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O encanto começa no título e nunca mais acaba. Refiro-me ao blogue da Laurinda Alves, por todos bem conhecido. Todos, quero dizer, os cerca de 1.500 que o visitam diariamente e os outros que dele ouvem referências. Não é extraordinário? Conheço pouco estatísticas, mas não tenho dúvida de que haverá poucos blogues que registem um tão considerável número de visitas: de admiradores, de seguidores, de amigos.
Isto não diz nada? Significa o quê?
Como aconselha o Dalai Lama, a autora abre-se ao sofrimento do mundo e à sua beleza ao mesmo tempo quando presta atenção ao que se passa, ao que se diz, ao que vê. É de tudo isso que nasce a sabedoria.
É é claramemte de sabedoria que se fala no seu blogue, A substância da vida, nos textos que escreve (que lhe foi retirada a oportunidade de publicar, saberemos algum dia por quê?), nas palestras que faz, nos projectos culturais que inventa e propõe.
Porém, quem quer saber de quem sabe? O que se passa com os pensamentos que resultam da uma visão inteligente e sensata?
Pergunto: onde estão os artigos oportunos que deviam aparecer nos principais jornais diários e semanais, onde existem as revistas que dirige, onde passam os programas que projecta para a televisão e que gostamos de apreciar?
A Laurinda “ousa viver”, apesar de todas as contrariedades e injustiças. Gosta de escutar, de dar, de amar, o que perecem coisas pouco prudentes nos dias de hoje em que, no entanto, se repete até à saciedade (palavras, apenas palavras) que é essencial dar transparência e moralidade à vida pública e à privada.
Em que ficamos?
Em que é bom que comecemos por nós?!
(Nos meus sítios, o mundo está nitidamente a afundar-se)
O que posso descobrir em tectos lisos brancos frios sem saber o que procuro? As janelas fecham-se sobre o que deve ser o mar, o que serão as luzes douradas do porto...
Tenho saudade silêncio noite aqui, não encontro o que procuro.
Folheio um livro, leio:
A noite abre os seus ângulos de lua
E em todas as paredes te procuro
A noite ergue as suas esquinas azuis
E em todas as esquinas te procuro
A noite abre as suas praças solitárias
E em todas as solidões eu te procuro
Ao longo do rio a noite acende as suas luzes
Roxas verdes e azuis
Eu te procuro.
(Poema de 1961, página 169, in Antologia, Sophia de Mello Breyner Andresen)
Não, já não, não estou só. Talvez o mar não esteja lá, o barco tenha partido arrastando suas luzes douradas, e as mesmas janelas abram para a paisagem vagamente florida e doce e fresca. E eu diga: de manhã, encontrei a casa onde sempre voltarei.
Mesmo que me prometas a imortalidade voltarei para casa
Onde estão as coisas que plantei e fiz crescer
Onde estão as paredes que pintei de branco
(página 252 da mesma antologia)
No 13 de Novembro último, estiveram na Quinta do Casal alguns amigos que tiraram excelentes fotografias de recantos que acharam interessantes. Reproduzo aqui duas de José Miguel Vieira gentilmente oferecidas e que mostram um interesse pela natureza colorida e requintada embora outonal; ele apreciaria fazer uma exposição.
As duas de Manuel Cardona, as que aparecem aqui em primeiro lugar, são românticas e expressivas, muito belas também.
(estou totalmente em desespero com as dificuldades técnicas deste "post", deve ser a décima vez que tento inserir as fotos e mesmo o texto já se evaporou mais de uma vez)
(o souto da quinta do Casal - foto de José Miguel Vieira)
Poucos de nós gostam de receber conselhos, sobretudo se não forem acompanhados por alguma coisa mais substancial, como experiência daquilo de que se fala. De outra forma, podem ser apenas palavras sem conteúdo.
Cabe a cada um recheá-las como deve ser, encontrar-lhes o sentido adequado.
Sobre personalidade, recebi alguns conselhos que transmito, de que tenho alguma experiência, de que posso falar.
