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LUAZINHA

por Zilda Cardoso, em 27.09.17

 

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Meu amor! O que sofremos para ultrapassar a Lua! Corremos a grande velocidade durante duas horas e ela sempre constante, no mesmo lugar ao nosso lado, refastelada como um sofá! No sofá! Um sofá no sofá!

Reflexo de qualquer coisa.

Sorrindo zombeteira! Flutuando adorável.

Por fim, conseguimos, o céu ficou completamente negro. Passámos à frente.

Senti-me muito só no lugar, tão rodeada de infinito!

Porém, imaginei-me naquela posição agradável e conveniente, sobre o luzente sofá/lua ora ligeiramente laranja e macio, a repousar e a apreciar o comportamento de estrelas e planetas, co-habitantes comigo da escuridão.

Reclinei-me. Porque eu não a via agora do lugar onde estava no avião, tão perto dela. E queria estar perto dela - fria e brilhante, cheia de sabedoria e de razão, sem calor.

É isso que eu desejo na doce Luazinha, que admiro… a beleza fleumática e radiosa. Sem complicadas emoções perturbadoras, no entanto, poética.

Suave. Sonhadora. Sublime.

 

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publicado às 17:26

O silêncio do lugar

por Zilda Cardoso, em 17.09.17

 

Não sei bem o que é... é o que for, existe, não existe... Não sei bem o que é. Não posso definir.

Seria natural que quisesse desenhar ou fotografar estes jardins de Serralves, mas vim com outro propósito. E, sabem, não sei bem desenhar e também não sei usar bem e tirar o máximo proveito de uma máquina fotográfica, como desejava. De modo que, se bem que em condições de grande incomodidade – sentada num banco de pedra ou muro largo sem onde encostar, com sol e vento desabrido (aí está uma combinação crítica) sobre mim – , quis escrever, estimulada pela beleza do lugar, a construída e a outra, a que cresce e evolui um pouco aqui todas as primaveras. E que é o ambiente do parque.

Quis jogar com o que aprendera de Jorge Pinheiro, com o que tinha acabado de apreciar nas salas do Museu, nas suas belíssimas obras… não soube como.

Tive durantes anos uma pintura sua, da fase que é para mim mais fácil de entender e mais atraente por isso. Mas ali há coisas extraordinárias - vinha com os olhos muito abertos, grands ouverts, depois julguei-me capaz de ver todas as coisas que houvesse para ver, de saber ver.

Não soube.

Tinha-me surpreendido com a exposição: esquecera de como é variada a sua vasta obra tão requintada como pintura “renascentista”, figurativa naturalmente, e também a abstracta, toda ela sempre tão rica de pensamentos, de preocupações e de reflexões, tão conceptual e tão arte.

Estava no jardim, em frente à casa cor-de-rosa, rodeada de visitantes observadores, desta vez não apreciei nem a casa nem o jardim. Decerto um péssimo ângulo, o meu. Ou uma desastrosa disposição: tudo muito malparecido, depois daquela imersão de excelência no Museu.

Do silêncio… gosta-se quando o há e há muitas vezes. Goza-se aqui essa espécie que se escuta e não perturba. Que é musical quando a ligeira brisa faz dançar as ramagens ao de leve e permite destacar os pensamentos poéticos de cada um.

Olho para o cimo. As nuvens brancas desvaneceram-se, as árvores recortam-se no céu azul menos intenso do que aquele sublime em que se talha a casa, muito menos intenso.

Porém, de súbito, aviões passam por cima de mim, dos visitantes, da casa e dos tanques de água verde que escorre até ao lago, lá ao fundo, tranquilamente. Aquele ruido espesso e duro repercute por entre as árvores altas, parece importante, ir demorar.

Estranho ruido, em poucos minutos, não sei bem como, já não é.

Nem sei do silêncio do lugar… Ficou. Não ficou?

 

 

 

 

 

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publicado às 19:21

SILÊNCIO SEDUTOR

por Zilda Cardoso, em 14.09.17

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O grande portão negro e alto abria lentamente enquanto eu procurava a chave para o abrir. Surgiu o “pequenito” com o seu Bil de estimação.

- Olá!... disse eu, contente mas um pouco desolada. Olha para mim: estás triste?

- Não, não estou triste, vou passear o Bil.

- E não gostas? Tem cuidado para que não fuja.

- Já tenho ido, não foge.

Entrei. Fui imediatamente seduzida pelo silêncio.

Não havia ali quantidades asfixiantes de meias-verdades e de gestos sem sentido, de estereótipos e de lugares comuns como em quase todo o lado no mundo que fabricámos.

