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grupos diferentes de mentirosos

por Zilda Cardoso, em 22.12.12

 

(Imagem de P. C. , onde?)

Conheço muitos grupos de diferentes mentirosos, uns mais importantes para mim do que outros. Os assuntos de que tratam ligam-se à minha vida e aos meus interesses de maneira diversa.

Estou a pensar nomeadamente nos políticos, nos que governam o País e os países e nessa medida me governam: esses são importantes, acredite ou não nas suas palavras.

Contudo, há muitos outros que fazem as suas dissertações e seduzem, sabem que não é realidade o que dizem, mas dizem-no, do mesmo modo, e requintam o discurso de modo a serem facilmente acreditados - com essa finalidade.

E há os políticos que não governam e fazem exactamente o mesmo que os que governam, com o mesmo fim: os críticos, os analistas, os jornalistas e os que querem governar. Lembram os velhos vendedores habilidosos e inteligentes que, numa rua propícia da velha cidade, juntavam à sua volta rapidamente um grande número de pessoas que não acreditavam mas que se divertiam. Ou que diziam: sei que não é verdade mas se é? E até compravam uma unidade do produto propagandeado – uma porção de banha da cobra - que iam experimentar às escondidas.

Não sei se há diferença entre burlões, charlatães, intrujões, biltres, gatunos hábeis e industriosos e troca-tintas. Mas não tem muita importância: todos eles enganam habilmente seduzindo. Normalmente falam do mundo como se ele fosse um excelente lugar para viver.

Os mais interessantes são os verdadeiros criadores: escritores e artistas, de forma geral.

(Prometo tratar deste grupo depois do Natal. Vai ser muito complicado porque devo falar de mito e de utopia, estão a ver?)

 

 

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publicado às 15:58

verdade - realidade

por Zilda Cardoso, em 18.12.12

Gosto de dizer o que penso e de pensar que o que digo é a verdade. E sendo a verdade valiosa, há interesse em dizer o que penso.

E como conheço a verdade?

Não conheço todas as verdades nem conheço a verdade absoluta. Conheço as que conheço e, sobre essas, eu posso falar. Cumpro assim a minha parte, falando, considerando que a minha verdade vai beneficiar alguém, talvez toda a gente, se bem que às vezes não pareça assim.

Mentir é complicado, requer grande inteligência e argúcia, além de possivelmente acarretar mais dúvidas e prejuízos do que dizer a verdade. Mesmo que se minta por amor, para não magoar, por afabilidade ou por um bom interesse de alguma ordem ou de ordem geral, acaba por causar maior dano, enquanto aparenta ser particularmente correcto. Não aprecio os processos da política e da diplomacia precisamente por isto.

Por outro lado, a verdade escondida e subitamente revelada pode ser muito perturbadora. Deve ou não ser revelada porque é verdade? Ou deve manter-se escondida? E não está um facto escondido sempre sujeito a ser revelado? A qualquer momento? E a tornar-se suspeito… porque foi oculto?

Não é o que leva à corrupção… que tem aumentado exponencialmente nas sociedades modernas e democráticas? A mentira piedosa ou interesseira para esconder a verdade, complexifica-se de maneira assombrosa e nunca se chega ao fim, ao momento de revelar a verdade devidamente investigada.

E, muitas vezes, é preciso coragem para dizer a verdade.

No entanto, admito que se se diz uma coisa que não é verdade numa qualquer convicção, mais tarde ou mais cedo, vai ser descoberta a verdade, o que deixará embaraço e suspeição quanto ao que realmente se passou. Suspeição para sempre. Ocultar, seja uma verdade ou uma mentira, é o maior malefício do que pode estar a ser feito por bem: a insegurança e a incerteza acabarão por fazer sofrer muito e muitos, por tempo excessivo.

Acredito que é preferível dizer o que estamos convencidos de que é a verdade próxima ou coincidente com a realidade (realidade "dentro dum sistema de valores") tanto quanto isso é possível: prejudica menos no ponto de vista do interesse geral e noutra qualquer perspectiva.

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publicado às 14:35

O tempo continua

por Zilda Cardoso, em 14.12.12

Depois de pensar como é veloz o tempo e, para mim, inconveniente e despropositado nessa sua velocidade, tenho considerado o que fará o tempo parar. E se será proveitoso.

Cheguei a algumas não conclusões mas possibilidades. Estar feliz pode ser uma delas. Estar feliz pode fazer parar o tempo, é uma ideia básica e pode estar certa. Mas como posso estar feliz, completamente feliz… para poder parar o tempo?

Esta é uma das dificuldades: tenho que descobrir como é para mim estar feliz? Ou ser feliz?

Outra dificuldade é: quererei que o tempo pare para sempre ou por momentos?