1. Don't compare your life to others. You have no idea what their journey is all about.
2. Don't have negative thoughts on things you cannot control. Instead invest your energy in the positive present moment.
3. Don't overdo. Keep your limits.
4. Don't take yourself so seriously. No one else does.
5. Don't waste your precious energy on gossip.
6. Dream more while you are awaked
7. Envy is a waste of time. You already have all you need.
8. Forget issues of the past. Don't remind your partner with His/her mistakes of the past. That will ruin your present happiness.
9. Life is too short to waste time hating anyone. Don't hate others.
10. Make peace with your past so it won't spoil the present.
11. No one is in charge of your happiness except you.
12. Realize that life is a school and you are here to learn. Problems are simply part of the curriculum that appear and fade away like algebra class but the lessons you learn will last a lifetime.
13. Smile and laugh more.
14. You don't have to win every argument. Agree to disagree.....
(o que nasce em beleza à sombra do souto)
É bom meditar sobre eles, nenhum é novidade para nós, insistir nos que nos tocam mais de perto e repetir, repetir, repetir. Percorremos um longo caminho de erros - de cabeçadas, de tropeções - e também de coisas bem feitas, mas esquecemo-nos facilmente do que nos é recomendado para melhorar ainda, e está ao nosso alcance. Seja qual for a extensão de caminho percorrido, vamos sempre a tempo de o refazer na direcção correcta.
Na época que vamos vivendo, é terrivelmente importante insistir na aceitação dos valores que nos podem orientar bem.
(3 fotos de Manuel Cardona)
Jorge Nuno enviou-me este recorte sobre as nossas virtudes e os defeitos dos outros. Será interessante relembrar o quanto inconveniente pode ser o nosso comportamento habitual.
Tenho o gosto de divulgar as seguintes resoluções quanto a saúde para 2011 para que os meus amigos e leitores procedam de modo a terem excelente vigor doravante.
Foram-me lembradas por Pedro Cardoso, são bons e simples conselhos, não custa segui-los.
A este propósito, recomendo vivamente alguns blogues de boas amigas:
descobrirafelicidade, doce refúgio, do meu lugar, caminhando, três chávenas de chá.
Bernadette Poisson Coutinho escreveu um texto poético para o folheto informativo da exposição de pinturas dos alunos do Atelier do Gólgota, dirigido por Mónica Baldaque.
Bernadette, que também expõe levíssimas aguarelas em tons poéticos e luminosos, fala de cumplicidade aguarelada e ficámos a saber o que isso é depois de a lermos com sossego e reverência.
Assim:
"Um discreto ramo torcido de limoeiro florido repousa num dos cantos da mesa rectangular que tantos segredos e histórias tem para recordar…
Uma sonata de Bach acompanha os movimentos dos pincéis e vai dando as tonalidades às cores que vão aparecendo discretamente nas telas…
Uma tela inacabada repousa no cavalete e olha para nós, esperando sempre uma mensagem amiga da Mónica, companheira e mestre que nos vai guiando nos horizontes da multiplicidade das linhas e das cores.
Um chapéu de palha com fita azul voa no atelier e entra na tela onde estão pintados os campos de trigo dourado…
Algumas buganvílias, por cima de uma balaustrada, lembram outros tempos…
Um detalhado perfil surge do século XVIII e vai descansar num biombo antigo…
Uma carroça desce numa viela queimada pelo sol, algures…
A sombra de uma árvore centenária abriga as nossas hesitações e dúvidas cromáticas…
Um lápis dança na textura branca do papel ao som das notas musicais que esvoaçam no atelier e vão desaparecendo no arvoredo do jardim…
São estas as pequenas histórias das tardes de quarta-feira que vão surgindo já há alguns anos na paleta do tempo, na companhia da velha magnólia e do rio Douro, sempre à luz do sol que desaparece suavemente…"
Este é o ambiente que se vive no atelier em frente à chávena do chá fumegante e dourado que a Mónica nos oferece lá pelas 5.
