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ETERNO PRESENTE

por Zilda Cardoso, em 28.06.09

 

 

 

O gesto de me levantar com o Sol da manhã e ficar por um tempo num espaço aberto, aparentemente observando a natureza, tem muito a ver com o meu gosto e esforço de nascer de novo cada dia num mundo novo.
Será estranho? O Tempo recomeça nesse momento e eu sinto-me próxima da realidade primordial. As minhas forças vitais estão no máximo da sua potência exactamente como quando nasci e o mundo nasceu comigo. É um regresso ao entusiasmo, ao alvoroço e à clareza de que me vou afastar gradualmente durante o dia. Mas não posso evitá-lo: é a vida, dirão. 
Para mim, há o modelo da criação, a cosmogonia, “suprema manifestação divina”, a história ou o mito que explica a criação do Mundo e que me foi contado pelos meus antepassados e a estes pelos seus antepassados míticos, in illo tempore. Sei que é assim porque sempre foi assim.
É o que apeteço recordar cada manhã, sozinha ou com aqueles que querem acompanhar-me. Já que não tenciono esquecer esse modelo de perfeição e de pureza, reajusto-me a ele, aproximo e comparo a minha vida actual dessa vida exemplar, tento corrigir os desvios.
 
 Pratico os gestos rituais apropriados, faço desse modo a FESTA que actualiza para mim o tempo original - sempre igual, sempre perfeito, eterno presente. Nesses momentos, sinto-me viver na presença do divino, do sagrado, em comunhão com ele no tempo e no espaço, mas ali mesmo simbolicamente perto do Centro: só podem ser momentos felizes, de solenidade e de alegria.
Seja o que for que aconteça depois…
Por isso, é importante regressar periodicamente à festa: ao tempo e ao lugar da festa.
(ler Mircea Eliade)

 

 

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publicado às 12:58

QUE FESTA?

por Zilda Cardoso, em 26.06.09

 

 Paris é uma festa é um título de Hemingway em que conta impressões da sua vida nessa cidade nos anos 20 do século XX.

Paris sempre foi uma festa para mim.
De maneira geral, ia na Primavera, lá vão muitos anos, e percorria a pé as ruas e as avenidas minhas conhecidas e preferidas. Detinha-me um pouco nos jardins, admirando a luz por entre os arbustos, observava a água das fontes e dos tanques, atravessava as pontes num sentido e no outro, passava os cais... Caminhava durante horas, até não poder mais de cansaço, mas estava sempre feliz.
Acho que conhecia cada árvore de certas avenidas, era principalmente o encontro periódico com elas o que festejava. Notava as diferenças e fixava a cor, para comparação, das jovens folhas verde-claro, transparentes, frágeis, recém-nascidas. Tinham um perfume suave, novo,  que me encantava.
E era um encontro afortunado com pessoas interessantes e comunicativas e com acontecimentos e lugares de acaso ou procurados como as exposições de arte e os concertos, as bibliotecas e os museus, como se tudo fosse diferente de cada vez. E era diferente.
A festa nesses anos era Paris. Provavelmente não tanto para mim como para Hemingway que levava uma vida solta nesse seu  princípio de carreira prometedora, confiante  no valor da aprendizagem e da formação que adquiria na cidade cosmopolita em encontros com outros escritores e artistas. O seu talento para a criação literária só podia ser favorecido pela vida rebelde que descreve depois com naturalidade e sem grandes ilusões.
Lembrei-me do grande escritor, do seu e meu amor por Paris e da sua ideia da cidade como festa móvel, depois de ter visto a referência de Laurinda Alves a Nassim Taleb que aconselha a não ouvir notícias mas a ir a festas, o que no momento se compreende e é muito apropriado: tudo o que necessitamos é de gente criativa desejosa de desenvolver o seu talento.            

