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Gateira: um País de Maravilhas

por Zilda Cardoso, em 31.07.17

Marquei um encontro particular com a Alice, a das Maravilhas, com quem, de resto, conferencio frequentemente, sobretudo em Moledo, Gateira. Quase sempre ela está lá, por isso, é fácil encontrarmo-nos.

A menos que eu esteja muito enfadada, o que raramente acontece nestes sítios, seja na Wonderland.

Deparo facilmente com algumas figuras peculiares, o Coelho Branco, o Chapeleiro, a Rainha, o Arganaz…aprecio embicar com qualquer delas, das de quem o Carroll fala e de outras. Invento eu umas tantas e ponho-as a cavaquear com as que conheço desde sempre.

Às vezes, discutimos fortemente, mas é só para esclarecer, nunca para nos zangarmos.

De modo que não me importaria que fossem sempre as mesmas, as do princípio dos tempos.

Cedo, de manhã, hoje, estando na Gateira procurei o Cheshire.

O Gato Cheshire é um grande e velho amigo sempre a espreitar e a dar-se conta das tolices que faço e digo, a quem pergunto muito, tal como a Alice. Ele dá respostas perfeitamente aceitáveis, acertadas, lógicas, segundo os  critérios comuns ou o que me parece. Não conheço quem replique de forma mais racional.

De modo que me diverte imenso vê-lo sentado num ramo – não é sempre o mesmo ramo, por isso, por vezes, procuro-o durante muito tempo; dependendo o tempo de busca da intensidade ou da claridade do meu olhar e do interesse do meu pensamento. Ou o contrário: claridade do pensamento, intensidade do olhar. Também pode depender da minha quietude geral.

Seja como for e o que for, o Gato está sempre pronto a responder com total transparência. Quando desaparece e fica só o sorriso fico ainda mais feliz; gostava de ser capaz de fazer o mesmo: desaparecer deixando o meu sorriso, que a mim não me serve de nada, não me dá conforto, mas que pode pôr divertidos os que o olham tão emancipado, sem circunstâncias.

O sorriso é o que deleita nos gatos, e não apenas neles, em todos os felinos. Embora eu goste muito de gatos, compreendo que o sorriso deles é o que merece ser melhor e mais fruído.

E apesar de adorar os frutos dourados das árvores de Moledo, prefiro ver o sorriso do Gato numa qualquer árvore; e acho que este não é o Gato Cheshire mas o da Gateira que já foi visto por algumas outras pessoas além de mim e de arquitectos sonhadores.

A certa altura do nosso encontro, meu e do Gato da Gateira  (não sei que nome lhe atribuir), lanço-lhe algumas perguntas simples só para testar:

_ Como achas que posso ir até à praia?

_ O melhor é ires pelo ar. É sempre a direito. Não há que enganar e não corres o risco de tropeçar. Se encontrares alguma nuvem… enfia por ela dentro. É macia, sabes? Também podes encontrar vento desabrido.

­ ­_ E as asas? Não são necessárias? Já perdi as minhas, as brancas, há muito tempo!

_ Não precisas de asas nenhumas, ora essa! Basta que digas que vais daqui e que eu te recomendei…

Não tens mais colunas para partir, pensei para mim. É melhor fazer o que ele diz.

Decidi experimentar e fui sem sobressalto, cheguei em tempo record. Será que posso ir sempre deste modo, mesmo quando o Gato não é visível e o aconselha?

Quanto a serem todos malucos no País da Alice… provavelmente são, pergunto-me com frequência se o País da Gateira também é de gente maluca. Eu não tenho a certeza.

Lamento não ter chegado a uma conclusão. O que eu acho é que há poucos habitantes nestas paragens e isso dificulta o acerto da conclusão.

Um dia destes, ainda me sobram onze dias de viagens, um dia destes pergunto ao Gato (que é habitante quase permanente deste lugar) ou a outro dos meus conhecidos, o que julga.

Considerar coisas sem sentido como se fossem racionais, tem um encanto evidente. Faz funcionar a imaginação e ajuda os neurónios a manter a animação habitual.

As respostas são as únicas que vale a pena dar, sejam quais forem as perguntas, porque são respostas válidas para quaisquer perguntas. E as discussões são vigorosas e entusiasmantes para quem quer ouvir. E para quem não quer e ouve.

