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Namaste!
Estava um calor tremendo, nada comparável à amenidade da Foz, excepto dentro de casa. Dentro de casa era Barcelos Puro ou o que se imagina que isso possa ser. Figuras de barro havia por todo o lado, sobretudo, galos, galos de todas as cores, tamanhos e afinal materiais. E lenços de namorados ou os seus dizeres amorosamente bordados a cores sobre linho ou algodão branco - bordados da região - repetem-se em tudo que é possível executar nesse material.
É uma casa única, toda pensada para receber a família e os amigos de forma divertida e muito minhota, com música de fundo saltitante. Não é possível deixar de sorrir.
Prefiro sempre o jardim, os extensos relvados, o lago e os patos castanhos, a água que cai sobre a água, as árvores velhas, oliveiras com pequenos canteiros de flores vivas e cheirosas na sua base, flores rasteiras e tímidas apesar do calor das suas cores a clamar por atenção, e alguns arbustos exóticos...
Há um galo que canta ao longe e eu penso... se todos os que aqui estão dentro e fora de casa - há-os semeados pelo relvado - desatassem a cantar ao mesmo tempo?! Não vejo esse ao longe, é fácil saber que está lá, ali, e é um belo galo orgulhoso como todos. Ser orgulhoso, talvez não seja tão mau como dizem.
Há os ruídos das aves que surgem e logo se vão e o zumbir dos insectos à minha volta, os que pousam em mim e que sacudo ligeiramente irritada. Ouço a Natureza, admiro-a, recordo as palavras da Mónica Baldaque, tento considerar a Natureza de igual para igual, vejo que é difícil. Ela é tão... imensa. Como posso ser igual? Olhar a Natureza a partir do nível dela mesma?
O céu está agora carregado de nuvens ligeiramente cinzentas pulverizadas no azul.
Logo a seguir, o sol abre-se e as sombras aparecem projectadas no verde.
Esqueço para já.
Porém, respeito-a e ouço-a com prudência, sobretudo os seus esquisitos silêncios. Durante toda a tarde, houve silêncios e houve ruídos e sempre o ruído do silêncio que me empenho em escutar e também o que sobra em silêncio depois da música terminar.
Juntei tudo e consegui por alguns instantes únicos ouvir apenas o que dá prazer ouvir.
O almoço destinava-se a juntar de novo os que foram recentemente a Lourdes em Peregrinação. Os donos da casa, os organizadores, multiplicam-se em amabilidades, é visível o gosto que têm em receber sob as suas árvores centenárias; apresentam o almoço e os convidados sentem-se num lugar muito especial por obra e graça da Luísa e do Adalberto, do seu longo amor um pelo outro e do seu amor pelos outros.
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Hoje é um dia especial no Porto, a partir de... que horas? Não sei se esperaremos
pela noite para gozar o dia, a festa, o encontro anual com as ervas aromáticas algumas
mal-cheirosas como o alho que conta vários anos de tradição, não muitos.
É pelo menos uma maldade esfregar o alho ou dar com o alho na cabeça e nos cabelos dos
vizinhos que, por mais cansados que estejam, devem lavá-los quando chegarem a
casa pela madrugada ou pela manhã do dia de S. João. Isto também é uma tradição
que construímos - os portuenses são muito amigos de tradições e inventam-nas
quando não as têm.
Por isso, são considerados muito inteligentes!
O mangerico e a cidreira são bem mais antigos nesta função desafiante do que o alho: são
risonhos e bem dispostos e todos têm vontade de os levar para perfumar a casa.
Vi a cidade do lado de Gaia, de um lugar privilegiado para apreciar o fogo de artífício, em frente à zona mais bonita, com imagens de antologia. É uma emoção ver aquilo: o recorte no céu azul claro ou escuro, a qualidade do recorte, as torres, os velhos edifícios, a clara-bóia mais bonita que já vi, o rio, as pontes... Como posso estar tão apaixonada pela cidade, ao fim destes anos todos? Mas é assim, só lamento que não seja apenas uma cidade única ligada pelo rio e pelas pontes. Voltará a ser um dia.
Quis mostrar a clara-bóia e... mal se vê.
