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Há poucos dias, em Lisboa, o embaixador de França ofereceu um jantar a portugueses condecorados com a Legião de Honra pelo governo francês. Foi criada a secção portuguesa de entre-ajuda e eu perguntei o que poderia ser essa ajuda. Disseram com pouca clareza que poderiam ser apenas encontros para não deixar morrer uma relação certamente interessante entre o governo francês e esses cidadãos notáveis.
Tenho de investigar e depois conto-lhes.
Eu estava como acompanhante e pude observar com à-vontade e tirar algumas fotografias.
A Casa e os jardins são lindíssimos e o dia de uma temperatura agradável sem qualquer ponta de humidade, apesar da proximidade do rio.
De modo que toda a gente estava bem disposta, sem queixas, e pude ver o jovem Eduardo Lourenço entusiasmado com a vida, o Rui Vilar encantador talvez com saudades do Porto, a Maria Barroso sempre sorridente, amável e bem disposta e tantos que saborearam a presença e as novidades uns dos outros.
Vou mostrar-lhes a minha foto com Eduardo Lourenço, para a posteridade, enfim só para dizer que tive o privilégio de trocar três palavras com ele (ou teriam sido mais?).
Eu podia recortar a foto, ficar só o E.L., tentar melhorá-la, mas não teria graça nenhuma, e eu queria ficar ali perto dele. Talvez alguma da sua inteligência ou do seu bom senso ou do seu discernimento me passasse.
Estas duas, tiradas do jardim para o rio, são um tanto misteriosas. Esta
No azul deslumbrado ele sobe borbulhante
aceso expande-se num bang-bang
de mil sóis e chamas faiscantes
melros novos não pousam por respeito
nos ramos abrasados de luz
nas flores irradiantes
Símbolo de Julho em Moledo clama
no clamor do calor de Verão
por atenção
o grito ecoa de montanha em montanha
escande-se e continuamente recomeça
perturbando a multidão
que rendida ovaciona junto à piscina
sagrando o eucalipto cor de fogo
estátua templo altar
ou herói terrível de intenso esplendor
Faetonte do meio-dia por alguns dias
neste lugar.
(Em Moledo do Minho no Verão de há vários anos)
Mónica Baldaque esteve no C.C.B. no encontro dos intelectuais com o Papa Bento XVI.
Esteve na primeira fila com a sua filha escritora Lourença Baldaque e outras personalidades bem nossas conhecidas, umas que gostariam de receber a benção papal outras que não.
Mónica teria apreciado e esperava-a.
Tenha um bom coração!
Acham que será uma delicada saudação em vez do habitual bom dia?!
Agrada-me. A mim agrada-me muito porque me convenci de que, se cada um de nós desejasse a cada um dos outros, todos os dias, logo pela manhã, que tivesse bom coração, haviam de aparecer os frutos desse continuado desejo. Do simples gesto, toda a humanidade tiraria proveito.
E também ao fim do dia em vez de como passou? perguntar ao outro se teve um bom coração seria um estimulante alerta. Ou um aviso.
Teve um bom coração?
É antes de mais um convite à reflexão. Será que tive? interrogo-me. Será que tive hoje bom coração?
O tema não poderia ser esquecido. Uma atitude possível seria ganhar o hábito de praticar, pelo menos, uma boa acção por dia, como se exige aos escuteiros. Seria muito sadio e ganharíamos o hábito de pensarmos nos outros antes de mais; ganharíamos o hábito de ter bom coração.
Não encontro o sentido de pensarmos em nós. Nós, eu, estamos sempre presentes e não será necessário lembrarmo-nos a nós mesmos de que existimos. Além de existirmos já que pensamos - de sabermos que existimos já que pensamos - sentimo-nos.
E por que não saber que os outros existem pois que pensamos neles? E tal como em relação a nós, somos capazes de os sentir (ver, ouvir…) e de saber também por isso que existem.
Esta sugestão, quero dizer, estas palavras como saudação – tenham bom coração - ouvi-as, num destes últimos dias, de um grande Mestre Budista, que usou termos simples e claros modos e posturas para falar de coisas muito importantes. Que dizem respeito à nossa vida quotidiana.
Fiquei a reflectir.
Peço licença, mas avanço já para a publicação de um comentário que me foi enviado por um bom e divertido amigo e que aparece hoje no seu blog vindo de um Anónimo. Foi dirigido a PU-JIE a quem agradeço os esforços para me animar e para nos animar.
Vou tentar alegrar o teu dia. Mas atenção, isto é historicismo, e o Popper dizia com razão que não devemos ser historicistas - a história nunca se repete.
Mas ao conhecermos os factos que fizeram história, ficamos a conhecer a fibra (ou falta dela) de um povo - e a fibra permanece.
Desde 1833 até 1931 o País esteve sempre em bancarrota técnica; em 1892, se não me engano, a bancarrota foi mesmo oficialmente declarada.
