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Amanhã é outro dia

por Zilda Cardoso, em 29.06.13

O meu passeio de ontem ao fim da tarde foi proveitoso e agradável, apesar dos altos ruídos dos motores dos carros de corrida que treinavam para as provas do Circuito da Boavista, no Porto.

Consegui esquecê-los e ouvir os meus próprios pensamentos por entre a ligeiríssima brisa que suavizava o calor do dia e tornava tudo aprazível.

Que bom que é o Verão aqui.

  

 

Que bom que é o Verão! Quereria que fosse sempre como hoje, sem nenhuma ruindade a interferir.

Caminho sobre o mar, separo as águas e caminho. Estou seduzida, lembro quanto já escrevi sobre este passeio e como de cada vez encontro novas seduções, diferentes motivos para estar feliz, perfeitamente conquistada.

Hoje... espero estar a fazer uma leitura lúcida dos acontecimentos. Dantes, preocupava-me muito o não chegar nunca a ter a certeza fosse do que fosse. Agora sei que é assim mesmo, que estou certa.

Por isso, as máquinas e os seus copiosos e ruidosos motores não me incomodam, nalguma perspectiva trazem benefícios. Numa perspectiva e para alguém. E dão um ar de festa ao oeste da cidade.

  

 

É o tempo de isto acontecer. Não podemos levar a mal.

Na escola, ensinaram-me a pensar e a escolher. Participo da espécie de élite que age depois de pensar e chegar a uma conclusão, sopesando o que considera importante ou antes, muito antes, pesando cuidadosamente tudo e fazendo contas, somando de um lado, somando do outro, comparando. Contas complexas que levam em consideração elementos de ordens muito diversas, espirituais e temporais.

   

onde estão os patos?

 (onde estão os patos? e os cisnes? e as malvadas gaivotas?)

Fico inquieta muitas vezes. Preocupo-me com as consequências do que quer que seja, de quaisquer actos, se bem que saiba que o que é humano não é previsível nem definitivo (excepto uma única coisa). Por isso, o meu desassossego não é dramático: veremos a seguir. Amanhã é outro dia, dizem.

Amanhã, domingo, é o último dia deste cenário ritual.

  

 
  

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publicado às 17:24

Barcelonenses

por Zilda Cardoso, em 26.06.13

Do aeroporto de Barcelona, fomos directamente para o hotel, de táxi. Levávamos um papel com nome e coordenadas, chegámos rapidamente. Mas era muito cedo, e o quarto não estava disponível.

 

 

 

 

 

Deixamos as malas e fomos alegremente dar as primeiras voltas. Até à rambla, já em turbilhão aquela hora.

Sem contar, demos com o Mercado de S. José, La Boqueria, entrámos.

Foi um deslumbramento para mim. Profusão de cores, de cheiros, de gostos da fruta primorosamente exposta e de outros produtos de cores e odores intensos. Cada tenda é uma pintura veemente.

 

 

 

 

 

Mesmo a carne, está bem apresentada e faz esquecer as nossas tendências canibalescas.

Ficámos por ali um pedaço e depois decidimos voltar ao hotel, tomar conta do quarto, saber de que facilidades dispúnhamos...

Estávamos já longe e nada familiarizados com as ruas e os transportes colectivos. Enfim, tomamos de novo um táxi.

Eu tinha um papelinho mínimo que me tinham dado no hotel, 1cm por 3cm, garantia de que a mala estava guardada. Tinha o nome do hotel que eu não tinha fixado de todo.

Mostrei ao taxista que me disse: “Isso é uma cadeia de hotéis! Há vários aqui em Barcelona com esse nome!”

Bonito… e agora?

O homem perguntou: “Será o de tal parte, assim assim?”

E nós: não, não é esse!

“Será aqueloutro, o doutra parte assim assado?”

Não, não é!

 

 

 

 

“Terá que ser aquele tal… e tal! Recordam algum pormenor?”

Também não, nada disso.

Então ele abriu-nos a porta do seu táxi e disse com um gesto adequado: Olhem, PROCUREM!

Ficamos desconcertados: fomos abandonados literalmente em terras desconhecidas, sem um destino.

