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Há uma palavra que será banida do nosso vocabulário no próximo ano, por vontade de todos. Sabem a que me refiro, todos a conhecem.
Sempre a ouvi, a qualquer propósito e a despropósito e já ninguém tem paciência…
Porém, entendo, como muita gente, que todas as épocas são de crise (ainda estamos em 2013, ainda posso repetir a palavra). E a e as crises são necessárias para mudarmos de crise. E de vida.
Falar delas incansavelmente distrai-nos dos bons propósitos.
Podemos vivê-las, mas não falar delas. Vivê-las e meditar, ajuda a compreender o que se passa. A superar aquela antes de nos metermos noutra. Antes de mudarmos de rumo.
Mas não é isso o viver? O evoluir? O caminhar caminhos diferentes? Porventura melhores?
Não classifico os caminhos.
Por vezes, penso que nos demoramos demasiado em alguns; não lhes encontramos saída e a verdade é que pretendemos sempre sair.
E, no entanto, como parece não termos saída claramente conveniente, já que para nós todos os caminhos são semelhantes e vão desembocar no mesmo lugar – a Europa, o Ocidente desvalorizados – andamos para aqui aos tombos.
Felizmente, há pessoas como Debra Jones, em quem devemos talvez confiar e sobretudo seguir o exemplo, que afirmam:
“My nature is to constantly see the solution. Perhaps it is having an engineer for a father, but it is nearly impossible for me to SIT in the problem, just so many people and a lot of my friends are what I call "problem clarifiers." We KNOW what is wrong... what do you want to do about it!????”
J. E. Agualusa respondeu assim a uma pergunta de um miúdo de escola: “Escrevemos porque algo nos dói”. Quanto a mim, escrevo porque algo me dói. E por paixão, diz ainda o escritor. “Escrevemos para compreender o mundo”. Escrevo para compreender o mundo que me inclui e nos inclui.
Tento compreender e isso pode ser o trabalho de uma vida – o trabalho, a preocupação, a emoção… É tão difícil compreender seja o que for do mundo! Há sempre tantas perspectivas de entendimento, tantas possibilidades.
Escrever é uma forma de dizer o que penso sem maçar o interlocutor: ele pode desligar, pôr o livro de lado ou o jornal, o que for, e continuar alegremente a sua vida. Incólume. Ignorando-me. Não sabendo de todo o que ia dizer-lhe.
É essa a liberdade que dou a quem me ler: não tem de me ouvir.
Nesta ocasião, não tenho acesso aos meus livros habituais de referência, de modo que comprei há dias alguns novos e revistas como LER e Le Nouvel Observateur.
O computador está um caos e o telefone idem.
Como torci o tornozelo e devo ficar em repouso, tenho boas condições para olhar pela janela e desenhar o que vir no meu “One sketch a day”, a visual jornal, prenda de Natal da Alice.
Fiz logo de manhã o meu desenho de hoje que é para rir. E comecei a ler as novidades das revistas. Fiquei a saber muitas coisas importantes. Por exemplo, que a palavra do ano é selfie e o seu significado julgo ser uma fotografia que um tira a si próprio com o telemóvel e exibe nas redes sociais, mostrando partes generosas do seu corpo. Tem a ver com liberdade pessoal e, finalmente, embora tivesse antes encontrado a palavra em diversos contextos, não percebi muito bem. Tem a ver com “autorrepresentação básica”? (assinado BVA).
Li vários parágrafos de través e ficaram-me algumas ideias. Como a que assegura que a teoria do Big Bang era para dizer adeus, está a passar de moda. Esta teoria da pré-história da origem do universo, a última aparecida em Setembro passado, pode ver-se no site da Cornell University Library.
Não entro em quaisquer explicações porque é muito complicado para quem tem um entorse e não deve fazer esforços.
Li no entanto um texto de António Pedro Vasconcelos sobre a Maldição de Ondina, de António Cabrita, em que fala da “estonteante procura de uma palavra crivada de escamas” e da “exaltante tortura da escrita”. O talento de António Cabrita, no dizer de A.P.V., está na forma como descreve as relações entre homens e mulheres e nos “diálogos maduros carregados de ambiguidades e de feridas abertas”.
Para já, apreciei devidamente o ensaio crítico.
Promover o debate público de problemas do nosso tempo, é singularmente importante num momento em que temos muita dificuldade em entender o que se passa no nosso País e no mundo.
Em Serralves, à sexta-feira à noite e até ao fim de Fevereiro, haverá debates entre especialistas e público interessado nos diversos temas propostos. Foi disso, do que se passa,que se falou na semana finda, e continuará a falar.
