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Assisti há dias, na rua da Alegria, no Porto, a uma apresentação que foi um acontecimento cultural: diferente do habitual e muito agradável. Ouvimos música de Bach pelo violoncelo de uma jovem executante cujo nome não posso recordar numa sala da casa onde Guilhermina Suggia viveu; rodeados dos melhores retratos projectados num ecrã, ouvimos a sua voz clara numa entrevista por telefone à RDP, de há muitos anos... e ouvimos textos trechos de A Dama do Castelo lidos pela autora do livro e pelo editor.
Mónica Baldaque fez a apresentação muito cuidada do livro que é uma biografia baseada em cartas e textos da violoncelista, despertando nos ouvintes a vontade de conhecer melhor a extraordinária artista que foi Guilhermina, uma das melhores violoncelistas do mundo.
Lembro-me dela, que morreu em 1950, nesta casa, e recordo de o meu Pai falar muitas vezes de Guilhermina com enorme orgulho, do seu singular virtuosismo, do seu incomparável sucesso internacional e… da sua falta de beleza física (como se isso tivesse importância).
Sei agora que ela se relacionou em Inglaterra, onde viveu uma boa parte da sua vida, com Virginia Woolf e com Augusto John que dela pintou o famoso retrato que está na Tate Gallery, em Londres e com muita outra gente famosa; que esteve noiva de Edward Hudson e do seu castelo na Escócia construído com pedras de um mosteiro destruído no reinado de Henrique VIII.
Sabia que tinha vivido com Pablo Casals e que conheceu o Bloomsbury Group: o que me fez lembrar o herói de Ulisses de James Joyce.
Vou ler o livro muito atentamente. É de Isabel Millet, e da Chiado Editora que quer que este livro seja um desafio para quem o ler. “O nosso desafio é merecer que este livro faça parte da sua vida”, da vida de quem o ler. É um desejo muito bonito.
Voltarei a falar do livro e da grande violoncelista conterrânea.
Ultimo dia de Carnaval - dos três dias a abarrotar de folias e gorduras, este é o dia mais gordo, a que se seguirão muitos dias de privações: não posso imaginar como gostaria que fosse. Como gostaria que fossem só quarenta dias.
A minha viagem foi tão peculiar como qualquer. E fomos os três. Por uma vez… eis a diferença: a minha amiga e o pequenino de cabelos aos caracóis, reguila, sem dúvida, e bonito que eu sei lá, bom, são e saudável, ainda não completamente arruinado pela cidade… foram comigo.
“… a cidade é uma infelicidade organizada”, diz o Bloom 2 ou talvez o Gonçalo M. Tavares. Mas eu achei que a cidade devia estar alegre e galhofeira ontem, Mardi Gras, na Baixa. E fomos os três, como disse.
Havia carrosséis e pipocas de cores variadas e balões que eram automóveis Faísca e criancinhas vestidas de bruxas e de diabos e uma noiva já crescida de rendas brancas a arrastar na sujeira. Tudo de um mau paladar a toda a prova, sem necessidade de demonstração. E o silêncio não penetrava ali: eram berros de arrepiar.
Acho que não vi caretos, gostava de ter visto, fora do Museu.
Andamos de carrossel, os três muito juntinhos num só banco, espantados como se nunca tivéssemos andado às voltas e às curvas, a subir e a descer, com as pipocas na mão num saco estreito e alto; daí a pouco, pipocas por todo o lado, às cores.
Tínhamos caminhado desde a Torre dos Clérigos, aos pulos e risinhos, a descer, com lojas dos lados sem fineza nenhuma, velhas lojas antiquadas, longe do esvaecido encanto das tradicionais. Nada para admirar agora, nenhum perfume, nada.
Um de nós está a aprender muito e não vai esquecer. Eu só comparo: não gosto da avenida dos Aliados nem da outra como são agora, cinzentas e feias e ácidas. A minha amiga procura conciliar.
Não sei se tem futuro esta cidade a partir do que se vê na Praça da Liberdade. Os ruídos estão todos ali concentrados. Mas acho que há ainda pessoas que pensam e vale a pena ouvi-las, são cada vez menos. Essas não deitam lixo no chão no pressuposto de que alguém virá apanhar, mesmo neste dia meio-feriado. E eu imagino o que seria se ninguém viesse apanhar nunca os detritos do chão, aqueles que alegremente são jogados fora sem outro pensamento.
Não sei se tem futuro, esta cidade. Proximamente, votarei num Presidente que mande ensinar as pessoas a guardarem o seu lixo nos caixotes respectivos, talvez na habitação. E o seu barulho também.
