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Se o meu pensamento é provocante, a minha fala deverá do mesmo modo sê-lo.
Escolhi o meu papel, é esse: faço perguntas. Provoco. Procuro fazer as certas para o momento. Há quem não compreenda e não aceite; para mim é o mais importante. Porque respostas... tenho a certeza de que mais tarde ou mais cedo alguém vai dá-las. Porém, é imprescindível que outro alguém, muitos outros alguéns, façam as perguntas. E prefiram beber a cicuta a deixar de filosofar. Junto-me ao grupo.
Interroguei muito nestes últimos dias aqui no blogue, provoquei. Assim.
Num regime democrático, os conflitos são discutidos numa linguagem simultaneamente consensual e conflitual, porque é necessário debater os problemas com os que têm opiniões diferentes e mesmo contrárias.
Essa linguagem foi concebida para impugnar argumentos com argumentos e chegar a um consenso que permita ultrapassar a dificuldade, contribuindo para uma decisão comum satisfatória.
A linguagem política não tem fundamento na verdade nem o objectivo de a atingir.
É retórica e não se sabe se resulta de uma “prova rigorosa” ou se de ”manipulação falaciosa.”
Mais ou menos isto, escrevi.
Disse que era necessário negociar para chegar a um consenso. Que não é necessariamente a verdade. Que não é quase nunca. Que é contestável.
E muito mais.
Mas depois de ler na 4ªfeira passada o artigo de Teresa de Sousa no Espaço Público do PÚBLICO, passei a outras interrogações.
É possível nos nossos dias e no nosso regime político usar uma fala que tenha fundamento na verdade?
Interessa-nos saber a verdade? Devemos procurá-la mesmo sem nos interessar? Mesmo não interessando a ninguém?
Com D’Artagnan resolviam-se os pleitos com a espada: quem a manobrasse melhor era detentor da verdade. Noutro tempo, quem caminhasse sem se queimar sobre brasas muito acesas era o inocente e justo.
Provavelmente a verdade nunca foi muito importante. De qualquer modo, alguém sabe ao certo o que isso é?
Melhor: Vá a Leiria!
Sábado | 18 de Abril | 16h00
ELEMENTOS
O TE-ATO tem o gosto de convidar V.ª Ex.ª para a sessão de lançamento do livro “Elementos”, poesia de Dina Cruz e Nuno Monteiro, editado pela Papiro Editora, que terá lugar na Sala Jaime Salazar Sampaio.
Contactos e mais informações: MARIA MANUEL ROCHA MARQUES (Directora) 914 660 772 JOÃO LÁZARO (Director Artístico) 962 904 385 teatroleiria@gmail.com | www.teatroleiria.com.sapo.pt
TE-ATO (Grupo-Teatro de Leiria)
Sala Jaime Salazar Sampaio
Rua Pedro Nunes (Transversal Arquivo Distrital / Terreiro)
O que será mais fácil? Ou mais interessante? Ou mais divertido? Ou mais conveniente?
Observo que há pessoas que passam a vida a representar, permanentemente no palco, gastando-se naquilo para que aparentemente não foram criadas.
Não sei, mas penso que todos foram criados para viver.
Os artistas da representação serão apenas uma classe cuja finalidade na vida é o teatro. É a sua profissão. Alguns representam tão bem que parecem estar a viver. São as vedetas, recebidos como heróis onde quer que vão. Nesses momentos, apresentam e representam as estrelas.
(Há dias, ao tentar mais uma vez ver um filme português dito de grande qualidade, reparei que os actores portugueses sabem bem representar, não sabem é viver nem mesmo como personagens de história escrita).
E há os outros, os que supostamente vivem. Que aplaudem esses. Que apreciam vê-los nos papéis que são convidados a representar. Podem colocar-lhes coroas de louros na cabeça ou tomá-los como modelos. E tê-los nos lugares públicos para serem permanentemente admirados.
Esses apenas nos bastidores terão uma vida. São momentos fugidios e sem interesse para eles. Para os que os visitam nos bastidores, é um privilégio. Porém, mesmo nesses momentos, nesses lugares, os actores representam, de modo que sobra-lhes muito pouco tempo para serem naturais.
Acho que escolheram, quem sabe, definitivamente. Talvez nem consigam sair disso se um dia quiserem passar para o outro lado, para a plateia. Embora haja um mundo de coisas culturais de que do mesmo modo se nutrem, já não vão conseguir agir como seres da natureza, alimentados também por ela.