Ele estaria a pensar” A estupidez não é o meu forte”.

Porém, nós, daí a pouco, com os neurónios a funcionar violentamente, encontrámos o nosso rumo, o nosso hotel nas ruínhas estreitas do velho burgo.

Não me agradou o hotel: um arquitecto habilidoso tinha transformado uma casa estreitíssima duma rua estreita num hotel de umas quantas estrelas. Acho insuportável a falta de janelas e de salas com clarividente largueza para estar e ler.

Contudo, eu pedi na cidade velha, não tenho de que me queixar. Vou tirar proveito do que consegui.

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publicado às 15:06

Restaurantes Góticos

por Zilda Cardoso, em 24.06.13

 

Um dos temas possíveis para a minha reportagem por terras da Catalunha é RESTAURANTES.

Todos os dias, três vezes por dia, tínhamos que tomar decisões importantes, como: onde vamos tomar o pequeno-almoço? O almoço? O jantar?

 

 

 

 

Teria que ser não muito longe do nosso bairro, não demasiado caro, um sítio agradável em que, ao jantar sobretudo, houvesse qualquer coisa para observar para além da mesa e da conta.

 

 

 

 
(mesas corridas)

 (

 

 

(deste terraço... uma bela vista sobre a cidade, sobre a mesa um magnífico jantar)

 

E fomos a diversos lugares engraçados. Se bem que Barcelona não seja uma cidade com sítios vocacionados para um pequeno-almoço especial, a verdade é que vimos os menus às portas dos restaurantes e nos passeios desde cedo, de manhã.

Alguns em que embarcamos eram interessantes pelo ambiente. Acima de tudo pela envolvente, uns apenas por isso. Recordo um, com peças rústicas de cozinha antiga em que o chocolate quente, servido em chávena, era para comer à colher, duro e azedo, e o croissant, o pobre croissant era mesmo isso, um pobre croissant.

Longe do breakfast.

 

 

 

 

Ao jantar, tínhamos quase sempre espectáculo de rua por uma pequena moeda. Ou vista da cidade no terraço de alguns excelentes estabelecimentos.

 

 

 

 
(aqui era premiada a mais interessante foto da sala)
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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publicado às 19:19

O Barça

por Zilda Cardoso, em 24.06.13

Como estava com o meu neto que quis ir ver o campo do Barça, fui a Camp Nou, o lugar de culto do grande clube de futebol da Catalunha.

 

 

 

O estádio que tem mais de 50 anos é enorme mas há agora maiores. Vê-se, sente-se que há uma aura considerável, tudo brilha como numa catedral cheia de luz. Este é um gótico selvagem catalão do século XX!

Jogadores no relvado faziam gestos, davam saltos fingindo estar a jogar e fotógrafos em volta deles fixando isso para a posteridade. E muita gente adorando.

 

 

 

 

O que achei interessante foi o Museu, bem organizado, pareceu-me, dando ideia do que tem sido a actividade bem sucedida do clube desde a sua criação há mais de cem anos (1899), uma longa história.

Há a indicação dos serviços que o clube presta e taças, as botas de ouro, as bolas de ouro, as velhas fotografias dos heróis (nada de Figo!), todo o tipo de troféus. Passa-se por estas salas antes de entrar no estádio do que é “Més que um  club” tal se vê escrito nas bancadas.

 

 

 
 
 
 
(Do lado de fora do campo, uma proibição de jogar a bola).

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publicado às 12:41

Barcelona (a praia)

por Zilda Cardoso, em 23.06.13

Estivemos umas horas na praia, que não é uma beleza: é lisa, sem recortes nem rochedos, areia fina e acastanhada, limites impostos por pedras ali colocadas com essa intenção…

Mas passam grandes e pequenos barcos no mar, sem vela, sem velas, com velas ou com grandes motores. E é largo o mar ali, é largo.

 

  

 

 

Nada de ondas, é um mar sério. Nenhuma força sedutora a acender pensamentos valiosos. Sem magia.

Pagámos as nossas cadeiras que poderiam ser para todo o dia, estivemos pouco tempo. Ainda esperei ver chegar a vendedeira de bolos com o seu baú de folha ou o barquilheiro, mas não… E como não… Há muitos bares e restaurantes, é preciso dar-lhes trabalho e negócio.