Quando voltar a casa terei percebido.
Nesta cidade “...cada um é inseparável da sua maldade”, recordo ter ouvido ou lido, lido.
Fomos tomar chá ao Astória nesse mesmo sítio, chá versus coca-cola, já que não consegui dissuadir o mais jovem de a beber, mesmo num lugar muito pouco nada americano. Coca-cola! A tal que dá prazer - o último prazer desta terça-feira de prazeres - e provoca danos irreparáveis em materiais duros, como pode ele acreditar? Ou não acreditar?
Todos os dias faço a minha viagem… à Índia, posso revelar. E escrevo sobre ela: é a minha epopeia. Às vezes, mostro-a a quem a quer ver, outras vezes, não.
A originalidade da minha epopeia é que volto todos os dias a casa e todos os dias parto de casa. Talvez cada dia vá mais além, mas regresso e saio do mesmo lugar.
Nas minhas viagens/aventuras, atravesso desertos e terrenos férteis e belas paisagens, montes, planaltos, vales, rios e estuários,areais e mares. Subo a pulso ao alto das montanhas mais altas, vejo o mundo todo em redor e fico feliz, muito feliz. É um mundo de amendoeiras brancas e cor-de-rosa e de oliveiras azuladas plantadas a compasso, entrelaçadas, floridas e perfumadas.
Tenho amigos que me ajudam a subir e no caso dos desertos, retribuem com água fresca a que lhes ofereci, nos desertos deles.
Sempre saí mais forte de tudo isso, mais rija, mais livre, mais capaz, preparada para a próxima.
De resto, simulo sempre uma suavidade que não é minha, escondo a resistência que é cada vez mais minha.
Acontece que aprecio o deserto, as cores discretas, certa secura, ausência do que é supérfluo, a beleza das coisas simples de linhas clássicas, as que não vão envelhecer, que não vão deixar-nos sós apenas porque já estávamos sós.
Persistirei na minha caminhada até ao limite que não sei ainda onde é ou quando; é por essa razão que continuarei a caminhar com esperança, e encontrarei os que estão lá com o seu ombro, como se diz no poema de Pedro Roberto Gaefke, o que circula no presente na internet. Os oásis ou a minha Índia. Não é possível não encontrar, ela só pode estar lá, no fim da minha caminhada.
O herói da minha aventura não é o Ulisses nem o Gama nem o Bloom 1 nem o Bloom 2, quero dizer, nem o do James Joyce nem o do Gonçalo Tavares, que não sei porque ambos se chamam Bloom.
Eu serei narradora e heroína-de-trazer-por-casa, protagonista de uma grande história de descobrimento, cheia de conteúdo e sugestiva e talvez com considerações filosóficas sobre grandezas e misérias. Pois não é isso a nossa vida?
Relatarei, pois, as minhas façanhas.
Voltei ao Museu de Serralves para a exposição de Eduardo Batarda. Terei que ir várias vezes já que não tenho paciência para ver com o vagar que as obras merecem. Têm que ser observadas com curiosidade, com interesse, com desejo de descobrir. Sobretudo, com tempo.
Tem várias fases muito nítidas, aparentemente sem qualquer elo entre elas. O que terão em comum? Que ligação as liga e pode levar a pensar que foram realizadas pela mesma pessoa?
Na verdade, pouca coisa, em termos técnicos.
A impressão com que fiquei hoje, depois de várias tentativas de reflexão sobre as obras expostas em Serralves, é que o pintor é muito menos famoso do que devia ser. De que estamos à espera?! Quero dizer… para o tornar famoso?
O Museu de Serralves dá um enorme passo nesse sentido, é uma grande exposição antológica o que podemos admirar ou detestar nas salas do Museu. Indiferentes!?… Não, não ficaremos nem aos textos nem à pintura quer a dos primeiros tempos, de 1965, quer a actual de 2011.
Essa intitulada “Como o conde Drácula foi desflorado” é muito provocatória, embora sem história, contém referências a filmes populares e lembra a banda desenhada, fragmentada em painéis sem sentido ou coerência, como o autor mesmo diz, e “com um título idiota”, será a primeira pintura a acrílico feita em Portugal.
Há outras sobre aglomerado de madeira, uma com história popular que é a da canção dos anos 30 (ou um pouco mais tarde) da Mariana que se apaixona pelo marinheiro americano, e ouvimos essa música sempre nesta sala à mistura com as pinturas dos anos 60. Personagens menos feias do que outras em obras que se aproximam do cartaz e que são robertos ou fantoches em teatro de marionetas, com alusões e trocadilhos e que se prestam felizmente a muitas interpretações.
