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O duplo: personagem de um mundo fantástico

por Zilda Cardoso, em 14.06.12

Aceito a ideia de que o homo sapiens se tornou homem quando compreendeu que cada individuo, cada objecto tem um duplo.

O duplo é o desdobramento do objecto e de facto existe. A prova disso é o reflexo na água, a sombra que acompanha cada um e o sonho. O duplo é a imagem que possui em si o ser representado - isto é um raciocínio já complexo.

Eu ainda penso que o sonho pertence a um mundo fantástico que existe realmente na nossa imaginação com a mesma realidade do real. Existe na nossa imaginação.

E o facto de podermos relembrar as histórias que sonhamos, esse teatro vivo, e contar as peripécias vistas e sentidas como se tivessem acontecido no mundo perceptivel (com cor ou a preto-e-branco, com dor ou com alegria) é uma coisa que ultrapassa a inteligência do sapiens. E provavelmente do sapiens sapiens demens. Tal como somos... não compreendemos, não é verdade?.

 

É interessante saber que há uma relação da imagem com o objecto real que permite actuar sobre o ser original - o representado na imagem - por intermédio de um ritual mágico em que se evoca, invoca e mesmo se possui esse ser. É o enfeitiçamento. Há portanto uma ligação entre imagem, imaginário, magia e rito.

 

O homem que conhecemos andou milhares de anos a ruminar aqueles pensamentos com maior ou menor racionalidade, em diferentes lugares no mundo - no Egipto, na Mesopotâmia, nas colónias gregas da Asia Menor… E na Grécia desde o século VII a.C…e até que apareceu Platão há 2500 anos e esquematizou e escreveu e defendeu a ideia de que havia um mundo separado que era a cópia do mundo que podíamos tocar e ver. Um mundo separado, a que chamou mundo das ideias, com relação com o mundo real, perceptível.

 

Não vem a propósito falar deste mundo das ideias, mas faz muito sentido pensar que há um outro mundo, para além do que vemos. Quer dizer, se cada coisa tem uma dupla existência, há-de haver um mundo rigorosamente perceptível e um outro que é imaginário, um mundo de imagens, de imagens mentais. Cada objecto que vemos tem uma imagem mental que lhe corresponde, há por isso um mundo de objectos e um de imagens mentais. Cada objecto tem duas existências: uma na mente ou espírito, outra no mundo perceptível.

 

Foi deste modo que entramos na grande confusão que vivemos ainda. E, para mais, há pessoas que se especializaram em feitiços, que podem agir sobre uma imagem e estragar a vida daquele a que ela corresponde e com quem embirrem, sem se arriscarem minimamente numa luta corpo a corpo.

 

Além de que esta duplicação de mundos e de objectos nos leva a não ter nunca a certeza de coisa alguma. E se tivermos a certeza, estamos de certeza errados. Quer dizer, não sabemos reconhecer a verdade, mesmo que a encontremos.

 

Apesar disso, como diz Karl Popper, "somos a única coisa no universo que tenta entendê-lo". E disso nos orgulhamos, pelo menos, até que um dia se descubra que há outros a tentarem compreender. Segundo Popper, a razão humana sempre falível, pode levar-nos não apenas a compreender o mundo mas talvez a modificá-lo para melhor. E isto é o seu princípio de moral.

Também acredito que a intenção dos humanos tem sido a de modificar o mundo para torná-lo melhor - é o meu princípio de moral. Sei, sabemos todos que, para melhorar o mundo, não basta assistir ao que se passa, é necessário participar raciocinando e discutindo. Para sermos capazes de discutir racionalmente é preciso ver, imaginar, descobrir, conhecer e propor. Entrar na confusão (não rejeitar a confusão), já vimos que nos ajuda a ver claro, a dar um passo em frente, a subir um degrau.

Portanto, como se diz “é preciso mudar de vida” e “transformar o mundo”. E não basta contar histórias ou contar mitos, é preciso saber discuti-los, criticar racionalmente.

E tudo isto é sobretudo válido na política - na organização da sociedade e no governo da nação. Era aqui que queria chegar.

 

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publicado às 16:01

Dois discursos notáveis: o de Sampaio da Nóvoa e o de Cristiano

por Zilda Cardoso, em 12.06.12

 

O discurso de Sampaio da Nóvoa e o de Cristiano Ronaldo na entrega que fez ao Presidente da República da camisola da seleção portuguesa de futebol e o seu convite para que assistisse a um jogo - os dois acontecimentos de há poucos dias e que ouvi quase em simultâneo deixaram-me perfeitamente deslumbrada.

 

O primeiro aponta com toda a clareza os nossos males endémicos e o que precisamos fazer para nos “salvarmos”, e o segundo é um exemplo flagrante do que pode ser a falta de cultura que leva qualquer um a fazer figura de urso em meios que tem de frequentar, apesar do conhecimento lhe ter permitido engrandecer-se.

