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Não gosto da vida como é, no presente. E não sei como fazê-la voltar a ser do meu agrado.
Não quero que volte a ser tal qual foi em algum momento anterior.
Há tão poucos acontecimentos para acontecer e a acontecer: hoje em dia, esta é a realidade sem elementos míticos.
Mas há muitos espaços vazios, tanta solidão, muita dor. É por isso que os dias são pouco atraentes.
Os acontecimentos de cada um (dia) deviam acontecer todos juntos, muitos, coloridos, intensos, macios também, e eu, estando debruçada pela manhã cedo numa janela gigantesca donde veria não apenas os acontecimentos acontecerem em catadupa, mas poderia misturá-los, combiná-los, compô-los, organizá-los segundo o meu sentido estético, eu finalmente regozijar-me-ia com o espectáculo.
Não precisava sair lá fora para participar. A menos que me chamassem. A menos que fosse absolutamente necessário. Ou a menos que o meu ângulo não fosse o melhor para observar os astros mais próximos, os pássaros, as transparências, os matizes e o resto.
Tenho esperança de ver o Sol girar em volta da Terra como sucedia antigamente e como ainda parece ser, e de ver a Lua seguindo o outro, submissa, fria e bela, à distância.
Ouviria alguns ruídos de fundo, murmurados muito longe, uma música inspiradora de bons sentimentos ou que prometesse uma dança admirável de nuvens e de estrelas. A música serve para dançar, não é? Então dancem, diria.
Nesses momentos, não gosto do silêncio. Quando muito, aprecio a poesia porque ela é também silêncio. Porque ela é música. É um silêncio que não é. É música que é silêncio e poesia. É assim.
E não aprecio palavras quando procuro a verdade. Estas palavras não são as que queria, elas enganam, são incertas, sem conteúdo, mas só estamos estáveis com palavras. Como nos arranjaremos com ou sem elas?
Num dia mais claro, mais nítido, da minha janela panorâmica, verei o infinito lá longe. Prometo.
Vou ter uma vida diferente.
Muitos acontecimentos nos surpreenderam recentemente: uns de grande importância para a comunidade, outros de menos. Mas todos, todos têm tanto de ridículo como de amargo.
Falamos de coisas sérias como austeridade, falta de emprego jovem, recessão económica, disciplina orçamental, endividamento…
Mas a forma como se processa o debate público sobre estes temas, a discussão sobre essas questões é confrangedora. Ou antes não existe discussão nenhuma.
Porque, entretanto, andamos a brincar às casinhas, aos governos, às presidências, aos conselhos de estado, às manifestações de rua e caseiras e a outras.
E do que falamos é de ninharias, de mesquinhices, de erros de gramática e de falas ingénuas e imprevidentes.
Estaremos de facto a viver uma democracia?
O artigo de João Miguel Tavares, do Público, de hoje dá umas estocadas certeiras num dos últimos acontecimentos mais tristemente apalhaçados de que temos conhecimento. Houve muitos.
Falou da originalidade daquela fantochada, é certo, e da oportunidade, só por isso, de a publicar. Mas o que acrescenta é bem mais importante – é o “tratamento dado aos assuntos políticos e económicos” pelos jornalistas como resumido a “protestos mais ou menos coloridos e de pequena intriga.”
O que relata, é um caso que teria pouco a ver com aquilo de que nos queixamos, de que falamos sem termo, se não fosse, em última análise, sobre finanças. Era a apresentação de um livro pelo ministro das Finanças, um livro que fala de oito séculos de loucura financeira e é de autores de renome.
Por favor, era a apresentação de um texto que pelo seu objecto podia ter dado lugar a um debate inteligente com a pessoa responsável pela forma como o tema, as finanças, está a ser tratado na realidade, aqui e agora!
Podia ter dado, se bem que se tratasse de um livro de que ele não é autor e de cujo conteúdo pode discordar. Não ficamos a saber nada porque se tratou de não deixar dizer, fosse o que fosse.
Era o sentido do rir às gargalhadas no momento em que o apresentador falava seriamente do que nos devia interessar. Compreendo que era esse o objectivo do protesto: não haver sentido nenhum e por isso chamar a atenção.
Não houve curiosidade em saber o que é chamado obra fundamental, agora traduzida para a nossa língua.
O que acho mais triste neste e noutros acontecimentos que ultimamente testemunhámos e de que temos verdadeira erudição ( já que nos são repetidos até à saciedade pelos jornais escritos ou falados durante dias, a todas as horas do dia, todos especializados em sensacionalismo), é que se trata de pessoas que elegemos ou que escolhemos para os altos cargos que ocupam e, por isso, devíamos respeitá-los enquanto os estivessem a desempenhar. Esta é uma das razões por que nos devíamos envergonhar: não prezámos as nossas próprias decisões.