As aguarelas enormes dos anos 70 que são incrivelmente minuciosas e trabalhosas e complexas e, tal como as suas pinturas de qualquer época, convidam à reflexão, são críticas sarcásticas em geral, humorísticas, muitas vezes com textos que são comentários. Criticam a ditadura, a guerra colonial, (escondendo referências tal como era necessário na época) e, do mesmo modo, a arte e sua interpretação. Acho que o que ele faz, sobretudo depois do fim da censura e do que ela implicava, é uma crítica cerrada à obra de arte, à sua possível interpretação e ao espectador apressado que vê sem ver, que vê e não pode ver, que vê e não desvenda nem deslinda nem descortina...
Eu pertenço ao antes e ao depois, tal como o pintor. Devia estar em posição de compreender, mas.
Há sempre de que criticar em democracia e fora dela. É mais simples para mim ver e dizer que primeiramente há uma pintura figurativa influenciada pela cultura pop e pelas técnicas da ilustração que evoluiu para o abstracto com outro tipo de referências.
No abstracto de 2011 está particularmente bem camuflada a crítica sob camadas e camadas de pinturas de cores sombrias que deixam espreitar restos de pinturas com formas diversas supostamente anteriores ou de baixo…
O que liga toda a obra será a atitude zombeteira do autor.
Eduardo Batarda nascido em Coimbra em 1943, recebeu em 2007 o Grande Prémio EDP Arte e é considerado actualmente “um dos nomes fundamentais da pintura portuguesa”.
Na minha viagem de hoje à Índia, volvi logo à esquerda na primeira esquina e continuei pela avenida. Mas não sabia qual a direcção certa para a Índia, dado que o vento, vindo do norte me empurrava para a frente, e desse modo, para sul.
Não há outra maneira, pensei, tenho que consultar o mapa cor-de-rosa e aí, na verdade, a cidade aparece achatada sobre azul, totalmente redonda: uma figura geométrica minúscula a duas dimensões em que não sobressaem gaivotas nem garças nem pescadores nem os outros habitantes habituais destas paragens.
A circunferência abarca a cidade toda sem qualquer gentileza e, por isso, eu olho para o mar ali ao lado com carneirinhos brancos que crescem e se multiplicam ao passar do dia, encaracolados, e acho este mar muito mais gracioso do que o do mapa que o representa. Não compreendo qual o interesse de construir mapas em que os mares são menos belos, muito menos, do que os que vemos em directo ali da praia.
É ligeiramente ondeado como um lago azul e fico a saber que na verdade vou de norte para nascente, levante, oriente – portanto, na direcção correcta em ordem ao meu fim. É um lago lindo com os cordeiros a brincar, mas onde já não deve haver toninhas.
É tudo tão ambíguo, penso em silêncio.
De vez em quando, lembro-me das toninhas, cetáceos que usava ver a subir o rio, o Douro, a partir do mar, claro, eu via-as saltar vários metros como os golfinhos por brincadeira, e mergulhar às profundezes para voltar a saltar daí a pouco. São uma espécie de golfinhos, há 37 diferentes espécies. Saltavam exactamente como vi mais tarde os outros em cativeiro, coitados, se calhar os daqui iam na sua viagem de sonho, a partir do lago azul e com um objectivo bem definido. Por que razão não aparecem agora? Não quererão ser apanhadas para um circo... Ou já não encontram os peixes frescos da sua preferência…
Talvez na Internet encontre explicações, algumas tolas, já sei.
Encontro chineses e entro. A sua língua tenta parecer a nossa, querem vender coisas bizarras, baratas e feias, de má qualidade, não acredito que seja esse o brilho oriental… Fazem-me uma data de respostas ridículas, não me deixo convencer. Penso nas belas toninhas acrobatas e na poluição possível do rio semelhante à da ribeira da Granja.
Será importante demorar muito tempo a chegar à Índia, como dizem.
De modo que, passei pelos chineses todos e regressei descontente, pelo outro lado da avenida, onde há anos havia um canteiro de amores-perfeitos brancos na Primavera. Todos brancos … tão perto do lago dos golfinhos ausentes… E eu não queria acreditar.
Mas agora não há amores. Há mais gaivotas, porque não resisto à tentação, eu e outras pessoas de levar pão aos patos, e as gaivotas roubam-lhes o pão e proliferam. Não me admira que a população de humanos e de cetáceos diminua e aumente a das gaivotas – ou Birds, como lhe chamava o Hitchcock das quais ninguém gosta, nem ele. Nem o Município.