Mas se olharmos para este período (exceptuando os 16 anos da 1ª República) de relance constatamos:
- duas das mais brilhantes gerações de intelectuais portugueses viveram neste tempo - primeiro os romãnticos, Garrett e Herculano, etc, depois a geração de 70, Eça, Antero, Oliveira Martins, além do gigante Camilo que atravessou as duas gerações;
- Construiram-se pontes (algumas desenhadas por Eiffel), estradas, caminhos de ferro, barragens, monumentos - olha o palácio de cristal no Porto (!), olha o teatro D. Maria, olha o castelo da Pena;
- o nível de vida real das pessoas subiu efectivamente em média - com excepção da úlima década do sec. XIX em que houve um breve surto de miséria;
- basta ler "As Farpas", "Os Gatos", e todos os jornais e revistas deste período para constatarmos que o políticos do tempo eram, sem excepção, considerados umas bestas e uns cretinos, quando não ladrões encartados (olha o Costa Cabral).
Ora, desde a década de 40 do sec. XIX que os profetas da desgraça auguravam a invasão de Portugal ora pelos ingleses ora pelos espanhóis como consequência da bancarrota iminente - lembras-te do Cohen (aliás Henrique Burnay) no célebre jantar do Hotel Central: "a bancarrota é inevitável e aproxima-se num galope certinho"?
Mas a bancarrota ficou na história como uma nota de rodapé. O importante foram as grandes revoluções políticas - o Setembrismo de Passos Manuel, depois neutralizado pelo Costa Cabral, e este por sua vez apeado por um levantamento popular, a Maria da Fonte, e mais tarde outro movimento popular mais sério contra os "ordeiros", a Patuleia, a Regeneração, o Fontismo, e por fim o declínio e queda da monarquia, estritamente por razões ideológicas, melhor dizendo, por ódio ideológico.
E todo este fervilhar político e militar ia atemorizando os credores da banca internacional que, na verdade, nunca conseguiram que os respectivos países tomassem uma posição de força e foram engolindo década atrás de década os refinanciamentos que os bons do Silva Carvalho e Rodrigo da Fonseca lhe foram impingindo in extremis. Só para veres, sempre que o Silva Carvalho desembarcava em Portsmouth, a bolsa de Londres baixava...
O que é que eu quero dizer com isto? É que compete ao bom velho povo português dar o coice de mula nesta malta e partir para a 4ª República, ou para a restauração da monarquia, recuperando a fibra que tem sustentado o país independente desde 1143. Conheces pois tu algum Saldanha ou um Spínola disposto a sair com a tropa para a rua? Se sim, manda-me o telemóvel do gajo para pôr as coisas em marcha.
Vou tratar de saber o nº do telemóvel da pessoa em questão para começar a pôr as coisas em marcha.
Em 2001, a Rede Europeia das Cidades dos Descobrimentos promoveu no Porto o seu fórum anual. O tema a discutir foi “Olhares Plurais sobre a Cidade”. Houve vários painéis e o último intitulou-se “O olhar das Crianças”. Pretendia ser um olhar informal em que “autarcas responsáveis pela gestão da cidade” debatessem “entre si e com os especialistas convidados a questão fundamental de como tornar a cidade de hoje um lugar de felicidade”.
No Olhar das Crianças a que assisti, houve uma introdução de Tonnuci, arquitecto italiano e comentários do escritor Manuel António Pina; o olhar final foi de Agustina Bessa-Luís. Nesse ano, foram realizadas coisas importantes que melhoraram a cidade em muitos aspectos. Por exemplo, foi feito o arranjo de ruas, estreitando-as e alargando os passeios com a ideia de que as pessoas podiam voltar ao centro, circular a pé na Baixa e mesmo vir à Baixa a pé, vivendo pausadamente, humanizando a cidade.
Interessei-me muito por este assunto, porque sei até que ponto as crianças gostam de estar e de brincar na rua. E recordo o privilégio que era poder fazê-lo. A cidade era o lugar a que pertencíamos e onde tínhamos o direito de estar, um lugar com história em que nos sentíamos próximos e seguros.
Recordo estar de um lado da rua, pelo Carnaval, segurando uma ponta do fio como Ariadne, enquanto do outro lado, outra miúda segurava a outra ponta. E quando um carro suficientemente bonito passava largávamos o fio que era levado a esvoaçar pelo carro. E ficávamo-nos a ver a beleza daquilo. Havia carros que levavam várias serpentinas de cores diferentes, porque passavam devagar e eram merecedores de atenção. Agora, na cidade, sentimo-nos distantes uns dos outros mesmo quando nos acotovelamos, e diferentes, estrangeiros. As ruas não são espaços participados: temos telemóveis e caminhamos por esses espaços discutindo com seres invisíveis, e o que vemos são grandes cartazes coloridos, e carros e luzes verdes e vermelhas e ditas esculturas imensas e altifalantes e tantas coisas que chamam a nossa atenção - só não nos interessamos pelos outros, pelos vizinhos. Os que estão ali e nos sorriem. Os que devem atravessar as ruas sem pressa e os que apreciam não ouvir tanto ruído nem ser de tal modo assediados por importunos que não temem a justiça. Que não vêem razão para temer a justiça. Caminhamos com dificuldade num espaço totalmente profano, não nos apercebemos de que o espaço sagrado está lá: suave, tranquilo e propício a uma elevação espiritual.