De resto, há que respeitar qualquer ser humano como criatura com uma dignidade igual à nossa, ou não?
Por outro lado, tal como acentua JMT, não ficamos a saber nada da análise que é feita no livro sobre a louca economia do nosso tempo, sabedoria que nos parece imprescindível. Apenas conhecemos o fait-divers comunicado.
E temos o direito de desperdiçar análises possivelmente perspicazes contra o favorecimento de protestos ineficazes e grosseiros que não nos esclarecem nem trazem nada por que pareça valer a pena lutar?
“Mas afinal o que é isso da neuroplasticidade? Como dizem as palavras, os nossos neurónios moldam-se, arranjam-se, dançam, entrelaçam-se, abraçam-se entre eles num pulsar constante e sempre em resposta às nossas interacções com o meio ambiente, quer sejam de carácter profissional, emocional, alimentar, artístico, físico ou qualquer outra dimensão pessoal ou colectiva”. (Minnie Freudenthal, no site deoutramaneira)
Se bem que pense que pode haver interacções com características desconhecidas a influenciar os nossos neurónios e as suas danças, acredito que devemos interagir o mais possível com o meio ambiente em geral para os mantermos vivos e nos mantermos em bom estado mental. Com possibilidade e a esperança de estarmos suficientemente jovens, nesse sentido, até ao fim dos nossos dias.
Conheço quem mantenha uma memória extraordinariamente viva apesar dos oitenta e muitos e não tenha de forma visível nenhum contacto com um mundo de ideias complexas, quero dizer, capazes de se entrelaçarem e complexificarem. Os seus interesses são necessariamente, como dizer, simples, mas é bem capaz de discuti-los com bons argumentos. Assuntos de interesse geral? Assuntos que dizem respeito a todos nós? Políticos? Temas da sua vida, há muitos anos, caseira, muito ligada às compras, à cozinha, à ordem, ao asseio da casa e do jardim - às plantas, aos cuidados na sua manutenção e alindamento… e, em geral, ao bom funcionamento da pequena casa familiar, com independência.
Tem recordação daquilo que sabia, e continua a saber. Será ocasião ainda de grandes movimentações…?
Terá feito durante a sua longa vida e continuará a fazer conexões entre as células diferenciadas do seu cérebro de modo a ter no presente uma maior complexidade nessa “extraordinária rede cerebral”?
O que sabe agora é mais profundo e mais experiente do que o que conhecia há cinquenta anos. É o que a leva a agir.
Será um agir mais inteligente, mais lógico, mais ético, não sei. Tem uma maior capacidade de raciocinar, de resolver problemas, de aprender? De compreender o mundo e o sentido das coisas?
E será capaz de inventar, de criar coisas novas, de imaginar?
Parece-me, a propósito, que sendo os mais velhos um grupo que tende a ser maioritário, há que pensar no modo de aproveitar os seus saberes.
Para aliviar o sacrifício dos mais novos que se queixam… (embora os mais velhos tenham descontado para as suas reformas), é necessário aproveitar experiências de vida e inteligência.
Estou a falar dos que podem ter perdido em parte as suas competências físicas, mas conservaram as intelectuais. Falo de pessoas que podem ajudar a ver mais longe e a reflectir com maior ponderação acerca de temas que interessam a toda a sociedade.
Da sua janela, viu que ao longe alguma coisa desusada se passava.
O céu de estranha cor pesava sobre o mar. De facto, ligava-se a ele e ficavam um. Uma só coisa, sem espaço vazio, sem linha, sem parágrafo nem entrelinha.
Olhou fascinada, tentando perceber. Em volta, tudo acinzentou. Por momentos.
Dali a nada, a tal estranha cor violácea, que não é cor, dispersa-se, aparecem os contornos quase nítidos das árvores, dos telhados, das ruas; a areia, as rochas, a espuma… tudo já sem velatura.
É que o sol está a conseguir romper a cortina de palco ali: ficaremos aliviados de uma grande tempestade que foi vencida pelo entusiasmo da luz, do calor, do vento...
Joana quer abalar para sentir forte o cheiro do momento, a música que paira, a dança que a anima. Sente tudo isso no seu corpo pertença deste lugar, como o mar, tanto como o mar...
Também vai continuar aqui com ele. A diferença maior é que o mar não parece envelhecer ou não se importa com isso. E as árvores… as árvores renascem, renascem, renascem até que não renascem. E vêm outras.
As rochas vão ficando mais castanhas, mais arredondadas, mais brilhantes.
O céu… é o que muda… a todo o instante, pelas nuvens que não páram e pelo vento que as não detém. Há múltiplas formas de nuvens, muitas tonalidades e poucas cores no céu.