Observando e reflectindo, dou-me conta de que há um número imenso de pessoas que gostam do palco. Mesmo não se apresentando como actores, representam tal como eles a maior parte do seu tempo de vida. Representam o papel que lhes agrada e como, apesar de tudo, há pequenas acções naturais que têm que ser realizadas, pequenos crimes a cometer, então, mandam os outros cometê-los, cometerem os seus crimes.
Não os aprecio nada, mas, provavelmente, devia. Com a evolução, todos os habitantes do globo democrático se transformarão em actores, não diria falhados, mas o contrário; estes são os que em verdade ganham as nomeações e os óscares.
Vejam só o cuidado com que temos que viver, no presente. A linguagem política que está prestes, se ainda não é, a ser a comum não se interessa pela verdade nem pela justiça. Há sempre um jogo e uma representação em qualquer negociação e a maioria vive disso, não só na política no sentido restrito, mas na política amplamente considerada. Mas há ainda os que vivem da e na natureza e apreciam outras coisas mais luminosas. Como o que é verdadeiro e natural.
Como vivem então os que supostamente vivem ou se julgam a viver naturalmente? Sentem-se muito mal nesta complicação de mundo tão cultural. De qualquer modo, têm que aprender a discernir, porque não tendo o treino indispensável para viajar no espaço, não podem bater com a porta e sair para outro mundo,
Segundo Paul Ricoeur, e é fácil concordar com ele, a primeira conquista das democracias ocidentais modernas foi a constituição de um espaço público de discussão. A segunda, foi a articulação possível entre consenso e conflito.
O espaço público de discussão supõe liberdade de expressão e, portanto, liberdade de publicar, o que atinge a imprensa, os livros e os meios de comunicação social. É nesse espaço que se defrontam diversas correntes de opinião em geral organizadas em partidos.
A democracia, diz aquele autor, não é um regime político sem conflitos, mas um regime onde os debates são abertos e negociáveis. E quanto mais complexa a sociedade, mais e mais graves são as pendências que surgem. O interessante é que se fala delas publicamente e, para as negociar, existem regras acerca das quais as partes em conflito terão chegado a acordo.
Os conflitos são discutidos numa linguagem simultaneamente consensual e conflitual, é necessário debatê-los com os adversários e contribuir para a formação duma decisão comum. De certo modo, a linguagem política aproxima-se da dos sofistas, e tal como ela, é frágil porque não tem fundamento na verdade nem como objectivo atingi-la. Foi concebida para impugnar argumentos com argumentos e chegar a um consenso que permita ultrapassar a disputa.
O problema só pode ser complicado.
A linguagem é retórica e situa-se na “zona vulnerável entre a prova rigorosa e a manipulação falaciosa”. Mais uma vez, temos que estar atentos e sermos cuidadosos na compreensão do que é próprio do discurso político. Para que funcione.
Para amenizar as conversas sobre política, engendrei hoje um tema a que não chamarei ligeiro: é simples e sério. Considero-o importante, porque se trata de valorizar plantas que foram abandonadas em resultado do desenvolvimento da agricultura, mas que têm um valor muito grande.
Essas plantas, que chegaremos a reconhecer se nos aplicarmos no seu estudo, são ricas em sais minerais, oligoelementos e vitaminas, porque nascem espontaneamente e crescem e se reproduzem sem adubos, sem pesticidas, sem irrigação. Tudo o que temos de fazer com elas e por elas é deixá-las em liberdade, não as pisar, colhê-las com delicadeza sem lhes quebrar os ramos e deixar-lhes tempo para se refazerem.
É tão simples!
Não há nada mais aprazível do que um campo onde as plantas silvestres cresceram à sua vontade, sem interferências agressivas dos humanos e das suas máquinas poderosas. Em geral, florescem em cores suaves que se harmonizam entre si, os volumes são leves e as formas complexas e de uma variedade extraordinária. A composição final é sempre esplendorosa, deslumbrante, radiosa (gostaria de novos adjectivos mais expressivos).
Porém, cuidado, tal como acontece com os cogumelos, as plantas mais atraentes são as mais tóxicas. Por isso, não colher se não houver a certeza de que não são as tais falaciosas.
Conheço bem muito poucas. Os agriões selvagens são agradáveis e frescos. Alguém me indicou as beldroegas que tenho colhido desde há anos e fico em pânico quando as não vejo aparecer cedo na Primavera. Que nunca vejo, senão mais tarde. Depois de bem lavadas e desinfectadas, preparo uma salada com gosto diferente de todas as que podemos compor a partir das folhas à venda no supermercado, e é sempre um sucesso. Também é possível fazer uma sopa saborosa e diferente e infusões e temperos muito agradáveis.
