Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



MOVIMENTO ESPERANÇA PORTUGAL

por Zilda Cardoso, em 31.01.09

 

Estou de acordo com José Saramago.

 

Ele costuma ser pessimista e também maldisposto, como todos sabem, mas ultimamente confessa, com um sorriso, a sua esperança numa era pos-Obama e num mundo melhor. Confia numa pessoa "que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida".

Crê num homem que veio dizer-nos que "outro mundo é possível" e que "o mundo pode ser melhor do que isto".

Isto… é um mundo “cínico, desesperançado, sombrio, terrível…”

Obama "resolverá ou intentará resolver os tremendos problemas que o estão esperando, talvez acerte, talvez não, e algo nas suas insuficiências, que certamente terá, vamos ter de lhe perdoar..."

 

Estamos todos a pensar assim a respeito do novo presidente dos Estados Unidos. Porém, um pormenor é importante: ele tentará ou resolverá os terríveis problemas que o esperam, diz Saramago. Então e nós? diremos em bicos de pés.

Não vamos experimentar decidir alguma coisa? Não vamos ajudar? Não nos comprometemos todos a respeitar valores importantes como a igualdade social? Não nos responsabilizamos pelo esforço de sair deste ”tempo que vivemos”? Não nos vamos empenhar em construir um mundo “mais limpo, mais prometedor”?

 

Cidadãos do mundo, cada um de nós, ao repetir o slogan da campanha do novo presidente, prometeu. Responsabilizou-se.

 

Em Portugal, há um MOVIMENTO que arrisca ir além de ter e de dar esperança.

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 13:31

Os maldispostos têm razão

por Zilda Cardoso, em 30.01.09

Estou muitas vezes de acordo com os maldispostos, como Vasco Pulido Valente. Se ele algum dia enunciar as boas perspectivas de alguma coisa ir correr bem; se algum dia se mostrar feliz consigo e com o mundo, sorridente e aguardando… inclinado a esperar o melhor no melhor dos mundos… atenção algo estará errado nele e no mundo. Ou a esperança mudou de sentido ou simplesmente de significado.

Até há pouco tempo, um dicionário era para a vida, para muitas gerações de vidas, para sempre. Actualmente, as palavras mudam a cada passo de significado. Por isso, antes de construirmos e de pronunciarmos qualquer frase num simples diálogo, temos que explicar que diabo de significado atribuímos a cada uma das palavras que pensamos usar. De outra forma, não nos entenderemos, como é bom de ver. 

Pode ser esta uma das razões porque andamos para aqui todos a flanar e a blá blá, blá blá, blá blá-nar sem que alguma coisa seja dita. Alguma coisa que se entenda. Mas o que diz e escreve Vasco Pulido Valente, toda a gente sabe sobre o que é, e entende.

É fácil, nos tempos que correm, estar de acordo com ele. E eu estou muitas, muitas vezes. Como hoje.

No Público, escreve: …”tenho uma aversão a ‘escândalos’ sejam de que espécie forem e uma incapacidade nata para os perceber. A história do tio, do primo, do licenciamento, do prazo, do e.mail”……… “do processo e por aí fora é, para mim, puro mistério e um objecto de absoluto desinteresse. Não porque não me interesse saber”…, “mas porque desde o princípio me perdi no meio da embrulhada”.

“O cidadão comum que partilha com orgulho a minha indiferença e opacidade, vai fatalmente concluir que houve ali enredo. Tanto mais que a polícia inglesa – por definição acima da intriga indígena –“ (Será? pergunto eu) “se meteu no assunto e chegou ao excesso de investigar o próprio primeiro-ministro”.


Estou muito de acordo com ele. E pergunto também o que significa isto:  a polícia inglesa!? Então há uma “conspiração”? Contra os ingleses? Ou não há nenhuma conspiração? Ou não é contra os ingleses? E que sabem eles de “poderes ocultos” e de “campanha negra”?

Teremos de ser nós, cidadãos comuns, a deslindar o caso, nenhum serviço secreto chegará alguma vez a atingir... Não poderia explicar-nos. E não explica, tudo é enredado e encalacrado, não explicado.

Continuarão estas palavras e as outras que vemos e ouvimos repetidas em cada jornal, em todos os meios de comunicação, a ter o significado que lhes é atribuído no dicionário ainda em uso, ou noutro já aprovado mas ainda em não-uso? Ou tudo isso passou à história e o que acontece não é nada do que julgamos estar a acontecer ou ter acontecido?

O dicionário usado nos nossos dias não é o que conhecemos e desfolhamos desde sempre, não é nenhum dos que reconhecemos. E os acordos não são para cumprir, por isso, nem sequer são precisos dicionários.