Nas minhas recentes andanças a pé pelos arredores da casa à chuva, ao sol, ao vento irritadiço, encontrei uma amiga que não via há bons dez anos. -Gostei de a rever - embora mais branca e mais pequena era bem ela.
Vivemos no mesmo prédio desta rua Marechal Saldanha há bons 40 anos, quando os nossos filhos eram crianças pequenas. Habitávamos o mesmo andar, o direito e o esquerdo, e recordo ter as portas abertas para o patamar comum, quase todo o dia, para que os pequenos pudessem andar fora e dentro, de uma casa e da outra, sem impedimentos.
Estivemos em contacto durante muito tempo, das formas mais amigáveis e simpáticas. Havia um grande respeito mútuo, por isso, nunca houve desentendimento a perturbar a nossa afeição.
Fizemos com a nossa amiga, só ela, uma viagem muito especial de automóvel que durou um mês e meio – Espanha, França, Suíça, Itália, acampámos pelo caminho em diversas cidades onde havia parques nem sempre razoáveis até que chegámos a Genebra onde ficámos três semanas.
O meu marido era o representante dos trabalhadores portugueses à reunião anual da Organização Internacional do Trabalho – a O.I.T. e eu e a minha amiga ficávamos quase todo o dia livres para conhecer a cidade que não tinha assim tanto que ver, em todo o caso não para três semanas.
De modo que, imaginem, todos os dias íamos investigar no único centro comercial da cidade, na época não havia muitos e em Portugal nenhum, era tudo novidade para nós, e descobrimos que havia uma secção, renovada todos os dias, em que qualquer objecto custava apenas um franco (suíço, um dinheirão em escudos, mas comparado com tudo o mais, era a coisa mais barata que podíamos comprar na Suíça). Devíamos ir logo de manhã cedo, à abertura da loja, para apanharmos as novidades, antes que acabassem. E íamos. Despertávamos com aquela no pensamento e corríamos para o armazém. Então inspeccionávamos com cuidado e sempre vínhamos de lá com um sorriso largo, um objecto/pechincha e o dia ganho.
Trouxemos cada uma a sua mala de bugigangas, comprada para o efeito e, durante anos, foi fácil ver pelos cantos das nossas casas e dentro de armários e gavetas as ditas e sugeridas peças.
Todavia, a um acontecimento assistimos todos os dias e a todas as horas, a menos de um franco - um repuxo monumental subia do Lago Leman para o céu da cidade completamente grátis. Todo o santo dia. Na verdade, havia castelos e vilas medievais, anfiteatro e forum romano mas, o repuxo…
Aquilo começou a incomodar-nos, mas nunca encontrámos modo de nos livrarmos dele. De todas as ruas e praças, varandas e balcões ele era visível eternamente a sair do Lago, a elevar-se contra as montanhas nevadas e o céu azul como distante pano de fundo. Mesmo de noite e a dormir na minha tenda rasteira fora da cidade, via o repuxo. E tê-lo-ia visto para o resto da minha vida se não tivéssemos partido para Itália, onde por várias semanas nos deixamos embeber e empapar de civilização romana e renascentista, esquecendo o resto.
O resto que era também a cidade centro de diplomacia importante, onde diversas organizações internacionais tinham sede como as Nações Unidas e a Cruz Vermelha. E também a Organização Europeia para a Investigação Nuclear. Quase metade da população era estrangeira, não sei se ainda é.. Era uma das cidades com melhor qualidade de vida e mais caras. Todas as actividades desportivas e náuticas eram praticadas em volta do lago, em cada localidade havia um posto náutico...
Que valia tudo isso? Despertava a nossa admiração... mas na verdade nada era em comparação com aquele repuxo e a imensa secção de objectos atraentes perfeitamente inúteis a 1 franco a peça.
O atelier do Gólgota, em que pontifica como mestre Mónica Baldaque, vai expor trabalhos de pintura executados pelos alunos durante o último ano nas aulas das quartas-feiras.
