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LÓGICA BATATAL

por Zilda Cardoso, em 17.10.15

Lógica batatal

Há pessoas que sempre foram obscuras. Poucos as ouviam e, por isso, não faziam grande mal.

Porém, recentemente começaram a ser escutadas por força de circunstâncias várias e tornaram-se transparentes. Subitamente, é verdade, tornaram-se límpidas como pode ser o cristal. É interessante verificar isto.

Vemos perfeitamente o que estão a pensar. Soubemos logo qual a sua vontade única e extrema, a sua intenção. Tudo o que dizem passou a ser importante. Falam do bem do povo português e do que transparece claramente da leitura dos resultados da recente eleição para a Assembleia da República.

Não vejo nisso grande evidência.

O que há, é um desejo imenso de protagonismo e a vontade de não deixar fugir a oportunidade de o conseguir. E uma outra determinação que essa é aceitável em qualquer político: o desejo de não perder o eleitorado.

Mas a única coisa perfeitamente legível a partir da análise dos resultados da votação é que estamos muito confusos e não medimos as consequências da nossa atitude, quero dizer, o alcance de nos abstermos, de irmos apanhar sol ou chuva algures, de imaginarmos este ou aquele castigo que quisemos impor a certo partido…

Finalmente, o resultado… são números, devem ser números frios, que se sujeitam a operações simples de aritmética, somas e subtracções, por aí…E donde resultam decisões coerentes, isto é, lógicas.

No entanto, a lógica sempre foi uma batata para os políticos.

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publicado às 11:38

AGUSTINA, grande escritora, grande amiga

por Zilda Cardoso, em 16.10.15

No aniversário de Agustina Bessa-Luís

 

“E, no entanto, o humor sempre era melhor agente de união do que os afectos e até os interesses comuns. Andava o coração do mundo afastado da glória verdadeira, que não é força ou sucesso, mas génio para equilibrar as suas contradições. Ninguém é eternamente dócil nem eternamente ingovernável. A liberdade está, não no desespero dessas duas proporções, mas na constância da paixão pela igualdade dos homens, que resiste à influência dos acontecimentos. A influência é sempre um rebaixamento do destino humano.”

Acrescento uma célebre frase de Agustina, que tal como o primeiro texto aqui reproduzido, aparece no livro Crónica do Cruzado Osb.:

“Se quando eu morrer não tiver convencido ninguém, é porque a minha vida foi um êxito”.

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publicado às 11:14

Que confusão!

por Zilda Cardoso, em 12.10.15

Que confusão!

Ontem dizia procurar ver claro, não estar confusa. Esforço-me… mas estou embaraçada. Não teria importância nenhuma se não me tivesse apercebido que o mesmo acontece com a maioria dos Portugueses. Estou muito confusa senão acerca da generalidade dos acontecimentos quotidianos, pelo menos quanto aos sucessos políticos. Com o que se passa a nível de governação do País.

Alguém compreende? O que sucedeu e o que se seguiu? Ou o que está ainda a seguir-se?

Nenhum dos sábios que escrevem sobre temas políticos está a depreender… Parecem ter a certeza, mas isso é a sua maneira de falar e de escrever. Não me parece que saibam prever o que acontecerá depois de 4 do passado Outubro nos próximos tempos, que é o que nos interessa.

Muito diversos depoimentos, contraditórios até mais não poder ser, se destinam a semear grande agitação tal como os jornalistas foram ensinados a apreciar, para seu bem. E os comentadores experimentam o mesmo.

E não parecem saber como costumam achar que sabem. Com consistência.

Há os jornalistas contra os quais nos costumámos insurgir, não sei se merecem. Procuramos nos seus textos informação e eles sabem é piscar o olho a despropósito e dizer inconveniências desrespeitadoras. Não gosto.

Depois dos sábios e dos jornalistas… quem há aqui que possa ajudar? Facebookianos? Tweeters? Não sei quem há-de explicar o mínimo de elementos que me permitam sequer reflectir, isto pensando que aqueles deverão à partida ter acesso a mais informações do que os simples mortais. Pelo menos, os comentadores encartados e os jornalistas de referência com conhecimentos de matemática aplicada.

Depois de ler e ler, em seguida a tentar ver claro, a reflectir sobre resultados e pareceres… apetece-me alinhar as opiniões assim e as assado, somar tudo e dividir por dois para ter a média, a razoabilidade. Poderá construir-se assim o resultado, entender-se talvez.

