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AUSTERIDADE & C.ia

por Zilda Cardoso, em 22.02.15

Compreendemos muito bem que a chamada austeridade é necessária. E que não a apreciemos também é compreensível. Porém, ela é inevitável porque ou quando se segue a um período de gastos excessivos e não temos recursos para pagar dívidas entretanto contraídas. (É provável que a austeridade devesse começar logo quando seria facilmente controlável e antes do acumular das dívidas).

A severidade e o bom senso são muito válidos para saber como diminuir despesas quando não há possibilidade de aumentar as receitas. E em consequência equilibrar os orçamentos.

Porém, quando esse período se prolonga para além do absolutamente necessário, surgem problemas de outra ordem: desinvestimento, desemprego, impossibilidade de satisfazer compromissos em relação aos credores, a respeito da sociedade e dos indivíduos que participam dela. Há descrédito geral, falta de confiança, pobreza…

É difícil, muito difícil encontrar o ponto de equilíbrio, o momento em que se deve parar ou moderar o rigor e recomeçar a investir e a criar empregos e… a melhorar a saúde mental dos cidadãos.

Muitos jovens saem todos os anos das escolas prontos a trabalhar naquilo para que se formaram.

Pode-se esperar que compreendam e que façam um trabalho considerado inferior por um período (podem descobrir outra vocação), mas têm que ter esperança de que seja por um pequeno tempo… para ajudar a resolver problemas, não para abandonarem as suas legítimas ambições ou para deixarem o país, necessariamente (o que não lhes faz mal).

E pode-se esperar que os que ganham bem, possam limitar, nesta contingência, as suas despesas e ajustá-las aos ganhos.

Há inúmeras dificuldades que todos conhecemos e que devemos tentar compreender sem entrar em conflitos. Temos que ter confiança nos que elegemos; com vontade ou sem ela, participamos disto. Temos poder e sabedoria bastante, apreciamos ter, somos responsáveis.

O que para mim é constrangedor é ver e ouvir, numa energia imensa de palavras, considerar miseráveis, estúpidos em último grau, idiotas maldosos e virulentos os que tentam fazer alguma coisa para melhorar a situação.

Aparentemente, todos sabem, mas todos, toda a população, todas as populações dos diferentes países envolvidos nestes complicados processos, todos sabem e vêem com clarividência como resolver a crise menos os que tentam resolvê-la. É evidente que não vemos ninguém adiantar qualquer solução prática válida.

E eu interrogo-me por que razão usamos esta desconcertante violência de epítetos, uns contra os outros? Somos os nossos piores inimigos, somos os piores inimigos dos nossos semelhantes?

Estamos a criar o mundo de Hobbes, o estado natural, sem leis e sem as regras que limitariam a satisfação dos nossos interesses, o estado em que seríamos todos contra todos, permanentemente em guerra…?

Não passaremos disso, a menos que consideremos que são bem-vindos os que procuram soluções, gregos ou não.

Não podemos estar contra estes nem considerá-los heróis nem sábios. Assim mesmo, desejamos a segurança e defesa dos nossos interesses, por isso, resta-nos ajudar os que procuram resultados equilibrados. Sem paixões.

Que não vão surgir de um momento para o outro, que não vão despachar todos os problemas mas que nos porão no caminho de os resolver.

 

 

 

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publicado às 19:16

Vêmo-nos gregos!

por Zilda Cardoso, em 21.02.15

Tive uma tarde prometedora, com conversas de viva voz que me interessaram.

Conversas sobre cada um e sobre o mundo. Política, claro.

Fiquei a pensar como é importante podermos falar pelos nossos meios, orgânicos, sem ajuda de aparelhos, quaisquer.

Gostei de ouvir a minha voz, apreciei as outras falas. E as opiniões a reflectir visões do mundo. Houve várias e alguma emoção. Muita racionalidade, também. Bom senso e inteligência.

Eram apenas opiniões, nenhum de nós estava suficientemente informado para dar certezas do que quer que fosse. E a experiência e a vivência dos acontecimentos do dia-a-dia não chega para ter conhecimento.

Sobre assuntos políticos, principalmente, somos informados e formados por opiniões de outros que leram como nós e reflectiram sobre o que leram, e depois escreveram e falaram, mas nenhum teve acesso às fontes.

E quando há acesso às fontes, há os interesses políticos, que não são necessariamente pessoais. Podem ser os da comunidade. Os das comunidades ou os das uniões.

