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Para todos aqueles, amigos e conhecidos, que me visitam e muitas vezes comentam amavelmente os artigos que publico, desejo que passem estes dias, entendidos como de festa, da forma que preferirem passá-los.
E quero dizer, como o Poeta, que "o mundo seja aquele que desejo para vós".
Ontem vi e ouvi parte de uma entrevista dada pelo Professor Alexandre Quintanilha à TVI24.
Já sabia que ele era assim. O Professor aparece com frequência em programas televisivos, fala do seu trabalho, da sua vida, da sua visão do mundo com a simplicidade e a sabedoria do cientista que escolheu viver no Porto e em Moledo, há cerca de vinte anos.
Tendo nascido em Moçambique de pai português/açoriano e de mãe alemã de Berlim, estudou na África do Sul e nos Estados Unidos, doutorou-se em Física e em Biologia, foi director do Centro de Estudos Ambientais na Universidade da Califórnia, e director da secção de Energia e Ambiente no Laboratório Lawrence e do Centro de Estudo de Tecnologia da Biosfera.
Na Universidade do Porto, foi director do Centro de Citologia Experimental, professor no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e coordenador do Instituto de Biologia Molecular e Celular.
Escreveu artigos em revistas científicas de nível mundial, editou e foi autor de seis volumes sobre Biologia e Ambiente; dezenas de artigos e relatórios têm aparecido em livros, revistas e jornais de divulgação, e é coordenador e autor de trabalhos nas áreas da Biologia, Ambiente e Física Aplicada.
Alexandre Quintanilha apenas parece desiludido com a política; de resto, a sua visão do mundo é optimista, ser feliz, isto é, realizado parece-lhe o objectivo mais importante da vida. E contribuir para a felicidade dos outros, descobrindo o que possa contribuir para essa felicidade. Se conseguir isso aumenta a auto-estima, que é o que se não ensina. Quando estava nos E.U. trabalhava no laboratório catorze horas por dia e depois ia para a discoteca dançar durante três horas. Era o tempo do Elvis Presley e dos Beattles, mas também viu exposições de arte extraordinárias, ouviu Michel Foucault e outros grandes pensadores, escutou concertos de música excepcional…
Veio para Portugal porque era um país novo, um país cheio de sonho, um país a renascer. É agora um estado europeu, onde conseguimos o que queremos desde que nos esforcemos, diz o Professor. Na ciência, a diferença é maior. Agora ensina-se ciência nas escolas. A ciência entrou em Portugal como uma arma do futuro, Portugal é agora um país moderno.
O que o atrai no Porto? Pergunta o jornalista. A resposta também me seduziu. De resto, dá gosto ouvi-lo, seja o que for de que fale.
Na cidade seduziu-o a beira-mar, a entrada do rio, o que também a mim me encanta cada dia. A cidade à nossa frente vista do lado de Gaia, o pôr-do-sol no mar ao fim do dia... “são das coisas mais bonitas que existem em qualquer parte do mundo”. Aprecia muitas outras coisas, como a arquitectura, que classificou como uma área de saber que tem uma parte estética e uma parte técnica importantes. “Também na Física há equações bonitas e elegantes”.
O Professor, sempre a sorrir, disse muitas coisas admiráveis que eu escutei deliciada; que a vida é uma estrutura imensamente complexa, que a natureza parece brincar connosco de forma perversa, e que 99,9% das espécies terão desaparecido ao longo de dezenas de milhões de anos de vida na Terra. Daqui por outros tantos, podemos não estar cá, nós .
E eu pensei ao ouvi-lo que afinal talvez não fosse fundamental não deixar morrer espécies. Enfim, talvez não as abelhas… porque ficamos sem o mel, que não é essencial para a nossa vida, mas há a polinização que deixam de fazer, e que nos pode afectar. Temos que pensar bem. Temos que fazer contas à vida.
O que quer é não ter medo do desconhecido. Não tem. O desconhecido fascina-o, ele procura-o. Sente-se encorajado para ir à descoberta. Porém, Deus? Não pensa nele, não lhe interessa. Há mistérios… por quê dar-lhes nome?
Quanto ao amor… “se não tiveres amor, não tens nada” por muito rico que sejas de todos os bens.
“Sou uma pessoa suficientemente aberta para dizer o que penso e não ter medo de o dizer; sou livre e não receio sê-lo”, afirma o Professor que diz também que os pais foram a boa influência na sua vida. A ambos deve o espírito optimista, livre, seguro de si.