Ainda há dias, estava na dita avenida, o homem das castanhas assadas quentes e boas - diz ele, mas não sei. Gosto é do fumo cinzento claro que parte do assador e tinge as castanhas - que são primeiramente castanhas - de cinzento. Decidi não experimentar.
Continuei no caminho de regresso contrário ao da Índia, para noroeste.
A Galeria VANTAG está na rua D. Manuel II em frente à Biblioteca Almeida Garrett. É um bonito espaço que queria mostrar-lhes.
Porto de vista, (Port(o) of view) é uma pequena empresa que principia com um projecto e um plano absolutamente dentro do que é desejado e requerido pela actual situação económica do País e, sobretudo, pela situação de cada um de nós.
Como afinal não somos nada lamurientos nem piegas, mas pelo contrário muito activos (pelo menos, os portuenses), pusemo-nos em campo e a caminho dentro do que pode ser uma boa solução para muitos problemas. Porque sem dúvida é preciso trabalhar, mas isso deve ser feito de maneira alegre e entusiasmante para que renda. De qualquer modo, o que é proposto, para uns é trabalho, para outros diversão - integralmente indispensável como pausa no nosso desassossego.
Por mim, não me importo de repetir a viagem as vezes que for possível porque a realidade que encontro de cada vez está aquém do meu sonho e ilusão, o que me deixa pronta para voltar e tentar descobrir...
Esta vai ser a nova viagem à Índia ou a uma das muitas índias que podemos encontrar por esse mar fora, o mar imenso da nossa imaginação.
A PORTO de VISTA propõe-se organizar percursos pedonais que podem ser temáticos a zonas românticas ou para apreciar a arquitectura da cidade ou simplesmente para estar na e com a natureza. Fundamentalmente… para crianças, para famílias, para qualquer um que queira conhecer a cidade e aprender a gostar dela.
A duração normal dos percursos é de 2 horas, mas pode demorar 3. Começará de manhã – a partir das 9.30h ou de tarde a partir das 14.30h com sol de preferência. E sábados e domingos apenas de manhã.
O preço deste percurso é de 12€ por pessoa. No caso de percursos de dia inteiro, haverá pausa para almoço, cujo valor não está incluído no preço de 20€ (para o dia), e não se saiba bem quantas horas demorará o passeio de dia inteiro.
É melhor começar a marcar para o número de telemóvel indicado no folheto porque, com este tempo de esplendor, os lugares vão estar muito preenchidos. Também porque se sabe que vale a pena.
Desconhecia que tinha em casa um livro tão importante como Uma Viagem à Índia, que alguém simpaticamente nos tinha oferecido há um certo tempo.
É de Gonçalo M. Tavares, um jovem cheio de imaginação e de cultura, tão bom e talentoso escritor, nascido em África, crescido na Europa, ganhador de todos os prémios portugueses e de alguns estrangeiros, cento e sessenta, não, 210 traduções dos seus livros em trinta e dois, em 44 países, Jerusalém considerado um dos mais importantes romances de todos os tempos, talvez o seu primeiro romance…
Nestes tempos difíceis, que seca, de desassossego para Portugal e para a Grécia e para todo o mundo ocidental, apenas uma viagem à Índia nos pode livrar de dificuldades. É claro que, tal como aconteceu com o Gama e com o Bloom de G.M.T., a Índia não nos salvará de nada, a Índia vai desiludir-nos, “não viajamos para nenhum paraíso”, sabemos que “todas as viagens são sempre um regresso ao passado donde nunca saímos”, diz o E. Lourenço, tão pessimista como sempre.
Na realidade não nos querem na Europa e nós nunca a quisemos, nunca. Só estamos felizes quando lhe viramos costas e então realizamos coisas curiosas e importantes. Gostamos de olhar para o longe, para longes terras que nos podem dar ilusões e fantasias. Viver o dia-a-dia na sua casa, na sua terra, na sua Europa é muito aborrecido. E não dá para escrever epopeias como a de Ulisses tal como fez Homero na sua Ilíada ou na Odisseia, não sei bem, nem como a do Gama em Os Lusíadas como fez Camões, nem como a do Bloom em Uma Viagem à Índia como fez Gonçalo.
Tem que haver algum mistério na nossa vida e também brilho.