Por mim, fico horas em silêncio, supostamente em meditação e, no entanto, estou a escutar a Alice e os outros nas suas emocionantes disputas.

………………………..

O meu sonho da Gateira no presente, com mais personagens que vou criando todos os dias, é mais confuso e perturbador do que era antes (isto é segredo), quando com poucos personagens não era fácil chegar a conclusões lógicas.

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publicado às 16:23

clarividência ou talvez não

por Zilda Cardoso, em 28.07.17

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Quando era jovem, há muitos anos, tinha dificuldade em pensar com clareza. Muitas emoções e sentimentos se misturavam com pensamentos lógicos; e conhecimentos não amadurecidos levavam a conclusões precipitadas, insensatas…e pior.

Desde há pouco tempo, consigo pensar de forma muito aceitável, conveniente e justa. Pondo, em evidência, o que realmente importa. (É manifesto que sei o valor das palavras, o pouco valor…)

Simplificando. ..

Talvez pense mais acertadamente agora do que quando era nova, é isso que quero dizer.

Calculo o que está a pensar quem me lê, neste momento: Que idade tem ela? Coitada! (este coitada arrasa-me) Ela julga saber tanta coisa! Ou então: elas ou eles (velhos) julgam saber… (Seremos nós um conjunto ou um grupo com características semelhantes…? No entanto, não é conhecido, eu não conheço nenhum conjunto natural desses).

O que mais me diverte é que os mais novos, os muito mais novos, falam comigo de maneira diferente, falam como acham que é preciso falar com os velhos. Com complacência, além do mais. Pela razão de os velhos já não compreenderem, porque se não recordam ou porque sempre ignoraram.

Logo não vão agora ficar aptos para raciocinar minimamente com lógica como se impõe, no nosso tempo. Há sempre uma demência qualquer a espreitar, mais ou menos acentuada e destinada a acentuar-se. Enfim… como se os novos não fossem – a maior parte - completamente impulsivos e mesmo doidos acerca dos assuntos que lhes interessam, como se conclui facilmente das reportagens e filmes que passam diariamente na televisão (até os de banda desenhada).

E pelas notícias e conversas veementes em mesas redondas, quadradas e ovais, de todas as formas, sobre assuntos de transcendência total como o futebol. (Não tenho nada contra o futebol, tenho contra as análises e críticas impetuosas e inflamadas que nem sequer pretendem ser fundadas e merecidas).

A propósito de nosso tempo: sabem o que é o meu tempo? É um tempo que não existia “no seu tempo”, dizem eles, os novos, a falarem comigo. E “o vosso tempo” (o dos velhos) é o que já não existe, comentam. Como se o seu tempo se referisse apenas aos verdes anos de cada ser humano ou daquele grupo grande, cada vez maior. Como se o tempo de cada pessoa não fosse todo o seu tempo de vida e não apenas a juventude tão efémera como qualquer período da nossa vida. Que, por outro lado, não termina nunca, a vida não pára, não pára! Não pára? Essa agora!...

O que se fazia no seu tempo, não é o que se faz no nosso. E o que se faz no nosso, dizem eles agora, é mais técnico, mais cibercultural, mais virtual e digital e longitudinal...e incompreensível para vós.

Como se os velhos não pudessem assimilar coisas modernas, informáticas entrelaçadas, tecnologias de estarrecer… se quisessem, se se esforçassem, se pensassem que valia a pena! Sobretudo, isto, se pensassem que valia a pena pôr a funcionar as conexões dos respectivos neurónios (carregando num botão que apenas eles conhecessem).

Eu estou a ver os erros dos novos, as falhas deles quando lhes falo ou quando algum fala comigo de assuntos marcantes e que podem ser de muito variado volume e espessura.

E eu digo alto e bom som: pára com isso! Não estás a ver que não é assim, simplesmente que não é assim?! E até fico envergonhada: será que não sabe? Ou está a achar que eu não sei ou que não tenho capacidade para apreender? Que deve fingir que não entende porque eu nunca chegarei lá… e não vale a pena gastar tempo…?

A verdade, tão clara, parece ser… eles não saberem que eu sei. E isto magoa: é o tal estatuto de velho que há que alterar para termos a competência de sermos justos. Vivemos todos juntos, faz sentido, somos pessoas que coabitam o planeta Terra no mesmo período de tempo, com objectivos longínquos semelhantes.

