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Borboleta é nome engraçado com música e imagem incorporadas, mas butterfly evoca logo um objecto belo, translúcido, de bonitas cores bem combinadas, aéreo e sem peso, flores, perfumes, Primavera e música de ópera, e asas de formas e estampados diversos e inesperados.
Quando era menina pequena, adorava borboletas e divertia-me a observá-las, andava atrás delas horas, sem pretender apanhá-las nem mesmo para poder investigar de mais perto e melhor. Se acontecia tocar-lhes, ficava desesperada porque um pó brilhante e translúcido ficava-me nas mãos e elas… não voavam mais.
Há alguns anos que penso desolada na quase inexistência de borboletas no meu jardim. As flores estão lá, as da sua preferência, aquelas que outros dizem constituir o seu habitat, mas elas… elas habitarão outras paragens.
Não compreendo (talvez o desenvolvimento, a poluição, os insecticidas que, por mim, uso o menos possível). Dizem-me que elas, as borboletas tanto como as butterflies apreciam as flores chamadas lantanas, intensamente coloridas, e os últimos morangos silvestres, as framboesas, as flores do funcho e da arruda… Tudo isso está lá, mas elas raramente aparecem.
Se bem que a minha consultora para estas questões, a Mini, me tivesse garantido que as viu este Verão precisamente onde havia as lantanas inteiramente amarelas e as de intenso vermelho com diversos tons de amarelo no centro. E mesmo em redor daquelas em raminhos semelhantes de outras cores.
Provavelmente, ela investiga a hora diferente, entre as 11 e as 4, com sol e calor, e vê com olhos de ver.
Hoje, aqui, entusiasmou-se com as verdes, com as azuis, com as vermelhas e castanhas que lhe apareceram na Internet quando há pouco lhe fiz umas perguntas sobre esses insectos a que os biólogos chamam lepidopteros (que coisa!).
É possível que haja no mundo mais de 150.000 espécies (em Portugal, haverá 135 espécies) só de borboletas diurnas e estão sempre a descobrir-se mais tanto em regiões frias como em florestas tropicais.
O Público noticiava ontem que, na floresta virgem do Monte Mabu, no norte de Moçambique, paraíso não de todo perdido, cientistas de diversos países descobriram centenas de espécies botânicas, algumas desconhecidas. E animais por classificar e três espécies novas de borboletas.
Esperam que seja possível preservar toda essa biodiversidade, apesar do desenvolvimento que vai acontecer na região. É questão de conhecimento e de regras: pensam sugerir às autoridades as acções
Eu e a Mini ficamos a desejar que os investigadores consigam que, pelo menos, as borboletas não desertem dali, e não se extingam de todo.
(imagem da internet escolhida pela Mini)
Para que, um dia, possamos ir as duas lá visitá-las.
Um dia, encontrei debaixo da cama onde dormira, um livro de Alçada Baptista. Alguém que lá tinha ficado anteriormente, deixara cair o livro, de certo, chutado depois para debaixo da cama. Não sei quanto tempo lá esteve, não teria sido muito. Era Os Nós e os Laços, li-o logo com muito interesse, tinha que me apressar, certa de que o dono o pediria.
Encantou-me.
Do escritor, apenas tinha lido artigos de jornais e revistas, foi uma descoberta.
Influenciou-me muito o seu estilo simples, a escrita suave, a crítica sem zanga nem amargura, a sua sensibilidade, o seu humor sem ressentimentos. Considerei aquele acaso uma espécie de aparecimento.
Foi um revolucionário cultural: participou de um grupo que fundou a celebrada revista O Tempo e o Modo, que viria a ser fundamental no panorama cultural e político português nos anos 60. O grupo adquiriu a Livraria Morais Editora que foi suporte da revista, e que editou o que de melhor havia para publicar de escritores portugueses a par com traduções dos melhores pensadores europeus.
Recordo as palavras de Alçada Baptista sobre O Tempo e o Modo: “Foi resultado da necessidade que nos pareceu evidente de ter um órgão de intervenção que mostrasse o nosso empenhamento em manter diálogo e alianças com a oposição tradicional”.
Foi também publicada pela Moraes a revista mensal Concilium, edição portuguesa da revista internacional, com traduções de textos teológicos e o objectivo de renovar o pensamento da Igreja que queriam aberto ao diálogo, à crítica e à livre investigação.