Aqui, este bocadinho de terra europeu é capaz de ser separado facilmente do resto da Europa juntamente com a Galiza – deixando a Europa melhor, mais certinha, mais organizada; assim como a Grécia podia ser separada, são apenas aqueles farfalhos de terra, não faziam falta e não fazem e iríamos navegar nós no Atlântico, os Gregos no mar deles - o Egeu ou o Mediterrâneo ou o Jónico.
E os europeus esqueceriam tudo o que eles inventaram – a democracia, a filosofia, os jogos olímpicos, a literatura, a ciência política, a matemática, o teatro… Ficavam muito mais libertos, de cabeça mais leve, sem preocupações.
E esqueceriam, para seu bem, o que os Portugueses descobriram e deram a conhecer ao mundo. Esqueceriam sobretudo a sua importância, como a viu Camões e como nos disse Jaime Cortesão.
Disseram que antes, cada povo tinha o seu pequeno mundo para viver, mas os navegadores deram a ver novas terras, novos povos, novos costumes, novos regimes económicos, novas organizações socias e também novos mares e novos astros, artes e religiões desconhecidas… Uma vida nova foi possível, uma nova forma de pensar, uma moral diferente e novas ciências baseadas nas descobertas.
Em suma, uma cultura nova. Um novo humanismo universalista: o mundo é muito maior do que imaginávamos e é aberto a todos. E é um mundo redondo, de modo que, por muito que viajemos, vamos sempre parar ao mesmo sítio, aquele de que partimos e que não esquecemos.
Uma viagem à Índia, nesta ocasião revolta e complexa aqui, sobretudo aqui, o mais a Ocidente que nos é dado pensar, é uma coisa maravilhosamente prometedora… de uma nova forma de pensar ou de uma nova cultura ou de uma outra moral.
O mais interessante é que já temos a epopeia do herói anti-herói deste século XXI, só nos falta a viagem.
Vou ler a epopeia. Ela dirá o que precisamos saber e fazer. “E tudo sem mentir, puras verdades!"
Apesar de alguns momentos menos bons, o tempo (the weather) continua fabuloso, nesta cidade.
É claro que compreendemos que os campos precisam de chuva, nesta altura do ano, mas sabemos que, na cidade, não é preciso senão sol, ausência de vento e de chuva e temperatura primaveril a tender para o veranesco.
E não me digam que isto não tem valor económico.
Claro que tem.
O comércio anima, os turistas vêm e ficam agradados, os transportes funcionam muito melhor e os habitantes, mais bem dispostos, recebem bem todos os que os visitam e que assim ficam com vontade de voltar.
Vivemos disso.
Agora… não sei conciliar as duas posições.
A felicidade dos citadinos depende das condições atmosféricas tal como a dos agricultores, mas os desejos de uns e de outros são opostos.
Ela é da Graciosa e veio de lá para aqui, ao contrário dos nossos comuns antepassados que foram daqui para lá.
Seja como for, o seu trabalho lembra-me viagem, História e histórias com conhecimentos técnicos mas sobretudo de magia como tinham os Portugueses que noutro tempo cometeram o mar.
E procurei no dicionário o significado de viagem - acto de andar para ir de um lado a outro mais ou menos distante. E também diz que pode ser – jornada e percurso. E relação escrita ou pintada (digo eu) dos acontecimentos ocorridos numa viagem e das impressões que ela causou.
Das impressões que ela causou. Será, neste caso, das impressões que a poesia causou na pintora? É essa também a sua viagem?
Aqui, neste rectângulo de continente europeu, noutro tempo, precisámos de sonho para viver, de atender ao chamamento do mar, de nos deixarmos seduzir por ele e pelo seu infinito… Precisámos de sentir, de gostar, de compreender que era para esse lado que estávamos dispostos a ir, traçando caminhos sobre a água e a segui-los à aventura, (não totalmente à aventura), para descobrir tesouros ao longe, do lado de lá do horizonte visível, ou do espelho.
E descobrimos tesouros.
Agora... continuamos a precisar de sonho, já não nos voltamos para o mar... Voltaremos?
Como se sentirão os que nasceram e vivem numa ilha minúscula como a Graciosa? Permanente nostalgia da viagem? Da partida? Do desassossego?
A pintura de Vera Bettencourt, figurativa e narrativa, como ela a qualifica, usando técnicas de ilustração e de grafitti, lembra-me isso e os poetas açoreanos que o cantaram: Antero de Quental, Vitorino Nemésio, Natália Correia e os mais modernos. É sobre os textos poéticos que ela pinta os seus, não ilustrando mas relevando-os.
Talvez seja a mesma inspiração.
Podem ver uma exposição dos seus trabalhos na Galeria Vantag em Miguel Bombarda, Porto.
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