Porém, tudo se torna mais claro quando pensamos que não estamos a eleger directamente o primeiro-ministro mas deputados para nos representarem na Assembleia Nacional. Podem ser feitos jogos e devem ser para obter maiorias senão tudo fica em banho-maria ou em vinha-de-alhos, não passa - tudo depende da habilidade no jogo e da capacidade de negociar. Sobretudo da capacidade de negociar como acontece com os managers futebolísticos. Parece que há portugueses muito bons nisso.

Então, quanto a eleições democráticas… temos conversado, está tudo resolvido. Agora são exigidos outros talentos decerto obscuros, para já misteriosos. E voltamos à confusão de que falava no princípio, mas sabendo desde logo que tudo vai correr bem com uma palmadinha nas costas.

É preciso procurar esclarecimentos com os políticos que vêem o voto popular, o resultado, com extrema clareza. Sabem exactamente o que o povo quis dizer com o que disse, coisa que nem a população que votou sabe e o Presidente da República está a tentar adivinhar.

E portanto só há que obedecer à ordem claramente expressa. Entretanto, eu totalmente ignorante e a maioria dos meus pares julgávamos que o PSD com o CDS em coligação tal como  se apresentou a eleições tinha - a coligação - ganho por maioria a votação para a Assembleia.

Afinal,  não. Porque outros partidos que não estavam associados entre si concebem agora que a maioria dos eleitores os quis ligados e que portanto foram eles que ganharam e pode haver um governo com estes partidos chefiado por alguém desta imaginada coligação, aliança, confederação ou o que for.

Passei de confusa. Amanhã ou depois teremos por milagre um governo estável, credível e consistente.

 

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publicado às 20:01

estes são os meus dias

por Zilda Cardoso, em 10.10.15

Construo o meu dia sobre dias já construídos.

Ponho todo o carinho e eficiência nesse trabalho como um oleiro quando molda com as suas mãos delicadas as peças de barro que cria. Às vezes, sai um dia maravilhoso que fruo nas suas vinte e quatro horas; outras, nasce um tristonho… com nuvens e chuva e algum sofrimento.

O que importa é que dependem de mim, do meu gosto, do meu interesse, da minha disposição, dos meus conhecimentos e sentimentos.

São os meus dias. Não têm que ser como os que lhes servem de fundo nem têm que ser como os de qualquer outra pessoa. Tenho autonomia em relação aos meus dias (e eles em relação a mim, se bem que não esteja muito certa disto). E sou senhora deles, quero dizer que tenho poder sobre o mundo dos dias, embora lhe pertença, viva nele e não tenha como sair, a não ser apagando-me de vez.

Vi-me com eles há muitos anos e senti: tenho que me desenvencilhar. E posso vivê-los como entender. O que se passa com os outros para não verem as coisas da mesma maneira? poderia ter dito Virgínia Woolf.

Pois que se passa com os outros? Quanto a mim, procuro não fazer confusões, não ficar passiva nem contemporizar com seja quem for; esforço-me por ver com clareza, por encontrar a justiça e a lógica, por enfrentar os problemas com alguma informação adequada e por ser capaz de lutar contra ideias com que não concordo mesmo a nível social.

São os meus dias. Tem sido uma vida boa? Devo preocupar-me em deixar boa impressão? Na verdade, não. Mais tarde ou mais cedo, todos vão sair deste argumento e deste contexto.

Interrogo-me se esse barro moldável (até que seque) tem alguma coisa dentro… como espírito?!

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publicado às 20:26

Falar do que não existe

por Zilda Cardoso, em 06.10.15

 

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Tenho afirmado com segurança que apenas escrevo sobre aquilo que de algum modo aprecio. Não me interessa pensar nem falar do que não gosto. E pronto.

Claro que me deleitou o pão de beterraba que me ofereceram há dias – pela cor, pelo perfume, pelo aspecto. O sabor não é nada mau nem o valor nutritivo. E há outras coisas apreciáveis que habitualmente me ocupam o pensamento e de que falo…  já calculam o quê.

Também consultei o arquivo do meu blogue e concluí que tenho falado com insistência das minhas asas – “asas que um anjo me deu” - e da Hungria Exemplar; da Galeria Sousa Cardoso e das suas exposições de arte tão peculiares. Opino sobre a missão dos Portugueses no Mundo, sobre a Anémona dos Pescadores e acerca de outras anémonas inspiradoras…

Imaginem que conto até à saciedade do que avisto da minha varanda e aconselho cada um a ter um bom coração e a fazer sadias resoluções para o ano seguinte ou o mês seguinte ou para o futuro.

