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OS GREGOS

por Zilda Cardoso, em 30.07.15

 

(imagem da Internet)

 

 

“A incandescência da actividade intelectual e poética na Grécia Continental, na Ásia Menor e na Sícilia nos  séculos VI e V a.C. continua a ser única na história humana. Sob certos aspectos, a vida do espírito de então em diante não passa de uma longa nota de rodapé. É uma evidência que se impõe de longa data. As causas desta súbita aberta de sol, os motivos que a provocaram no seu tempo e lugar continuam a ser pouco claros. O “politicamente correcto” penitencial que hoje prevalece e o remorso do pós-colonialismo tornam inquietante levantar sequer as questões que seriam pertinentes, perguntar porque foi que o prodígio ardente do pensamento puro triunfou em dado lugar e quase em mais nenhum (que teorema produziu a África?)”.

“Os factores que interagiram foram necessariamente  múltiplos e complexos – implosivos, … … Entre esses factores, contam-se um clima mais ou menos ameno e a facilidade das comunicações por mar. As ideias viajavam com rapidez: eram, no sentido antigo e figurado do termo, “mercuriais”.  A acessibilidade das proteínas, cruelmente negada a grande parte do mundo subsaariano, pode ter sido fundamental. Os nutricionistas chamam às proteínas “o alimento do cérebro”. A fome e a subnutrição estropiam a ginástica do espírito”…   …   ...

“Mas as correntes profundas de um autismo fulgurante que associam a matemática grega e o debate teórico e especulativo, que exaltam a perseguição da verdade acima da sobrevivência pessoal, iniciam a grande jornada do Ocidente.”

(Vale a pena ler o que sobre o “milagre grego” escreve George Steiner, actualmente professor de Literatura Comparada na Universidade de Oxford, professor de Poesia em Harvard, colaborador do New Yorker, de The Times e de The Gardian no seu livro A Poesia do Pensamento, pag. 27 e seguintes).

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publicado às 14:26

Sonia Delaunay

por Zilda Cardoso, em 20.07.15

Poucos artistas terão combinado tão bem arte aplicada, design, dança, poesia e, do mesmo modo, cor, luz, movimento

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 … como Sonia Delaunay.

Vi encantada a exposição retrospectiva na Tate Modern em Londres (permanecerá até 9 de Agosto), organizada pelo Museu de Arte Moderna de Paris e tentei compreender a complexidade da sua obra e da sua vida. Registo aqui as minhas impressões, a partir também do que li no prospecto distribuído.

É sobretudo uma artista moderna, para já… moderna, ainda moderna, moderna para sempre. Celebrou tecnologia, vida urbana, viagem, dança, diz-se no folheto da Tate. E tentou transpor os limites tradicionais da “fine art” para se dedicar à moda, aos têxteis, ao vestuário, à decoração de interiores, à arquitectura e à publicidade. Teve uma muito bem sucedida casa de moda, colaborou com escritores sobretudo poetas… A poesia parece-me uma constante nas suas obras apesar de tão cheias de cores vibrantes e dinamismo.

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Nasceu na Rússia em 1885, viveu na Alemanha, em França, em Portugal e Espanha.

Interessou-me saber que com seu marido Robert Delaunay a partir das ideias do cientista químico M. E. Chevreuil (que estudou de que modo a percepção das cores parece mudar quando são colocadas ao lado umas das outras) desenvolveu a teoria do que ambos chamaram simultanismo e que será a teoria dos contrastes de cores simultâneos.

No caso de S.D. estas ideias foram aplicadas não apenas à pintura mas a uma variedade de formas de arte. A paisagem que lhe interessava era a da cidade nos princípios do século XX e dos acontecimentos que ali ocorriam. Como a dança, na verdade, o tango, tão na moda na época, e que ficou como símbolo de modernidade.

Frequentava o salão de baile Bal Buller e desenhava fascinada com os movimentos dos dançarinos. Em muitas ocasiões levava um seu vestido “simultâneo” que parecia estabelecer diálogo entre o abstracionismo e o movimento dos bailarinos.

(continua..) 

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publicado às 16:39

Referendo

por Zilda Cardoso, em 11.07.15

Contrariamente ao que sempre disse, afirmo hoje que a rotina é a coisa mais saborosa, tranquilizante e saudável que me foi dado descobrir. O que de melhor poderia ter na minha vida.