(algumas informações biográficas foram colhidas na Internet e as imagens na marginal do Porto)
Agradeço aos amigos que se interessaram pelo meu estado de saúde pós-suicídio-frustrado, e peço desculpa.
Estava eu a contar uma história que realmente aconteceu ponto por ponto, há alguns anos. Tudo passou, não se nota qualquer vestígio e eu… não sei dizer por que razão me lembrei dela naquele dia.
É certo que não era história para esquecer, mas não viria a propósito. Estas voltas que o pensamento dá!
Posso admitir que queria declarar no momento, num esforço de comunicação, que afinal não é tão bom estar só como por vezes parece. Há regalias, todas egoístas, mas as desvantagens são muito de considerar. Isso ocorreu-me.
Houve quem entendesse (a maior parte dos amigos afáveis que são todos) que eu estava ainda a sofrer, acumulado isso com a queda e fractura e mais uns tantos acidentes recentes desagradáveis.
E é disso que peço desculpa - DE OS TER IMPORTUNADO. É claro que fiquei regalada com o alarido. Se ninguém tivesse dado importância, como me sentiria? Com telefonemas inúmeros e mensagens de desgosto, achei que estava no topo do mundo, a sorrir.
E agora deixo-lhes palavras de duas escritoras admiráveis - Maria Gabriela Llansol, nascida em Lisboa, de ascendência espanhola:
“Sempre sabereis onde encontrar-me porque a minha palavra ficará convosco. Eu estarei sempre na minha obra e no meu trabalho. Chamai e virei”;
e Clarice Lispector, judia e ucraniana, educada no Brasil:
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um acto. Sentir é um facto.”
Ou Às armas, cidadãos!?
Quero falar-lhes da actual exposição de Serralves. Quero falar… por que não falo logo?!
Os meus rodeios são um alerta: quem entrar desprevenido na exposição fica perplexo, sobretudo, se não estiver habituado a ver arte contemporânea.
Uma das características que os comissários de quaisquer exposições querem imprimir às exposições - ao modo como são expostos os objectos, aos objectos escolhidos e aos temas - é que consigam provocar surpresa.
Esta exposição é muito surpreendente. Disse-me alguém a quem perguntei opinião: “é demasiado comunista para meu gosto.” Bom. Talvez não seja assim que ela aspira ser vista. O que se diz no catálogo é que “o objectivo é sempre o de revelar múltiplas perspectivas de um tema que convoca conceitos como os de globalização, democracia, activismo, ideologia, memória, exílio, revolução, iconoclastia, comunidade.”
Do que temos desde logo a certeza é de que se trata de apresentar a arte nas suas intersecções com o político, no tempo presente.
Recordo que um artista e a sua obra não podiam ser conotadas com qualquer ideologia política porque esse comprometimento levava logo ao afastamento do artista, pelo menos, no que respeitava a grande arte. A arte tinha que ser limpa de qualquer referência política.
O título desta exposição, segundo o texto dos comissários no catálogo, “contém em si um desejo de comunidade”, o que é tão louvável nos dias de hoje como o foi sempre. Mas o título parece excessivamente revolucionário por aquilo que evoca, «Aux armes, citoyants », ou excessivamente guerreiro como no hino nacional - Às armas… pela pátria lutar… contra os canhões... embora se tratasse de incitar à vitória no sentido de levantar o antigo esplendor de Portugal, o tempo dos heróis do mar.
Afinal comemora-se o centenário da República Portuguesa, por isso, se justificam estas características revolucionárias e talvez até as guerreiras, já que foi criado um lugar de debate - encontro entre artistas e público que levará à discussão dos direitos e dos deveres políticos de todos os cidadãos, revelados e acentuados pelas obras expostas e salientará, do mesmo passo, os valores de democracia e de cidadania que uns e outros precisam ter presentes.
Foram convidados trinta jovens artistas e colectivos artísticos de várias nacionalidades que apresentaram os seus pontos de vista. É interessante a globalização vista de diferenciados ângulos. O que acontece, não acontece apenas em todas as salas do Museu de Serralves, mas em diversos pontos da cidade - em igrejas, em escolas, no teatro, em livrarias, nas ruas; acompanham a exposição, performances, conversas, leitura de textos, vídeos, visitas guiadas, instalação, seminários, conferências, mesas redondas, documentários.
A exposição e as actividades que a ela se ligam continuarão até Março. Quem a visite deve ir preparado para uma troca importante - livros para construir uma pilha e enviar para Timor enquanto recebe outros oferecidos pelo Museu. E também para responder ao apelo para a adopção de um enxame de abelhas, assim:
Não queremos a morte das abelhas que levaria ao desaparecimento de certas espécies vegetais e de certas espécies animais. E ao desaparecimento do mel. Protegeremos os polinizadores
Há tempos, sem querer, quase me suicidei.
