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Sábado sem sol?

por Zilda Cardoso, em 26.03.17

 

Assisti à inauguração da exposição de arte de Nettie Burnett num novo espaço, Codigodesign, na rua de Serpa Pinto. Houve uma performance musical a acompanhar a execução de um desenho de parede da artista.

Para mim, foi original e muito agradável, muito contemporânea a ideia.

Tenho alguns trabalhos da Nettie que me dão grande satisfação por expressarem uma visão do mundo real que será próxima da minha. E porque trabalha com uma apurada técnica que lhe permite mostrar emoções delicadas e ideias que são reflexões, percepções curiosas ou finas invenções.

Os seus desenhos a lápis de plantas, de árvores, de folhagem fascinam-me - desejaria que o meu lápis fosse capaz de trabalhar com aquele requinte.

Encontrei muitos amigos sobretudo da “colónia inglesa”, amigos dos velhos tempos de Moledo, com quem me entendo muito bem e revejo sempre com muito prazer.

E saí dali para um concerto na Igreja da Misericórdia na rua das Flores aproveitando a boleia de simpáticas amigas. Tive lugar sentada na Igreja e dispus-me a escutar a música de Mendelssohn pela orquestra da Academia de Música de Paços de Brandão dirigida por Helder Tavares.

O convite foi da Share – associação para a partilha do conhecimento - que muito agradeço.

Não posso dizer que adorei, sou eu que não entendo de acústica nem o que é ou não apropriado a determinado espaço.

Magicando nisto… estava a ficar com frio e resolvi sair mesmo antes de ouvir o solo de clarinete por Telmo Costa que, tenho a certeza, iria apreciar.

Alguns poucos minutos depois, começa a chover e eu que ando sempre de chapéu para a chuva ou para o sol ou para o vento ou para não sei o quê, não levei o chapéu. Estava sem chapéu!

De modo que a chuva era como uma bênção sobre mim: certinha e muita, molhava mesmo. E, em todo o caminho até aos táxis depois da Bolsa, caiu particularmente sobre a minha cabeça, os ombros, as pernas...

Foi muito bom, senti-me fresca e rejuvenescida.

Cheguei a casa, mudei de roupa, bebi chá quente, rodeei-me de sacos de sementes aquecidos no forno próprio e meti-me na cama com edredons e almofadas quase até ao teto.

Dormi até de manhã, aconchegada, ao som do solo de clarinete que não cheguei a ouvir.

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publicado às 13:26

Sonhei com a Primavera

por Zilda Cardoso, em 18.03.17

 

 

Era meado de Março, a temperatura alta para aquela hora da tarde…

A folhagem do chão que, no fim do Verão estalava sob a rudeza dos meus pés ou rugia mesmo, mais tarde… apenas um murmúrio me permitia escutar, se com atenção, o que dizia. E o que dizia, não parecia importante: eram coisas destinadas a serem esquecidas.

Quando chegou a chuva e o Inverno, as folhas... nem essa música terão cumprido, mas uma melodia lânguida e sem graça nem calor.

(Verdadeiramente, neste momento, as folhas do chão já não existem, terão morrido de todo, destruídas pela tempestade… varridas pelo vento).

É com a Primavera a chegar que se vai fazendo silêncio às minhas passadas. Ainda há pouco, naquele intervalo entre o Inverno e a Primavera, experimentava bocadinhos de silêncio, entremeados de silêncio.

E eu gosto e também não gosto! Gosto aqui, não gosto em casa em que, sem ruído, tudo se torna maior - mais espaçoso, branco e limpo e medonho. E só ecos.

Olho para o alto, para as árvores e vejo que folhas jovens e frágeis e quase transparentes, verde-claro, espiam, não sabem o que pensar, estão prestes a romper. Há uns orifícios apropriados, por onde elas vão desaparecer e aparecer quando já não temerem abertamente as noites frias. Assim mesmo, ficam aí por muito tempo, em crescimento, em movimento antes de caírem. Entretanto, cobrirão a árvore, vão vesti-la, refrescá-la, viver com ela.

Aprecio-as, com estas primeiras folhas tímidas, as folhas que ainda se não fazem ouvir porque não conhecem senão o mutismo da longa permanência no interior da mãe, dos ramos quase secos da mãe, antes de levantarem o queixo e se considerarem marcantes, valiosas e sábias. É assim neste antes, que eu as estimo e admiro, frágeis e cheias de desejos de ser, de viver e de dançar. Não carecem de falar, felizmente.

São mais uma nova geração com todas as suas dificuldades e relevâncias.

Nos canteiros, ainda não há flores. Costuma haver, embaladas com os tais fragmentos e sementes antigas, com terra revolvida, e tudo isso que as faz desabrochar. Mas é cedo.

Reparando bem, há algumas miúdas brancas e outras amarelas por ali, muito bem-dispostas e risonhas e frescas, viradas para o sol, são minúsculos girassóis.  

