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Apetecia-me dizer que não me interesso por política. Porém, sendo um assunto que diz respeito à organização da minha vida - às relações, aos interesses, aos gostos, às vontades… - isso não me é possível.
Vivemos em comunidade, e embora muito diferentes, temos de nos organizar considerando-nos relativamente iguais.
Nesta diferença, pode estar uma das razões dasnossas inúmeras dificuldades. Um pequeno conhecimento da política de que dependemos é fundamental, se queremos manter a nossa liberdade e independência. Não o podemos pôr de lado nem pormo-nos de lado. Não podemos não querer saber.
Mas… como podemos querer saber?
Basta escutar os que dizem estar informados sobre o assunto na rádio, na televisão, nos jornais, em abundantes e frequentes palestras para ficarmos totalmente confundidos; e, além do mais, todos sabem tudo em profundidade sobre tudo e esses não entendem que os que estão no poder não ouçam as suas palavras e não tomem nota e actuem em consequência.
Todos conhecem a única maneira de arrumar os assuntos que se referem aos problemas políticos do País, a qualquer desses problemas de alguma espécie. A única maneira, proclamam. Dificuldades no comércio… na indústria…nas finanças… nos serviços socias… em qualquer serviço? Nas relações familiares como na comunidade? Como nas relações internacionais?
Não estão a ver que simples que é? Basta escutá-los e todas as brumas se desvanecerão.
Faz-se assim, desta maneira e daquela e já está. Teremos não apenas um futuro brilhante como um presente compensador, afirmam com toneladas de razões.
De modo que os que estão, estiveram e hão-de estar nos governos só podem ser estúpidos, ignorantes, tolos. Tanto como os que votaram neles.
Na verdade, não precisamos de trabalhar mais nem de aumentar impostos nem de diminuir regalias: dá efeitos contrários aos desejados.
Por isso, para termos os efeitos desejados, vamos para a praia todo o ano, para o magnífico sol que é nosso, vamos diminuir os impostos, aumentar os juros a favor e diminuir os contra, ampliar os ordenados, subtrair horas de trabalho ao trabalho obrigatório, encaixar mais empregados nas empresas públicas, receber melhores subsídios, aumentar o valor das reformas, pedir emprestado o que não temos intenção de devolver… e por aí fora.
Também pode ser o contrário de tudo isto, nunca se sabe. Os sábios de café ou de sofá ou de… (de quê?) conhecem tudo a fundo, nada lhes escapa e saem à praça pública com grandes cartazes para o proclamar. Então, vê-se que “a irresponsabilidade e o vazio” são apenas dos governantes, que felizmente são poucos para uma população de dez milhões, não é verdade? Mas neles próprios e nas suas palavras de sábios, sabidas ou sábias, pode-se confiar. De modo que está tudo como deve estar.
Não há crise.
Todos os dias, desejo coisas perfeitamente impossíveis. Ao olhar à minha volta…
Hoje, quero partilhar os segredos desta árvore. Conheço-os? Parece-me que os tem e que os guarda há muitas dezenas de anos e, por isso e por outras razões, serão interessantes. Fantásticos! Têm de ser...
Mas não me basta querer partilhar mesmo o que julgo conhecer: surgem dificuldades para mim.
Como esta: a árvore mantém-se em silêncio de grande qualidade para o que se prepara quando está só.
Sei ser bom partilhar segredos; segredos, não confidências, mas descobertas que se fizeram, conhecimentos que se adquiriram, experiências que são então reveladas para que todos beneficiem.
Todavia, em silêncio...que me dirá ela? Que lhe direi? Saberei conversar com a árvore, cujo nome desconheço? Prefiro que me entenda e entender o que diz - sem palavras, com ponderação e respeito.
Vejo-a feliz junto de mim, dia após dia, sempre bonita, perfumada e tão atenta que não tenho dúvida de que os seus pensamentos e sentimentos são apreciáveis e partilháveis.
Os pássaros voltarão, daqui a pouco, a esta hora; eles têm uma vida doce e regrada, digo eu, equilibrada também, parece, apenas me parece ser assim, já que desconheço tanto do seu modo de viver...
E observo as roseiras que rodeiam a casa, que se abraçam bem apertadas à parede, nas traseiras, e que sobem à varanda e não entram, evitando a solidão e a falta de calor no interior. Fora, está-se melhor, pensarão. E estão fora e felizes.
As glicínias brancas que fazem o quadrado do terreiro, tranquilamente penduradas na ramada, oferecem a sua pureza e elegância ao olhar agradado de quem passa…e ao meu que as admiro, magníficas…
No lago, os nenúfares cor-de-rosa declaram-se, rindo abertamente, sem ruído. São os únicos.
As outras personagens acompanham o meu humor, ou a falta dele e o sol um pouco triste acaba por brilhar amareladamente para nós.
Olho mais uma vez em roda, para mais longe, at random.
O meu olhar não vagueia. Em vez disso, repara que há profusão de verdes, tantos, tantos que já não sei o que é o verde, se sensação, confusão, uma frescura ou… se é a cor de olhos de gatos que conheço, intensos e deslumbrados, que dão o tom felino a tudo (sempre me perguntei se a cor dos olhos de quem vê impressiona a cor do que é visto).
É tempo de pensar no mar, como podia não pensar…?! Calculo que, lá onde está, a esta hora, tem brilho de seda selvagem verde e o horizonte é uma linha verde mais escuro ou mais suculento, ao fundo.
E volto para imaginar que onde no momento me encontro é um palco onde as árvores dançam com entusiasmo e com perícia um bailado muito técnico e profissional. Gosto de pensar assim e não nelas todo o dia quietas à espera dos pássaros a quem dão abrigo, ou de mim a quem dão sombra e perfume e carinho.
Vivem de outra maneira, não menos intensa.
Ou estarei a ter visões.
As árvores não saem das suas terras. Mas quem disse que estavam quietas todo o dia? Movimentam-se, alteram-se, modificam-se, evoluem todas as horas dos dias das suas vidas. Só não saem do sítio. E não gostam de sair: quando alguém as leva do lugar que escolheram quando-surgiu-a-ocasião-de-nascerem, ficam enfermas. E tristes porque as pessoas não compreendem - as pessoas não compreendem nada do que se passa à sua volta, sobretudo em relação às árvores com quem vivem.
Tenho muita pena.
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