Os homens são diferentes e têm interesses distintos uns dos outros. Em geral, poderei dizer como Allende, a política é pensada para pessoas absolutamente desiguais considerando a sua igualdade relativa e abstraindo da sua diversidade relativa. Os homens organizam-se a partir de um caos absoluto de diferenças...As pequenas comunidades diferenciam-se das grandes e uma união tem interesses que não são os de cada uma das comunidades que lhe pertencem, nem das grandes, nem das pequenas.

A política trata das relações entre os homens, de organizar essas relações, mas o político não é parte da essência do homem. Cometem-se erros graves, é por isso que parece prometedor, para corrigir alguns, tentar encontrar um  equilíbrio entre um mundo transparente que sabemos que não nos cabe construir e aquele imperfeito dos seres no entanto à procura da perfeição. 

Os meus amigos e eu não nos compreendemos politicamente. Temos opiniões diferentes sobre actuações políticas, sobre o que deve ser a actividade política. 

Ouvi algumas ideias interessantes nesta minireunião caseira. Por exemplo: que o homem deve ser criativo. Concordo com isto, mas lembrei-me que se um assassino for criativo… o que pode trazer isso de bom à comunidade a que pertence? Ou ao mundo em geral? Um malvado qualquer, um ditador implacável, género Hitler, quando criativo, além de maldoso e perverso, será desastroso e absolutamente nefasto para a humanidade. Receio muito um político criativo.

Ir à luta… foi outra das ideias que surgiram, a minha amiga confessava-se envergonhada com a atitude do governo português em relação à troika, à união europeia, aos mandões europeus, às facturas a pagar…

Assumimos compromissos, diz alguém. É claro que há muito desemprego, há pobreza, não há investimento estrangeiro, há emigração qualificada… a carga fiscal é monstruosa…, mas há acordos, há contratos, há promessas...

Eu digo que há montanhas de analistas e de jornalistas a falar do que não sabem nem podem saber. Têm que dizer alguma coisa, espera-se que digam, não que saibam a verdade. E influenciam-nos.

Ninguém sabe o que é a verdade, de resto, embora os Gregos devessem saber mais do que quaisquer outros. E devessem saber o que é possível realizar, segundo a razão.

Talvez o ministro grego, que parece tão criativo até na própria expressão, e que foi à luta com muita segurança, descubra alguma coisa sobre verdade e se repita o milagre grego de há 2500 anos. Para bem de todos.

Ou a Europa não passará de um sonho mal sonhado.

 

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publicado às 17:38

Não oiço o silêncio

por Zilda Cardoso, em 18.02.15

Reparto o tempo entre viver os acontecimentos da minha vida e os das histórias que me são contados no teatro, no cinema, nos livros, na pintura, noutras artes.

A vida é vivida à pressa. Porque é assim que se vive. Para mim, porém, há uns intervalos vazios e talvez desagradavelmente silenciosos, que tento preencher vivendo as vidas dos outros: dos que ouço e vejo e leio no palco, no ecrã, na tela, no papel.

Às vezes, estou feliz com as minhas próprias histórias, com o meu ambiente – o mar brilhante, o céu azul, o sol resplendente, os barcos ao longe… os jardins que frequento e os que construí… Sou capaz de desenhar e de realizar um jardim e é como se estivesse a compor e a escrever música. Não sei tocar nenhum instrumento, penaliza-me isso, mas sei compor um jardim. E gozar o jardim, num dia de boa luminosidade e delicada temperatura, é como ouvir um concerto de Bach: não posso ficar mais feliz. Excepto quando danço ou vejo dançar com eficácia.

A música é parte importante da vida feliz tal como a entendo, dá um conforto em todo o caso. Não precisa de significar nada. Aproxima-me de um nível superior de consciência sem ligação com a natureza, ao encontro do transcendente talvez, ou do melhor que há em mim fora de mim.

Faz boa companhia não por ser de fácil entendimento, mas porque me invade, me toma, me satisfaz, as mais das vezes. Um silêncio com música… não há melhor. É como um vazio que se não sente como esvaziamento. Porém, há um cansaço.

É nessa circunstância que me ocupo em viver a tal vida que me não pertence, a dos outros, as histórias representadas, a sentir leve, levemente, as dores e as alegrias inventadas.

Durante esse tempo, o tempo não passa, o silêncio… não o ouço, o vazio… não está. E logo depois, já tudo passou… sem dano. Tinha-me esquecido de viver… Por um certo tempo, a vida não existiu.