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publicado às 17:09

Depois do S. João...

por Zilda Cardoso, em 24.06.09

 

Afinal não fui à Festa.
Ignorarei para sempre se esteve mais ou menos animada que nos outros anos, se os foguetes do Porto foram menos espectaculares que os de Gaia ou o inverso, se houve bailes nas ruas e cascatas, se os manjericos eram mais ou menos perfumados e se os molhos de cidreira se vendiam pela quantia  habitual... Continuará o alho a deixar o seu cheiro nas cabeças que só se lavam no dia seguinte? Serão os martelos maiores e mais duros?
Sobre o tema, fiquei sem o saber de experiência feito.
Vi da minha varanda passarem pessoas sanjoaninas a caminho de Matosinhos pelas 8 da manhã com ar tão cansado e lento como o dos autocarros que seguiam na mesma direcção. As barracas dos hambúrgueres e as das farturas na avenida marginal fecharam a essa hora e foram-se, deixando o chão engordurado.  
A manhã está sem graça, cinzenta e fresca. É bom, depois do excessivo calor do sol dos últimos dias e da festa que termina. A cidade terá voltado ao seu ar sombrio, húmido e granítico, a uma certa frieza e sombra própria do Norte Europeu que se reflecte nos cidadãos. (Não devo dizer frieza e sombra mas contenção).
Contenção, brio e gosto por simplicidade e "naiveté" é o que leva os portuenses a afastarem-se do centro do poder, para seu bem, do bulício e da manha política para ficarem apenas com a manha saloia que é outra coisa e lhes serve perfeitamente.
E nos serve perfeitamente… Contudo, posso jurar que nunca a uso, fica sempre de lado, como última hipótese.
Para além da festa de São João, admiro o velho burgo medieval, a dimensão da cidade, o mar tão próximo, o rio que é tão azul como o Danúbio que nada tem de azul, o Parque, a casa da Música e a de Serralves, os outros espaços para acontecimentos culturais, e a abertura que ainda há para os que nos visitam com boas intenções (Infelizmente, temos sido muito visitados nos últimos tempos por gente indesejável que acabou com a sensação de segurança que sempre tivemos nas ruas e nas casas).
 
É uma cidade muito fotogénica, pelo que se vê nas fotografias da A. De Lima em exposição na Vantag, tem bom ambiente, um certo sossego fora desta madrugada única, um colorido sofisticado, e um ligeiro perfume que pode não ser o da sardinha assada - nem todos o saboreiam de boa mente. E há por aí palavras que não se dizem em nenhum outro lugar (como molete, estrugido, morcão, trengo e rebutalho. Sei muitas outras, mas só a pedido).

 

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publicado às 11:31

A cidade das sete pontes

por Zilda Cardoso, em 23.06.09

 

 

Em tempos, esta cidade era chamada a Aldeia da Ponte Nova por quem queria troçar carinhosamente da ruralidade tripeira.
No presente, além dessa da Arrábida e das três do século XIX, temos outras três, moderníssimas, elegantes, funcionais e muito bem desenhadas, algumas por engenheiros portuenses.
Podemos ser a Cidade das Sete Pontes, não é giro? Embora de uma delas haja apenas uns restos (a ponte pênsil), dá um ar de avançada civilização dizer que moramos na cidade do mundo possuidora de mais pontes, logo de mais avançada civilização.
Orgulho-me da cidade e das pontes que têm inúmeras significações e utilizações: não nos isolam do mundo nem sequer dos vizinhos, mas ligam-nos a todos. E nós é que estabelecemos os elos, já viram?
Afirmam que o mais importante no nosso tempo é a comunicação. Por isso, quando as comunicações em geral se começaram a desenvolver… surgiram no Porto os grandes projectos de pontes.
Pontes que interligam pontos e problemas desligados e de outro modo não acessíveis. Contudo, para nós portuenses, tornou-se fácil comunicar agora que temos muitas ligações sobre o rio-azul-e-de-ouro que nos separava dos outros. Pontes/ligações para sete temas possíveis de comunicação.
Têm que concordar que é bom.
Como é excelente a Festa de S. João - afinal, a oitava ponte do Porto: de fácil, alegre e ruidosa, civilizada comunicação.

Amanhã conto como foi.

 

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publicado às 22:19

Que faço com os castanheiros?

por Zilda Cardoso, em 22.06.09

 

 

 

Os castanheiros estão a sufocar-me.

Olho em meu redor e só vislumbro essas árvores de verde-escuro, com flores excêntricas, algumas cheias de minúsculos ouriços, bem protegidos por armaduras picantes. É um exército bem ordenado e pronto para avançar.

Não penso muito nisto.

O que me perturba é que estão a impedir-me de ver para o longe onde presumo que ainda haja aldeias pequeninas subindo a montanha, e capelinhas no alto  (daqui a pouco, ainda este mês, terão as festas anuais), e bosques e clareiras - o que sempre vi da minha janela.

 

 

Das montanhas, que sei formadas por múltiplos pequenos montes e montinhos de curvas e bicos ou picos de muito diversas formas e materiais, recortadas segundo um desenho e um projecto que desconheço, apenas consigo ver o traço final riscado no céu.  