Será melhor esquecer o parar para sempre, isso significa ininterruptamente outra coisa, não é verdade?

Não sei o que significa.

Não posso compreender. Como chegarei ao entendimento disso? Falar dele, do sempre, é fácil, compreendê-lo é diferente coisa.

Parar por momentos… é outra hipótese. Em relação ao que pensei anteriormente, tenho que me interrogar sobre quanto tempo preciso para envelhecer com sabedoria, com a satisfação da perfeição e do equilíbrio e com acesso àquela “maneira de ser que determina a qualidade de cada instante da nossa vida”. À alegria enfim que será de cada momento… de quantos? 

O que importa é ter uma vida que me ocupe de forma satisfatória, física e espiritualmente. Não haverá outra forma de ser feliz senão estar satisfeito com a sua vida, seja ela qual for, a de varredor da rua ou a de presidente da república, e sejam quais forem os acidentes com qualquer delas relacionados.

Sei que tenho que ser paciente como o Sol que se não cansou até hoje de aparecer e tentar inundar de claridade um céu enorme e redondo. Por vezes, há sobre o céu uma camada superficial de nuvens azuladas que encaracolam e se enrolam e ficam espessas e com formas interessantes. Talvez uma luz abra fendas nela e brilhe intensamente por trás. Eu não sei se é o Sol que está lá e eu não vejo; calculo que seja e vá percorrer o seu caminho pacatamente e com poucas variantes, e desapareça no lado oposto, no mar, em frente à minha varanda, como sempre sucedeu. É essa a ocupação do Sol e seja o que for que aconteça, seja qual for o meu pensamento, ele irá (enfim, assim o espero) continuar a iluminar a metade de mundo que eu posso conhecer e que, desse modo, se modifica radicalmente para meu bem.

Cada um descobrirá na sua ocupação elementos simples, isto é, brilhantes, e terá intuições e fará tentativas originais para resolver problemas, todos os dias ou de vez em quando. E será realizado o que se propôs realizar porque terá tido tempo de “pensar, de experimentar, de recordar, de apreciar as cores, de amar o outro, de interpretar, de cantar, de ouvir a música e de dançar bem e de acordo”. E de ser altruísta.

Nada sairá mal porque isso, esse nada, estará em condições de ser feito quando for feito. E será bem feito.

Será então que farei o tempo parar… que serei feliz. Se é para sempre, se por momentos, poucos ou muitos ou se por um só… não sei.

 

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publicado às 13:19

Concerto de Natal

por Zilda Cardoso, em 09.12.12

 

 

 

Assisti há dias a um concerto de Natal de algumas escolas do Porto a favor da APPACDM, instituição de solidariedade social.

O auditório estava cheio e os meninos e meninas cantaram com à-vontade as canções tradicionais desta época e algumas outras em português, em inglês, em alemão. Cada grupo, cantou as suas canções e no final houve uma “Glória” cantada em coro pelo conjunto das cinco escolas.

Com instrumentistas para flauta, piano, violino, violoncelo, uma orquestra, um grupo de guitarras… foi na verdade uma festa. No final, as crianças do Centro de Educação Especial da APPACDM ofereceram ramos de flores aos professores responsáveis pelo espectáculo.

Esta instituição, que também existe em Lisboa, está no Porto desde 1969 e tem aqui em funcionamento quatro centros de actividades ocupacionais, uma unidade de intervenção precoce, uma escola de ensino especial, um centro de atendimento, acompanhamento e animação para pessoas com deficiência e quatro lares residenciais.

Tem uma missão que procura cumprir: “promover a integração do cidadão com deficiência mental no respeito pelos princípios de normalização, personalização, individualização e bem-estar”. E também promover e defender os “reais interesses dos deficientes mentais nas instituições, no trabalho, no lar e na sociedade”.

Os seus serviços têm melhorado constantemente. Por isso, e por fomentar os laços afectivos e institucionais entre as pessoas envolvidas, merece todo o nosso apoio.

 

 

 

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publicado às 11:22

O Tempo

por Zilda Cardoso, em 08.12.12

  

 

  

Alguém anda a acelerar o relógio do tempo, tenho a certeza. Penso nisto desde há muito com alguma indecisão, mas agora estou certa.

E detesto, detesto isto. Isto que é… cada dois, três dias, ser nova semana. Este… tudo voltar atrás velozmente de mais e ser de novo contado.

E rapidamente passarmos a uma nova semana, a um novo mês, a um novo Natal, a um novo ano. Obrigando-nos a repetir os mesmos gestos, os de 2ªfeira e depois os de 3ªf. e assim por diante demasiado cedo, sem dar tempo ao tempo.