   

 

 

De resto, a esplanada é optima para passear, e passeia muita gente a pé ou corre ou anda de bicicleta ou de lambreta. E cada um tem de tomar conta de si para não ser atropelado. Compreendo que os barcelonenses estão muito treinados, passam rapidamente sem parar pelos inúmeros obstáculos. Com espanto, não vi ninguém ferido!

Está sol e calor temperado, sem vento frio nesta hora.

Fomos ao Hotel mudar de roupa e voltamos a sair para o jantar.

 

 

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publicado às 10:01

Em Barcelona com Picasso

por Zilda Cardoso, em 16.06.13

 

 

 

 

Estive no Museu Picasso em La Ribera. É constituído por cinco palácios dos séculos XIII e XIV de estilo gótico catalão com pátio interior e escadaria de acesso aos andares. São lindíssimos, cada um tem a sua história e eu fiquei com imensa vontade de morar lá, desde que tivesse uma pequena janela para espreitar o mar, o que não seria impossível. Embora aquele mar não seja o meu mar – seja pacífico e morno e de cor densa… - seria bom poder também ver para o longe sem interferências.

 

Fiquei muito emocionada com a extraordinária recuperação dos edifícios feita, suponho, há cerca de 50 anos. É a beleza pura da arquitectura que combina, não sei como, com poesia e com música, com pensamento e com realidade.

 

Havia a colecção permanente de pintura, desenho, gravura e cerâmica e a temporária, um impressionante conjunto de auto-retratos de Picasso desde os primeiros anos. Valia a pena ficar ali a tentar descobrir os seus pensamentos para além do espelho.

 

Da colecção permanente, diverti-me quase tanto como Picasso com o quadro As Meninas segundo Velasquez.

Recordo bem o quadro de Velasquez que analisei com pormenor há uns anos e li a perturbadora análise de Michel Foucault. Que diria Foucault desta obra de Picasso?

Gostava bem de saber, lá estão os pormenores todos: a infanta Margarida, o cão, os anões, as damas de honor, o cortesão que entra no estúdio, o casal real a ser pintado, talvez o espelho que os reflecte, o pintor voltado para o espectador que sou eu e a sua tela de costas para mim…

O quadro é considerado uma das mais importantes obras da arte ocidental e fascinou Picasso que parodiou o tema e o quadro. Ou se inspirou nele, o recriou e interpretou 58 vezes, tantas as obras que estão nas salas deste Museu.

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publicado às 20:57

Barcelona

por Zilda Cardoso, em 16.06.13

 

 

Esta seria a hora da completa conciliação se não fosse aquela voz a saturar o ar de palavras aliás inaudíveis, obscuras.

Soube que eram três quartos de uma hora qualquer da tarde de Junho, quando uns badalos deram três pancadas seguidas nos sinos próximos e depois…emudeceram.

A voz continuou semeando sombras para meu desespero como se estivesse a prometer renunciar não a renúncias mas a coisas brilhantes e desejadas. A voz tornou-se a demorada realidade do momento, enquanto os seus sentidos se perderam completamente para mim: o sentido da voz e o das palavras que ela pretendia veicular.

Em dia de sol muito quente, os montes escuros ao longe, as traseiras dos prédios castanho-avermelhados, os terraços e as árvores sem cor definida, eram silhuetas veladas a potenciar o sentido possível do som, do clamor…

 

 

 

Então passou uma gaivota no alto em voo elegante e ágil sobre o azul e, por momentos, houve um pouco de claridade ali. Mas continuou, talvez porque a voz das sombras que se tinha calado voltou no mesmo tom velho e poeirento.

Estou em Barcelona, gostei de rever a cidade monumental quase tão gótica e bárbara como gaudiana e amaneirada.

Onde estou é justamente o bairro gótico, visto de trás e de cima; procuro reconhecer aquilo de que se fala. E que é atraente, bem vejo.

Prefiro estar na minha varanda de-ver-o-mar a ver o mar, os barcos e a passarada. Que aqui também observei, a outra hora, na praia, perto.