Como católico progressista ou de esquerda como mais tarde preferiu, quis fundar um partido democrata-cristão semelhante a existentes noutros países.
Na minha frente, tenho um precioso volume de memórias de A.A.B. – A Pesca à Linha.
Aprecio demasiado esta forma de contar pequenas histórias divertidas a entremear os artigos mais sérios que tudo são recordações de encontros com as numerosas pessoas interessantes de várias ideologias que conheceu e com quem se relacionou em razão das suas iniciativas e actividades culturais.
“Quando a gente anda metido na vida como eu andei, acabamos por ter nos braços uma multidão de coisas, de acontecimentos, sentimentos e emoções que é difícil não cair na tentação de partilhar com os outros.”
“Sinto que vivo debaixo do peso da minha memória, que é ela que me condiciona. Por isso, o tempo é a minha matéria e o meu enigma.”
…” a memória é a principal testemunha da nossa passagem sobre a Terra, o que quer dizer também que nos espera o esquecimento.”
Foi um homem bom, interessado na comunidade, optimista e afectuoso que talvez, apesar de todo o seu activismo cultural, não tenha realizado tudo o que ambicionava.
Alguém realiza?
Ontem e anteontem foram dias de movimento, de ruídos agradáveis e de espaços ocupados: lá em casa, foram dois dias de encontros e de comemorações, de braços abertos e de palavras deliciosas, de brilhos e de pacotes com fitas vermelhas, de decorações tradicionais e de um certo desejo de renovação.
Dia seguinte, hoje, havia silêncio a mais, largos excessivos espaços vazios, ninguém em casa. O perfume a incenso tinha-se evaporado, as velas estavam apagadas e gastas, os papéis de belas cores e as fitas tinham desaparecido, a árvore estava murcha. Apenas os presépios continuavam a narrar a sua história.
Gosto de espaços livres, aprecio o silêncio e a tranquilidade, o perfume bom, e sinto-me bem só, num ambiente simples. Por que então os meus olhos estavam húmidos e vermelhos?
Toda a manhã, estiveram assim, cheguei a irritar-me com eles, mas não havia nada a fazer. A não ser sair: a casa tornou-se insuportável, poluída de saudades, pobre de calores e de confortos - de palavras, de gestos, de maviosidades…
Saí em busca, não sei de quê. Talvez daquela tranquilidade que pode estar no movimento das crianças que, no momento, enchiam os parques infantis enquanto as famílias passeavam na esplanada cheia de sol.
Deliciei-me com a agitação do mar, com as suas brincadeiras infantis, os seus jogos de chutos e pontapés contra os rochedos, os saltos leves e espumosos e brancos, o enrolar e o espraiar preguiçoso na areia sempre disposta a absorver o que sobra dele.
Sabem, tirei uma grande conclusão deste divertimento do mar: acho que ele não é inteligente. Ou então não mostra a lógica ou a legitimidade dos seus movimentos. Porém, é tentador e cativante, tanto que facilmente se lhe desculpa seja o que for. Mesmo as gaivotas, que a todo o momento se reúnem na beira-mar para resolver os seus graves problemas, o olham com condescendência quando ele se atreve a espreguiçar-se até elas.
Então levantam-se e vão sentar-se um pouco mais para além, sem proferir palavra. Continuam a reunião e, daí a pouco, repetem a cena: levantam-se outra vez para assentarem arraiais um nadinha acima.
Enquanto eu... tinha que voltar para aquela casa e… foi o que fiz: voltei. Pus a minha música e recebi uns quantos telefonemas repletos de palavras simpáticas e de grandes abraços. Encheram-me de privilégios que aceitei.
Fiquei bem.
Obrigada.
No blogue de KI com o título And so this is Christmas, há histórias de Natal muito interessantes e que vale a pena ler.
Vou colocar aqui algumas imagens dos meus enternecedores presépios. Alguns são inteiramente naifs como obras de arte, estes são bastante menos ingénuos, por muito simples que sejam.
Queríamos que fossem inspiradores, que agissem como símbolos do que gostaríamos de ser e de pensar.
Nestes últimos tempos temos tido desgostos e dissabores, mas se olharmos para o presépio, que podemos pensar? De que é ele símbolo?