O auditório estava cheio e podia prever-se um debate entusiasta se a exposição do tema pelos especialistas e moderador não se prolongasse. Podíamos ter ficado a noite toda se o cansaço não viesse…
Havia poucos jovens na assistência, notou Rui Moreira, como se o futuro não fosse principalmente deles e com eles. Adriano Moreira falou da maneira equivocada como os problemas dos mais velhos estão a ser tratados nas nossas sociedades ocidentais: eles são os que não produzem, por isso, já não são precisos, são os que despendem e, por isso, estorvam.
Esquecem-se de muitos factos, os mais novos: o de quanto os mais velhos produziram para eles e ainda de como chegará muito mais brevemente do que imaginam o tempo de eles serem os mais velhos, de não produzirem e de serem postos de lado.
Não sabemos como resolver este e outros problemas da sociedade. Os palestrantes estão de acordo. Dizem que o futuro depende da forma como o colocarmos no nosso presente.
Os partidos que temos e as soluções políticas que apresentam não nos servem. Foram criados num tempo em que os problemas eram outros. A sociedade evoluiu, os partidos ficaram sem conceitos estratégicos.
A salvação pode ser a sociedade civil - tem que se movimentar, está a movimentar-se.
Adriano Moreira citou em várias ocasiões Sophia que repetia: “devemos ser activos, combativos e pacíficos.” Poderemos conseguir?
Actualmente, faltam na Europa vozes encantatórias, continuou. Pode ser que “o imprevisto vá ter uma oportunidade”, pode ser que vá haver uma surpresa e que surja uma nova forma de sociedade em que a palavra tenha um poder. Em que não prevaleça a palavra do poder.
E falou de comunhão de afectos. Disse que não venceremos nenhuma crise sem “comunhão de afectos”. E que não podemos querer que haja um “desamor da Europa”, mas sem dúvida, a voz da Europa vai enfraquecendo no mundo. Já não é exemplar como foi em termos técnicos e científicos.
Esta é uma época de fraquezas, mas interessa aos Portugueses não perderem valores. Vamos desistindo de valorizar a nossa cultura ao contrário do que fizemos em tempos, sem a impor, no mundo que íamos descobrindo?!
Podemos desistir dos incompetentes mas não dos outros, disse, referindo-se decerto aos jovens que saem do país para estudar e trabalhar onde encontram melhores condições.
Estarão a investigação e o ensino a ser postos de lado em troca de uma próspera economia de mercado? interrogou A.M.
Pessoalmente acho que tudo está a ser posto de lado em prol de uma próspera economia de mercado. Mas a minha esperança é que a próspera economia de mercado não necessite pôr de lado tudo o mais a que damos valor.
(vamos continuar a tentar dar uma ideia do que, a este propósito, se vai dizendo em Serralves).
Que futuro? Perguntam-me. Que futuro, perguntam as pessoas umas às outras.
É uma questão pertinente, se bem que seja feita com esta insistência penso que pela primeira vez na História. Alguém em algum tempo se tinha preocupado tanto com o futuro, isto é, com os filhos e com os netos? Com o que lhes vai acontecer… depois?
É um bom indício. Pode ser que, apesar de todos os aspectos negativos das sociedades de consumo e de mercado (que são sociedades em que se consome, tantas vezes de forma irracional, como forma de integração social ou para escoar a produção levando a estratégias de marketing e publicidade tão agressivas como sedutoras), apesar disso, talvez estejamos no bom caminho: o da solidariedade, o da compreensão de que o mundo continua e nós somos responsáveis por tudo o que acontece não apenas agora, mas depois. Sobretudo, depois.
Somos responsáveis, mas somos o quê? Somos alguns deuses capazes de criar do nada? E de se empenharem e comprometerem por tudo? Por tudo o que criaram do nada?
Então vamos entender que somos responsáveis apenas na medida das nossas capacidades que são muito humanas. Acredito que o mundo continua, realizemos ou não este desígnio e os nossos desígnios.
Somos tão pequenos em relação ao mundo, tão insignificantes! Por que vamos afligir-nos tanto com tudo o que acontece em cada minuto? Incluindo catástrofes naturais género tsunamis e companhia!? Não seria mais sensato vivermos o nosso dia-a-dia pequenino sem grandes sobressaltos assim mesmo preparados para eles?
Todavia é claro que somos responsáveis, conscientes, culpáveis…
“I am because you are”
repetiu Clinton, tentando traduzir um velho conceito africano: UBUNTU. Que abrange muitos aspectos indicativos: comunidade, respeito, partilha, humildade, importar-se, cuidar, ajudar.
Um só palavra que significa muito. Que pode ser uma maneira de viver como foi para Nelson Mandela.
Que eu fixo assim: estamos nisto juntos. Vamos tentar ajudar. Só.
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