Vou experimentar as violetas perfumadas… que as vi há dias, roxas, no meu jardim e não sei se terei coragem para provar as papoilas, as malvas e os malmequeres silvestres. As chagas ou capucines dão um ar primaveril às nossas saladas e comem-se muito bem, flores e folhas. Ou aromatizam xaropes.
As avelãs são muito nutritivas, os mirtilos têm grandes virtudes medicinais, os morangos, que são muito perfumados, podem comer-se tal qual ou em compota.
Há um mundo novo a descobrir e, em termos poéticos, as plantas e os frutos silvestres são uma grande alegria, em termos económicos, podem ser uma ajuda.
Tenho relido ultimamente alguns textos sobre o fundamento do poder em democracia. Das ideias que colhi, exponho algumas que me parecem interessantes e úteis.
A democracia instituiu-se e mantém-se na dissolução das referências da certeza. Os homens experimentam uma indeterminação radical no que diz respeito ao fundamento do Poder, da Lei e do Saber e quanto ao fundamento da relação entre os detentores da autoridade e os que lhes devem obedecer.
A figura do Governante ou do Príncipe mediador entre Deus e os homens desapareceu. É assim que a democracia tem origem num lugar vazio. Como reconhecer um poder nessas condições? O que lhe dá legitimidade?
O poder é frágil, precário, incerto e, por isso, a tentação totalitária é frequente. O que nos dará certezas numa sociedade em que os fundamentos de ordem política e social caíram? O que é legítimo, que direito não está permanentemente suspenso...?
A democracia não é somente um conjunto de instituições, é antes de mais, uma luta contra o poder e contra a ordem estabelecida. É um compromisso nas lutas ao mesmo tempo que libertação de um sujeito que recusa ser reduzido ao papel de cidadão ou de trabalhador.
A democracia é a subordinação das instituições à liberdade pessoal e colectiva. Exige que o espírito de liberdade, de independência e de responsabilidade resista aos princípios de ordem a que as nossas sociedades se têm submetido; e que são a lei do Príncipe e a lei do mercado. E por isso há um papel importante para a família e para a escola - transformar os indivíduos em sujeitos conscientes das suas liberdades e das suas responsabilidades em relação a si próprios.
Esta acção de tornar o indivíduo mais forte e mais hábil, mais capaz de se responsabilizar, dará à democracia o fundamento sólido de que necessita.
Quando um regime político passa a democracia, é imperioso mudar a educação e a forma de ensinar. Torna-se evidente a importância de saber argumentar, refutar, defender com persuasão seja o que for, mesmo uma injustiça.
Cada cidadão tem de saber valer o seu ponto de vista, a sua posição e opinião na praça pública e no parlamento.
Aparecem os sofistas, professores de técnica de discursar, que se torna a técnica das técnicas.
Esses, como os caixeiros-viajantes, enaltecem os seus produtos acerca dos quais não sabem muito, mas sabem que têm que os vender: são profissionais, é essa a sua maneira de ganhar a vida. Para estes, a verdade e a justiça não são importantes.
Os sofistas contrapõem a sua opinião à opinião alheia, ensinam essa técnica. Têm excelentes alunos que enxameiam. É a exaltação do poder da palavra - que atormenta, que agita, que adultera, que seduz... Há demagogia, desmoralização, corrupção.
Mitos, cabalas, campanhas negras...? Com proveito pessoal e paixões desenfreadas, inconstância de opiniões, ambiguidades… instala-se a desordem intelectual e social.
Ao mesmo tempo, o "moscardo" Sócrates passa de grupo em grupo na praça pública zumbindo, despertando consciências, incomodando, levantando problemas radicais. Fala livremente a concidadãos, leva-os a interessarem-se pela verdade que os sofistas desconhecem. Não há outra forma de conhecer senão a partir da consciência da própria ignorância, e dialogando. "Eu não sei," diz Sócrates, "mas na generalidade os outros sabem menos que eu, porque nem isto sabem".
A razão de cada um é o instrumento que permitirá penetrar na realidade e encontrar a verdade, diz. Que não é habilidade dialéctica, mas descoberta.
Há um saber que podemos procurar e revelar e que se opõe à opinião. É o logos que significa razão e discurso, e também e sobretudo, palavra que tem um sentido.
É o discurso universal, inteiramente legitimado, juiz de todas as opiniões e, por isso, meio de repor a justiça e de apaziguar a existência.
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