Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
(imagem da internet)
Foi um dia brilhento, ontem.
Estou no balcão, olhando o campo de cricket cheio de sol e de vento.
Não sei quando o jogo começa ou se já começou. As regras escapam-me completamente.
Dizem-me que a nobreza britânica começou no século XVII a jogá-lo, inspirado num jogo muito rústico mais antigo a que chamavam stoolball. Medieval.
Vejo muitos jogadores todos de branco o que dificulta ainda a compreensão do que dois grupos andam para ali a fazer. Se é um jogo, serão necessariamente dois grupos. Cheia de boa vontade (ninguém me encomendou o sermão!), observo.
O campo é muito amplo, mais ou menos oval, está todo limitado por um risco branco e bandeirolas. No centro, há 3 espaços: um rectangular e 2 circulares a que chamam interior ou infield e exterior ou outfield. No rectângulo, há 2 atacantes batedores com o seu taco. Nas extremidades do rectângulo, colocam-se 2 defesas, o lançador e o receptor. No infield e no outfield colocam-se defesas.
Mas o movimento do jogo é sem graça nem entusiasmo.
Leio agora na internet:
“Aqueles que têm o taco de criquete são os Atacantes Batedores e pertencem a uma equipa...
Cada Atacante Batedor coloca-se à frente do seu "wichet"... Um fica à espera da bola que lhe é enviada pelo Defesa Lançador... o outro Atacante Batedor fica à espera para começar a correr...
O Atacante Batedor, a quem vai ser enviada a bola pelo Lançador, tenta bater a bola para o mais longe possível”.
Não posso continuar. Eles batem de facto com o taco no ar ou num objecto invisível, são gestos intempestivos e quase os únicos movimentos que observo. De vez em quando, um em desespero corre pelo meio do campo e faz o tal gesto de atirar alguma coisa com muita força numa certa direcção. Ou então estão parados.
Acho que é muito sofisticado apesar de rural. Se é para divertir, distrair, brincar… é enfadonho.
Aprecio as árvores altas e rejuvenescidas já, em frente a mim, do outro lado do campo, incrivelmente graciosas contra o azul forte. O vento importuna, mesmo sendo moderado, torna árido o ambiente.
Decido regressar a casa. A gente por aqui é desconhecida, com quem não seria capaz de trocar uma palavra ... Tão esquiva população! Como pude pensar…!
A verdade é que quase sempre encontro com quem falar, pelo menos, falar. Não hoje em que permanece uma nova geração e outra novíssima palrando o tempo todo. É muito ruído.
Só posso pensar comigo, não sei se em diálogo. O momento, não é propício à invenção de nenhuma metáfora luminosa nem para a comunicar.
Eis um dia sem espelho! Apenas palavras comuns vão constituir a memória do momento, se as escrever.
Do livro de José-Augusto França, A Arte em Portugal no século XX, reproduzo:
"Amadeo de Sousa-Cardoso nasceu numa quinta familiar em Manhufe, arredores de Amarante, em 1887. FEz estudos liceais em Coimbra e veio para Lisboa em 1905 frequentar a Academis de Belas-Artes para tirar o curo de arqueitectura. O mesmo projecto levou-o a Paris, em Novembro do ano seguinte, mas ali interrompeu pouco depois os estudos preparatórios para se dedicar à pintura, frequentando academias livres e o atelier do espanhol Anglada Camarasa. Acamaradou então com os outros portugueses que vagueavam pelos ateliers de Montparnasse: Smith, Bentes, Alberto Cardoso, Emmerico, Viana, os "expositores livres" de 1911 - mas guardando certas distâncias de temperamento e de bolsa mais bem recheada pela viticultura próspera do pai".
"Amadeo notabilizara-se entre os seus compatriotas por uma habilidade certa para a caricatura."
"A pouco e pouco, porém, e num meio que o fauvismos dominava então, Amadeo dedicava-se à pintura"
"Um estilo precioso e mundano (como diria Modigliani), algo decorativo no seu grafismo estilizado e no seu colorido espectacular onde se revela a influência certa do orientalismo luxuoso dos Ballets Russes de Diaghilev, através de cenários e figurinos de Golocine ou de bakst.".
"A sua arte foi, com efeito, uma garantia de modernidade oferecida à pintura portuguesa - a única dada no seu tempo..."
Um dia cheio de azuis e de brilhos… Será o mesmo país de há vários dias? Sem vento, sem chuva, sem tristes cinzentos, sem ruídos extravagantes… É a mesma cidade… em Abril?
As nuvens brancas de belo desenho muito planeado colam-se no azul mas não ficam. Neste momento, desapareceram, dissolveram-se e o azul ficou mais intenso. Menos intenso.
As verdes folhas são jovens e frescas, quase transparentes; as flores em que reparo... em geral brancas. Tenho aqui vermelhas e cor-de-rosa.
O horizonte é perfeitamente límpido, uma linha horizontal sem mácula.
São em geral brancas.