Se não fosse este pedaço de relvado na minha frente e à direita e à esquerda, e o terreiro por trás de mim, no rosto da casa, não veria mais nada senão a beleza inadmissível dos castanheiros próximos.

O que na verdade, limita muito os meus horizontes.

 

 

É certo que os melros surgem e saltitam todo o tempo por aí, procuram alimento e divertem-se, exemplificam... E as flores brancas, amarelas e as azuis dão um ar quase festivo a… Ontem também o pica-pau às riscas brancas e castanhas e quase pretas pulava rente ao chão.

 

 

 

 
 
Todos os dias, os pardais cruzam os ares desde manhã, não emudecem nunca... gostava de saber se a vida lhes corre bem e por que razão… ou se protestam contra tudo… ou se cantam estilo opereta as belezas locais para lá do que acontece.
 

 

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publicado às 19:28

OS MEUS AMORES

por Zilda Cardoso, em 19.06.09

 

  

Esta é a Quinta ontem, ao pôr do sol.

 

 

 

 

 

E este é o mesmo lugar esta manhã.

 

 

  

 

 

Percebe-se que é o canteiro das aromáticas? Tem ervas cheirosas para infusões e para condimentos. É uma beleza, nesta altura do ano.

 

 

 

E estes são os amores, perfeitos, pequeninos, os meus amores, lindos, carinhosos, de cores e combinações de cores invulgares. Cheios de características que lhe dão a classificação de alta qualidade.

Adoro-os e tenciono estimulá-los para que se multipliquem e sorriam para todos, não apenas para mim.

 

 

 

 

 

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publicado às 17:13

Hungria exemplar: agora somos todos europeus

por Zilda Cardoso, em 15.06.09

(Uma memória)

Há dias, estávamos na Hungria com o exército totalmente destroçado.

A Casa de Habsburgo, por virtude de acordos e casamentos, recebeu a coroa da Hungria em 1526 e manteve-a até ao final da 2ª Grande Guerra. Mas o sul do país tinha sido conquistado pelos turcos que continuaram até 1556 a sua expansão para norte.  

Quando tomaram a capital, a Hungria ficou dividido em três:

1º- a Hungria Real constituída pelas actuais Eslováquia, Transdanúbia Ocidental, Burgenland, Croácia Ocidental e parte do Nordeste Húngaro que passou a ser uma fracção do Império de Habsburgo;

2º - a Transilvânia que ficou independente, um principado, mas vassala dos turcos;

3º - o Centro da Hungria, o que é hoje a República da Hungria, com a capital Buda, que permaneceu província do Império Otomano.

Surgiu uma questão muito importante: o território húngaro tornou-se lugar de múltiplas religiões. De resto, nunca houve apenas um culto religioso. A Transilvânia tornou-se calvinista, o fragmento pertencente aos Habsburgos era cristão e contra-reformista, havia muitos judeus nas cidades e no território ocupado pelos otomanos instalaram-se numerosos muçulmanos.

Porém, entre 1686 e 1699, forças cristãs chefiadas pela Áustria reconquistaram a Hungria para os cristãos, de modo que em 1716 não havia turcos no reino da Hungria.

Bratislava, presentemente na Eslováquia, tinha-se tornado a capital do que restou do reino durante a ocupação turca e depois até 1784 foi o lugar da coroação dos reis húngaros e sede da Dieta Húngara. Entretanto houve rebeliões contra os Habsburgos e contra os católicos, a última organizada por Francisco II, escolhido pelo povo como futuro rei da Hungria independente. A revolta foi esmagada e muitos castelos demolidos pelos austríacos.

O século XVIII foi de reconstrução e as áreas devastadas foram repovoadas com imigrantes da Áustria e da Alemanha, das actuais Eslováquia e Roménia e da Sérvia.

Acho que a Hungria foi permanentemente retalhada e reconstruída, reconstruída e retalhada e os territórios jogados, sucessivamente ganhos por uns e por outros, perdidos por alguns e por todos, como se os territórios não fossem habitados por povos, por pessoas, mas por dados. Ou por pedaços de papel lustroso, como nos mapas, com formas estranhas e cores e recortes e relevos que os tornam atraentes e desejados. Ou como se uma pessoa que hoje é húngara e amanhã é alemã, e depois é checa ou romena, volta a ser húngara ou croata e depois turca… pudesse viver bem com isso, alegremente, como se nada se passasse e pudesse não sofrer as deploráveis consequências.