Não são precisos dicionários nem significados preconcebidos, previstos, premeditados. Os significados têm que inventar-se à medida que vamos precisando deles. Por isso, V.P.V. e todos nós nos perdemos na embrulhada. É que não estamos habituados a usar assim tanto a imaginação. E ponto final.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 14:55

PASSEI...

por Zilda Cardoso, em 30.01.09

 

 

 

Entro com o meu silêncio

 

na sala: no lugar um silêncio enorme.

 

Aumento o sossego...

 

Ou invadi o outro, perturbei?

 

Por momentos, apenas.

 

Passei. E deixo

 

lentamente o silêncio da sala, dos lugares.

 

Porque saí só com o meu silêncio

 

o outro ficou lá intacto.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:05

Aimez-vous Brahms?

por Zilda Cardoso, em 25.01.09

Se bem me lembro, esté é o tìtulo de um romance de Françoise Sagan. De cada vez que tenho oportunidade de ouvir Brahms, repito a pergunta para mim própria. Não sei se gosto do compositor. Acho que não gosto.

 

Hoje fui ouvi-lo na Casa da Música, num concerto comentado, ao meio-dia, porque o meu amigo Obama me recomendou que fizesse coisas difíceis, essas me dariam muito maior prazer e definiriam melhor o meu carácter.

 

Estava a casa quase cheia o que me surpreendeu. Havia muito movimento, à frente das bilheteiras formaram-se filas intermináveis. O concerto principiou um pouco mais tarde e terminou minutos passados da hora marcada, demorou rigorosamente uma hora como estava previsto.

 

Foi a Orquestra Sinfónica do Porto dirigida pelo maestro Emilio Pomàrico, italiano nascido na Argentina, que tocou a nº 4 em Mi menor, op. 98, comentada por Rui Pereira.

 

Houve um grande acerto nessa combinação difícil entre o maestro, o comentador, a orquestra e a música para as interrupções constantes e as explicações que resultaram muito propositadas, sábias e estimulantes. Ficamos a entender muito melhor a música de Brahms, esta Sinfonia de Outono, bucólica e contemplativa.

Quanto a mim, terei que voltar a ouvi-la para continuar a ser convencida. Fico muito confusa, talvez porque, como se lê no programa, "a quarta sinfonia de Brahms  representa um equilíbrio perfeito entre a herança do barroco, a clareza das formas clássicas e o ímpeto do romantismo." Um equilíbrio perfeito é o que dizem os entendidos.

 

Rui Pereira tem grande capacidade  para este papel, pois além de ser diplomado em piano, é mestre em performance e doutor em musicologia, crítico musical, conferencista e professor.

Pomàrico tem um optimo curriculo como maestro e compositor, ganhou prémios internacionais de composição e é professor de direcção de orquestra em Milão.

A Orquesta, constituida como sinfónica em 1997, é composta por 97 instrumentistas e reside na Casa da Música desde 2006.

Este ano, a  programação da Casa que é um sucesso na cidade (aparentemente voltamos anos atrás quando a música parecia ser o espectáculo preferido dos portuenses), vai privilegiar compositores e maestros brasileiros.

Estas são as informações que obtive facilmente  a partir dos programas distribuidos à entrada.

Num dia tão tempestuoso e cheio de nuvens como o de hoje, achei que merecia "a oportunidade de tentar obter uma felicidade completa".

Porém, a culpa não foi do Brahms.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:48

OBAMA JÁ CUMPRIU

por Zilda Cardoso, em 22.01.09

 


 

 

 

 

Realizou o mais importante: criou uma onda gigantesca de interesse - pelo seu pensamento, pelas suas palavras, pelas suas atitudes - que nos tem levado ao desejo de voltar aos princípios de moral esquecidos, tanto na política como na vida quotidiana.

Não poderá nunca desiludir-nos porque o mais relevante está feito: convenceu-nos de que éramos capazes. Agora é com cada um de nós.

Começaremos pelo trabalho na nossa comunidade, e iremos por aí além, para já distraídos de enormes cidades e de gigantescos arranha-céus, de colossais empreendimentos e de viagens interplanetárias. De coisas grandiosas e vazias.

Estamos muito a tempo de voltar atrás e recomeçar. Seguir um caminho mais luminoso e mais firme.

