Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Daqui abalo, na tarde de sol
pelo luzente azul navegando
à vela ou cavalgando gaivotas
recortadas num outro azul
através do mar e do céu
sem vento sem nem nuvem
para um ponto no horizonte.
E lá no “puro longe” passo a viver
entre tons e sons doces gentis
num sonho de ser outra, diversa
e solta, entre ecos e azuis.
(Imagens do Público, Fugas, 23 Maio 20015)
Esta semana, o FUGAS, excelente suplemento do Público, que sai ao sábado, anuncia na capa que comemora 15 anos de existência, e divulga uma pergunta importante:
“Como é o seu Paraíso?”
Responde Miguel Esteves Cardoso e alguns outros.
O primeiro com muito humor, como é seu hábito, diz “algumas verdades fofas e nuas sobre o paraíso”.
Amílcar Correia fala do Havai e das ilhas do Paraíso ou da Felicidade.
E de Cáceres, Andreia Marques Pereira e Adriano Miranda recordam que a cidade é o terceiro Conjunto Monumental da Europa além de Património da Humanidade. É um exemplo de cidade medieval, renascentista e contemporânea e, não menos importante, foi capa da primeira revista Fugas.
Depois há as ruas em Lisboa e no Porto chamadas do Paraíso visitadas por Alexandra Prado Coelho e por Patrícia Carvalho.
Fiquei muito interessada na de Lisboa, não sabia tão-pouco da sua existência, quando lá for vou procurar, talvez tenha jacarandás, mas a do Porto conheço bem.
Foi tema do meu livro com o mesmo nome e Patrícia Carvalho faz-lhe larga referência. Gostei de ler, a autora está agora bem informada. E, sim, a obra está esgotada há bastante tempo, (algumas pessoas têm encontrado alguns em alfarrabistas), apesar do interesse que continua a despertar. E circunstâncias razoavelmente adversas têm complicado a sua reedição.
Mas tenho uma novidade: A Rua do Paraíso vai ser reeditado. Está em preparação uma 2ª edição.
Quero agradecer à autora do artigo do Público/Fugas a forma simpática como se refere à rua e ao livro, dando ideia das grandes transformações não apenas materiais mas de mentalidades. São páginas vivas da história portuense e, nesse sentido, são brilhantes.
Algumas coisas melhoraram outras nem por isso; de qualquer modo, apesar de tudo, o que lamento é a falta de animação que não tem nada a ver com circulação de automóveis mas com movimentação de pessoas. E com as próprias pessoas – inesquecíveis.
Entre o Marquês e a Lapa, nesse estreito espaço tal como é visto no mapa da cidade, muitas coisas aconteceram nos anos em que lá vivi e é isso que conheço, que me marcou e que relato no meu livro.
As figuras de que falo são parte do meu imaginário – a Srª Magnífica que vendia fruta, recordo as bananas monumentais; a Srª Quitéria que negociava as castanhas que cozia em casa e de algum modo perfumava, encostada a um prédio na esquina da rua de Camões, com a panela e o cobertor que as mantinha quentes e que as segurava ao seu colo e ao seu ombro…
Não vou falar de mais ninguém.Digo que, de maneira geral, as pessoas não tinham muitos conhecimentos: tinham intuições decisivas.
Apenas não posso não-recordar o Sr. Padre Luís, capelão da Igreja da Lapa, músico notável e muito querido da juventude de toda a cidade que vinha à Lapa para o ouvir, para lhe pôr problemas, para sentir o seu interesse. Foi uma figura notável que muito admiro e a quem presto homenagem.
Recordo os pregões matinais e a cacofonia de todas as horas, a força sedutora de cada dia transformado em turbilhão de acontecimentos, porque o ambiente era quente, caótico e barulhento.
Nunca mais me calaria a falar do Paraíso… da perfeição do Paraíso.
Logo pela manhã, procurei o Sol, como de hábito, para o saudar. Não o enxerguei, mas ele tinha que estar visível algures.
