Os pensamentos são por vezes demasiado complexos para serem traduzidos em palavras. Sobretudo, em palavras escritas. Mesmo se se pensa conhecer bem a língua social... Sabe-se que uma língua é constituída por signos, isto é, significantes e significados, que se utilizam para comunicar facilmente as ideias que nos ocorrem, falando ou escrevendo.
Apesar disso, uma das razões porque gosto de escrever é por ser sempre uma provocação, um repto a mim própria. Serei ou não capaz de escrever o que estou a pensar? Nunca sou capaz. Por vezes, sinto que a cabeça vai estourar se persistir, tenho a certeza que vai. Estourará muito antes de eu conseguir dizer aquilo que imagino. E também não quero aprofundar mais este pensamento que me ocupa a cabeça. Querem saber um segredo? Não quero que ela estoure. Receio ser internada num hospital especial daqueles donde nunca se sai. Por isso, abandono com pena a complexidade do pensamento que me ocorre e me havia de levar à descoberta de coisas transcendentes. Abandono-o por ser de vidro – duro e inflexível e possível de estilhaçar de um momento para o outro, se bem que transparente. Embora sinta que é esse o caminho… abdico e continuo rasteirinha a pensar e a falar e a escrever coisas sem espessura.
Gostava verdadeiramente de trabalhar e transformar a língua que me foi imposta e mesmo de criar uma língua, mas quem me entenderia, para já, para já? Acontece-me todos os dias escrever de certa maneira e depois voltar atrás e emendar tudo, quero dizer, vulgarizar tudo. Corto aqui, acrescento acolá e a coisa fica entendível. Fica linguagem, só que me não satisfaz como escrita. Afinal, o que pretendo: escrever ou comunicar? É verdade que quase sempre quero ambos. De certo modo, esta vontade e a sua dificuldade têm-me impedido de ter uma escrita festejada.
Quando falo é para que me entendam, é verdade; quando escrevo pode ser outra coisa. Pode ser uma perversão ou um desejo de perversão. De vontade, escreveria para ninguém ler.
A Mini não deixa passar nada, nadíssima. Estou sempre pronta a irritar-me com ela por causa disso, como se fosse razoável!
Sei que devia agradecer-lhe o estar atenta às minhas palavras, aos meus gestos, mesmo aos meus pensamentos. Mas não, zango-me quando me repreende!
E a verdade é que tem sempre razão.
Pronto, a propósito da aranha cor-de-rosa, ela afirmou com ar consternado, ao ler o texto publicado no blogue ontem, que a aranha era cor-de-laranja, avó!
Ora, que importância tem?!... repliquei irritada mesmo, mesmo irritada, apesar de tudo.
E quis saber se era boa aluna na escola, já que tinha ouvido uns zunszuns… Ela respondeu risonha, risonha e ar inteligente: “sou má aluna!”
Como assim? Má aluna a tudo? Ou só a Inglês? Talvez a Português? Ou…? Insisti.
“Não sei”, responde.”A avó deve perguntar essas coisas à mãe!” – repreende-me ela mais uma vez.
Pois.
Telefono à mãe.
“A Mini é boa aluna”.
Como? Ela diz que é má.
“Não, não é má. Na escola é boa, em casa tem preguiça de fazer os trabalhos. Pode dizer que não tem nada para fazer e tem; ou que já fez… Não tive tempo de vigiar. Nesse aspecto, este foi um ano mau aqui em casa”.
O mais provável, é a Mini estar certa. Ela não concorda com trabalhos de casa. A escola, 3ªclasse, até às 4 horas da tarde… chega. Tem um grande lazer para rechear de novidades e diferenças. Acho que gostaria de tratar de cavalos, por exemplo, passar-lhes a escova no pêlo com carinho, mais ainda do que montá-los.
A Mini é a pessoa mais sensata que conheço, já o tenho dito.