Quer dizer, sem dar tempo a que tudo se refaça e volte a ser, calmamente, ou a estar em condições de ser refeito. Por isso, nada é benfeito.

Não houve tempo de pensar, de experimentar, de recordar, de apreciar as cores, de amar o outro, de interpretar, de cantar, de ouvir a música e de dançar bem e de acordo. Tudo sai improvisado e possivelmente errado. Quase de certeza mal.

E vamos envelhecendo sem sabedoria nem coisa que o valha. E sem termos acesso àquela “maneira de ser que determina a qualidade de cada instante da nossa vida”. À alegria de fundo, já agora, que não é momentânea. Sem a felicidade da perfeição, e do equilíbrio.  

Apenas porque o Sol dá a volta demasiado depressa e fica noite a meio do dia. Mas é longe, acontece longe de terem passado 24 horas de 60 minutos de 60 segundos. Cada mês é longe de ter 30 dias e cada ano 12 meses.

Está tudo viciado só porque o Sol decidiu fazer essa trapaça e acelera e o escuro vem antes do tempo, toda a gente vê isso agora.

No entanto, todos os dias, o sol parece nascer com bons propósitos.

 

 

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publicado às 12:57

A Casa de Maria Borges

por Zilda Cardoso, em 03.12.12

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vejo a casa, todos os dias, na esquina da avenida Montevideu com a rua Pêro da Covilhã, degradando-se, abandonada. Este Inverno, vai ser decisivo.

 

É fácil lá entrar, qualquer um salta o muro. Acomoda-se de noite, presumo, deixa lá os seus pertences, e volta. A maior parte são garrafas vazias e tralhas.

 

A Casa é de valor e interesse patrimonial, assim classificada pelo Município, e foi uma bela casa, por dentro e por fora. Desenhada e projectada por Osvaldo Santos Silva e por Viana de Lima, arquitecto modernista, um dos expoentes máximos da arquitectura portuguesa do século XX.

 

Diz-se na internet que as suas obras são importantes lições de arquitectura, obras fundamentais para a compreensão da arquitectura moderna portuguesa e deverão ser classificadas pelo IPPAR.

 

No momento, está tudo com um ar miserável.

Por quanto tempo continuará ao abandono, a deteriorar-se?

 

 

 

 

 

(imagens da internet)

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 18:03

ELE

por Zilda Cardoso, em 03.12.12

Revirava-se na cama, de olhos fechados, sem saber o modo de começar.

Queria descobrir o mundo, era isso, mas… como? Não sabia como. E não tinha tido tempo de apreender muitas coisas: nascera há poucos meses. Sete? E tudo lhe parecia misterioso.

De súbito, ergueu-se.

Ficou de pé, agarrado às grades da sua cama de bebé. Só depois abriu os olhos e o sorriso, que era resplandecente.

Começou a saltitar. Via o mundo que o cercava em movimento contínuo, vertical, para cima, para baixo, e parecia-lhe muito capaz de o interessar, desse modo.

A mãe, ajoelhada ao lado da cama, observava-o já curiosa e afável.

“Queres o leitinho?”

Ele não sabia responder na mesma linguagem, ainda não conhecia o código, mas percebeu que o som das palavras correspondia em tempo, em gestos à sensação mais agradável que acontecia no seu dia-a-dia.

Bateu as palmas sem deixar de saltitar. Era como começava a sua manhã, todas as manhãs. Apetecia-lhe muito…

Verdadeiramente, o mundo era cada vez mais vasto e intrigante. Quase não tinha tempo para dormir.

Não tinha muito tempo, embora parecesse ter todo o tempo possível. E acabasse de nascer e de acordar – o que era semelhante para ele.

De noite, chamava a mãe à sua maneira alegre e irresistível e iam os dois para a sala, longe de olhares indiscretos e onde os seus ruídos não incomodavam quem dormia. E ficavam horas a percorrer milhas, ele ligeiramente apoiado nas cadeiras e sofás, andando, jogando, ela sentando-se perto dele e apoiando ou não as suas decisões sempre arriscadas.

Parte da noite longa passavam-na a esquadrinhar. Para facilitar isso, esforçou-se por iniciar a sua actividade - andar por si, muito antes da idade julgada conveniente. Conseguiu.  

Porém, a mãe não aguentou tanto tempo de devassa nocturna. Tinha outros afazeres para o dia.

E perguntou ao médico se lhe podia prescrever um calmante, a ele, ao indagador-mor. Não, claro que não. “Mas receito-lhe a si”, disse ele para a mãe.

Como isso não resolvia a questão, ficaram desse modo juntos, quer dizer, a mãe e ele, envolvidos nos mesmos problemas quatro meses, pelo menos. Até que ele se interessou por temas mais específicos. E a vida continuou.

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publicado às 14:36




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