Ali estava a J. a preparar saladas e aperitivos em plenitude, entre árvores e ramadas, arbustos e flores, sem palavras. Muitos e atraentes aperitivos e saladas, coloridos, cheirosos, com sorrisos leves, tentadores. Acho que os pratos ficaram muito mais apetitosos misturados com estes condimentos rosados. A sua filha ajudava e mesmo o Pequenito que foi agora passear o estimado Bil, ajudara a preparar os molhos coloridos/esverdeados e pastosos.

Ele aprecia fazer experiências de realidades diversas e eu admiro a sua extrema boa vontade, jeito para seja o que for e compreensão do mundo. É tão difícil, por vezes! Carece paciência e capacidade de tolerância, interesse pelos outros a ponto de os ajudar em qualquer circunstância… Ele não terá problemas, quanto a isso.

Os amigos começaram a chegar para o almoço, bastante mais tarde, cada um com o seu enorme gelado tremendamente atraente e vi depois que saboroso, fizeram-se várias mesas e quando saí às 4 da tarde estavam ainda todos em quietude, conversando com jovem entusiasmo, sem esbanjarem a qualidade (que ali é imensa) do ambiente perfumado como e com as maçãs agrais e as uvas americanas.

Ali, nesse dia, não chegou o ruido do mundo, apenas o que o pequeno grupo fazia, não propriamente um ruido de asas, mas não era de todo desagradável.

Na minha conversa com o jovem N. sobre a sua mais recente e relevante experiência de vida (o que lhe parece a ele destempero capaz de o magoar mas que para mim é sinal de mudança nas ideias dos mais velhos, os que no momento governam o mundo), observei que muitas coisas se estão a alterar para melhor, há um esforço nesse sentido. E sinais positivos.

Nem tudo é material, não é verdade? Espero que ele compreenda que as provas a que se sujeitou serão testes, testes de limites, sobretudo. Que há diferentes mundos que são “de outra maneira”, menos almofadados talvez, e que está na hora de os conhecer.

É um momento essencial na sua vida em que porá à prova a resistência ao que parece adverso. Mostrará tudo o que assimilou e não apenas os conhecimentos académicos. Conforme será entendido pelos que importa impressionar.

Em certo momento da tarde, pedi ao mais pequeno que me contasse uma história. E diverti-me imenso com a eloquência dos seus gestos, com o seu jogo de palavras muitas vezes repetidas com diferentes sentidos. E a sequência de frases…... Recomeçou a história várias vezes, a pedido, de cada vez saiu melhor. Sem qualquer hesitação, as palavras cristalinas criavam instantaneamente as coisas que designavam. Quero dizer, as palavras simplicíssimas eram ditas com tanta convicção que ganhavam vida, nasciam antes das coisas. As coisas não existiam antes das palavras.

Foi um momento mágico, um instante único.

Fiquei feliz por ver que é capaz de construir um mundo sempre que queira, mantém uma imaginação quase “intacta”. Ele soube tornar verosímeis e motivo de alegres risadas as puras extravagâncias que engendrou.

Preciso conhecer muitos pequenitos com grande coração e excelente cabeça. Estarei atenta a captar sinais nos rostos deles. As suas expressões serão lidas facilmente para já, mas estão sujeitos, eles, a todas as influências exteriores e contaminações,

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Os meios de comunicação social e a publicidade encarregam-se de dizer como devem pensar e agir. Só posso desejar que escute muito do que importa e ouça pouco do que não lhe traz proveito, se bem que saiba quanto é difícil distinguir.

Preocupo-me com o uso que o meu neto fará do silêncio, e preocupa-me o uso que eu própria farei dele (silêncio). Já que viver ainda significa alguma coisa para mim.

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publicado às 18:09

Sem romantismo

por Zilda Cardoso, em 14.09.17

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Horas a falar consigo mesmo é, com toda a certeza, muito divertido. Pode ser… Tem sido… para mim.

Mas cansa. Muito: já não posso ouvir-me. Acho que a minha cabeça continua repleta. A esperança era que fossem saindo coisas - pensamentos que são apreensões - pelo menos, essas. E dessem lugar a outras. E isso fosse viver.

Contudo, as ideias atropelam-se, tantas, tantas. Não consigo organizá-las.

Creio que a cabeça guarda cópia de tudo o que supostamente é deitado fora, nestas cavaqueiras. O que é afastado. Não necessariamente rejeitado, talvez por isso. O que me admira é que não fica mais aliviada nunca; desafogada devia ficar. Será isto permitir que o tempo passe? Ou viver?

Resultará tomar um comprimido daqueles brancos? O efeito desses objectos é, por vezes, espantoso e também discutível. É de acreditar? Aparentemente são de ordens diferentes, ordens de realidade: animal, mineral, espiritual… o quê? Podem interagir?

Quem me dera perceber.

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publicado às 18:09

a realidade é a mudança

por Zilda Cardoso, em 06.09.17

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Somente quero falar do que não deixa raízes, E do que não partiu de raízes. Do que é superficial e vago, de preferência azul e fragrante. Apenas quero falar disso.

