande incomodidade – sentada num banco de pedra ou muro largo sem onde encostar, com sol e vento desabrido (aí está uma combinação crítica) sobre mim – , quis escrever, estimulada pela beleza do lugar, a construída e a outra, a que cresce e evolui um pouco aqui todas as primaveras. E que é o ambiente do parque.

Quis jogar com o que aprendera de Jorge Pinheiro, com o que tinha acabado de apreciar nas salas do Museu, nas suas belíssimas obras… não soube como.

Tive durantes anos uma pintura sua, da fase que é para mim mais fácil de entender e mais atraente por isso. Mas ali há coisas extraordinárias - vinha com os olhos muito abertos, grands ouverts, depois julguei-me capaz de ver todas as coisas que houvesse para ver, de saber ver.

Não soube.

Tinha-me surpreendido com a exposição: esquecera de como é variada a sua vasta obra tão requintada como pintura “renascentista”, figurativa naturalmente, e também a abstracta, toda ela sempre tão rica de pensamentos, de preocupações e de reflexões, tão conceptual e tão arte.

Estava no jardim, em frente à casa cor-de-rosa, rodeada de visitantes observadores, desta vez não apreciei nem a casa nem o jardim. Decerto um péssimo ângulo, o meu. Ou uma desastrosa disposição: tudo muito malparecido, depois daquela imersão de excelência no Museu.

Do silêncio… gosta-se quando o há e há muitas vezes. Goza-se aqui essa espécie que se escuta e não perturba. Que é musical quando a ligeira brisa faz dançar as ramagens ao de leve e permite destacar os pensamentos poéticos de cada um.

Olho para o cimo. As nuvens brancas desvaneceram-se, as árvores recortam-se no céu azul menos intenso do que aquele sublime em que se talha a casa, muito menos intenso.

Porém, de súbito, aviões passam por cima de mim, dos visitantes, da casa e dos tanques de água verde que escorre até ao lago, lá ao fundo, tranquilamente. Aquele ruido espesso e duro repercute por entre as árvores altas, parece importante, ir demorar.

Estranho ruido, em poucos minutos, não sei bem como, já não é.

Nem sei do silêncio do lugar… Ficou. Não ficou?

 

 

 

 

 

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publicado às 19:21




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