Não havia dúvida de que o Sol nascera algum tempo antes, bastante tempo antes: tudo à minha volta no exterior estava profusamente iluminado, como é natural.
No entanto, eu… não via o Sol.
Andei de janela em janela, já preocupada, fui até ao mais fundo da varanda. Nada.
Acabei por vê-lo mas foi necessário lembrar-me de que… “make it happen” é um conselho a seguir.
Estava escondido por trás do meu próprio prédio, rodava já por cima, muito alto. Andava nisto há horas e eu a pensar que ele andava ainda do outro lado, na outra metade.
Subira a direito, não a partir do local do costume onde eu o procurava, na cidade lá longe, mas muito mais para a minha esquerda. Senti-me um pouco perdida. E tonta.
Sei que ele tem vários movimentos e eu também tenho, o que perturba muito a justeza das minhas conclusões.
Devo rever esta história dos movimentos da Terra e do Sol, quem anda em redor de quem e como. Estaremos todos enganados? Será afinal o Sol que gira em volta da Terra?
E nem sempre pelo mesmo caminho.
A rotina dele é variável, o percurso não chega a ser rotina, alias! Assim, o seu envelhecimento é tão lento que não o consigo descortinar por mais que espreite e me preocupe. Não conheço números tão pequenos que possam dar ideia...
Vou estar atenta ao fim do dia, quanto ao lugar em que se põe. Espero que seja no mar. E que fique dourado e feliz antes do mergulho.
Eu também fico dourada e feliz em Junho, porque uma coisa é certa: estes dias têm horas que nunca mais acabam.
Ele passará por certo por cima da minha cabeça de modo que para o ver terei que executar muitas artimanhas e… não sei se sou capaz. Tenho que ser.
Irei dando notícias.
Não leio um romance por inteiro, seguido, sem avançar frases e capítulos ou sem folhear precipitadamente… desde há muito.
O motivo não era estar ansiosa por saber o fim da história que é contada, nem conhecer a solução encontrada para o conflito imaginado, é porque reconheço como desperdício, uma perda de tempo, o tempo que o escritor perde com a anedota, com a intriga que realmente não importa, quando a sua inteligência e sensibilidade seriam muito profícuas e interessantes na análise e na explicação do que é a sua particular e clara visão do mundo. Que talvez nos ajude a compreender e a resolver enigmas e perplexidades.
Que me perdoem os que pensam e apreciam longas histórias de imaginação não assentes no real.
Devo dizer que li há dias um livro de Lídia Jorge, Os Memoráveis, que não é um romance romântico à maneira do século XIX, mas quase um relato, o que parece ser uma reportagem do que aconteceu e do que podia ter acontecido no País e nos bastidores da revolução em Abril de 74 e nos anos seguintes. Da revolução que foi um milagre como é ali dito em certo momento.
Há na narrativa “uma aparência de verosímil e uma incerteza de verdade” que lhe dá um encanto inesperado.
É verdade que já se não considera o grande escritor como o “depositário sagrado de todos os valores superiores”. Compreendo Os Memoráveis como uma reflexão sobre este período que ajuda os que o viveram a recordar acontecimentos invulgares e os que vieram depois a compreender e a valorizar as suas consequências para a nossa vida comum.
E transforma aquele momento histórico num momento que dá enorme satisfação conhecer. É ainda um estímulo ao estudo, à discussão, à contemplação e à divulgação de factos fundamentais tão importante como se se tratasse de Ciência Social.
Há um património colectivo principal que também desse modo se preserva para a história continuar.
Calor desabrido.
O lugar transformado numa animada e ampla feira de velharias sujas, tanta gente, tanto movimento desordenado, tanto ruido!
E tantos, parados nos passeios e nas ruas, que esperam ter o ar suficientemente miserável para atrair a comiseração dos curiosos visitantes que circulam em magotes...
Não sei que cidade queremos que esta seja, de que modo pensamos atrair os investidores, pois parece que é isso que é preciso para nossa redenção.