Estamos no presente no bom caminho - somos todos europeus e amigos, os europeus, povos sem fronteiras e com interesses comuns, mesmo que com culturas e línguas diferentes, e circunstâncias e histórias de vida e educação distintas. Não vamos nunca mais guerrear-nos.

Assim nós queiramos.

(Informações sobre a história da Hungria colhidas na Internet e na obra Mil Ans d’Histoire Hongroise, editada por István Tóth)

 

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publicado às 18:05

FALANDO DE MÚSICA...

por Zilda Cardoso, em 13.06.09

O interessantíssimo artigo que Cidália Carvalho escreveu no blogue http://milrazões.blogs.sapo.pt

sobre “o que a música tem para nos dizer”, fez-me reflectir sobre o que é a música, como surgiu, qual a importância que tem na nossa vida…

Gosto de começar pelo princípio: pus-me a escutar os sons da natureza e depois fui ouvir os meus autores preferidos de música dita clássica mesmo contemporânea e os de música ligeira.

Na Natureza, há sons e há silêncios, não chamaria a isso… música.

Investiguei na Internet e nos dicionários.

Música será a combinação organizada no tempo de sons e de silêncios em sequências sucessivas e/ou simultâneas. Nos sons, consideramos a altura, a duração, a intensidade, o timbre. A organização no tempo implica harmonia, ritmo, melodia.

A altura do som, a duração dele e a sua intensidade são conceitos conhecidos e fáceis de entender; a ideia de timbre é mais complexa já que é a “qualidade que distingue um som do outro da mesma altura e intensidade emitido por instrumentos diferentes.”

Se, em determinado trecho musical, a combinação dos sons simultâneos é agradável ao ouvido, digo que há harmonia nele; se há uma “sequência regular dos valores e tempos fortes e tempos fracos” há ritmo; e se há melodia, isso quer dizer que há um conjunto de sons agradáveis ao ouvido ou que há uma “sucessão rítmica de sons a diferentes intervalos em que a força vital provém da acentuação determinada pelo ritmo.”

Parece fácil! Há que ouvir muito, não apenas deixar que a música deslize e nos deixe aquele efeito apaziguador ou excitante que esperamos, mas estar atento.

Cada cultura, cada época tem a sua música, o seu estilo. A música erudita convida à contemplação e ao silêncio, a outra mais popular que pode estar ligada ao mito e à magia, à religião, ao folclore convoca a participação dos ouvintes que dançam e cantam em coro.

A música popular dos nossos dias mostra com grande vivacidade e agressividade sentimentos muito fortes de protesto, de raiva, de ódio, de inconformismo, de violência… é uma linguagem, mais do que manifestação estética, que tem a intenção de transmitir mensagens com valor afectivo e emocional.

Eu recordo os Beatles, a sua música, e sei que é uma música de conciliação, pelo menos, a que eu aprecio ouvir. É por ela que me sinto atraída e é com ela que me emociono.

Hoje, ouço Yellow Submarine e imagino-me with all my friends aboard, many more of them living next door and the band begins to play...When I find myself in times of trouble, mother Mary comes to me speaking words of wisdom Let it be, let it be, when the broken-hearted people living in the world agree there will be an answser Let it be... E escuto Yesterday love was such an easy game to play, now I need a place to hide away, I believe in yesterday quando all my troubles seemed so far away, now it looks as though they’re here to stay, I long for yesterday …. E as lágrimas correm…

A música é parte da nossa vida.

 

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publicado às 17:25

SOFIA e os meninos da Casa da Criança

por Zilda Cardoso, em 12.06.09

 

 

 

Sofia recebeu, há poucos meses, um e.mail da Casa da Criança, de Tires. Supostamente escrita pelas crianças acolhidas na Instituição, a mensagem era bem concebida e apelativa - ela dispôs-se a responder ao pedido de ajuda.
Contactou a Casa, visitou-a e foi lá fazer a sua proposta de colaboração. Foi aceite.
Na mensagem que tinha recebido, inseria-se uma longa lista do que os meninos precisavam e que ia de um projecto de remodelação da Casa a aparelhos eléctricos, a roupas, a alimentos e a “muitos amigos”.
Sofia queria ajudar como voluntária e propôs uma forma interessante de brincar com as crianças - ensinando e divertindo, alegrando-as. Começou a trabalhar - foi amor à primeira vista.
As crianças, filhas de mulheres reclusas num estabelecimento prisional, adoram-na, especialmente uma a quem já dedica o maior afecto. Fez rapidamente com elas uma relação excelente e a 6ªfeira, dia da sua visita, passou a ser o mais feliz da sua semana.