Não nos vamos ficar pelo desejo de voltar aos velhos princípios de moral. Aos poucos, sem espalhafato, abandonada a ganância e a irresponsabilidade, vamos conseguir segui-los, caminhando com convicção e com perseverança. Caminhando.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 17:09

ELE ESTÁ A DIVERTIR-SE

por Zilda Cardoso, em 21.01.09

 

Será apenas um apontamento, já que se  fala dele em todos os jornais - nos de papel, na televisão, na rádio, na internet... - do seu discurso, da sua atitude, dos seus gestos... Tudo tem sido analisado, investigado, escrutinado até à exaustão. De Barack Obama, naturalmente.

Neste momento, apenas chamo a atenção para um pormenor interessante: acho que ele se está a divertir.

Olho o seu sorriso, pesquiso no fundo dos seus olhos e é isso que vejo: divertimento. Mesmo no momento mais solene, quando repetiu as palavras do juramento e se enganou... mesmo nesse momento, o seu sorriso e os seus olhos eram de quem se regozijava. É aí que eu lhe presto homenagem, é aí que ele hoje é o meu herói. Porque é um sorriso inteligente e saudável. Agradável de ver.

Agradável imaginar o que está por trás.

As suas palavras podem ter sido escritas por uma equipa especializada ou por um jovem com talento especial para discursos políticos. O seu itinerário foi programado por outros, todo o seu dia, com todo o pormenor.

Mas o sorriso é dele, o que sente… só ele sabe e sente. E é em parte o que descobri.

Como herói, e ele é o primeiro grande do século XXI, tem um estatuto de semideus, a sua história vai inserir-se nas mitologias clássicas, mesmo tendo acontecido na nossa contemporaneidade.

Para mim, neste momento ele é o herói-semideus que se regala e alegra com os próprios feitos. Por isso, não faz sentido dizerem que ele tem um grande fardo às costas e não vai aguentar. Mas então não vêem como se diverte? E que portanto o seu fardo só pode ser leve?

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:54

É preciso que nos entendamos...

por Zilda Cardoso, em 19.01.09

Procuro estar atenta ao que se passa à minha volta e no mundo. Desde há muito tempo analiso e faço longas reflexões...

Em dado momento, senti que podia ir mais além e partilhar conhecimentos obtidos deste modo. Tento ainda descobrir a forma mais apropriada de o fazer.

 

 

Escrevo fundamentalmente dois géneros de textos: de ficção e de opinião.

Nos primeiros, conto histórias mais ou menos afastadas da realidade, em que, digamos, a verdadeira realidade aparece apenas como evocação. As minhas preocupações são de ordem estética.

Como em qualquer obra de arte, é necessário atrair o leitor ou espectador, sensibilizá-lo, rodeando o tema de flores e de perfumes e de originalidade ou de extravagância. Não devo explicar nada, posso colocar questões mas não tenho respostas, não dou soluções.

Nos segundos, digo o que penso - o que implica analisar, criticar e sugerir.

 

Num caso como noutro, há uma mesma intenção ou, se quiserem, uma quase ambição: deixar os leitores a pensar no que pode ser, ou não, uma visão complexa do mundo.

 

 

Nos textos de ficção, o sentido não é claramente posto, será um sentido "suspenso", como alguém disse, será uma "presunção de sentido". O leitor dar-lhe-á o sentido ou os sentidos que achar adequados.

Nos de opinião, os acontecimentos quotidianos passam a ser "terreno de colheita e de gozo". Tomo partido sobre tudo e comunico-o afectivamente, porque há da minha parte uma "felicidade de escrita" que é também gosto de viver e de partilhar. Manifesto um desejo de alcançar a verdade e, em geral, não crio nem aprecio um clima emocional muito forte: opto pela contenção que levará mais facilmente a um raciocínio lógico.

 

 

Ao pretender analisar o que se passa no mundo, dou comigo a pensar que posso estar a decifrar mal. Pois acontece-me ver com toda a clareza a razão de um qualquer acontecimento e outra pessoa ver com a mesma claríssima nitidez o mesmo acontecimento de maneira diversa a até oposta. E então pergunto-me qual de nós terá a visão mais nítida? Qual percebeu melhor? E... como é que isto funciona?

 

 (Todas estas imagens pertencem ao mesmo mundo)

 

Apesar de tudo, parece-me que, no presente, há uma consciência generalizada de que são necessárias mudanças importantes na nossa maneira de ser e de agir. Temos então que decidir que coisas queremos mudar. Será útil a acção dos bloguistas e de todos os que publicam as suas opiniões (incluindo jornalistas) sobre o que nos e os perturba.

 

Que plano e que futuro poderemos traçar... que seja o nosso futuro e o da humanidade?