Eles vêm ver como se vive aqui em 2015 e regozijar-se por não terem o mesmo nos seus países. Isto só para umas férias rápidas, exóticas o bastante para romper a rotina e restabelecer o difícil equilíbrio mental de cada um
Gostaria que o Chiado, rua Garrett e arredores fossem tanto ou mais amáveis e festivos do que já foram, divertidos e sem lamúrias. Podia o lugar voltar a ser o sonho de uma noite de Primavera, clara e quente, não demasiado quente. E a dar oportunidade a todos os interessados para fixar imagens luminosas como lembranças para a vida, belas recordações que levariam consigo para exibir nas suas cidades.
Por que tínhamos de passar por isto?
Este típico, que visto uma vez, não se quer ver mais, não tem nada de semelhante a alegria nem a gentileza de anjos risonhos e amáveis a pairar sobre a cabeça dos visitantes. Nada que se pareça.
O que se vê nestas ruas, é um fervilhar sem nexo ao som de uma música de fundo muito embrulhada sem ideia de harmonia nem concerto, uns habilidosos fazendo piruetas musculosas a troco de umas moedas e outros escrevendo deitados no chão avisos e cartazes a dizer da sua lástima de vida para não sei quem decifrar…
Não passará por aqui alguém suficientemente poderoso para alterar este estado? Com portuguesíssimos chaimites e canhões silenciosos seguidos de multidões de/com cravos vermelhos e perfumados? Ou talvez doutra cor?
O que faria com que os nossos actuais hóspedes nos amassem como povo, talvez. De certeza. Acho.
Não me senti amada neste fervilhar, senti-me de certo modo atacada.
Nestas ruas, aqui, soa uma guerra qualquer.
Comecei o livro de Lídia Jorge, Os Memoráveis, notável romance que vale a pena ler para recordar e pensar. Foi assim que vi nestes lugares reminiscências dos cravos e dos canhões mudos, dos tanques passando/passeando na Avenida, dos cento e vinte soldados a pé ao assalto do quartel-general; e do movimento da rua Garrett e do da Carmo, do Rossio e da rua Augusta, de que ela fala no seu excelente livro.
Não tenho conhecimento nem recordo quem arriscou a vida e quem não arriscou, quem traiu e quem se acobardou, quem ganhou e quem perdeu, quem fez e quem desfez, naquela Primavera de 74, apenas sei que, tendo ido propositadamente do Porto, assisti, num desses dias de há quarenta anos, a uns estranhos desfiles que muito me emocionaram e divertiram (passe o arrojo!)
Mas que foi lindo, foi. E de tudo isso me orgulho.
Calor desabrido.
O lugar transformado numa animada e ampla feira de velharias sujas, tanta gente, tanto movimento desordenado, tanto ruido!
Gente parada nos passeios e nas ruas e que espera ter o ar suficientemente miserável para atrair a comiseração dos curiosos visitantes que circulam em magotes...
Não sei que cidade queremos que esta seja, de que modo pensamos atrair os investidores, pois parece que é isso que é preciso para nossa redenção.
Eles vêm ver como se vive aqui em 2015 e regozijar-se por não terem o mesmo nos seus países. Isto só para umas férias rápidas, exóticas o bastante para romper a rotina e restabelecer o difícil equilíbrio mental de cada um
Gostaria que o Chiado, rua Garrett e arredores fossem tanto ou mais amáveis e festivos do que já foram, divertidos e sem lamúrias. Podia o lugar voltar a ser o sonho de uma noite de Primavera, clara e quente, não demasiado quente. E a dar oportunidade a todos os interessados para fixar imagens luminosas como lembranças para a vida, belas recordações que levariam consigo para exibir nas suas cidades.
Por que tínhamos de passar por isto?
Este típico, que visto uma vez, não se quer ver mais, não tem nada de semelhante a alegria nem a gentileza de anjos risonhos e amáveis a pairar sobre a cabeça dos visitantes. Nada que se pareça.