A privação em qualquer história não é dilacerante, como seria se fosse minha. E há a alegria.

A alegria que a representação me dá pode ser quase tão valiosa como se fosse realidade. É atraente: sorrio, rio, atiro os braços ao ar como se o meu favorito fizesse “goal”, sei lá o que faço.

No entanto, há uma distância. Não me esqueço de todo de que não há pessoas ali - há personagens e actores, há imaginação. Não há acontecimentos – há gestos e atitudes criados para dar um sentido, revelar uma ideia, apresentar uma história.

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Que não é a minha, é uma história imaginada com talento... para mim.

A maior diferença entre as histórias de ficção e os acontecimentos reais é que eu posso escolher, ver as histórias que me dão prazer e pôr de lado as outras. Não sou masoquista, não gosto de sofrer. Quando elas têm a intenção deliberada de provocar o sofrimento… desligo, elimino, ponho de lado, saio.

Que me importa? Perco a companhia, rejeito a companhia. Fica um silêncio que nem sempre é estimulante. Ou procuro o que posso fazer na realidade, aumentando o meu tempo de vida vivida... todos sabem como é.

 E tudo acaba sem estar acabado.

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publicado às 19:07

LUÍSA DACOSTA

por Zilda Cardoso, em 16.02.15

“A maré subia e vinha quebrar-se à beirada da alma, no búzio da capela. Perto, cada vez mais perto. Por caminhos secretos, desfeitos os cabelos, o corpo flácido, as mãos abertas às correntes, a ressaca arrastava-me, irresistível. Para as lonjuras, onde cessa o palor da lua. Fundo… ziguezaguear de peixes, carícias viscosas… cada vez mais fundo e frio… Névoa revolta de areias … cada vez mais frio… Até àquela eternidade sem primaveras, nem manhãs, sem contingências de sóis ou de chuva, dos jardins do mar. E aí enquanto a madrugada não vendasse de bruma os olhos dos luzeiros, na fosforescência íris-azul dos abismos, na quietação de toneladas de silêncio, as águas lavavam, pacientes, o sangue e o fel, descarnavam de fibras e pulsações os filamentos multicelulares e cruciformes da minha dor.”

 

(Luísa Dacosta, A-Ver-o-Mar, crónicas,1980

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publicado às 17:01

Espreitar um desejo

por Zilda Cardoso, em 09.02.15
Papel de Parede - Vitória-régia na Amazônia
(bela imagem da internet que agradeço)

Uma das viagens mais interessantes que fiz, há uma porção de anos, ficou na minha lembrança como uma radicalmente nova experiência de vida. Foi à Amazónia.

Muito nova experiência para mim, mas no fundo fui muito protegida como turista, se bem que nem qualquer turista queira arriscar-se a fazer uma experiência semelhante.

Fomos até Manaus de avião e depois da carro e de barco até à ilha de Silves onde se situava uma pousada confortável, redonda, no meio de uma planície. Da varanda do quarto, via o rio Urubu, afluente do Amazonas e o lago Canaçais – água, água, água e árvores muito verdes. E toda a fulgurância da sua copiosa frescura.

Tivemos alguns dias cheios de acontecimentos emocionantes, mas previstos com mínimas excepções, e muito sumo de frutas para nós exóticas que nos eram servidas frescas a cada passo, durante o dia.

Extraprograma turístico, todas as manhãs havia uma saudação especial para os raríssimos visitantes de um pássaro que nunca chegamos a ver. Muito depois de regressar a casa, ouvia aquele canto matinal acolhedor e tão apelativo, ouvi-o durante anos.

A primeira excursão foi uma pescaria à linha no grande rio, num barco minúsculo com dois guias ou piloteiros que nos aparelharam o isco e nos colocaram nas mãos a cana preparada. O isco eram pedaços de carne muito ensanguentada e, é claro, eu pesquei facilmente umas horrorosas piranhas que não quis provar embora nessa tarde tivessem sido cozinhadas para nós na pousada. Aquelas piranhas e todas as piranhas estão para nós carregadas de significados acabrunhantes, sentir-me-ia meio-antropófaga.

Passeamos na floresta seguindo sempre os guias que nos ensinaram a preparar camas frescas e agradáveis de folhas entrançadas para descansar de emoções, e a usar os liames das árvores para ir de um lugar para outro ou de uma árvore para outra à Tarzan.

As árvores eram muito altas e esguias, as copas só se enxergavam virando o olhar para o céu lá bem alto e muito pouco se via o céu. De modo que mal penetramos na floresta, senti o ar húmido e quente e parecia-me não poder respirar.