A exposição estará na Galeria da Cave do Clube Literário do Porto, na rua Nova da Alfândega, de 16 a 30 de Novembro, todos os dias, todo o dia.
Mónica Baldaque preparou um folheto informativo que abre com uma muito bonita pintura sua, escreveu o texto que vou reproduzir e pediu à Bernadette Coutinho um outro texto, que não se sabe bem se é poesia ou pintura, mas que dá uma informação muito precisa sobre o ambiente em que decorrem as aulas.
“Théodore Chassériau tinha por hábito, quando viajava, anotar ao lado dos croquis que ia fazendo o seu pensamento. Ele ia registando a sua impressão, não só através do desenho como também através da reflexão pela palavra. Criava-se assim uma intimidade entre o gesto do desenho e o gesto do pensamento. Um equilíbrio.
Nas aulas que eu dou, a minha ambição vai quase até aí.
Mais do que ensinar a desenhar, eu pretendo ensinar a ver, a parar o olhar - um olhar silencioso sobre todas as coisas que nos rodeiam, a perceber o seu movimento e a sua linguagem. E a relacionar essa posição de ver com o pensamento e com a liberdade de usar os materiais quaisquer que sejam que deixam no papel um vestígio: um risco, uma mancha, uma forma.
Os trabalhos que aqui se expõem são exercícios que cada um escolhe de acordo com o seu gosto, o seu imaginário, as suas memórias, a sua vontade e expressão. Cada um pinta aquilo que lhe toca a alma, e cada um se ouve enquanto trabalha. É como tornar visível um conteúdo que se descobre.
Não imponho técnicas nem desvendo segredos. Cada um as vai criando e desvendando-se a si próprio. E vai criando um canto no seu mundo, dedicado a si, para além da rotina partilhada, ela também importante, mas incompleta.
É simples.”
O belo texto de Bernadette P. Coutinho – Cumplicidade aguarelada… - será reproduzido proximamente em simultâneo com os nomes dos aprendizes de pintor, todos famosos.
Não resisto à tentação de reproduzir na íntegra o último post do blogue do Vicente Mais ou Menos de Sousa que julgo muito divertido. Espero que ele ache graça a esta graça.
"A idiotice é vital para a felicidade.
Pessoas chatas são as que querem ser sempre sisudas, profundas e viscerais. A vida já é um caos, então porque querermos torná-la num tratado cheio de regras? O ideal é ser-se sisudo nos momentos inevitáveis: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria-se dos seus próprios defeitos. E de quem acha que os tem. Ignore o que o estúpido do seu chefe lhe disse. Pense assim: quem tem que andar com aquela cara tão feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele.
Milhares de casamentos acabaram não pela falta de amor, dinheiro, sexo, química, mas pura e simplesmente pela falta de idiotice.
Quem lhe disse que é bom partilharmos a vida com alguém que tem conselhos para tudo, soluções sensatas, mas que não se consegue rir quando tropeça?
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas que não tem a menor ideia de como preencher as horas livres de um fim de semana?
É muito vulgar haver pessoas que se sentem perdidas quando se acabam os problemas.
Desaprenderam de como se brinca. Brincar é bom. Ouviu bem?
Esqueça os que lhe falaram sobre o que é ser-se adulto, ou seja ter maneiras à mesa, não se dizer asneiras, não se ser imaturo, não chorar, não andar descalço à chuva.
Os adultos podem (e devem) contar anedotas, passear nos parques, rirem alto e lamberem as tampas dos iogurtes.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "senão" realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras. Acorde de manhã e decida fazer uma de duas coisas: ficar de mau humor ou sorrir...
O que é verdadeiramente bom é ter-se problemas na nossa cabeça, sorrisos na boca e paz nos nossos corações!
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que caia o pano!"
Espero os vossos divertidos comentários e também os de quem não achou graça, para comparar. Talvez cheguemos a conclusões interessantes. Sensatas? Género: nem sempre a rir nem sempre a chorar?
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