A ambiência é diferente cada dia. O mar sente o prazer de estar ali, não precisa mudar de sítio para se parecer aprazível. Se muda com a maré, a chuva, o vento, os pássaros, os barcos, o céu… então é sempre fresco e moço e activo. Sempre.
Quanto a Joana… chegou a hora de pensar mais sensatamente.
Assisti no sábado a uma apresentação de livro não muito comum. Era um livro para crianças, Bichos, Bichinhos e Bicharocos, de Sidónio Muralha, com prefácio de João Lobo Antunes e ilustrações de Júlio Pomar.
Com todas estas recomendações, quem não se interessaria?~
Mas havia mais. Havia música. E o CD que vem com o livro tem música gravada pelo coro infantil dos jardins-escolas João de Deus. São as três canções escritas pela musicóloga Francine Benoit que viveu e morreu em Portugal (em 1990).
E…
E o coro infantil da Escola de Música Guilhermina Suggia cantou para os assistentes algumas dos bonitos poemas musicados que suponho estarem no disco compacto.
E alguns alunos minúsculos leram trechos do livro.
E houve a apresentação literária, muito cuidada e animada de Rita Taborda Duarte.
Interessante é que a primeira edição deste livro saiu em 1949 e esta fac-similada é a terceira. “
O autor que morreu em 1982, escreveu vários livros infantis e era um nome de relevo da escola neorrealista portuguesa.
Neste livro, fala-se do Papagaio, do Bichinho de Conta, do Sapo e de Grilos e Grilões, de Macacos e da Joaninha. Do Pato Marreco e de uma Estrelinha. É
tudo bonito, suave, de cores deliciosas e música agradável.
E escreve João Lobo Antunes no prefácio que é de 2010: ..."alguém disse que nós não deixamos de brincar porque somos velhos, mas sim que nos tornamos velhos porque deixamos de brincar".
E concordo.
Vou ler o livro.
Exausta.
Cheguei a casa exausta, deitei-me. Com a cortina um pouco levantada, fiquei a ver o mar pela porta envidraçada da varanda do quarto.
Vejo-o sempre enquanto é possível, enquanto há luz. Adoro-o pela sua beleza e dinamismo. Pela sua presença tão importante para mim.
Ele está ali, mas não fica ali. Tem coisas importantes para me dizer, todos os dias, e di-las.
Conversamos longamente, se bem que as nossas conversas sejam invulgares, delicadas e primorosas. Não sei reproduzi-las, são tão poéticas!
Estimulantes em extremo, afastam a solidão e o maior desassossego.
Será isto um aperfeiçoamento pessoal? Ou o aperfeiçoamento em que devo concentrar-me?
Possivelmente é de lamentar o tempo em que não estou nesta conversa com ele, a fazer-lhe companhia. Talvez como a Sophia eu deva voltar, depois, “para buscar os instantes que não vivi junto do mar”.
Ele vai e volta, chama a atenção, faz um ruído agradável, brinca contra a rocha que perde dureza e dispersa-se em miríades pelo ar, sempre alegre.
Sorrio e fico bem.
Era quase Primavera, as andorinhas não vinham em revoadas como noutro tempo, quando os noticiários, desinteressados de descrever grandes mexericos e grosserias com os pormenores sórdidos, davam grande ênfase à sua chegada à cidade.
"Chegaram as andorinhas!", aparecia em grandes parangonas na primeira página do Janeiro, acompanhada a notícia por fotografias de céus rasgados por asas negras bem desenhadas e altos peitos brancos: pequenos acontecimentos que acrescentavam valor estético à cidade e ao jornal.
....
Na verdade, pensava que as andorinhas andavam tão confusas que não regressavam quando eram esperadas, se é que alguém as esperava.
Em tempos, a Primavera era trazida por elas, agora, sem esses insectívoros a guiá-la, a Primavera chega em qualquer altura do ano.
Experimenta não escutar senão aquilo que lhe agrada, os ruídos das suas asas em voos picados sobre a água doce, dos pombos e dos pequenos pássaros que brincam, da música desse silêncio...
Sente o prazer de pensar que encontrou finalmente uma solução perfeita para todos.
Volta-lhe o sorrir.
Do livro Cerejas de Celulóide, Campo das Letras.
Dizem os maus que esta é uma cidade escura, húmida, granítica e não sei o quê mais.
Típica cidade do Norte em que as pessoas se divertem menos e levam a vida a sério. Não sei se é assim.
E também não sei se alguma delas, uma vez só, fez uma descoberta de importância transcendente para esta comunidade. Como por exemplo, a razão por que nasceu aqui e não num dos lugares do sul, um dos da luz excessiva e do calor de abafar.
Eu animo-me na cidade do Porto, nesta ocasião, mais moderada e tranquila, cheia de flores lindas e duráveis. nas árvores das ruas.