Estava no mesmo sítio, o Porto Canal com a sua menina bonita a entrevistar portuenses famosos.
E depois veio a Fanfarra e os grupos sanjoaninos premiados que cantaram e dançaram com energia e receberam os seus prémios.
É naqueles barcos mais pequenos que está preso o fogo... indispensável neste dia.
Em certos momentos, o céu enchia-se de balões dourados, dispersos e tantos, mas eu não sei fotografá-los e a minha máquina também não sabe. De modo que não tenho imagens de balões a fingir de estrelas. Afirmo que era esplêndido: caminhavam no céu todos para o mesmo lado como se obedecessem a um chamamento.
Pensei
que... um dia, ia poder falar daquele acidente de há um ano. Faz hoje, justamente
e... ainda não sou capaz. Houve tanto sofrimento e também tanta abnegação!
Naquelas
montanhas da Córsega, ganhei uma admiração para com a jovem neta que não vai
desaparecer nunca. Rendo-lhe homenagem. É nela que confio e em toda a nova
geração que vai rejuvenescer Portugal e pôr-nos a todos a trabalhar pelo bem
comum.
Ao
ver hoje, 21 de Junho, aqueles que prometeram fazer o melhor, juraram
fidelidade e amor, interesse pelo próximo e pelo seu trabalho... não pude
deixar de pensar que com esses e com os jovens que nos rodeiam, temos todos, o
País tem o futuro assegurado.
Por
isso, Pedro e Pedro, depois de um grave acidente, a família e o País, começam
hoje convosco a trabalhar num novo projecto de vida.
Agora
compreendemos todos: sofremos e vamos sofrer ainda, mas o pior já passou.
Estou em Moledo um pouco tristonha - o clima, o tempo está húmido, desolado e desolador. Ao contrário do que era costume desde há muitos anos, não encontrei aqui aquela velha paz saudável e alegre, cheia de trabalho divertido e compensador. Encontrei um espaço muito abandonado e sem grandes perspectivas de melhorias próximas.
Quando é que o sol vai irradiar o seu calor e a sua luz e encher-nos a todos de bem-estar e despreocupada alegria de viver? As árvores estão velhas de mais e muitas já passaram para uma outra vida e os arbustos de que gostava muito especialmente pela beleza das suas flores e a fragância das folhas sempre recortadas de forma especial e atenciosa, a maior parte... não está aqui.
Lembrei-me das palavras de Matthieu Ricard: "Cesser de chercher à tout prix le bonneur à l'extérieur de nous, apprendre à regarder en nous-même mais à nous regarder un peu moins nous-même, nous familiariser avec une approche à la fois plus méditative et plus altruiste du monde..."
Recordo Afonso III e a forma e a razão da sua subida ao
trono, e depois as suas preocupações de remodelar a administração, de
redistribuir poderes depois de guerras e conflitos e discórdias, e de
considerar como seu objectivo o bem comum, o interesse do País e a justiça.
“ O grande labor estava na busca e na consecução da verdade identificada com equidade, com
justiça, fim último de toda a instituição humana, logo fim último do rei”(Portugal
em definição de fronteiras, O Poder e o Espaço, onde continuo a ler:
“ O mais notável no reinado de Afonso III, no aspecto
institucional, foi a criação, no seio da Cúria régia, de duas comissões
permanentes… com funções predominantemente técnicas… Uma primeira especializada
na administração da justiça, foi o gérmen da Casa da Justiça, e uma segunda,
com competência financeira, teria sido o embrião da futura Casa dos Contos. O
que, sem dúvida, demonstra a consciência por parte dele e dos seus oficiais, de
que, entre os grandes instrumentos do poder regalengo, os mais importantes eram
a justiça e as finanças.”
Afonso III tinha vivido numa corte mais instruída do que a
nossa e soube aplicar a sua inteligência, os conhecimentos e a sabedoria nas alterações
políticas que lhe permitiram empenhar-se em importantes reformas administrativas,
financeiras, judiciais. Havia uma hierarquia de autoridade e de obediência
considerada como “um bem supremo da sociedade ordenada, um sustentáculo da paz,
logo da própria sociedade.”
Deveremos estudar o século XIV para começar de princípio e
com uma nova e adequada atitude mental?
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