Neste momento, há o silêncio apetecido que nega as minhas recentes palavras. As outras, as inaudíveis e obscuras, não deixaram nenhum eco; verdadeiramente, estou bem assim a tentar reconstruir o sentido que não cheguei a vislumbrar, o da voz. Que posso imaginar, mas não quero. E não sei.

O das palavras…

A esta hora, não é crível que o sol se abra e ilumine ideias, as torne radiosas e significantes. E transparentes.

Não é provável.

   

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publicado às 09:24

O mito de Pandora e os governos da nação

por Zilda Cardoso, em 09.06.13

 

 

(imagem da internet) 

 

 

Lembras-te do mito de Pandora? – interroga Joana olhando cheia de curiosidade para André. 

Tem várias interpretações, mas a de que me recordo reza mais ou menos assim: os deuses tinham dado a Pandora, que foi a primeira mulher sobre a Terra, uma caixa e recomendado que não a abrisse nunca. Mas ela abriu-a, e todos os males que ali estavam fechados saíram e espalharam-se no mundo. Apenas a esperança continuou agarrada à borda da caixa.

Por vezes, lembro-me desta cena quando se forma um novo governo que é como uma caixa fechada, e os políticos começam a sair dela e a aparecer e a fazer parte do nosso mundo. E verificamos que cada um é uma desgraça completa. Porém, nós estávamos cheios de curiosidade, tal como Pandora estava e queríamos ver o que continha a caixa, o que o novo governo tinha para nos dar, e abrimo-la sem respeitar o aviso.

Na verdade, cada vez que se nos apresenta um novo governo, surge a esperança. A esperança de algo melhor para todos. Mas é uma expectativa gorada. O que nos é oferecido é o que bem conhecemos: os males, as calamidades, as penas… que tudo é a mesma coisa.

Do meu livro Cerejas de Celulóide, capa de Manuela Bacelar, ed. Campo das Letras, 2007

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publicado às 17:53

HELENA SÁ COSTA

por Zilda Cardoso, em 05.06.13
 

 

No domingo passado, assisti a um concerto de casa cheia na Casa da Música. Foi às 18h, hora excelente para estes eventos.

Em homenagem a Helena Sá Costa, tocou ao piano Grigory Sokolov música de Schubert e de Beethoven, um extraordinário concerto que não esquecerei.

Tive o gosto e a honra de conhecer a grande pianista portuense que sempre viveu nesta cidade, embora tendo viajado e dado concertos por todo o mundo. Era na realidade uma pessoa encantadora que provavelmente se sentaria na cadeira da última fila da plateia para assistir fosse ao que fosse como faz o Papa Francisco e se vê na mensagem e imagem que corre mundo.

 

Apesar dessa modéstia chegou ao topo da sua carreira de pianista concertista e de professora, aplaudida por públicos muito conhecedores. Faria cem anos este ano e teve pequeníssimas homenagens que talvez tenham culminado com o extraordinário concerto a que assisti.

 

Grigori Sokolov tocou com dedos maravilhosos Schubert – Quatro Impromptus, obra de 1827 e Três peças para piano de 1828; e Beethoven - Sonata para piano de 1818 e ainda cinco extras que fizeram as delícias da assistência muito numerosa e interessada.

 

As primeiras peças de Schubert aqui apresentadas são de caracter lírico e foram primeiramente improvisos, segundo julgo. A sonata de Beethoven é “a mais extensa e complexa que o compositor escreveu”, segundo leio no programa da Casa da Música. Que também fala de profunda espiritualidade, de idílio sonoro, de estranhas harmonias, de monumento polifónico…

 

Foram para mim poucas horas apaixonantes.

 

 

(Helena Sá Costa ao piano, imagem do programa da Casa da Música

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publicado às 20:58

O texto sobre a minha ligação aos Freudenthal

por Zilda Cardoso, em 03.06.13

Recordo as minhas idas ou vindas frequentes a Lisboa, há uns anos, em que de Santa Apolónia ia direitinha ao Restelo, onde moravam os avós da minha primeira neta, o João e a Alice Freudenthal.

Era um alvoroço!