Fiquei esmagada por tanta grandeza, mas ao apreciar o delicioso sumo e as iguarias do piquenique que os guias levavam, regalada nas camas entrançadas, voltei ao meu mundo.

Ouvi os gritos dos macacos selvagens no alto das árvores e decidimos abandonar a floresta não sem um susto muito apimentador. Vi o olhar de pânico de um dos guias e perguntei o que tinha acontecido. Ele respondeu que eu quase pisara uma cobra escondida sob a folhagem acastanhada. É evidente que não me tinha apercebido e quando soube já não era tempo de me perturbar.

Passeamos de lancha pelo rio, junto das suas belíssimas margens e não nos demos conta dos cortiços de abelhas ou de vespas pendurados nos ramos sobre a água. Toquei nelas inadvertidamente ao passar e elas aproveitaram para se atirarem como loucas à minha cabeça, enredaram-se nos cabelos compridos e lançaram o pânico no grupo. Podia ter terminado em tragédia, mas estávamos protegidos pelos deuses.

Os guias pareciam assustar-se muito, mas arriscavam e levavam-nos a arriscar: era o nosso impulso para o desconhecido que eles estavam encarregados de levemente estimular.

O safari aos jacarés foi o cume destes dias de aventura. Teve que ser escolhida uma noite escura como breu e silenciosa, não serve qualquer noite. E foi brilhante: o barco era uma casquinha, superlotado com dois guias e nós dois. Demoraram a aparecer aqueles pares de olhos enormes, letárgicos, dourados e brilhantes. Os guias viram-nos e com ajuda de uma corda paralisaram-nos para os fotografarmos. Depois largaram-nos e nós ficámos em silêncio a pensar na cena que podia ser funesta, mais uma vez. Era questão de o jacaré estar maldisposto. Ou ouvir algum ruido inquietante.

Não tive medo nem consciência do perigo. O que melhor recordo são as pedras douradas, aqueles olhos reluzentes, enormes e decerto estupefactos. Ou em êxtase. Podiam ter 15 metros de comprimento e bastava-lhes um certo movimento da cauda para nos virarem o barco e irmos rapidamente à água. E lhes servirmos de refeição semanal.

Os lagos são um esplendor com as victorias regias enormes que suportam 40 quilos sobre elas, se bem distribuído o peso pela sua superfície que pode atingir 2,5 metros de diâmetro. As flores podem ser brancas, ou rosa, lilases, roxa ou amarelas, abrem e fecham a certas horas e são uma espécie de lírios ou nenúfares de água, muito perfumados, típicos de águas pouco profundas.

Uma desilusão para mim foi não ver pássaros, vi muito poucos entre as mil e novecentas espécies que dizem existir por ali. Soube que não era boa época para os observar. Teria que voltar na Primavera, havia inúmeras excursões a partir da Europa na época da nidificação exclusivamente para ver e fotografar os nomeados pássaros. Então era um deslumbramento. Calculo bem que sim, que tolice a minha, não tinha pensado nisso. Na verdade, tinha ido mais pelos pássaros, para desmitificar o sítio.

Porém, vejam, visitámos a ilha dos Pássaros, convivemos com nativos sobretudo com crianças que nos rodearam, pedindo rebuçados. Havia onde os comprar porque já era tradição oferecê-los aos miúdos. E manuseámos e adquirimos belas peças de artesanato de ornamento que me deixaram enfeitiçada – colares, pentes e pinturas em casca de árvore realizadas com tintas naturais.

E, tal como noutros lugares, contemplamos da nossa varanda, barquinhos compridos que passavam para o mercado com legumes maravilhosamente coloridos e frescos, dispostos no fundo do barco como obra de arte.

Perseguimos ilusões, espreitamos desejos. Regressamos muito outros.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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publicado às 12:57

REFLEXÕES SOLTAS

por Zilda Cardoso, em 04.02.15

Calculo que sejam um tanto ou quanto ridículas as minhas preocupações e as de muita boa gente a respeito do futuro do planeta e seus habitantes. Como se nós fôssemos capazes de destruir o planeta e a humanidade! Como se tivessemos poder bastante para isso.É evidente que apenas podemos destruir o que tínhamos construído – cidades, povos, continentes…E se destruirmos isso, o planeta fica mais limpo e saudável… no caso de encontrarmos onde depositar o lixo.