 

Quero dizer, ele tem grandes conhecimentos de futebol que lhe possibilitaram chegar ao topo de tudo que ao futebol diz respeito, mas não sabe nada de como comportar-se. Não estou a pensar em boas maneiras, mas em saber falar com correcção a língua que é a sua e nossa. Não tem tempo para ter lições, para aprender a falar, a pensar com lógica, a agir com agrado. Apenas sabe de futebol, daquilo que aprendeu, daquilo que lhe ensinaram na família que é a sua e nas escolas que frequentou.

 

Vale a pena ouvir e ver no YouTube.

 

O discurso do Reitor da Universidade de Lisboa e Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal foi também notável.

 

Vou apenas repetir aqui algumas frases suas para que possamos reflectir, mas o melhor é ouvi-lo na gravação.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=n92VSfRnnoU

 

As palavras infelizmente não mudam a realidade, mas ajudam-nos a pensar, a conversar, a tomar consciência e essa sim pode ajudar a mudar a realidade.

 

Penso nos outros logo existo.

 

Tudo está a mudar à nossa volta e nós também.

 

Não podemos prescindir nem da liberdade nem do futuro.

 

Uma sociedade organiza-se em torno do conhecimento. Temos que nos organizar com base no conhecimento.

 

A democracia funda-se em coisas básicas e simples (segundo Roosevelt): igualdade de oportunidades, de emprego para os que podem trabalhar, de segurança para quem a necessita, fim dos privilégios para alguns, preservação da liberdade para todos.

 

Há 2 coisas fundamentais: o trabalho e o ensino.

 

Temos um problema de organização dentro de nós.

 

Europa culta engrandeceu-se, subiu sobretudo pelo ensino, pela cultura, pela ciência.

 

Nós descemos pela falta de ciência.

 

O País transforma-se graças ao conhecimento. Temos de valorizar o conhecimento.

 

O nosso maior problema é a ligação entre a Universidade e a sociedade.

 

É tempo de dar um novo rumo à nossa história.

 

 

 

 

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publicado às 21:11

O terceiro dia

por Zilda Cardoso, em 01.06.12

 

 

 

 

 

Depois daqueles dois dias, envolvida com as gravuras do Côa e os seus possíveis significados, tive um terceiro muito especial e diferente: foi o do almoço em Resende.

Para mim, Resende significa sobretudo CEREJAS brilhantes, razoável e agradavelmente duras, vermelhas ou de cor própria (cor de cereja, embora haja cerejas de várias cores mesmo num só bago), sabor doce sem ser de mais, perfumadas e com a frescura das manhãs de bom tempo de fim de Primavera.

Um produto da natureza no seu melhor.

Adoro as cerejas naturais que comparo sempre com as de celuloide que na minha juventude decoravam os chapéus/capelinas de sair, sair à rua ou em visita a parentes e amigos. Para mim, a capelina com as cerejas no topo a abanar, completava o suplício das vestimentas complicadas. Acho que um dos muitos privilégios que a actual juventude tem é o poder vestir-se… como se veste… sem dar cavaco a quem era suposto ter de dar.

 

 

 Rendo-me desde sempre ao encanto e às qualidades das cerejas a sério - sumarentas, luminosas, perfeitas, benévolas - fazem bem a tudo e são quase grátis. É uma época feliz para mim, aquela em que as posso ver e apreciar. Quem ou que dinheiro paga o ferro, o magnésio, o potássio que cada uma delas detém, além de ajudar a eliminar toxinas do organismo de quem as come… E o betacaroteno? E os flavonoides? Seja lá isso o que for, deve custar dinheiro.

 

 

As nomeadas e afamadas cerejas podem ser a nossa salvação se tivermos problemas cardíacos ou renais. E praticamente todos as dificuldades de saúde podem ser resolvidas com cerejas saborosas e encantadoras, o que de maneira nenhuma é de desprezar, quero dizer, o seu extraordinário sabor e a sua encantadora beleza.

Pois. Isto para chegar ao terceiro dia, o dia do almoço em Resende, em casa duma família muito simpática que nos ofereceu a sua amizade, a sua casa, a sua mesa, e as cerejas maravilhosas do seu quintal.

Comemos cabrito assado, arroz de forno e ervilhas estufadas – excelente. E bebemos vinho ali produzido. Vimos da sua varanda as cerejeiras a descerem a encosta até ao rio carregadas de frutos. E a deslumbrante paisagem.

Foi um dia extraordinário, cheio de sorrisos. E em todos os dias seguintes, já murchos na nossa casa, saboreamos as cerejas que nos ofereceram.

O que fizemos para merecer tantas regalias?

 

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publicado às 12:33




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