Ninguém precisa de mudar todos os dias o que veste, o que come, o caminho que percorre, o pensamento que lhe acode… Ninguém precisa de alguma diferença dessas para se sentir feliz.

E todos são felizes com a rotina, não é?

Acho que tenho vivido uma vida agitada. Não, não é isso, não é assim impetuosa!

No entanto, grande alvoroço aconteceu à minha volta, em muitos momentos reais. Foram guerras e conciliações, terramotos e incêndios, ondas gigantes e inundações assustadoras… e também coisas boas e belas.

Assisti a reviravoltas de toda a ordem. Vi o fim da revolução soviética, coisa que não julgava possível e assisti ao derrube da suave ditadura do Estado Novo… que não me pareceu nunca realizável senão alguns dias depois de o ser. Ainda me parece um acontecimento de fantasia, acentuada a ideia com a leitura do excelente livro de Lídia Jorge Os Memoráveis.

Assisti a revoluções importantes no campo da técnica e da ciência. Descobertas extraordinárias quase transcendentes que nos fazem viver mais, não digo melhor. Talvez melhor também.

Foi conferido um Prémio Nobel a um escritor português e dei conta da atribuição de inúmeros prémios importantes a compatriotas não apenas a escritores mas a artistas, a arquitectos, a investigadores da ciência, a pensadores, a desportistas…

Vi Eusébio ser colocado no Panteão Nacional - apenas modificando na ocasião o meu conceito de herói nacional - como exemplo de excelência profissional e humana. E soube doutros portugueses considerados os melhores do mundo: jogadores de futebol e treinadores; e ganhadores de medalhas de ouro aqui e ali, em vários desportos… E até tivemos um especial “special one”, na sua área efectivamente admirável, único.

Para dizer que, por exemplo, os portugueses têm sido relevantes empreendedores; de formas diferentes, têm realizado coisas brilhantes e movimentadas, romperam estereótipos e tiveram procedimentos fora do comum…mesmo muito depois de ter passado o tempo dos descobrimentos marítimos e dos poemas épicos de louvor à excepcional grandeza dos seus feitos.

Todo este movimento me lembra o filósofo do devir Heraclito, de Éfeso, colónia grega (Itália), que viveu no ano 504 a.C. para quem o universo muda e se transforma infinitamente a cada instante. Dizia que há um dinamismo interno que o anima, que tudo é movimento, que o sol é novo todos os dias, que não podemos banhar-nos duas vezes na mesma água de um rio… essas coisas que todos repetem sem entender muito bem. Para ele, tudo o que é fixo é ilusão. O nosso pensamento deve participar do pensamento universal. Da guerra entre opostos, sairá o conhecimento, pareceu-me certo.

Porém, hoje, talvez apenas hoje, admito outra coisa, contrária. Neste dia, acredito na permanência, no ser, no uno. Parece-me que só se pode ter conhecimento do que não muda. Disse Parménides: “o ser é, o não-ser não é”, isto é, não existe. Existe o que é. Quem pode duvidar?

Parménides de Eleia, colónia grega (na Turquia) onde viveu cerca do ano 515 a.C., era o filósofo do ser e da permanência.

Houve posteriormente conciliações das duas teorias, mas Parménides, o que escreveu um poema filosófico de que restam migalhas, é de longe o meu favorito, no momento.

É tão bom estar preguiçosamente quieto, repetir os gestos de ontem e de anteontem, as falas dos arrojados jornalistas que formam por si uma imensa nuvem obscura que nos tapa o entendimento e nos envolve, não nos permitindo ver ao longe nem com nitidez, esses que formam com os políticos um grupo espesso e impossível de perceber

Mas vamos repetindo as palavras deles, como oraculares. Como se só pudesse haver conhecimento do imutável, da substância que permanece oculta sob as aparências da mudança.

Temos que fazer uma escolha: sim ou não. Depois do que… fica tudo na mesma, sem dúvida, seja o que for que tenhamos nomeado. Porque ninguém compreende a diferença.

E, por tudo isso, é bom estar quieto e repetir o mesmo, o repetido. O expressivo redundante. Não ter nenhuma ideia nova, não imaginar coisa alguma, não falar nem mexer uma palha. Não tomar partido, não executar nada que seja dissemelhante, novo, original, não quebrar a rotina, em nenhum momento seguir a moda…

Por outro lado, NÃO HÁ DESCANSO POSSÍVEL.