E eu continuo a caminhar.

Há-de chegar a Primavera.

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publicado às 11:18

HOJE

por Zilda Cardoso, em 14.03.17

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Fui visitar a passarada no estuário da ribeira da Granja na Foz do Douro.

Havia centenas de gaivotinhas de patas amarelas que surfavam (devo escrever sarfavam? não é bem o mesmo som…) deliciadas. A água corria para o mar com uma ligeiríssima ondulação e elas deixavam-se ir, era bom de ver. Voltavam atrás e recomeçavam a cada dois minutos… Assim ocupariam a tarde de sol e de vento. Não precisavam comer mais nem brigar mais, brincavam.

Também andavam por ali patos, muito mais sisudos, asseando-se continuamente, penas brancas e brilhantes e bonito porte. Acho que se maquilham para representarem um papel, não descobri qual.

As garças e os corvos são mais sombrios, não se regalam facilmente. Estavam no meio do rio, sobre o pouco seco, de costas para a costa, para a minha costa, e quase sempre de asas abertas como se tivessem calor.

Vêm passar o Inverno em Portugal. Estão quase a ir - se para norte, para Inglaterra e para a Irlanda. Parece que secam as asas quando pousam, é o que se diz. E também se diz que há duas espécies de corvos: o de faces brancas e o de crista, chamado galheta que vive todo o ano por aqui embora seja mais raro e difícil de encontrar. O mais comum é o de faces brancas, o que migra, o que está apenas de Inverno.

Só a voar os acho elegantes, o de crista, pelo menos.

Na água hoje nenhum pensou como a vida é difícil. Nem as garças-reais cinzentas tranquilamente pousadas, de pé todo o tempo, na rocha do estuário. Admiro a sua tranquilidade. E também o seu pescoço (de garça ou de bailarina?), as suas pernas altas e elegantes, como é moda.

Também há maçaricos das rochas e rolas do mar e piscos de peito azul… mas eu não quero saber mais, só constato que todo este mundo está feliz.

E eu regresso a casa um pouco banhada pela sua fortuna.

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publicado às 10:04

O mundo em que vivo

por Zilda Cardoso, em 12.03.17

 

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Aprecio o mundo em que vivo: tem tudo de que preciso. E talvez um pouco mais.

Todavia, não acho forçoso nem interessante reparar naquilo de que não necessito ou de que não gosto. Não tenho hipótese de o modificar suficientemente ou de o tirar daqui para fora.

Modificar talvez possa, até certo ponto. Ou adaptar-me, o que é mais fácil, e esforçar-me por gostar. Deve ser o mais proveitoso.

De resto, acho que foi bem escolhido este planeta para mim e para todos os outros que aqui vivem viverem. Foi bem escolhido.

Imaginem que tinham as nossas sementes caído em Marte ou noutro qualquer dos planetas do sistema solar. Como tudo seria diferente! Mesmo sabendo tão pouco dos outros planetas desse pequeno grupo, podemos depreender do que vemos que seria inteiramente diverso. Gostava de ser capaz de imaginar até que ponto...

Eis um esplêndido tema de reflexão.

Temos pensado sempre como habitantes da Terra – isso nos condiciona. Recriminamo-nos com os nossos erros monumentais, com as invenções destruidoras, parece termos chegado ao limite quanto a gasto e desperdício dos recursos naturais postos à nossa disposição para serem usados em caso de necessidade de sobrevivência.

Temos feito tudo mal.

Deve ser ocasião de tomar uma iniciativa importante. Mudaremos de sítio.

Vamos empenhar-nos com outros planetas. Temos um Universo na nossa frente, podemos começar, ainda há muito para ser destruído noutros.

Antes, pergunto: será que os deuses que nos puseram aqui esperavam que nos aguentássemos por tão largo período? Eles sabem, não querem tomar a iniciativa, mas sabem que já não temos mais maldades para imaginar e executar, mais torpezas, iniquidades, perversidades, traições, corrupções… e, por isso, é melhor passarmos desde já para um lugar limpo. Talvez nos ajude a melhorar.

Proponho começarmos a pensar em Mercúrio ou Vénus. Ou na Lua que mesmo a uma distância considerável tem ocupado, na sua observação, tantos de nós, poetas. Júpiter? Saturno? Neptuno?

Desde pequena que penso em Saturno, acho Saturno fascinante, brilhante e diferente. Escolheria este. E podemos começar a imaginar acerca dele… rodeado de um sistema de anéis e tão leve e enorme. Caberíamos todos não só na esfera, mas também nos anéis que a rodeiam. Talvez os pudéssemos usar para construir uma morada secundária, com melhores vistas.

Constituído principalmente por hidrogénio e hélio,  menos denso do que a água, arranjaríamos maneira de o fazer flutuar num mar gigante que inventaríamos para nosso gozo.

Se alinharem, vai ser muito divertido!

 

 

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publicado às 19:11




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