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Moro mesmo à beirinha...

por Zilda Cardoso, em 29.08.15

Como podia não estar feliz, diz-me?!

Os pássaros passam em bandos

com o sol dourado e brilhante por trás

Tudo anil sobre oiro em redor.

 

E há os pombos azuis perto do chão

quero ir com eles para onde não sei que vão.

Passam para o mesmo ponto horizontal

rente ao mar ou mais alto a norte.

 

Fico só em silêncio constrangido

porque desconheço onde quero ir com eles.

Seja onde for, nem sei se o mar é só um

se me separa doutro lugar, doutro mar.

 

Devo saber… para os cativar.

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publicado às 08:22

Moro à beira do mar...

por Zilda Cardoso, em 28.08.15

Cada manhã, pinto o mundo

não como espelho

nem falo dele com palavras

que o descrevessem

porque não descrevem.

 

Não, apenas o silêncio me conforta.

Poderei de tão alto ver e sentir melhor

os seres de além acima de mim

e outros mais nítidos no horizonte?

 

Não sei donde vim e por que me importa.

Ninguém me pode dizer quem é quem

aqui e o quê. Dirão: são praias mornas

e o mar é agora azul riscado de ondas

espelha o céu de nuvens brancas esboçadas.

 

Ontem era cinzento e pesado.

O mesmo lugar? pergunto.

Daqui a pouco, tudo será diferente

Ou serei eu desigual.

 

Calculo que vou ver outras pinturas

Talvez o céu cheio de estrelas

Que nunca descubro quem ali põe,

Por mais que me apresse a ver

não chego a tempo de contemplar.

 

Mas são. O mar fica escuro e invisível

Só o ouço ressonar contra os rochedos.

Vagamente. Não creio que alguma coisa

vá acontecer neste lugar hoje

de que venha a ter saudade eternamente.

 

Ele, o mar, também é solitário.

 

 

 

 

 

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publicado às 15:16

Moro à beira do mar...

por Zilda Cardoso, em 28.08.15

Cada manhã, pinto o mundo

não como espelho

nem falo dele com palavras

que o descrevessem

porque não descrevem.

 

Não, apenas o silêncio me conforta.

Poderei de tão alto ver e sentir melhor

os seres de além acima de mim

e outros mais nítidos no horizonte?

 

Não sei donde vim e por que me importa.

Ninguém me pode dizer quem é quem

aqui e o quê. Dirão: são praias mornas

e o mar é agora azul riscado de ondas

espelha o céu de nuvens brancas esboçadas.

 

Ontem era cinzento e pesado.

O mesmo lugar? pergunto.

Daqui a pouco, tudo será diferente

Ou serei eu desigual.

 

Calculo que vou ver outras pinturas

Talvez o céu cheio de estrelas

Que nunca descubro quem ali põe,

Por mais que me apresse a ver

não chego a tempo de contemplar.

 

Mas são. O mar fica escuro e invisível

Só o ouço ressonar contra os rochedos.

Vagamente. Não creio que alguma coisa

vá acontecer neste lugar hoje

de que venha a ter saudade eternamente.

 

Ele, o mar, também é solitário.

 

 

 

 

 

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publicado às 14:55

A ANÉMONA dos Pescadores

por Zilda Cardoso, em 02.08.15

 

 

(imagem da internet)

Por um largo período, todos os dias da minha vida eram marcados por acontecimentos em que devia participar e a que devia dar valor. Eram valiosos para os que me rodeavam e para mim. Muito numerosos factos dependiam da minha acção.

Passou.

No presente, parece nada ter essa característica: tanto faz fazê-lo como não o fazer, seja o que for, dizer ou não dizer sem ou com diálogo, escrever, publicar ou guardar para mim, agora ou mais tarde… que consequências tem? Nada no mundo se altera já com a minha actuação, mesmo muito bem intencionada.

É repousante!

Por que não me sinto particularmente feliz com isso?

Hoje, este dia esplêndido de sol, saí numa direcção diferente da costumada, nos últimos tempos. Tencionava visitar a Anémona de que tinha observado ultimamente imagens surpreendentes e interessantes. Poderia gozar a sorte de a fotografar de um ângulo insólito.

Quando cheguei ao Edifício Transparente, resolvi entrar para uma sobremesa. E depois voltei para trás: estava cheia de calor e cansada. Pensei ver a anémona lá de cima, do nível da estrada, tão perto. E subi.

Não vi a Anémona!! Fiquei perfeitamente escandalizada. Estupefacta: como se atreveram…?! Ela pertencia àquele lugar, não podia ser tirada dali sem um referendo universal!

Mas que ideia! Ruminava eu, a caminho de casa. E para onde a poderiam ter levado?

Continuei a caminhar e a afastar-me. De vez em quando, olhava para trás: estava a ficar muito agitada. Que extraordinária fantasia!

E que podia eu fazer? Nesse momento, era afinal marcante que fizesse alguma coisa? Ainda podia ter uma acção decisiva?

À quinta viragem de cabeça para observar o famoso monumento aos pescadores que se tornou tão querido dos cidadãos da minha cidade e da vizinha… ele estava lá.

Juro! Ele estava lá! ESTAVA.

Impecável, inteiramente vermelho, sem movimento, voltado simultaneamente para o mar e para o céu, deixando-se mirar todo através de si, idealmente estranho e deslumbrante. Sumptuoso e modesto: uma beleza.

Que posso concluir disto?

O meu pensamento realizou um milagre muito desejado. Tem um poder imenso. Tem o poder de realizar coisas concretas, excepcionais que dizem respeito ao mundo real e à humanidade em particular.

I am still Mariana.

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publicado às 18:45




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