Não estou a ser agressiva, estarei a marcar o meu território. Posso? É o que penso serenamente. Os meus jovens e menos jovens ouvintes ficam na deles, a maior parte do tempo, são incapazes de entender que tendo chegado a sua oportunidade, o seu momento, devem aproveitá-lo da melhor maneira, que não é rejeitando sem razão, ou empurrando para fora do barco, ou desclassificando.

É dando um passo em frente.

Há ocasiões em que gracejo, outras, lamento que não saibam aproveitar… Vejo que desfrutam tanto o facto de estarem finalmente em primeiro plano, de estarem em lugares de chefia seja no que for… Fruem tanto…

Têm razão.

E não vêm como ficamos felizes por ter chegado para eles o momento de mostrarem o que valem?

O que quero dizer com todo este arrazoado é que vejo, compreendo agora nitidamente que:

 - a população se deve considerar formada por um certo número de pessoas dissemelhantes que se misturam e vivem em conjunto (não descobriram outra maneira) ou

- por vários grupos  de pessoas com as características comuns que permitiram agrupá-las ou que se agrupassem e se diferenciassem uns conjuntos de outros (simplificando desse modo a vida de todos).

Porém, penso que esses grupos que se formaram e existem afinal na população em geral resultaram de mau entendimento do que são as pessoas que os constituem e de como podem contribuir para uma vida em comum.

Refiro-me especificamente a grupos de novos e a grupos de velhos formados por figuras com capacidades diferentes, qualidades e características físicas e mentais diversas. Mas talvez que o que têm em comum seja o facto de uns, os de um grupo, terem nascido antes de… e outros, de outro grupo, depois de… certa data. Não chega para justificar o isolamento, não se opõem, necessariamente.

O que afirmo é que podem viver colaborando nas tarefas que lhes competem ou que lhes são distribuídas, num tempo que é de todos – o seu tempo - como qualquer outro “habitante do planeta”. E no espaço que é de todos. Porque é mais o que têm em comum com ”toda a gente ”do que o que os distingue.

Daí pensar e repetir que não há razão para separação, quero dizer, não há motivo para irmos viver para Marte (prefiria Saturno, mais espaçoso e engraçado, bem desenhado).

Acrescento ainda: o que acontece connosco é estarmos fartos de coisas complicadas, difíceis e trabalhosas. Deixarmos tarefas para os novos executarem… é um privilégio nosso, não é um deles e que devam aceitar (com relutância, se forem bonzinhos).

Ocorre unicamente por serem jovens e ter chegado a sua oportunidade de terem e sustentarem o poder, de governarem o mundo. E de possuírem a sabedoria que lhes compete e concorre para o seu estatuto. E é o que lhes cabe por tradição. E por conveniências várias.

Eu entendo e permito-me com alegria deixá-los fruir. Alguns desses mais novos sofreram toda a vida falta de

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reconhecimento do valor da sua inteligência e das suas acções: autenticação essencial para uma vida saudável. Gostava de poder corrigir ainda essas realidades relevantes, se bem que reconheça que dificilmente falhas deste género na juventude podem alguma vez ser compensadas. Deixaram marca para sempre.

Ninguém vai descobrir como realizar estas mudanças de entendimento de um momento para o outro. As alterações nas mentalidades vão acontecendo, importa que se caminhe no sentido que descortino agora com nitidez.

Que pensarão os mais novos do que afirmo?

“Passou-se”, dirão. Pois.

 

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publicado às 14:23

COMPREENDO OS PORQUÊS.

por Zilda Cardoso, em 23.07.17

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(Lago da Quinta do Casal do Condado (foto de Primavera Lima)
 

A minha longa experiência de vida faz com que procure viver de forma cada vez mais simples e racional.

Dá-me isso que considero sabedoria! Embora não saiba bem o que é uma vida simples e racional… nem o que é sabedoria.

E as dificuldades começam aí.

Habituei-me, no entanto, a observar as pessoas e a tentar agrupá-las para facilitar o meu entendimento das suas acções.