Sim ou Não? Ser ou Devir? Rotina ou rotura?

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publicado às 11:29

Jazz no Parque de Serralves

por Zilda Cardoso, em 05.07.15

Caminhava incerta pelas ruas do Parque ao som do jazz pós-rock de ensaio para mais logo, se compreendem o que quero dizer.

Aquela música dissonante dava-me um andar instável e punha-me a cabeça aos gritos.

Depois de ter ido visitar as exposições no Museu, achei-as estranhíssimas, é o menos que posso dizer, (não sei o que dizer delas), vejo que tudo se assemelha, afinal.

E não importa dizer o que está dito, tocar o que foi tocado, pintar imitando a natureza, ou fazer fotografias que a copiam muito mal: apenas ajudam a lembrar o que já se viu e lá continua, possivelmente.

Os ruídos daquele jazz que não é o meu preferido, extinguiram-se por alguns minutos. Voltei a ouvir o chilrear nas árvores e os gritinhos no relvado. Escuto o silêncio de fundo que deixa a descoberto os sons mais ou menos coloridos, mais ou menos próximos: de passos na calçada e nas escadas de pedra e outro que acontece no alto, do que passa lá no alto, a cada instante.

Aprecio os movimentos dos braços das árvores pesadas e o esquisito som dos maleáveis de folhas ligeiras e dançantes.

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Tantas qualidades de sons, que bela mistura! O ruído agudo do meu ouvido ajuda a compor e a organizar a música desta tarde, à espera não de Godot, mas da hora do concerto.

São seis horas da tarde, vejo muita gente de outro tempo, cabelos grisalhos, desejosa de recordar outros belos momentos. Ou de ter novos, sublimes.

Este é o primeiro dos três concertos da época que promete novos estilos de jazz. O grupo de hoje é francês, I.Overdrive Trio, constituído por trompete, guitarra electrica e bateria.

O trompete foi especialmente interessante para mim: Remi Gaudillat soube criar um ambiente psicadélico, pós-rock mais do que jazz, mas também outros momentos mais suaves inspirados em obras de Barrett e Leo Ferré.

Sob um céu de chumbo azulado, os aviões continuaram a passar e os músicos a tocar a sua música diferente, de boa qualidade e originalidade que apreciei ouvir e viver como realidade.

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publicado às 20:48

De maneira simples e natural

por Zilda Cardoso, em 01.07.15

 

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Sinto-me privilegiada quando me é permitido participar da vida de filhos e netos. Às vezes, abrem-se um pouquinho e eu entro alegremente com complexos programas em mente. Seja, ajudar no que eles quiserem ser ajudados, o que for.

Gosto de conhecer a sua vida, de entender.

Nada de me imiscuir, não é isso, mas algo como aconselhar sem conselhos. Com conhecimento de causa. Procurar ver com inteligência tendo em conta a espécie de sonho que acalentam. E que também me dá o maior prazer acolher e alimentar. Nutrir-me dele.

Coisas que parecem tontas pelos meus padrões de sensatez madura e que representam oportunidades desaproveitadas em tempo devido … agora podem ser outra coisa, ter um significado diferente, serem realizáveis. Ou puderem continuar a ser sonhos, sem problema.

Talvez afinal eu tenha um coração vulnerável e começado a considerar acontecimentos ditos insensatos como muito aceitáveis; lhes encontre qualidades de importância futura em diferentes circunstâncias.

Entenda-se: não quero resolver problema nenhum, Os problemas não são para resolver, são para pensar. São para ir pensando, já que nunca estamos satisfeitos com conclusões. Nunca acabamos de pensar. Aparentemente ainda bem.

Porque estaremos ocupados a inventar coisas… quanto mais não seja… para justificar a própria existência. É isso que queremos.

Procuro processar aquela informação dentro de mim, a informação que me é fornecida, transformá-la em algo prático, com valor, de modo a fazer salientar o que mais importa. O que mais importa, passa a ser o que importa.

Por mim, estou sempre intensamente disponível para pensar. Poderia fazer outra coisa?

(Quando precisarem de que alguma coisa seja pensada… falem comigo: tenho tempo, além do mais).

 

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publicado às 13:43




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