Estava sozinha em casa e muito satisfeita com o silêncio que consegui, com a temperatura fresca ambiente, a luz, a música... tudo a meu modo e gosto.
Fiquei tranquilamente a ler, estatelada no sofá durante duas horas, seria poesia.
Entre o desejo de que o dia nunca mais acabasse e a fome que me assaltou a certa hora, levantei-me e fui ao congelador ver o que havia que pudesse preparar em cinco minutos, o máximo de tempo que suportaria na cozinha.
Encontrei qualquer coisa, talvez um bife, não sei bem, nunca como bifes. O que quer que fosse, estava fortemente colado num prato transparente. Tirei-o para fora, pousei em cima do balcão, tentei de vários modos descolar o objecto, mas ele não se comoveu com os meus esforços. Peguei desiludida numa faca de cozinha, de ponta bem afiada e, com o prato firme na mão esquerda, e a faca como um punhal na direita, tentei dar um golpe ou uma punhalada com força entre o vidro e o bife ou o que quer que era e, claro, o bico da faca foi espetar-se generosamente no meu pulso esquerdo que ficou para ali a sangrar doidamente.
Parei uns segundos, olhando o sangue vermelho escuro e brilhante, brotando e tombando no chão. Pensei que o melhor de mim podia estar a escapar-se por aquela via sinuosa.
“Que queres? Se queres esvair-te, isso vai acontecer rapidamente”.
Não queria morrer daquela maneira rude, suicidando-me de forma tão pouco romântica.
Então fui ao telefone e tentei chamar algum dos filhos, ou o marido, mas nenhum estava sequer na cidade.
“Que vais fazer?” Interroguei-me mais uma vez.
“Tenho que ir à urgência mais próxima”.
Então lembrei-me de ter visto em casa dos meus pais, quando era miúda, um galo com a faca espetada no pescoço, tentando escapulir da morte a que fora condenado, sangrando e correndo e esgotando-se pela casa toda… Que espectáculo deu de si próprio! (Que eu não daria, não estava ninguém para apreciar).
Pensei ir no meu carro, mas achei melhor não. Por essa altura, até a minha roupa estava sanguínea, sanguinolenta, sangrenta e vermelha. Corri a mudá-la e chamei um táxi.
Disse rapidamente ao motorista, que olhou com surpresa para o meu pulso envolto numa grande toalha branca já vermelha, que me levasse à urgência da Carcereira. Ele não disse uma palavra: acho que ficou em choque.
No Hospital, deram-me injecções e coseram-me, fui rapidamente tratada, voltei para casa. Recuperada, entrei na cozinha onde o primeiro acontecimento se dera, fui buscar um balde com água e uma esfregona, lavei o chão, a água ficou logo negra. Procurei a roupa mais que salpicada no quarto de banho e pu-la na máquina de lavar, antes que ficasse maculada de vermelho para sempre.
Tantos anos depois da sua morte e mitificação, conto um pequeno episódio com o meu vizinho da rua Fernão Vaz Dourado ou de Santa Joana, a Princesa, que era a mesma rua muito pouco extensa mas com dois nomes, como se homenageassem pessoas sem importância: metade da rua tinha um nome, a outra metade o outro nome.
Eu estava a traduzir um livro para a Civilização Editora, intitulado A cada um o seu denário e o personagem principal era um padre. Um padre encantador, devo dizer, bondoso, temente a Deus, como se diz, e eu não queria errar nada que lhe dissesse respeito. Naturalmente, não sabia muitos nomes que considerei técnicos, nomes de alfaias e de paramentos religiosos e fui perguntar aos frades da igreja dos Dominicanos também nossos vizinhos.
Então o frei Bernardo aconselhou-me a falar com o Dr. Francisco Sá Carneiro, ele conheceria esses termos muito específicos.
Alguém, talvez o próprio frei Bernardo (peço desculpa se não foi o frei Bernardo), falou ao Dr. Sá Carneiro, frequentador assíduo da Igreja, das minhas dificuldades e ele prontamente acedeu a falar comigo. E poucos dias depois, ele tocou à minha porta, pronto para ajudar.
Gostei da sua atitude, imaginem só, nem esperou que eu me aproximasse. Gentilmente apressou-se e dispôs-se a ajudar sem qualquer contrapartida.
Fiquei com a certeza de que era uma pessoa muito reservada, mas desejoso de tomar a iniciativa, pelo menos, quando fosse para auxiliar. E muito preocupado quando não podia.
