por Zilda Cardoso, em 24.07.09
No próximo dia 28, o meu neto e este blogue completam 1 ano de existência.
É uma data a ser comemorada com solenidade. Eu que represento o blogue sinto-me importantemente pertença deste grupo, dos que comungam das mesmas convicções. Ou não.
É claro que será uma manifestação cultural, a comemoração, e o acontecimento que se celebra, estando para mim totalmente envolto em mistério, em factos e em mistérios e em personalidades interessantes e simpáticas, reforça a ideia de pertença a famoso grupo.
Para mim, o blogue tem sido um “roubador de momentos”, de que tiro imenso prazer. E também funciona como uma espécie de novo modelo de desenvolvimento. Os textos são menos elaborados do que os que costumava escrever, se bem que por vezes não resista a um certo desejo de literatura e de filosofia que não virá a propósito, mas a que simplesmente não resisto.
Confesso que me diverte lançar temas que me parecem atraentes e em que apreciaria saber os meus leitores ou visitadores ou comentadores envolvidos, reflectindo e participando em discussões que afectam a nossa vida, numa espécie de cooperação tribal; sem perder de vista o bom senso, o saber e o que pode ser chamado dinamismo cultural ou modernidade com sabedoria ou multiculturalidade, qualquer coisa assim.
O que estarei é a convidar as pessoas a cultivar e a revelar os seus talentos e a procurar soluções comuns talvez equacionando os problemas de maneira diferente da habitual. Se não conseguirmos, mas vamos conseguir, teremos estado a cumprir o papel que, presumo, nos é pedido, o que se espera de cada um de nós.
Quanto ao outro aniversariante, o que se espera dele e o que eu desejo é que desenvolva as suas competências de modo a que elas o levem a engendrar um estatuto de grande elevação e a delimitar o seu território contando com os outros e com o dos outros. Para já, está tudo em aberto.
E como não vou estar aqui nesse tempo próximo, hoje, para mim último dia antes do DIA, é a oportunidade de lembrar os dois acontecimentos.


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por Zilda Cardoso, em 23.07.09

O ar azulado dá um tom estranho às árvores, ao céu, às montanhas - é o que me separa daquilo.
Não é azulado, mas misturado com vermelho, ligeiramente roxo e fluído.
E eu penso: não deixes o tempo passar, não deixes.
Ambos faremos a mudança na terra, na nossa casa, na família. Nenhum vai mostrar superioridade ao outro, não é para isso que estamos aqui.
A Terra não é o centro do Universo desde Copérnico. Por que havia de ser um de nós o centro?!
O que separa, o que está para além e para aquém das coisas azuladas, será o ar azulado ou mesmo azul, o mistério por que me sinto envolvida e nos envolve.
Tento compreender o que me impede de ver mais longe. Caminho, caminho… aproximo-me, nunca estou perto.
Há aquilo fechado lá ao fundo.
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por Zilda Cardoso, em 20.07.09
Antes de todas as coisas, surgiu o caos (Hesíodo).

Muitas das nossas polémicas principiam com os diferentes conteúdos que atribuímos a palavras-que-soam-da-mesma-maneira. E continuam e amplificam-se por outros motivos e razões, originando graves conflitos.
No nosso tempo, neste tempo, para os mais velhos, os que ainda se lembram da ORDEM, há uma desordem generalizada que talvez esteja contida por uma velha ordem (segundo a ideia dos Antigos mas ao contrário – o continente do cosmos já não é o caos sempre à espreita de poder intervir ou que intervém ciclicamente podendo fazer avançar o conhecimento, etc.).
O que acontece actualmente é que os novos, os que já nasceram no caos, não sabem de todo o que é a ordem, a razão, a harmonia.
Por isso, não há nem desordem sem continente nem ordem a espreitar a desordem. Nem desordem a intevir na ordem (como nova ordem provisória) e a fazer avançar a ordem. Pela razão de não haver ordem nem desordem, há o que é… seja o que for.
No presente, as pessoas, naturalmente a viver na desordem ou seja-o-que-for, carecem de um cérebro muito mais complexo do que antes. De resto, as imagens do cérebro que nos habituamos a ver apresentam-no como desordem com continente que talvez do exterior seja capaz de permitir estabelecer a ordem no interior (do cérebro).