As minhas figuras predilectas, escritores e artistas, nomeadamente,  Agustina, Luísa Dacosta, Vieira da Silva, Arpad Szènes, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, Lobo Antunes são por mim muito comentadas e… posso recitar par coeur os poemas que decorei na minha juventude e ainda conservo em memória.

Todavia, a actual expo em Serralves lembrou-me como é bem mais interessante falar de coisas que não existem. Coisas que posso pensar e sentir fora do que elas são na sua existência no real. O que quero dizer é que, ao observar atentamente obras de arte conseguidas, poderei ser influenciada por elas que me sugerem novas formas de pensar, de imaginar e de actuar e mesmo modernas versões da realidade. É essa a sua função.

Possivelmente opõem-se ao sistema de valores que nos orienta.

E por que razão não é esse o sistema de valores mais desejável, o que já nos guia e nos porá felizes para sempre? Quero crer, porém, que não será. Se fosse, não haveria guerras de toda a violência nem migrações em massa, nem corrupção nem descriminação gigantesca, nem falta de cultura nem de educação. Seríamos todos iguais e bonzinhos, teríamos a mesma visão dos problemas, encontraríamos, para eles, soluções semelhantes, não haveria ciúmes nem ódios nem crimes de qualquer espécie.

Então, posso continuar tranquilamente a falar só de coisas belas? Do seu valor estético? Nem por isso. Não? Ou sim. Falarei de belas obras executadas por artistas que conseguirão por apaixonada sugestão corrigir os erros dos nossos raciocínios comuns e para que tendemos. Conseguirão alterá-los para sempre, desde que nos concentremos no seu sentido. No sentido da sua crítica ferozmente emocional, por vezes.

Gostava de saber criticar essa crítica, será emoção de mais para mim. Por outras palavras: as obras de que me proponho falar daqui em diante (não quero dizer que vá acontecer, é apenas uma proposta que me faço), para as quais me sinto atraída em primeiro lugar pelo seu valor estético, apontarão novos e múltiplos valores (serão obras abertas) que poderão melhorar o meu…, o nosso comportamento futuro quanto a relações uns com os outros e com o mundo. E aperfeiçoarão os outros e o mundo em consequência.

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publicado às 14:11

VALE A PENA

por Zilda Cardoso, em 03.10.15

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Apenas falo do que me alegra, do que considero belo e merecedor de atenção, do que vale a pena. O que vale mais a pena?

Alegra-me a paisagem tranquila, o mar como tem estado, o céu e o sol a iluminar os jardins e as esplanadas. Quase faço desta contemplação um ofício, já o disse. Podia escrever sempre sobre o tema porque eles todos, estes elementos, estão aqui cada dia a diferenciar-se, a mostrar-se interessantes.

Às vezes, há sombras e mesmo chuva ou vento, mas sobre isso não conto porque não me compraz. Dispenso, não me dá qualquer animação.

Se bem que, por vezes, e por breve tempo, aprecie as loucuras do clima, não estou apaixonada pelo mar nem pelos outros elementos resplandecentes que tão bem me rodeiam. E não só naturais; aquele Terminal de Cruzeiros lá ao fundo, belíssima obra de arquitectura e com certeza de engenharia, toda branca e luminosa, recortada no céu de qualquer cor, participa já da paisagem do lugar.

Não me apaixonei por nada disto nem por nada, mas estou realmente amorosa a ponto de querer viver aqui para sempre: o lugar está no meu coração. 

Aprecio afastar-me e regressar na convicção de que não houve entretanto uma revolução apesar de nada estar igual. É principalmente disso que gosto: nada está igual sem revolução. Por exemplo, o perfume ambiente… dizem que mudou. É agora como alfinetes, incrivelmente doloroso, nas têmporas e nos meus ouvidos.

E hoje vejo aves em voo cruzado em frente a mim ou na direcção do Parque. Não oiço o ruído das suas asas porque estão húmidas, sobre o mar estão sempre húmidas, e não cantam. Assim mesmo, como as admiro!

É um detalhe.

Com tudo isto, está a findar o Verão, vou ter que inventá-lo nas próximas estações, como se o tempo pudesse retroceder, mesmo se em reduzidos momentos. É mesmo dele que sinto sempre apetite. Estou preparada, devo dizer, com o meu véu de sorrisos no rosto, pois não me ficou memória do que foi, seja, dos mais recentes acontecimentos. Por vezes, todo o cenário que avisto me parece preparado para uma intriga ou uma representação sem consequências no palco do mundo.

Uma celebração? Podia ser. Ou não e sou eu que não sei ver para além – é que possivelmente  haveria verdades para descobrir.

 

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publicado às 17:54




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