Tinha já a sua aura de pertencente à álea liberal do Parlamento e de ter artigos na imprensa muito censurados. Teria ele as qualidades que gostaríamos de ver num político, neste momento?
Recorri ao seu blogue para transmitir o que diz de si e que nos interessa conhecer.
"Fiz o curso de Comunicação Social na Universidade Nova de Lisboa e comecei a fazer jornalismo quando tinha 20 anos. Primeiro como estagiária no departamento de Eurovisão da RTP, depois como coordenadora do Servicio Iberoamericano de Notícias na TVE, em Madrid, e durante 12 anos seguidos como reporter do Telejornal, na RTP. Ao mesmo tempo fiz reportagens diárias na TSF (de mota, no início da Rádio em Directo) e escrevi semanalmente no jornal O Independente. Na RTP fiz Grandes Reportagens e Documentários de Investigação. Ganhei o meu primeiro prémio de jornalismo em 1991, o ano em que o meu filho nasceu. Depois saí da RTP e fiz séries de programas para a SIC (Verdes Anos e Primeiros Anos, entre outros, que me valeram uma inesperada condecoração do presidente da República, simbolicamente atribuida "pelo debate e defesa pública das questões ligadas à Educação"), durante três anos seguidos assinei semanalmente a última página d'O Independente onde escrevia o Obituário, uma categoria de jornalismo tipicamente inglesa que na altura não se usava nos jornais portugueses. A ideia de inaugurar o estilo Obituário no Independente foi de Paulo Portas, então director do jornal, e devo-lhe a ele este exercício semanal que me obrigou a afinar e depurar a minha escrita. Aqueles três anos seguidos foram, para mim, uma grande escola. Deixei de fazer reportagem de mota na TSF quando percebi que a manutenção das motas era uma completa ficção, depois de uma primeira queda sem consequências. Decidi fazer apenas televisão e escrever nos jornais. Primeiro n'O Independente e depois no Público. Comecei a escrever uma crónica semanal na revista Pública há 13 anos. Desde então fiz muitas outras coisas no Público: a revista XIS (que durou 8 anos, até 2007) e crónicas semanais no jornal. Em matéria de escrita semanal, sinto que pertenço inteiramente ao Público...
Durante alguns anos em que fui cronista do Público fui também directora da revista Pais & Filhos. Voltei a fazer televisão uma e outra vez na SIC e SIC Mulher mas mantive o critério 'free lancer' por uma questão de escolha pesssoal e estratégia profissional. Participo regularmente em encontros, debates, conferências e seminários em escolas e instituições públicas ou privadas em todo o país (ilhas incluídas) e vou com alguma assiduidade a lugares menos comuns como cadeias e centros de recuperação onde sinto que fico muito mais próxima daqueles que, de uma forma ou de outra, vivem ' à margem'. De resto escrevo sobre aquilo que me marca e interpela, sobre o que me toca e comove e, neste sentido, acho que tenho uma escrita impressionista. O facto de ter criado a XIS, uma revista de atitude positiva, motivação e paisagem interior que falava de relações e valores e divulgava semanalmente causas e boas práticas, dizia eu que o facto de durante estes anos todos ter feito esta espécie de jornalismo construtivo colou a minha imagem à da 'jornalista boazinha' que não sou nem nunca fui. Muito pelo contrário. Prefiro, no entanto, não ter rótulos e acreditar que fazemos melhor aquilo que fazemos com convicção. Durante 8 anos acreditei profundamente no conceito da XIS e a fidelidade e o feed-back dos seus leitores devolveu-me a certeza de estar a fazer a coisa certa, na altura certa. Agora, que a XIS acabou, sinto que fechei um ciclo mas continuo a acreditar que 'melhor é sempre possível!'. Voltei a fazer o jornalismo abrangente e diversificado que sempre fiz e gosto de sentir que tenho muito a aprender e a explorar".
...
"Gosto de pessoas, casas, livros e viagens por esta ordem. Também gosto do silêncio, do amanhecer e do entardecer. De ouvir tocar piano, de ficar à conversa, do barulho do mar, da voz dos que amo, de coisas e memórias que guardo para sempre. Porque certas coisas nunca se esquecem".
O que podemos nós oferecer-lhe neste dia de aniversário? Oferecemos-lhe o desejo de que passe um dia feliz e que os seus bons projectos sejam aceites por quem o pode fazer para podermos usufruir deles. Pertencemos a um país em transformação - que, a partir de hoje, seja para melhor.
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