Verifico que são muito muito diferentes umas das outras! (É isto que melhor me ocupa o pensamento e me diverte dificultando o meu entendimento). Mesmo assim, posso ver que se associam elas próprias por interesses e por escolha de valores. E criam ideias a partir daí, concepções que não são, a maior parte, inteiramente originais. Muito pelo contrário!

E ainda bem: se fossem, haveria tantas ideias novas a todo o momento que o céu não chegaria para todas, para as exibir todas como estrelas - que é isso que apreciámos. Não saberíamos como organizá-las e torná-las atraentes e vantajosas e brilhantes para a humanidade em geral. (Há sempre alguma relevância no que se exibe para alguém, seja o mais negativo).

De modo que o que faço para conseguir movimentar-me logica e sensatamente no meio de tantas diferenças é imaginar um traço relativamente permeável em redor de cada pessoa, um círculo riscado no chão, e pensar na pessoa como razoavelmente independente já que o traço apenas a isola de contaminações integrais. Ela não fica fechada em nenhum mundo.

Vejo as qualidades dela que são comuns, a maior parte, e  as raras e características que são poucas e a diferenciam..

Assim, cada pessoa tem boas qualidades e tem más. Boas e más, seja isso o que for, convenientes e inconvenientes, úteis e inúteis… por aí fora. Algumas procuram realizar coisas, outras ocupam-se em fruir sem pudor do que as primeiras realizam. Provavelmente, não há que ter vergonha de nada, todos os achados nos pertencem.

E as pessoas são e cada uma é uma amálgama. Nunca conheci alguém que fosse unido no sentido de ser igual em toda a sua estrutura e organização. Em todo o seu ser. Na sua complexidade física e intelectual..

E vejam como, pensando deste modo, isto é, tendo amadurecido estes pensamentos, é fácil aceitar quem quer que seja sem grandes problemas. Nunca sustento desmedidas guerras com alguém, tento apreender.

Já compreendi.

Poderão perguntar-se a que grupo pertenço?! A que grupo julgo pertencer…?

Inventei algum para mim?

Não, saltei fora há muito.

Sinto-me como quem observa e não como quem participa.

Digo-lhes que era fatigante, afirmo que dá muito trabalho ainda, mas mantem-me activa e raciocinante.

Estou bem.

E prometo, de vez em quando, explicar o que vou descobrindo. Ou imaginando. Ou inventando. Criando? Talvez compondo…

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publicado às 18:46

"Não sei se tudo errei se descobri"(Sophia)

por Zilda Cardoso, em 09.07.17

 

Quando fui à varanda de manhã cedo e não vi o mar, fiquei surpreendida. Como…? Surpreendida?! Apreensiva! Na realidade, fiquei em pânico!

Desta vez, era grave. O mar simplesmente não estava lá! Tão pouco, o céu, de manhãzinha, ao alvorecer…

Alguém os ocultou? Preparou uma emboscada…Que estranho jogo! Alguém escondido ou disfarçado espera ainda ali quem, o quê? Foi a medo que pensei: quem é aguardado será acometido?

Olho frente a frente para aquele lugar e… não aceito. A alguns metros de mim, aquela espessura sem cores, sem formas cobrindo tudo…

Não estou a ver seja o que for para além dela. Mas é meu o erro.

Depois de algum tempo de rigorosa observação, convenço-me.

O mundo é outro, hoje. O que posso ver da minha varanda, o que transparece da cidade, é radicalmente diferente do que é habitual ver. Na sua extensão e no seu amontoado, os edifícios que me são próximos estão lá presos à terra, seguros pela vontade e pelo engenho dos homens e dos materiais que descobriram e usam.

Quanto ao mar… meu Deus… o mar tem o hábito de estar solto, movimenta-se à vontade, faz o que quer, é-lhe fácil sair do seu lugar e invadir o espaço dos outros. Ou passar para outro lado, abandonar amigos e admiradores. Fazer outras delícias. De outros.

Naturalmente, levou os peixes consigo, os dourados e talvez também os vermelhos. E os fulgores, as cintilações, os risos, os estremecimentos. Levou o horizonte do infinito.

Reparo que não luzem barcos, não há praia de areia dourada nem as rochas que, no entanto, estiveram aqui milhões de anos.

Volto a espiar: nada transparece porque nada há para além daquela camada baça, silenciosa e rabugenta.