Agustina diz que os assuntos vêm ter com ela, as histórias que conta. Está atenta e depois sabe como contar, sabe de há muito como romancear. Usa uma excelente técnica que descobriu, enorme sensibilidade e talento desmedido. E inteligência. E gosto. Vontade de contar bem para tocar toda a gente. E talvez melhorar os desempenhos futuros deles em circunstâncias semelhantes. Os desempenhos de toda a gente.
Diz coisas como esta: “O mistério da vida cumpre-se em cada homem de forma única”. Interessante e sábia conclusão.
Os pássaros vão mais devagar, nada convencidos de que seja o momento de recolher. Devia ser noite a esta hora, mas o Sol tem ainda muito que descer até ao mar. Talvez se tenha atrasado, goste de se rever no espelho aqui, ali. Porventura também para ele não haja vida sem o espelho.
Não se deixa olhar de tão reluzente, o mar, não se deixa olhar com o sol nele.
Na realidade, não há no mundo outro lugar assim radioso.
Quem não pensa em terrorismo nos dias que correm?
Parecia ser um fenómeno raro, estranho, difícil de entender. Mas, a frequência com que acontece desde há um tempo, leva a que pensemos nele como forma aceitável de conseguir atingir objectivos particularmente impossíveis. Ou como um tema a analisar.
É praticado desde sempre. Pelo menos, Xenofonte, o historiador grego contava, no século V a.C., que os governantes das cidades gregas o usavam. Sabemos ter sido exercido por imperadores romanos e, muito mais próximo de nós, pelas milícias nazis, pelo Ku-Klux-Klan, por torturadores diria profissionais, por tantas organizações separatistas, políticas, religiosas… de formas muito diferentes. Desde a velha e pungente/violência doméstica furtiva ao moderno e desvairado ataque suicida de aviões comerciais contra altos edifícios da Cidade Americana passando pelos actos dos que se imolam isoladamente por uma causa, jihadistas em defesa do Corão ou por motivos exclusivamente políticos... o que distingue estes actos tão diferentes em si e nos leva a considerá-los a todos terroristas?
O que há sempre, no terrorismo - ataques inesperados, secretos, apaixonados, e que o pode distinguir de outro tipo de violência é uma injustificação total. Ou antes, o acto só pode ser legitimado pelo desmedido ressentimento dos que o ordenam ou o executam mas cuja importância (a do ressentimento) não pode ser comparada com a gravidade moral do dano reivindicativo. Trata-se de obter mudanças, políticas em geral, e sociais. E de relacionamento talvez. Ressentimento ou melindre (é uma bonita palavra digna de melhor sorte do que ser usada a propósito de terrorismo) que terá as suas razões sempre pessoais e não para levar a sério por populações.
Os ataques às Torres Gémeas de New York foram um ponto muito alto nesta história do terrorismo no Ocidente.
Passaram quinze anos e continuamos a procurar o que verdadeiramente motivou um acometimento de tal veemência e ímpeto que pode ter mudado a visão da realidade, qualquer certeza acerca do que estamos a fazer bem e a lutar por... Não sabemos sequer quem levou a cabo esses actos que classificamos de tresloucados.
Li na Internet que o novo “terrorismo funda o admirável mundo novo” e o pensamento sobre ele “é o que há de novo em Filosofia”. Parece-me muito grave.
O que conseguem sem qualquer dúvida é criar ansiedade, e mesmo pânico, porque os ataques localizados podem surgir em qualquer momento, no meio de pessoas que vivem simplesmente a sua vida, sem relação com o assunto contra que lutam os atacantes. O que não tem importância para eles, porque a ideia não é castigar culpados. É clamar atenção para… com um acto tumultuosamente trágico! Por que clamam atenção? O motivo… não se sabe bem qual é, se bem que certas organizações terroristas reivindicam autorias muitas vezes falsas!
Numa guerra entre nações, há uma declaração que é uma prevenção, há muitos pressupostos - possível igualdade de meios e de condições. É uma espécie de competição, há quem ganhe, há quem perca (embora na realidade todos percam).
Na guerra terrorista, a surpresa é fundamental. A ideia é ficar claro que ninguém está seguro em lado nenhum, é uma violência psicológica antes de tudo e não importa quem sofre, todos os que vivem e usufruem do planeta devem ser solidários na culpa e no castigo.
Quanto ao objectivo… é sempre longínquo. Depois de a coisa acontecer, nós, os outros, os que estão visivelmente do outro lado, vão procurar a razão, e admitir hipóteses. Ao certo, não sabemos.
O acto terrorista com todas as suas incertezas adequa-se ao nosso tempo, segundo me parece, caracterizado por uma vontade de destruição que se mostra e se exalta em formas estéticas – na arte e na literatura, e na vida. O principal, de que fala Agustina, nunca é abordado. Privilegia-se o fragmento e o inacabado: quem é que ousa escrever um tratado sobre um assunto premente, sobre terrorismo, por exemplo?
Acredita-se que a destruição é criadora, a disciplina… farsa e a lei… uma injustiça. Talvez seja assim, mas para viver nesse caos, na confusão desse modo engendrada, é necessário estar muito prevenido fisicamente e intelectualmente. No aspecto moral…
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.