 

Se queremos todos, como espero, um mundo livre de ódios e de obsessões, vamos trabalhar para isso, todos e cada um à sua maneira.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 20:21

Os problemas da arquitectura

por Zilda Cardoso, em 13.01.09

 

 

A fotografia da casa que eu não pedi licença para reproduzir aqui, espero que António Mateus que a apresenta no seu blogue  Selva Urbana não se zangue comigo, representa a coisa mais bonita que eu tenho visto em matéria de casas e lugares de paz e serenidade.

É uma beleza: harmoniosa, bem proporcionada, bem desenhada, optimamente construída...

Gostava de estar lá neste momento, talvez um pouco mais cedo, quando o sol brilhava, e depois quando aqui o horizonte todo em tons de vermelho e laranja, claramente avisava que ele se preparava para adormecer. Eu penetraria na casa como se se tratasse de um lugar secreto, misterioso, sagrado.

Como seria o lá dentro? Mágico, só podia.

A luz? Há pequenos pontos de luz na entrada, suspensos no ar como estrelas a indicar um caminho. Pararam ali, àquela porta, ela própria colocada num ponto extraordinário da fachada que me parece um elemento arquitectónico independente.

A casa é uma construção de pedra de esquisitos muros, com um telhado de duas águas sobreposto, ou de uma água de um lado e de água e meia do outro lado. É do lado da uma-água que está a porta. E o telhado não é rectilíneo mas côncavo.

A disposição das pedras de diferentes formas e volumes, sobrepostas aparentemente at random na fachada evoca um passado pré-histórico. Não há sensação de peso mas também não há simetria nem perfeição técnica. Ou antes há uma perfeição que não é a que conhecemos. Há suavidade e há genuinidade.

Além desse mínimo edifício, adivinha-se um conjunto de outros colocados aqui e ali, telhados a espreitar, sem dúvida para dar solução a problemas e necessidades práticas.

Foi a extrema subtileza do valor estético do conjunto que me fascinou. Porém, a casa central semelhante a um templo (lembrei-me da famosa Igreja de Ronchamp, de Corbusier, mas não…) e possivelmente construída sobre ruínas de outros templos mais antigos… entusiasmou-me para a pesquisa.

Seria de procurar ali vestígios arqueológicos? Inscrições na pedra? Gravuras, túmulos e altares? Um novo cromlech?

 

Por um momento, tinha pensado que estivesse incorporada na paisagem num lugar geográfico definido, mas não é isso, não é nada disso. A casa não nasceu com a paisagem, foi projectada, desenhada na colina verdejante com o que a circunda pelo mesmo arquitecto: o longe, o céu, os montes e os vales, as árvores e os matizes de tudo.

 

Helena Matta 2006, diz a foto, mas não explica se é lugar sagrado.

 

Ou profano? Vamos lá ver: quereria algum dos nossos banqueiros viver lá? Ou dos nossos políticos? Ou dos nossos treinadores de futebol? Ou das super-vedetas desse desporto?


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:05

COMPRAS COM DESCONTO

por Zilda Cardoso, em 10.01.09

 

 

Não gosto de fazer compras, mas de vez em quando devo... e lá vou. Sei como é importante esta acção tanto nas casas de família como em lugares de negócio.

Tenho uma amiga que foi antiquária - comprava e vendia objectos com mais ou menos um século. Ela dizia respondendo a perguntas sobre o sucesso do seu negócio: "A única coisa que me importa é comprar barato. Desde que compre barato, não me preocupo mais. O sucesso da venda está desde logo garantido."

Nunca me esqueci destas palavras que surgem cheias de sabedoria se lhes acrescentarmos que o objecto comprado barato deve agradar àqueles a que se destina. Ou se entendermos que no termo barato está já incluída a ideia… essa ideia: a de que vai agradar, a de que é conveniente, a de que o objecto é necessário. Tudo isso e mais… estarão incluídos no barato. Quero dizer, barato não é apenas o que tem baixo preço, ou antes, o que custa pouco dinheiro, mas devem estar implícitas nesse conceito todas as outras características.

De modo que é importante saber fazer compras. Quando tinha a galeria de arte e sobretudo a de “design” comprava sabendo que se tratava de objectos que custavam muito dinheiro, mas que podiam agradar a um grupo que apreciava novidades, coisas de formas simples e cumpridoras da sua função.

Eu não sabia exactamente onde estava esse conjunto de pessoas ou se era suficientemente grande para constituir o grupo de que a Galeria precisava para poder subsistir. Tive que arriscar. Na verdade, queria mudar o gosto dominante naquele sector, substituí-lo por um mais moderno. E mais alegre e luminoso. Acreditei que podia fazê-lo, e que era importante consegui-lo. Queria que toda a gente quisesse e apreciasse na sua própria casa uma decoração verdadeiramente contemporânea no gosto e nos materiais.