Nem o céu se vê. Nada no Paraíso a Leste.

Mesmo que o céu esteja lá e o mar… mesmo que estejam lá… é o mesmo. Não me afectam porque não os sinto.

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publicado às 16:45

As grandes decisões

por Zilda Cardoso, em 05.07.17

Dizem que as grandes decisões se não tomam de Verão. Que não é tempo disso.

É antes ocasião de brilhos e de festas, de bandas e de festivais, de coretos e de romarias… Receamos muito que acabe depressa (o Verão) e que, para nosso gosto,.ele chegue cedo ao fim, 

Por mais que nos apressemos a festejar, a saborear, a dançar e a cantar, a pular e a  correr... e tenhamos em Junho os dias mais longos de todo o ano com o sol às 5 ou 6 pela casa dentro, brilhante, a afastar a indolência..., mesmo assim, os dias não chegam e as férias acabam logo. Há tanto a não fazer, tanto!

De Inverno, os dias incrivelmente entediantes, são cheios de horas e de vagares e de viagens fora. Nem o Sol quer ficar connosco. Temos todo o tempo de lareira para tomar decisões, não é agora. Hoje há o silêncio cinzento aqui à beira-mar, um silêncio que se não ouve, mas se vê naquela fina orla branca contra as rochas arcaicas.

Nada é nítido, recortado e brilhante. Aquela massa sem cor manteve-se pousada toda a manhã por aqui.

O Sol esquece-se de passar, abandona o mar, esta costa, os passeios, as esplanadas…. Tudo resta sem cor e sem definição. Silêncio, sem qualquer rumor, é desagradável.

Depois o mar estremece ligeiramente, o sol espreita, acende por minutos, não chega a iluminar. O cinzento é agora translúcido, altera a paisagem.

Começo a entender: há dias veranescos ou de veraneio que são Invernosos e alguns de Inverno perfeitamente veranistas.

Mas não há que entender.

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publicado às 22:04

A magnólia persistente

por Zilda Cardoso, em 01.07.17

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Plantei uma magnólia, há alguns anos, no meu jardim, num canteiro pequeno onde não era admissível que crescesse muito. Mas cresceu e tive que a mudar para o fundo do quintal onde não perturbaria nada nem ninguém. Na verdade, replantei-a no pomar, mas rente ao muro de limitação com a estrada exterior.

No entretanto, como ela cresceu em tão poucos anos! Ficou uma árvore gigantesca muito para além do que eu podia imaginar, mesmo depois de ter visto uma comparável no pátio do solar da família de Pedro Homem de Melo, em Afife.

As folhas nos ramos são redondas e gordas, muito verdes, luzidias e abundantes. E as flores com grandes pétalas cor e brilho de pérola que se voltam para dentro formando enorme concha perfumada são duma beleza sublime que tenho pena de não saber descrever.

Rapidamente, a árvore ocupou espaço importante no pequeno pomar e eu vi que mesmo a do solar de Afife não tinha as folhas tão redondas e tão esplêndidas, tão suculentas  como esta da Casa da Eira. Nem flores imensas e excelsas!

Está em forma de arbusto, não soube podá-la para um tronco único, ficou como arbusto com ramos que cresceram vários metros paralelamente ao terreno e se espalharam por ali, perto do chão.

Há poucos anos, cortei alguns ramos que levei para as jarras de casa, mudaram de cor com o tempo, mas não de forma e continuam do meu agrado.

No pomar, dei espaço à magnólia de modo que, as árvores de fruto que crescem para o alto e dão fruta e perfume que se mistura com o das magnólias de forma copiosa e não excessiva (sabem como misturar-se), vivem em

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paz deslumbrada.

Não é de todo uma árvore melancólica ou que me ponha melancólica, embora pense nela com frequência e saudade dos seus fascinantes atributivos. Ela é antes a árvore do meu contentamento: é exuberante e alegre e renova-se cada dia. Não se deixa amargurar por bárbaras ameaças: nem por trovoadas nem pelo Outono nem por instrumentos de tortura.

Fico a olhá-la, cada vez mais perto do céu. E quando o céu é de um daqueles azuis e uma claridade intensa enche o espaço e me enche… sinto que é a mesma, a mesma claridade, a clareza que me preenche e me deslumbra.

 

 

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publicado às 21:24




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