Para além de narrarem todos a mesma história excepcional, o PRESÉPIO, é certamente símbolo de simplicidade, de condescendência, de boa vontade, de amor…
Assisti à apresentação de um livro de Maria Filomena Mónica no Clube Literário do Porto, há alguns dias. Tinha muito interesse em ouvi-la. Sabia ser uma pessoa de fortes e radicais convicções, moderna e segura de si, inteligente e ferozmente independente.
Quando publiquei o meu livro Ana Augusta, enviei-lho e ela escreveu agradecendo. Não sei se alguma vez o leu. O certo é que me tinha interessado muito pelos seus estudos sobre Fontes Pereira de Melo, personagem de grande relevo na vida política nacional e muito polémica no século XIX, época de grande agitação política. Diz Maria Filomena Mónica no seu livro sobre o estadista que “Fontes Pereira de Melo sempre acreditou nas virtudes da tolerância, da liberdade e da abertura”. Mas depois de enunciar várias verdades desagradáveis do seu governo e do regime, concluiu que
… “o país conheceu estabilidade política, a economia desenvolveu-se, as liberdades foram respeitadas.”
Foi uma figura de extrema influência: a importância do seu dinamismo prolongou-se muito para além do seu tempo.
Se bem que Fontes Pereira de Melo não seja meu ascendente directo (ele não deixou descendência), a verdade é que a sua esposa Maria Josefa de Sousa Machado, a quem foi sempre dedicado, era minha parente. Nascida em Cabo Verde, filha de António de Sousa Machado, de Moimenta da Beira, irmão do meu trisavô José de Sousa Machado, e de Maria Teresa Mendes Martins, era familiar muito próxima da minha bisavó Ana Augusta.
Foi por essa razão que lhe enviei o livro. Ela tinha feito larguíssima investigação sobre Fontes Pereira de Melo e eu procurara fazer alguma, embora a minha personagem fosse outra e o antigo ministro apenas pudesse ser uma referência.
Gostei de a ouvir no Clube Literário se bem que tivesse falado sobretudo de problemas de ensino. A assistência era maioritariamente de professores que lhe queriam colocar questões. A que ela procurou responder. Mas de forma geral, as perguntas foram tão longas que deviam trazer em si as respostas.
Acabei por sair sem lhe falar. O livro apresentado era de crónicas publicadas em jornais e eu apenas me apetecia falar com ela, a despropósito, de Fontes Pereira de Melo.
Hoje foi o dia do almoço, que se está a tornar tradicional, de alheiras e farinheiras de Trás-os-Montes em casa da Ana Maria Vanzeler. É uma das poucas grandes casas da Foz que se mantém como nos velhos tempos no exterior e, de certo modo, no interior.
A casa está decorada com o máximo de requinte, mas vulnerável às modernas descobertas e tecnologias. O fogão de sala usado é um recuperador de calor, muito eficiente, mas as velhas lareiras estão inactivas. E há os aquecedores a óleo que fazem ir abaixo a energia eléctrica e, por isso, não se podem ligar muito.
A casa estava linda, acolhedora, quente.
As porcelanas Companhia das Índias brilhavam dentro e fora dos louceiros iluminados e as flores artificiais mas de extraordinário colorido e requintado gosto, enchiam as jarras magníficas, um pouco por toda a casa.
Havia belos quadros nas paredes, retratos de antepassados decerto ilustres, iluminados como heróis nas suas molduras douradas.
Sobre a mesa coberta com uma toalha de linho bordada e recortada, talvez da Madeira, havia velas vermelhas festivas, castiçais admiráveis e o centro viçoso. Os pratos eram suaves e os copos, tenho uma atracção por copos, pareceram-me o máximo de finura e delicadeza.
Na mesa de apoio, o almoço quente foi servido na prata, em pratos cobertos forrados de pano branco, de grelos, batatas cozidas a fumegar, pimentos vermelhos descascados, as famosas alheiras tostadinhas e os farinheiros negros e muito agradavelmente perfumados de cominhos. Tudo de Trancoso e cozinhado a preceito, por isso, tão bom.
O almoço, sendo rico de calorias e de simplicidade, era tão próprio da província que fazia um contraste absoluto com os objectos polidos, as porcelanas, os vidros preciosos, e aqueles bordados de arte e de bom gosto.