Ela, a neta, chamava-se Alice como a do País das Maravilhas e, nessa época, tinha para aí uns 25cm de altura, porque bebera o líquido - tão bom - da garrafinha que dizia bebe-me, e nem sequer chegava à mesa onde estava uma chave de ouro que lhe abriria a porta para o lindo jardim que avistava e a atraia ao longe.

Que não era este da casa do Restelo, mas podia ser. Eu apreciava o jardim dos avós Mergulhão Freudenthal cheio de luz e com uma gigantesca pereira abacate no caminho para a entrada principal da casa. Ela também me dava as boas-vindas, sempre cheia de frutos macios, longos, oblongos e verdes, tão próprios de outro clima.

Mais tarde, a Alice comeu o bolo que a faria crescer e aí está ela suficientemente alta para chegar à chavinha que lhe abrirá muitas portas para os lugares interessantes que ela descobrir e merecer.

Hoje estamos tão orgulhosos dela como estaria o Avô João que eu sempre encontrei na grande sala da casa, por vezes, tocando piano, ou na varanda cheia de sol, lendo os jornais estrangeiros que lhe permitiam estar a par da situação internacional (nos anos 80). Interessavam-lhe muito todos os detalhes: estariam “eles” a ruminar uma nova guerra? Ou a desencadear uma crise qualquer (whatsoever)? O que poderia ser desta vez? Tinha que estar preparado…

Mas depois de os ler, cada dia, ficava tranquilo: nada de mau aconteceria, por agora.

Quando mais tarde a Sofia me pediu para escrever a história do Pai a partir dos seus escritos, soube logo o privilégio que era ter conhecido uma tal personagem - alguém com uma vida tão vivida, tão sofrida e tão conseguida. Eu tinha-o frequentado como um homem elegante, encantador, solícito, querendo agradar e agradando sem esforço, uma figura de cinema num ambiente sereno e tão luminoso como os seus olhos azuis. Porém, ele era muito mais que tudo isso, naturalmente, tinha muito mundo no corpo, como poderei dizer, era uma figura viva da nossa História Contemporânea, história da Europa, da Alemanha  e dos Judeus, em particular.

O João tinha uma grandíssima e invulgar experiência de vida e, isso, eu pude constatar pelo que escreveu e me foi facultado – os seus registos mostraram-me como se pode viver perseguido sem culpa no seu país e num país em guerra, primeiro na Alemanha, depois em Angola, para onde emigrou e de onde veio para Portugal.

E comecei com entusiasmo. Foi na realidade uma vida cativante e um exemplo de vontade, de coragem, de inteligência e de determinação.

Fala da Alemanha depois da primeira grande guerra e da sua juventude antes da última guerra, no País onde frequentou boas escolas e clubes desportivos e participou da vida cultural intensa sobretudo quanto a música e a teatro. Mas foi também aí que, mais tarde, já com a família dispersa, começou a sofrer os horrores dos que não respeitam os valores da vida nem a dignidade das pessoas.

Às vezes me pergunto como um povo tão dedicado à música e à filosofia…

João Freudenthal dá a sua opinião sobre as razões que levaram o povo alemão a aceitar o nazismo, depois de terem tido uma das democracias mais liberais que alguma vez foram criadas, a famosa República de Weimar.

 “Antes do nazismo a vida era excelente”, diz João Freudenthal, havia muita liberdade para a juventude, havia trabalho e diversão”. “Porém, as pessoas modificaram-se. Quiseram entrar para o partido nacional-socialista para alterarem as suas regras e objectivos, mas algum tempo depois, o partido modificou-as, modificou as pessoas que começaram a ceder à obsessão louca dos nazis. E surgiram os discursos contra os judeus”.

A partir daí, foram os embaraços, as contrariedades, as amarguras que estão contadas neste livro de memórias que constituem uma narrativa fascinante e viva. É a perspectiva de quem sofreu tudo isso no corpo e no espírito.

Eu não pude continuar, mas quero felicitar a família que seguiu o exemplo de firmeza e perseverança do Pai; e saúdo sobretudo o afecto mostrado com a decisão de publicar as memórias que de outro modo se teriam perdido.

Parabéns a todos os que se empenharam! Valeu a pena.

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publicado às 18:22

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