Depois de estudar o assunto e de reflectir – de formar o meu próprio gosto – achei que podia confiar nele e comecei a comprar.

Comprei segundo o meu prazer, confiando e arriscando.

Por força de exposições contínuas dos mais diversos objectos de "design" contemporâneo e da publicação de artigos em revistas e em catálogos, penso que consegui o meu objectivo. Tenho muitas histórias para contar sobre este projecto já antigo, mas hoje propus-me falar de compras. Boas compras domésticas.

Recebi pelo correio dois vales de desconto de 10% em artigos vendidos em determinados supermercados e, embora deteste todo o tipo de acções que nos levam a consumir mais, muito estratégicas e próprias de sociedades de consumo, como vales, cartões, promoções e não sei quê, decidi desta vez, dada a crise, aproveitar. E lá fui, munida dos vales.

Peguei num carro de compras vermelho e enorme e empurrei-o alegremente por todo o espaço do mercado. Enchi-o dos mais variados produtos de que realmente precisava, se bem que tivesse podido distribuí-los por 2 ou 3 dias de compras e acarretar para casa sacos menos pesados sem dores de costas. Porém, era forçoso aproveitar o desconto.

Pronto, (fazem lá ideia!), meti embalagens de peixe, de carne, de fruta, de legumes, de cereais, de manteiga, de… de… Olhem, enchi a transbordar.

Na Caixa, a empregada pediu-me o cartão e eu exibi também orgulhosamente o vale de desconto. Para minha surpresa, a empregada disse: “Esse vale é só a partir de 15 de Janeiro”.

Empalideci. Ia morrendo. Não tenho razão para detestar estas promoções sofisticadas?

Fiquei furiosa comigo. Voltei a colocar no carro vermelho a dezena de sacos cheios, empurrei o carro (sempre a resmungar contra a minha estupidez), pelo centro comercial fora, desci ao lugar de aparcamento, empurrei mais um quilómetro por entre a centena de carros estacionados, enfim, larguei aquilo tudo na mala do meu, e voltei atrás para deixar o carro das compras no lugar certo.

 

 

 

 

Aprende, repeti alto e bom som. Aprende!

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 14:14

A POLÍTICA

por Zilda Cardoso, em 04.01.09

 

 

A cada passo, sinto imensamente a necessidade de repensar o que é a política e, naturalmente, o que é a democracia.

Para repensar a política, socorro-me da experiência que tenho tido e do que li no tempo em que não tinha essa experiência. E também procuro com frequência ler o que no presente se escreve sobre o assunto.

Esta foi a vez de alguns textos de Hannah Arendt nascida na Alemanha , Hanover, em 1906. Formada em filosofia, em teologia e em filologia, exilou-se nos Estados Unidos em 1941 e aí ensinou ciências políticas e filosofia; morreu em 1975.

Os textos são por isso contemporâneos. Resultaram de encontros e conferências e terão sido escritos ainda nos anos 50 do século XX, se bem que a sua edição original seja de 93 e a que eu tenho nas mãos, edição do Seuil, seja de 1995.

É uma tradução para francês intitulada Qu’est-ce que la politique?  em que Arendt tenta definir o que é a política: são fragmentos e ensaios de quem dedicou a sua vida ao pensamento político filosófico teológico.

Segundo Arendt, a política não nasce com o homem, não faz parte da sua essência. A política nasce com a comunidade, nasce das relações entre os homens.

É claro que há o sentido geral do termo que tem a ver com a forma como nos relacionamos com o outro ou com os outros.

A política de que falamos, ao contrário da ciência - a biologia, a psicologia, a teologia, qualquer pensamento científico - que se refere ao homem,  a política toma como referência os homens, a comunidade dos homens, as relações entre eles.

No entanto, os homens são diferentes uns dos outros.

Então de que modo, visto que é isso que queremos, se pode garantir os mesmos direitos a indivíduos tão diferentes?

Diz Arendt que “A política organiza d'emblée seres absolutamente diferentes considerando a sua igualdade relativa e abstraindo da sua diversidade relativa”.

Quer dizer, a política organiza as relações entre os homens esquecendo que são diferentes e considerando-os como iguais. Ou dito doutra maneira, considerando-os como iguais embora saiba que são diferentes.

Poderão estar aqui as razões das dificuldades da política.

Isto são noções básicas de que se pode partir para uma reflexão aprofundada, embora a política não se dê muito bem com pensamentos profundos.

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 12:12




Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

  Pesquisar no Blog



Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2021
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2020
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2019
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2018
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2017
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2016
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2015
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2014
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2013
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2012
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2011
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2010
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2009
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2008
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D