Ana Maria, uma senhora que muito admiro e estimo, é exemplar do que, no presente, justamente se apresenta como qualidade essencial: a nossa capacidade de seguir caminho apesar de todas as adversidades - sabemos, somos capazes, podemos, vamos para a frente.
Sabe receber com todo o apuro, o seu acolhimento é perfeito: ninguém como ela para nos fazer sentir fundamentais ali, naquele momento. O seu sorriso é o de quem tudo corre sempre bem e, se não correr bem, transforma-se numa história divertida a ser contada na próxima reunião.
Hoje enumerou várias, refinadas pelo seu proverbial e contido bom humor, com personagens que conhecemos. Talvez um dia conte alguma.
Respondo ao comentário de Carlos a OUTRAS COISAS QUE FALTAM NAS ESCOLAS, afirmando que a frequência com que actualmente se fala na necessidade de estimular a participação dos cidadãos nas discussões dos assuntos que nos interessam me faz pensar que estaremos no caminho de alterar o modelo de desenvolvimento que temos seguido desde há alguns séculos.
Finalmente, muitos valorizam a cooperação, a auto-estima, o interesse no bem comum, no bom senso, na sabedoria, na reflexão. Encontram valor no estimular dos talentos, em cultivá-los, em recompensá-los de diversos modos.
Estamos interessados em estudar, em pensar, em reflectir. Interessa-nos criticar com o fim de construir; inventar e procurar soluções para problemas colectivos novos.
Vamos ver o que temos para dar, vamos ver o que somos capazes de equacionar.
Tudo isto foi dito no programa PRÓS E CONTRAS desta semana.
Cada vez mais, estamos conscientes de um mal-estar social e político. Não podemos pensar que a democracia nos satisfaz tal como está a ser praticada. Mas nunca nos satisfez principalmente por uma razão: a democracia apenas é possível se os cidadãos tiverem todos uma idade mental aproximada (mais ou menos assim escrevia Aldous Huxley antes de 1927 no seu livro Sobre a democracia e outros estudos).
Se se acreditar que “os Homens são iguais e que as faculdades são uniformemente distribuídas por toda a espécie humana”, o que pensaremos das grandes diferenças que constatamos?
“Se o direito de votar”, diz o escritor, “ficasse dependente da capacidade de passar um teste de inteligência toleravelmente puxado – se ninguém fosse autorizado a participar no governo do País desde que não tivesse pelo menos uma idade mental de quinze anos – é provável que a influência dos demagogos e dos jornais fosse consideravelmente reduzida.”
E evidentemente, saberíamos melhor em quem votar, escolheríamos bem os que nos hão-de dirigir quer no governo do País quer nas Instituições que também nos governam.
Todas estas reflexões nos trazem a evidência da importância da instrução e da educação. Do interesse dos sistemas de ensino, da gravidade da acção e da atitude dos professores, da organização da sociedade.
"Na sociedade conforme está organizada presentemente, um número enorme de homens e de mulheres estão a desempenhar funções para as quais não estão naturalmente talhados."
Calculo que o Ensino sofra mais do que qualquer outra actividade com esta (des)organização.
Houve concurso internacional de saltos no Porto, na Exponor: foram quatro dias de cavalos. Apresentou-se a Escola Portuguesa de Arte Equestre e os Cavalos Lusitanos, mas eu só presenciei com a Mini e o Manel, no domingo à tarde, o Grande Prémio Internacional.
Os miudos tiraram muitas fotografias, tremidas quase todas, e fizeram pequenos videos.
Os olhos da Mini brilharam sem descanso, batia palmas com grande entusiasmo sempre que alguém terminava uma prova com ou sem faltas, agitou-se o tempo todo nitidamente para captar o momento.
É uma imagem de mestre muito elucidativa, clara e nítida! O par vai pelo menos a trezentos e tudo o mais os acompanha àquela velocidade. Havia de facto que captar o momento que, de si, era fugidio.
Esta é só para verem o colorido das bandeiras dos países participantes e a cor e o calor ambiente, apesar do frio e da chuva.
A ideia foi colocar aqui um video, mas talvez não tenha acontecido.
C:\Users\Zilda Cardoso\Pictures\2008-12-16 astronomia
Em Serralves, ontem, foi prestada homenagem a António Rocha Melo, um Portuense ilustre de que todos os portuenses se orgulham.
