“Avó, vi um pica-pau no relvado!" anunciou a Mini com grande entusiasmo.
Como sabes que era um pica-pau ?
"Sei porque tinha um bico à frente outro atrás."
Pois! Então era... - respondi admirando a qualidade da percepção da miúda.
Fiquei a pensar no pica-pau e como apreciaria ver alguns por ali. Só os conhecia da banda desenhada em que eram apresentados nas mais intrincadas aventuras; como pássaros irreverentes com uma boa dose de loucura, soltavam risadas que ficaram célebres. Todos recordam de certo o show da televisão em que o Woody woodpecker desenhado por Walter Lantz era a estrela. Foi um programa de grande sucesso durante anos e não sei se ainda é apresentado. Alguns filmes foram nomeados para o Oscar e o Woody tem a sua estrela no passeio da fama como qualquer outra celebridade.
Depois daquela conversa, fui dar um passeio solitário e encontrei o pica-pau da Mini! Picava desesperadamente no chão, usando a cabeça como um martelo de dois bicos. Tinha um belo corpo acastanhado e quando abriu as asas e se foi, admirei as riscas brancas sobre diversos tons de castanho e bege.
Desejei que ficasse por ali. E, de súbito, a meio do meu sonho, apareceu outro pica-pau igual ao primeiro, em manobras semelhantes. Pensei que podiam ser macho e fêmea e quererem fazer um ninho, terem os seus filhotes, montes de pica-paus a rirem e a fazerem a sua música de jazz, com o coaxar das rãs como fundo.
A menos que, na sua louca actividade, deixassem o relvado e picassem os troncos das árvores que ali foram amorosamente plantadas, e dessem cabo delas. Fui investigar.
Sei agora que há muitos mitos e crenças ligados ao seu comportamento que não se assemelha ao de nenhum outro pássaro.
A sua actividade frenética destina-se a localizar e eliminar os insectos que atacam as árvores, evitando que se espalhem como praga. Podem bater no tronco cem vezes por minuto: os músculos do pescoço são fortes, o crânio espesso e os ossos entre o bico e cabeça estão ligados por tecidos elásticos que amortecem os choques.
Conhecida é a sua inteligência, sobretudo pela forma como constroem o ninho, cavado nas árvores, ao abrigo do vento e da chuva. Mas como também absorvem a seiva que pode estar fermentada, ficam bêbados e tropeçam contra as árvores, soltando a famosa gargalhada.
Parecem travessos e malandros e, também por isso, eu e a Mini gostaríamos de os ter no nosso quintal.