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Poucos mortais possuem a capacidade de transportar os seus caos (interno e/ou externo) para a ordem aparente das palavras em uma folha de papel (ensaio de Seth, lido em e com imagens da Internet)).
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por Zilda Cardoso, em 18.07.09
Na Casa de Serralves, que foi residência do segundo conde de Vizela, assisti ontem à inauguração da exposição de Ruhlmann, mestre da art-déco francesa.
Ruhlmann nasceu em 1879 em França numa família de artesãos com quem aprendeu o ofício de operário pintor. A sua ambição era ser artista pintor, mas acabou por remodelar a empresa familiar orientando-a para trabalhos de decoração. Abriu um atelier de desenhadores para a criação de têxteis, papéis e tapetes. Mais tarde, interessou-se por móveis que a princípio mandou executar nos excelentes marceneiros da sua cidade. Participou em exposições importantes nacionais e internacionais.
Quando o Conde de Vizela, “um homem do mundo e grande viajante”, quis remodelar a sua propriedade no Porto para vir aqui morar, visitou em Paris a Exposição Internacional de Artes Decorativas e foi seduzido pelo mobiliário de Ruhlmann a quem encomendou peças sofisticadas, elegantes e modernas para decorar a casa projectada por Marques da Silva.
O interessante é que se desenvolveu uma relação intensa entre os dois. O proprietário dirigiu e controlou as obras até ao mais pequeno detalhe, encomendou aos melhores artistas e mandou construir uma nova casa e os jardins que a circundam com grande entusiasmo e saber. Pode afirmar-se que Marques da Silva foi o seu intérprete e “coordenador de todas as opções” da construção.
Toda esta extraordinária obra artística foi alguns anos depois vendida ao industrial Delfim Ferreira, conde de Riba d'Ave e a ele, mais tarde, adquirida pelo Estado português. Com muitos apoios e ajudas de empresas particulares faz, no presente, as nossas delícias de portuenses sempre queixosos de falta de espaços atraentes, convidativos para meditar na oportunidade de iniciativas desafiantes como a do Conde de Vizela.
Enfim para compreender a sua “certa maneira de estar no mundo” e, do mesmo modo, o que pode ser chamado “o espírito do lugar”.
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por Zilda Cardoso, em 16.07.09
Talvez o musgo verde misturado com sal que borda as minúsculas lagoas sobre as rochas antigas esteja mais espesso; talvez haja mais sal noutras que já secaram e sobejou o sal, talvez as cores das metamórficas se tenham alterado ligeiramente. Ou seja erro meu.
Estou quase em cima do mar que se afadiga formando ondas de espuma rendada, é contra as rochas que ele está, não com raiva mas com bom humor. Acarinha aquelas mais pequenas, acho que as convida para uma brincadeira.
A minha roda é tão linda, mata a tira lira lira… a minha mais linda é, mata a tira lira lira.
Dai-me uma menina (ou uma rochinha), mata a tira lira lira… qual escolheis vós?
Estão tão pregadas no solo que não se dão por nada. E é o mar que acaba por se retirar, talvez amanhã…
Passeio sobre as rochas acastanhadas que simulam torres de castelos medievais, passo à praia formada de conchas estilhaçadas e brilhantes e de areia vermelha. Há um pássaro redondo e verde, minúsculo, que desaparece mal me vê e pessoas que caminham tranquilamente ou com pressa ou correm como se não houvesse tempo, como se não tivessem tempo, como se o tempo não fosse um bem a desperdiçar!
Por que haviam umas de ter tempo e outras não? Aquelas supostamente correm porque têm de.
Não compreendo que inventássemos coisas que têm de ser feitas, que têm que ser pensadas, que têm de ser ditas, e infernizemos a nossa vida porque essas coisas são árduas; no entanto, ninguém nos deu ordem de fazê-las, ninguém com autoridade. Não encontro quem tenha o direito de mandar coisa alguma. Somos na realidade seres solitários e teremos de resolver, nesse estado, os nossos problemas universais. É a única coisa que teremos de.
Se quiser, fico aqui eternamente e ninguém me pode impedir. Sofro e gozo as consequências, mas ninguém me vai dizer que não é aqui o meu lugar, que este mundo não me pertence e que tenho de… tenho de... e depressa, depressa.
Não quero mais ter de. Estou farta de ser enganada, compreendo que tudo é ficção.
Aqui em frente do mar, nesta manhã radiosa, digo a toda a gente que nunca mais tenho de.
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por Zilda Cardoso, em 15.07.09