Sofia Freudenthal, que foi modelo fotográfico e de moda, é decoradora, pintora, psicóloga, comerciante e mãe. É sobretudo MÃE.  Pertence àquele grupo de que lhes falei, de mulheres que souberam encontrar o seu caminho, mesmo que ao fim de alguns anos.

Agora que a sua filhota (a minha neta Alice) está a estudar fora do País, ela arranjou uma ocupação como voluntária na Casa da Criança, em Tires, para superar saudades e preencher um espaço que nunca será preenchido.

Fui conversar com ela ao centro comercial onde tem a sua loja Rituals e fiz um pequeno e incipiente vídeo com um ruído de fundo implacável que impossibilita uma boa escuta das suas palavras.

Porém, ela não tinha outro tempo disponível senão a pequena hora do almoço e eu devia experimentar, se bem que o resultado tivesse poucas possibilidades de sair aceitável.

Não saiu aceitável, por isso, tentei reproduzir, em palavras minhas, o que a Sofia me disse. 

 

 

 

 

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publicado às 13:52

Demorei alguns anos...

por Zilda Cardoso, em 10.06.09

 

Demorei anos a descobrir o que queria fazer, o que me daria satisfação fazer. Tirei um curso superior de Comunicação Empresarial e durante algum tempo trabalhei em Lisboa nessa área. Quando o meu marido foi colocado em África, fui com ele, fiquei em Maputo e trabalhei como directora de marketing na Ford e na Mitsubishi.
Mas... eram muitos os quilómetros de distância entre nós, raramente nos víamos; decidi deixar aquelas empresas e ir para o norte, para junto dele, arriscando pelo menos a minha carreira profissional.
Entretanto, tinha reparado na beleza do tecido africano, a capulana, nos desenhos, nas cores exuberantes e na forma como as mulheres o utilizavam. Era muito mais do que pano para usar em todas as ocasiões e para os mais diversos fins: vestiam-no para a igreja quotidianamente tanto como para ocasiões solenes. E para transportar os filhos, para se abrigarem... Eram míticos. Vinham de muito longe no tempo e continuavam a ser fundamentais na vida dessas mulheres admiráveis: criados por elas, eram a sua riqueza.
Então tive a ideia de desenhar vestidos e outras peças que deveriam ser confeccionados a partir desse produto local e trabalhados por alfaiates da região onde me encontrava – uma das mais pobres de Moçambique. O meu acreditar nas suas aptidões e na oportunidade (que me foi oferecida ou que eu colhi) de realizar com eles um trabalho interessante e útil para a comunidade - é a minha concepção de solidariedade. 
Investiguei, analisei e comecei a trabalhar. Criei a minha empresa que tem vindo a desenvolver-se e hoje emprego, entre outras pessoas, sete alfaiates que sabem trabalhar artesanalmente e se realizam e se orgulham do trabalho que fazem.
Vendemos em Moçambique, e também aqui em Portugal, para retalhistas peças únicas desenhadas a pensar no que valorizará a mulher moderna com as suas características de independência e de ambição. É a mulher que sabe o que quer, confia em si própria e conta com o apoio da família. Aprecia ser respeitada e destacar-se não apenas pelas suas qualidades mas pela forma como se apresenta.
A comercialização começou com um blogue onde explicava o que estava a fazer, mostrava a colecção, recebia a informação da escolha e as medidas da cliente, executava e enviava.
Estou muito feliz com o sucesso do empreendimento que satisfaz muito mais do que um proveito pessoal: é sobretudo um aproveitamento de capacidades e de potencialidades de uma região onde visivelmente se estavam a perder. Compreenda: eu podia mandar confeccionar na Índia, ficaria muito mais barato, mas perdia-se completamente o conceito.
Candidatei-me a um prémio nacional de empreendedorismo, o Start; por essa razão, estou em Lisboa, e para entrevistas e acções de divulgação. No momento, sinto-me responsável por um grupo de pessoas que dependem da qualidade do meu trabalho tanto quanto eu dependo da qualidade do delas.
Na próxima semana, volto para Tete, no Cuamba.
(Palavras que ouvi de Carla Pinto,  convido-os a visitarem o site da sua empresa: www.ideiasametro.net )

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publicado às 11:58

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