O que se vê nestas ruas, é um fervilhar sem nexo ao som de uma música de fundo muito embrulhada sem ideia de harmonia nem concerto, uns habilidosos fazendo piruetas musculosas a troco de umas moedas e outros escrevendo deitados no chão avisos e cartazes a dizer da sua lástima de vida para não sei quem decifrar…
Não passará por aqui alguém suficientemente poderoso para alterar este estado? Com portuguesíssimos chaimites e canhões silenciosos seguidos de multidões de/com cravos vermelhos e perfumados? Ou talvez doutra cor?
O que faria com que os nossos actuais hóspedes nos amassem como povo, talvez. De certeza. Acho.
Não me senti amada neste fervilhar, senti-me de certo modo atacada.
Nestas ruas, aqui, soa uma guerra qualquer.
Comecei o livro de Lídia Jorge, Os Memoráveis, notável romance que vale a pena ler para recordar e pensar. Foi assim que vi nestes lugares reminiscências dos cravos e dos canhões mudos, dos tanques passando/passeando na Avenida, dos cento e vinte soldados a pé ao assalto do quartel-general; e do movimento da rua Garrett e da do Carmo, do Rossio e da rua Augusta, de que ela fala no seu excelente livro.
Não tenho conhecimento nem recordo quem arriscou a vida e quem não arriscou, quem traiu e quem se acobardou, quem ganhou e quem perdeu, quem fez e quem desfez, naquela Primavera de 74, apenas sei que, tendo ido propositadamente do Porto, assisti, num desses dias de há quarenta anos, a uns estranhos desfiles que muito me emocionaram e divertiram (passe o arrojo!)
Mas que foi lindo, foi. E de tudo isso me orgulho.
“A tarde morria e era duma doçura quase refectida e intelectual aquela margem de água onde se precipitavam as montanhas; os godos lisos viam-se sob a molhada floresta de azuis que tremia à passagem de peixes claros; e o pó da costa amainava com a noite, apagava-se sob o passo de duas cabras negras, adormecia sob os colmados das tabernas onde se sentavam velhos quietos, como se estivessem há muito tempo assim velhos, sem promessas, com uma timidez astuta no olhar curioso, essa curiosidade de primitivos, um pouco lânguida nos gregos, com um quê de frugal e desistente. E havia na atmosfera essa mesma propriedade de velhice sem nada de pueril e até de triste; as oliveiras com a folha branquicenta, transmitiam também como que a pureza duma antiguidade sem lembranças, essa imolação de tempo pretérito cujo êxito igualmente passara. Existia só o lugar; o espírito tinha sido consumido como uma grande ave suspensa sobre a cabeça dos homens e que, no decorrer dos séculos, foi deixando cair as penas, o traço do seu voo, até ficar só o insuportável espaço vazio até do seu próprio vazio. E então, naquela boca da noite grega, começou o cheiro, de óleo, de ervas doces, de queijo áspero e branco; um cheiro maleável, igual, de azeite a que de súbito aflora um aroma inesperado de jasmim fresco, de marisco ou de melão, tudo trazido como que na trompa duma abelha, açucarado, cálido, refrescante.”...
Agustina Bessa-Luís, Os Meninos Flutuantes, in Elogio do Inacabado, pag. 484 e 485.
Parecia estar no mar alto em barco frágil com mar muito agitado e grande vento.
Receei o que fosse acontecer e corri os estores para não ver. Não queria assistir a nenhum massacre, não tinha intenção de me deixar impressionar. Se não podia intervir e evitar o acontecimento, pelo menos, não o patrocinava.
É que havia tanta raiva do vento, tanta sua fúria contra as árvores a que arrancava folhagem fresca e verde, primaveril como só hoje e que ficava a voar por aí, perdida e inocentemente perigosa!
Estava a ficar cansada de tanto ruído, de tanto assobio nas frestas das janelas – isso que não conseguia eliminar com as janelas duplamente cerradas.
Vou dormir, pensei um pensamento profundo. Posso tapar a cabeça e deixar eventualmente uma pequena abertura para respirar.
Antes desse último recurso, ainda sentada a tomar um confortável chá, quente e perfumado, sem olhar para fora nem por uma frincha quando, de súbito, o ruído parou. Completamente. Estacou sem mais.