 

A maior parte do que nos ensinam com grande empenho ao longo da vida não tem sentido nenhum. Mais: é totalmente absurdo. Os chamados conhecimentos, a ciência não tem consistência, nenhuma base sólida, nada que não se possa contradizer desde logo. Desde logo a seguir. Não é uma estranha conclusão: é uma triste constatação.

 

DSC00166.JPG

 

Tenho muito tempo para pensar. Demasiado. Estou sempre em cima dos meus pensamentos, das minhas memórias, das minhas ideias, de mim, Canso-me, cada vez me canso mais com ressonantes formulações.

 

Há frases simples que não parecem valer nada quando são proferidas em determinados contextos reais e concretos. E que depois de abandonadas, isoladas, surgem como extremamente filosóficas, de grande valor e profundidade.

 

Ao contrário do que acontece com os seres humanos, o dia torna-se mais belo com o envelhecer: brilhante, dourado, seguro de si e anunciador.

 

Por vezes, ouço tão vivamente que compreendo tudo o que o outro tenta dizer-me. Por isso, dou conta do que não é verdadeiro nas suas palavras. Mas do mesmo modo continuo a dar-lhe atenção.

 

Vou ter saudade quando me partir: é ou foi a coisa mais estúpida que consegui dizer hoje.

 

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publicado às 20:32

Estou apenas a manter “a grande conversa universal”...

por Zilda Cardoso, em 02.02.15

 

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Interessa-me descobrir a verdade.

As tentativas para lá chegar são desesperantes e levam-me a pensar, muitas vezes, para que quero saber a verdade. Para que me serve?

Ocorreu-me que um pensamento sem palavras, sem lógica nem coerência, sem existência no real podia resolver o problema. Um que fosse da ordem do intelectual. Ou, mais certo, do espiritual ligado a algum mistério: nada que se veja, que se ouça ou em que se possa tocar. (Algum pensamento tem este tipo de existência?) Ou que se entenda e se possa dizer.

Um pensamento sem palavras que o traduzam, que o tornem inteligível, não pode ser comunicado. Sem palavras não há linguagem nem há comunicação. (Para que serve este pensamento não transmissível? O que dá o que quer que seja que não é transmissível? Reconhecível?)

Seriam sensações e intuições, percepções … que são quase-pensamentos, não são ainda pensamentos no sentido de conceitos e de ideias inteligíveis. 

Interrogo-me sobre se temos necessidade de comunicar intuições? E se é possível…

Se não houver necessidade de comunicação, não há necessidade de palavras. (Esta linguagem que estamos a usar, pelo menos esta, não dispensa palavras).

Apreciamos sentir-nos frustrados: eu tenho intuições que gostaria de transmitir e não sei de que modo. Gostaria de as difundir porque são simples, primitivas, evidentes, portanto com mais possibilidade de serem verdades. Ou de estarem perto da verdade.

Penso e desejo apreender a verdade de forma directa e não necessariamente comunicá-la. Sem interferência de palavras cheias de vícios que me levam por caminhos errados.

Talvez a arte tenha capacidade de realizar esse desejo por meio de sugestões e de evocações, notas musicais e pinceladas, movimentos de dança e poemas. Ou usando qualquer outro meio.

Esse quase-pensamento de que falo será um pensamento-destroçado que talvez queira ser e que não chega a ser. Precisamente por estar arruinado, daquele modo. Não tem lógica, porque as palavras que lhe dariam a lógica ou a coerência não existem. E defini-lo seria dar-lhe palavras, seria dar-lhe lógica como a coisa única que podemos entender e reconhecer. E enunciar.

Se não tenho palavras para pensar/explicar, sofro de uma penúria de palavras e de falta de inteligência. Não sei pensar o que sinto, o de que tenho sensação, nem o que percepciono nem o que intuo.

O que quero dizer, é que metade do que se passa na minha mente não é pensamento lógico, não posso transmiti-lo. Nem sequer é forma. Não tenho vontade de ser inteligente a este propósito. Nem necessidade.

Estou a pensar se me leio, se leio as minhas intuições gravadas na minha memória. Se se podem gravar, de resto. Se serão lidas por mim antes de serem definidas por palavras, no caso de haver palavras e de as ter descoberto. Palavras certas.

Poderá a intuição ficar gravada na memória para uma leitura posterior?

É este o desafio: a intuição entende-se de diversas maneiras, mas estou a falar da apreensão directa da verdade, entre a percepção (entre o puro pensar e o puro sentir) e o pensamento lógico.

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publicado às 19:39




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