Vi hoje às 7 da manhã (presumo que continuem lá e podem ser vistas) filas de árvores floridas de rosa carregado, em pequenas pirâmides. E rododendros lilases e rosas brancas.
E vi as minúsculas flores brancas de certo chão. E os tons de verde, muitos, das folhagens diversas e bem combinadas de tantas árvores rejuvenescidas.
"Há boas notícias da voz da neurociência: as extraordinárias células do nosso cérebro mantêm a capacidade de neuroplasticidade até o nosso pulsar central se desligar! E porque são boas notícias?
Luísa Taveira, Directora da Companhia Maior, lembra a frase de Woody Allen "viver muitos anos é maravilhoso, mas envelhecer é de evitar". Mas o que a ciência nos diz é que de facto podemos aprender, com sorte, a evitar o envelhecimento tal como o conhecíamos até à modernidade. E sem me querer debruçar sobre a manutenção mecânica e química do nosso corpo, não posso deixar de sublinhar que esta vertente é essencial à manutenção da tal neuroplasticidade. Tudo o que fazemos com o nosso corpo influencia a estrutura anatómica e fisiologia da Mente.
Mas afinal o que é isso da neuroplasticidade? Como dizem as palavras, os nossos neurónios moldam-se, arranjam-se, dançam, entrelaçam-se, abraçam-se entre eles num pulsar constante e sempre em resposta às nossas interacções com o meio ambiente, quer sejam de carácter profissional, emocional, alimentar, artístico, físico ou qualquer outra dimensão pessoal ou colectiva.
Começamos todos com um número mais ou menos semelhante de neurónios mas o que nos torna seres únicos são as conexões que durante a vida de cada um de nós se fazem entre as células do nosso cérebro. Embora os anos possam trazer menos elasticidade musculoesquelética, no entanto, a nível cerebral os anos trazem mais complexidade a esta extraordinária rede cerebral o que dá profundidade e referências diversas à nossa mente.
Assim, é na idade maior que temos mais capacidade em discernir a natureza da realidade olhando para lá da aparência das coisas e em usar este conhecimento mais sábio como motor das nossas acções.
No passado, a idade maior era um grupo etário em minoria, mas no futuro este grupo maioritário deve reverter esta sabedoria para a sociedade a que pertence, ajudando a rede social a criar conexões, tal como na nossa mente, baseadas em mais sabedoria e menos imediatismo.
Bob Dylan já dizia: “quem não está ocupado a renascer está ocupado a morrer...” e agora que sabemos que a base estrutural da nossa mente nos oferece qualidades de plasticidade infinitas acredito que a idade maior se encontra privilegiada pela riqueza armazenada no seu cérebro para explorar o desconhecido e tornar a vida uma Arte, já que, como diz Jonah Lehrer : .”a Arte ensina-nos a Viver com o mistério....Quando nos aventuramos para lá dos limites do nosso conhecimento, tudo o que temos é Arte".
Minnie Freudenthal
Publicado em 3-12-11 no site deoutramaneira
Permito-me agora reproduzir, S.S.L.
Depois de muito investigar, experimentar e reflectir, concluí várias coisas curiosas de que já falei anteriormente, afinal. Mas vou contar outra vez já que este pensamento continua a ocupar o meu pensamento.
É que o Sol dá a sua volta veloz, apressadamente de mais. E a noite vem cedo, toda a gente vê isso. Quero dizer, é noite, mas não passaram vinte e quatro horas desde que foi noite ontem. Tenho andado a verificar com aparelhos sofisticados e vejo bem que aquilo é treta, pois é claro que estas horas não têm sessenta minutos nem os minutos sessenta segundos. Os meses têm trinta dias? É boa, talvez tenham!
Porém, é preciso doze meses para completar cada ano? Não o creio.
Se fosse e se as horas tivessem aqueles minutos todos, e os minutos aqueles segundo longos, os dias seriam mais compridos também, nada disto aconteceria, compreendam.
Acredito que o dia comece todos os dias com boas intenções: o Sol aparece deslumbrante na cidade e desaparece igualmente ofuscante no mar. O propósito é ser um bom dia, agradar a todos, cumprir.
Contudo, o astro que regula essas coisas não se resigna, está sem paciência, acha que já trabalhou de mais e está farto. Por isso, não faço ideia o que acontecerá amanhã!
Não sei se posso ajudar a resolver o problema.
O Sol nasce todos os dias, tal como eu disse, inunda de luz um céu vasto e arredondado, o mar - a água, os peixes brilham – mesmo as árvores esplendem. E, com tempo, tudo muda de cor para belo e dourado.
Não me vou importar mais com a impertinência do tempo lesto, estou muito feliz com o que vejo. E, realmente, a nossa finalidade na vida é aperfeiçoarmo-nos, não é?
Aperfeiçoamo-nos sentindo esse desejo.
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