Silêncio absoluto.
Fui à janela, curiosa. Que esperava eu ver?!
Nem um pequeno movimento em nada, mas havia um disfarce do mundo, uma cena de máscara, como se nada diferente e medonho tivesse acontecido antes e esta fosse a realidade natural.
Acho que era uma dissimulação, um fingimento! Talvez pudesse perceber um vago sorriso de troça, meio oculto. Não sei por que me lembrei do Gato Cheshire da Alice no País das Maravilhas… Mas não era isso, não era nada disso.
Então fui telefonar, para contar o sucedido. A estranheza transbordava de mim. Preciso de falar com alguém. O meu interlocutor também não entendeu mesmo após uma explicação minuciosa do que eu ouvira e vira; nunca tinha assistido a um fenómeno semelhante, a uma tão absolutamente súbita paragem de ira desmedida e intransitiva.
Tenho que estudar isto, talvez consultando a Mitologia.
O drama é não saber o que pensar hoje, não haver o que pensar.
Joana sente-se fechada pela chuva na sala envidraçada e, por mais que olhe para fora, para se libertar, apenas vê água, nevoeiro e cinza, tudo amalgamado.
Não aprecia cores neutras, embaciadas, gosta de distinguir e de pensar o exterior em multiplicidade de tons coloridos macios.
Pois, está tudo errado. “Compreender é sempre um erro” , escreve Lispector. Por que não tem consigo um milhão de pessoas ajudando-a a descobrir o que ver para além da cortina de nevoeiro cerrado molhado homogéneo? Neste dia de não-trabalho, é fácil esperar ajuda para a aventura e a descoberta.
Então olha e estuda dentro - da sala e de si - talvez resulte. Dentro. É isso, é.
Haverá silêncio? É importante saber.
É que o silêncio não é sempre insuportável. E não é completo para já. Às vezes é, mas como não quer que seja hoje, 1 de Maio, o que pode fazer? Que se pode fazer num Dia do Trabalhador como este?
É o que no momento tenta descobrir. Vai apreciá-lo daqui, torná-lo não apenas suportável mas encantador e delicado.
Todavia, é irresistível olhar para o exterior imenso e aberto/cerrado. Parece estar a clarear, o dia avança.
Não tem conhecimento acerca de se o Sol está lá, estará, mas não sabe o que ele ilumina. Se viesse um vento levaria daqui estes mantos baços. Na verdade, não há prazer que o vento lhe traga, leva sempre mais do que lhe é pedido, como se pode considerar o vento apetecível?!
Ninguém deve deixar escapar este dia tal qual. Quando der conta, já passou e, a ela, vai fazer falta. Este como outros que poderiam ser seus... ser parte da sua vida.
Que pode acontecer ainda? Que pode ela fazer acontecer agora?
O silêncio não é a ausência de qualquer som. Este silêncio é onde caem as coisas que deixam de fazer ruído. E há o que a atira para fora do silêncio que será o mesmo que a aproxima de si.
“Que quero ser?”, interroga-se. “Sou um milímetro do que quero ser? Compreendo alguma coisa? Que ruído faço naquele silêncio? Raízes estão criadas e esperança de vir a compreender. Que podia ser hoje”.
Mas, neste dia extraordinário, o que ela tem mais é medo de nunca chegar lá. E que tudo seja capazmente incompreensível. A vida, quer dizer. O amor também, sem segredo.
O propósito de estar aqui tentando ver é ver: através de ressonâncias e esplendores, silêncio e transparências e intuições, coisas assim. E pensar como pode converter este tudo o mais em realidades doces, como pretendia.
A orquestra tocou o que ela ambicionava. E viu com encantamento cores suaves flutuando na imensidão de eternidade na sua frente, todavia incapaz de revelar o que quer que fosse para além.
Perdeu a tarde às voltas com neblina apenas translúcida e não compreendeu nada de si própria nem do resto. Terá estado na realidade presente, ali? Naquele dia tão especial?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.