Cristóvão Aires, general e historiador que viveu entre 1853 e 1930, escreveu um livro de poesia intitulado Cinzas ao Vento onde se pode ler um poema que muito aprecio e que foi inspirado num outro romântico e por demais conhecido de Almeida Garrett As Minhas Asas.
Há muitos anos, adoptei como programa de vida uma quadra desse poema, não quero dizer que o tenha cumprido. Mas tive essa intenção e, por isso, para não esquecer, escrevi esses quatro versos num papel branco que colei no vidro da minha estante, onde forçosamente o veria todos os dias. Tal como agora acontece com o pequeno cartaz oferecido pelo Pedro - cultivez les pensées positives - com 12 amores-perfeitos reproduzidos a cores, todos diferentes, todos igualmente belos.
A folha branca, que encontrei há dias misturada com outros papéis a necessitarem de arrumação, já não é branca, está amarelada e os versos nele escritos... um pouco esquecidos.
Quero reavivá-los e partilhar.
NAS MINHAS ASAS NEVADAS
QUE UM RAIO DE SOL DOUROU,
FUJO DE QUANTO É MESQUINHO
OU A VIDA AMESQUINHOU.
Voltarei a escrevê-los numa folha imaculada e a colocá-los no vidro da estante na minha frente ao lado dos amores perfeitos e dos pensamentos positivos.
Espero, nesse voo tranquilo, sentir-me subir, subir… como acontecia com o Poeta.

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por Zilda Cardoso, em 14.07.09
Maria do Céu Figueiredo escreveu um poema algo ingénuo e muito sofrido que eu li e prometi divulgar. Foi há muito tempo, há dois anos… há mais… exactamente quando os arquitectos Siza Vieira e Souto de Moura acabaram o arranjo da Avenida mais importante do Porto – a sua sala de visitas.
Quase toda a gente, incluo-me nesse número, ficou muito magoada e penso que ainda nos não recompusemos do abalo. De forma que não é despropositado reproduzir hoje as palavras da poetisa portuense.
Bela avenida do Porto! /Onde estás? E os teus encantos? /Os relvados onde tantos/- Aves, pessoas, crianças -/Com deleite e com conforto/Saltitavam, descansavam/Ou brincavam de alegria/ Quer de noite, quer de dia? / Ou em noite de folia/- A noite de S. João -/Dormiam até ser dia/Na tua relva macia, /Felizes de coração? /Onde estás, que não te vejo? /Mas sabes que o meu desejo/ Era ver-te e admirar-te
Ou talvez não, para quê? /Para quê, verde relvado/Para quê tão verde prado/Que enchia os olhos de cor? /Para quê tanta flor?
Agora… pedra sem cor, /Sem perfume ou macieza! /Onde está sua beleza? /Se nos quisermos sentar/Ou deitar para descansar/ Temos pedra, pedra, sim! /E os banquinhos do jardim/São hoje cadeiras, só! /Cadeiras que metem dó!
E a continuar assim/As almas dos “Aliados”/Aliadas à beleza/Da menina de olhos de água/Virão chorar sua mágoa! /E os olhos da menina, /De humidade toldados, / Continuarão a chorar/Lá do alto, a recordar/Os verdes dos tempos idos/ E toda a policromia/Que esta avenida exibia/E jamais serão esquecidos! /Chora, de olhos magoados, /Menina dos Aliados!
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por Zilda Cardoso, em 14.07.09