Como podemos pensar uma cidade para pessoas, ter um papel útil nela, usá-la para a nossa cultura?
Perguntaremos às crianças como gostariam elas de ver a sua cidade, sim, perguntaremos às crianças. Talvez pudéssemos voltar nós à infância. Ver com olhos limpos.
Ou vamos construir a cidade dentro de casa e então…?
A sociedade Porto Cidade da Cultura fez muito para que voltássemos a gostar da nossa cidade no aspecto urbanístico, arquitectónico, cultural. E estamos gratos. Mas precisamos muito mais, precisamos trabalhar todos muito mais para que ela seja uma cidade boa e segura para as nossas crianças, se o for para elas é também para nós, para que voltemos a dar-lhes o gosto de descobrirem o que não sabem, de gozarem a rua e viverem uns com os outros. Em paz. Será isto uma das coisas que põe em causa o essencial da democracia? O que andamos para aqui a fazer?
Estamos fartos de ver os semblantes sombrios dos que dela falam. Ou o seu ar de vencedores – “eu bem disse!” E de sentir à nossa volta que qualquer coisa se vai desmoronar… sem sabermos o quê. Felizmente (!), a maioria das pessoas vive exactamente como antes e por isso é difícil compreender o que seja isso de que tanto se fala.
Na verdade, não nos apetece ouvir continuamente e como tema primordial alguma coisa que não vemos possibilidade de entender. E preferimos continuar com a nossa pequena rotina. Como alguém disse: ”é-nos dado apenas um dia de cada vez para viver”. Vamos vivê-lo.
Que temos nós com os outros dias que vão continuar quando nós já não estivermos cá? E com os que já estavam cá quando ainda não existíamos? Por que temos que nos preocupar com esses dias?
Não temos.
Dá-nos vontade de os deixar discutir em termos económicos e financeiros e políticos e judiciais e escolares… e por aí fora sem nos metermos no assunto. No entanto, ele é da nossa conta. Cria instabilidade e crispação. Se bem que a nossa vontade seja dizer-lhes: cheguem lá a uma conclusão e depois comuniquem-na, digam-nos só a que desfecho chegaram. E pronto, nós acreditamos. Acreditamos?
A verdade é que não podemos fazer isso. Eles têm que saber que estamos atentos e não somos assim tão ignorantes. Não sabemos de economia (mas quem verdadeiramente sabe?) nem de finanças nem de justiça nem de educação… De política sabemos alguma coisa mas não o suficiente e, por isso, eles não podem dizer seja o que for e ficarem com aquele ar sábio e sabido e poderoso e desconcertante.
Talvez nem todos tenham tempo, embora tempo seja o que verdadeiramente nos é dado a todos, para estudar a fundo essas disciplinas, mas temos todos bom senso, não é verdade? E isso, nestas questões é o mais importante. Porque imaginação… têm eles, os analistas. Nós temos bom senso, caramba, já desde o século XVII! E eles devem saber a importância deste pormenor.
Eles têm que ter isso em conta: não vamos abdicar, se bem que haja coisas muito valiosas que nós sabemos fazer e eles não. Que são muito mais importantes do que pensam. Por exemplo, saber plantar batatas. Há muito quem saiba fazer isso? E tratar delas? Acarinhá-las durante meses, sofrer com elas, arrancá-las da terra com as próprias mãos, para que tenhamos alguma coisa substancial para comer? Quantos milhares de prisioneiros foram salvos pelas batatas só na última guerra? Quantas toneladas de batatas livraram quantos detidos da miséria-da-morte-à-fome?
Devem saber que não podem pôr o pé em ramo verde, apenas pela razão de estarmos atentos e possuirmos bom senso. Estudamos, analisamos a perversidade dos seus discursos usando o bom senso comum. E não se trata de ir para a rua gravar as opiniões inauditas daqueles que sabem de outras coisas e de nenhuma daquelas de que temos estado a falar. E de que são chamados a falar.
A escolha do que deve ser divulgado para que todos tenham saberes, notícias, informações, para analisarem e reagirem de acordo deve ser feita com outro critério.
E eles que ouçam os que usam as aptidões que lhes foram concedidas e que são competências para pensar, reflectir e decidir. Não existem capacidades nem faculdades de abdicar. Nem mestrados nesta disciplina. Para já.
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