Se tenho de viver um dia de cada vez… que seja. Cada coisa é o que é e nada mais. Por que querer ir longe ou fundo, saber o que está para além, como se este espaço da varanda, em que diariamente me debruço, não fosse suficiente para investigar. E a imensidão fascinante, de mim ao horizonte, não fosse misteriosa e bela o bastante para ocupar o meu pensamento com proveito.

Vale atenção e sacrifícios.

Ainda há pouco, uma névoa caiu sobre a massa azul e branda e, neste momento, não me é permitido ver para além dos dois palmos em frente. Porque por um milagre que não compreendo, como não compreendo nenhum milagre, tudo desapareceu mesmo o que era suposto não estar lá. E o que eu supunha estar. E o que gostava e gosto de ver ali: não havia nada para ver.

Por outro lado, o nevoeiro é estimulante de uma séria reflexão sobre o enigma que bastas vezes se desenrola aqui sob a névoa ou sem ela. Penso na infinita variedade e multiplicidade de coisas que estarão dissolvidas e nas que estão mergulhadas inteiras nesta extensão quase-sempre-azul que sinto necessidade de explicar para meu sossego. Alguém tem que organizar de forma lógica o que penso ser, na maior profundidade, um caos. É o que compete a cada ser humano inteligente compor.

De súbito, mudo de ideias quanto a investigação superficial:: quero ir mais longe e fundo. E imaginar.também.

Quando vejo à superfície um objecto arrebatador, tenho vontade de mergulhar para verificar donde vem e o que está . a seguir, infra-superfície. Quero dizer,  a pensar nas raízes… pensando que tudo tem raiz. E pergunto-me, a propósito se, com esta água tão parada aparentemente, eu poderei mergulhar duas vezes na mesma água: é que vou querer ter a certeza... Afinal ela parece estar em pausa, não é verdade, ao contrário do que pensa um dos meus filósofos preferidos. 

Assim, mergulho duas vezes na água, hoje em pausa para mim! Vou mais além e mais fundo, sinto-me diferente e emocionada de cada vez.. E dou largas à imaginação.

Vejo as grutas de que falava Sophia e calculo o que terá dado lugar àquela renda de espuma branca tão solta, fluida, e bem trabalhada que vi há pouco: era só o encontro da água salgada com a rocha à superfície, não era nenhum sinal de coisa interessante subaquática..  

Curiosa, fui ainda mais longe e mais fundo, topei palácios e tronos de nácar, cavalos-marinhos, búzios cantando e anémonas azuis tal como conta a autora de A Menina do Mar. E contemplei mesmo a Menina a dançar. Tudo era belo e ordenado, metódico e melódico e bem-criado. Colorido  Sem conflito. Penso que, por essa razão, Sophia ansiava voltar depois da sua morte para junto do mar em busca dos instantes que lá não vivera. Era a beleza que a atraía...

Quando eu morrer voltarei para buscar

Os instantes que não vivi junto do mar”.

É tocante o seu poema agora tão popularizado! Porém, a ausência de altercação e de diálogo, de contradição, de briga, de discussão, de emoção...não é a realidade. Não parece maneira de viver, não é forma de aprender, de todo o modo: Não descortinarei nada novo se não me esforçar., se não me inquietar... essa a realidade.

Há a rotina tambem. Com ela, maravilhas e espantos deixam rapidamente de existir. Passam a episódios comuns, prontos a serem substituidos por outros mais impressionantes e perturbadores..

Talvez porque os objectos são e não sáo e eu propria sou e não sou, sei que não pode haver conhecimento perfeito. Tendo conciliado os contrários, aceito que fiquei a conhecer o que é possível conhecer, vou contentar-me com isso..A realidade será a mudança e não uma  ou outra das alternativas que encontrei para classificar determinado objecto ou acontecimento, qualquer delas é parte de uma mesma realidade, Mas serão alternativas opostas e em guerra.

Aí é que está.

"... nessa harmonia, os opostos coincidem da mesma forma que o princípio e o fim, em um círculo";. 

Gosto.

O mar foi para mim, primeiramente, apenas superfície e ondulação; depois sítio de grutas com palácios e reis, anémonas e corais. Não acreditei que párava aí a sua beleza, a sua riqueza, tive esperança de que houvesse algo mais.. Decidi ir mais fundo, mais fundo.

Terei de cavar mais, de penetrar melhor, serei mais perspicaz. Terei que pensar e lutar e compreender que sem harmonização de contrários não haverá sabedoria.

Porém, descubro que mais fundo é tenebroso. Não há que ir lá, há demasiado mistério. Será o caos absoluto e impossível de transformar em alguma coisa ordenada? Não quero ir, nada mais quero descobrir  e saber.

Prefiro imaginar. 

 

 

 

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publicado às 08:59




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