Os movimentos nacionalistas que surgiram nos finais do século XIX no Reino da Hungria, não apenas dos magiares mas das outras nacionalidades, levaram a uma difícil fase de reformas. Dado que a percentagem de magiares em 1850 era de 45% da população total (resultado tendencioso ou não, de qualquer modo variável conforme a região sendo que, na Transilvânia, a grande maioria da população era romena), alguns dos seus pedidos de mudanças foram ouvidos.
Por exemplo, a língua oficial do País. Era o latim. Passou a ser o húngaro magiar. Não sem protestos das outras nacionalidades, cada uma a querer valorizar a sua língua/mãe, como é natural, e os princípios e as conveniências da sua etnia.
Os outros eram muitos e diversos – eslovacos, alemães, romenos, sérvios e croatas, ucranianos, judeus, ciganos… Como fazer cada um ver para além do seu pequeno campo de visão?
Eram inevitáveis os conflitos de nacionalidades. Não houve um político sensato e forte a tentar conciliar interesses. Obama teria dito: temos que agir de acordo com o que vemos e ouvimos neste momento, com o que sentimos independentemente da nossa religião e origem étnica. Devemos recorrer a algum princípio que seja acessível a todos, um princípio com valor universal. E superar os preconceitos e usar o senso comum - base de toda a jurisprudência.
Os magiares não podiam expulsar do território comum as populações de outras origens. Havia que usar habilidades de persuasor, habilidades políticas, e negociar. Isso envolvia compromissos e, sobretudo, havia que definir objectivos comuns - base de quaisquer acções políticas. Não havia escolha.
Como os Habsburgos não quiseram entender desse modo nem tão pouco o chanceler austríaco Metternich (Tinha sido pedida a autonomia da Hungria dentro do Império Habsburgo e a princípio concedida, mas Francisco José, resolvido o seu problema da revolta de Viena, recusou o pedido), houve uma guerra civil, os magiares lutaram não apenas contra o exército austríaco mas também contra os das outras nacionalidades que não aceitavam a sua supremacia.
Foi a célebre revolução iniciada em 1848 entre nacionalidades, um conflito sem fim que inclui as lutas entre liberais e absolutistas, e continuada nos anos seguintes contra o governo imperial. Este foi derrotado e declarada a independência da Hungria. Então o imperador apelou para a Rússia que invadiu o País.
E foi o caos da guerra, é o caos de qualquer guerra.
Não foi possível à Hungria resistir. O arquiduque Alberto de Habsburgo foi nomeado governador do Reino. Porém, havia uma “resistência passiva”, uma hostilidade permanente e um “nacionalismo romântico” muito próprio destas situações.
Então em 1867 foi celebrado um compromisso entre a Áustria e a Hungria e o Império Habsburgo foi transformado na Monarquia Dual da Áustria-Hungria, chamado também Império Austro-húngaro, com governos separados e o mesmo imperador, com política externa comum e economia e forças armadas administradas pela Áustria.
Até que em 1918, terminada a 1ª guerra mundial, a monarquia austro-húngara ruiu.
(informações colhidas na Internet e no livro Mil Ans d'Histoire Hongroise)
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por Zilda Cardoso, em 11.07.09

Entre 3 e 5 de Julho, tivemos no Porto uma competição de carros modernos de turismo, provas de velocidade e outras que não sei referir. Foi a 5ª edição do Campeonato Mundial que no ano passado se realizou no Estoril, em 2007 no Porto, nos anos anteriores em diversos países europeus e também na Turquia, no México e em Macau.
Três dias diferentes de ruído e confusão nas zonas da Boavista e da Foz, mas que toda a gente aceitou com compreensão, paciência, boa vontade e interesse.
A prova disto tudo pode estar nestas imagens em que vários grupos tentaram e conseguiram ver sem pagar bilhete. Improvisaram bancadas de primeira, instalaram-se com armas e bagagens, e prestaram-se a viver perigosamente mas com humor as correspondentes horas de emoção.
Fotos de Jorge Cardoso
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por Zilda Cardoso, em 09.07.09

Recebo mensalmente desde há anos uma revista muito caseira que aprecio ler porque contém informações úteis sobre os temas saúde e lar. Sobretudo conselhos de saúde leio com atenção porque os considero correctos e proveitosos.
Este mês, fala-nos de como activar o cérebro.
É sempre interessante saber de um órgão responsável pela inteligência, pela criatividade, pela memória. Que nos dizem funcionar melhor quanto mais utilizado. O próprio funcionamento é complexo: ele fá-lo a partir de informações que recebe e interpreta dos órgãos sensoriais estimulados, transformadas em descargas eléctricas e transmitidas aos neurónios, "de neurónio em neurónio", para as memórias que constituem o cérebro. Aí são arquivadas.
Quanto mais rapidamente essas informações forem usadas, cruzadas entre si, quero dizer, as informações de uns arquivos cruzadas com informações de outros arquivos, mais inteligente se é. E melhores e mais rápidas decisões se tomam.
Para obter tudo isto em tempo útil, é necessário que o cérebro seja constantemente exercitado por ginástica apropriada. Exercícios físicos, mudanças de rotina como - aprender um novo idioma, viajar, ler, estudar, escrever com a mão esquerda, tomar banho às escuras, aprender música ou qualquer arte são apenas sugestões que aparecem no artigo a que me tenho estado a referir. .
Desafio os meus amigos a descobrirem novas e interessantes actividades com aquelas características e que possam também dar prazer. E que nos falem sobre as suas descobertas.
Sem dúvida que se vive melhor conservando a memória e desenvolvendo a criatividade e a capacidade de aprendizagem.
E concordo com o conselho de nos afastarmos do televisor por largas horas, sobretudo se tivermos o hábito de ver programas de baixa qualidade. Aceito que evitemos ingerir drogas de qualquer tipo que não sejam absolutamente necessárias, e que nos conservemos activos física e mentalmente.
(ler artigo de Neusa Pinheiro na revista Saude & Lar de Julho 2009)
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