Foi meu médico e meu amigo (não mais do que de toda a gente), bondoso, dedicado, aquilo que eu espero que um médico seja: não apenas competente a descobrir e a tratar, mas que adivinhe, que se interesse, que procure. Que esteja atento e não apressado. Que queira ajudar. Curar talvez. Que tenha sempre esperança, ou que, pelo menos, dê essa ideia.
Por isso, apreciei as palavras radiosas de Manuel Alegre que fez a apresentação do livro agora editado, espécie de fotobiografia do Dr. António Rocha e Melo. Disse que, quando lhe dirigiram o convite, se surpreendeu - por que razão haveria um poeta de saber falar de um neurocirurgião?
Se bem que tivesse começado muito mal – “não sou a pessoa mais indicada…” - logo depois explicou, e eu desculpei-lhe a vulgaridade. O ponto de ligação terá a ver com o primitivo xamã – médico e feiticeiro, mas também poeta e sábio. Calculou que a primeira receita alguma vez passada por um médico pudesse ter sido um poema.
Entre o homem e o sagrado há uma permanente relação, mais forte entre o sacerdote/médico e o sagrado ou entre o poeta e o sagrado que ambos o manipulam com o à-vontade de quem sabe o que mais ninguém sabe. As suas actividades têm muito de magia, de rito e de ritmo, de culto e de deus, e ambos têm ideias sobre a alma e sobre a morte.
Manuel Alegre não disse isto, mas eu subentendi.
O que ele afirmou ou perguntou, parafraseando um autor que citou mas de que não recordo o nome, foi “quem além de nós está hoje aqui connosco?”
O Dr. José António Pinto Ribeiro falou em memória e em valores, em zangas familiares e em reencontros. E fez uma revelação: a sua mãe era irmã de António Rocha Melo. Se bem que não se tivessem encontrado durante muitos anos, soube sempre dos merecimentos do tio que sabia grande médico, homem de cultura e de civilização, humanista como não podia deixar de ser. Foi um discurso emotivo que encontrou eco na sala e na assistência. Não ficámos a desejar o regresso de um passado que muito estimamos, mas oferecemos uma bela ressonância sem a qual a ausência de António seria maior e mais sentida.
O culminar da noite de emoção aconteceu com as palavras do filho do homenageado que agradeceu com grande sentimento e entregou ao ministro um pequeno envelope encontrado entre os papéis do seu pai com a indicação e o nome José António escrito pela sua mão.
Abriu o envelope ali, na frente de toda a gente que abarrotava o anfiteatro e se sentava mesmo no palco ou estava de pé contra as paredes, e entregou, uma a uma, minúsculas fotografias muito antigas de acontecimentos familiares. Terminou com uma, um pouco maior, da mãe de José António.
Tudo findou em lágrimas…
A assistência compreendeu. Sentiu o prazer e o privilégio de ter participado num acontecimento tão tocante, tão alto, tão comovente.
António Rocha e Melo esteve de facto connosco naquele momento inesquecível.
Houve ainda um pequeno grande concerto com música muito do gosto do homenageado: foi Pedro Caldeira que tocou à guitarra acompanhado por contrabaixo obras de Pedro do Porto, Carlos Seixas, Carlos Paredes e dele próprio.
Quantos belos mundos por momentos se ligaram!
No domingo passado, foi baptizado aquele meu neto que é gémeo deste blogue. É gémeo porque nasceu no mesmo dia. Não são do mesmo ovo, por isso são diferentes, apesar de terem muitas qualidades em comum. Por exemplo: são ambos muito dependentes de quem lhes deu o ser. E são ambos redondos, alegres e bem-dispostos a maior parte do seu tempo. Por vezes resmungam, e até rabujam muito. Há sempre uma forte razão para isso mas, de forma geral, é agradável estar com eles – por mim, falo. E há a facilidade de arranjar amigos e ajudas, característica que também pertence aos dois.
Vejam que simpático ele é, o João Maria:
É um destes - um azul ou um branco. Cor-de-rosa é que não é: essa cor ficou reservada para a Mini há muito tempo, ninguém mais a pode ter.
Às vezes, a Mini pega nele pelas pontas dos dedos, e vai assim pela casa fora, o corpo do bebé bem afastado do dela, desarvorada, quase correndo, a rir-se até às orelhas, tal como se ele fosse de borracha e não corresse qualquer risco de partir: de ele lhe cair das mãos ou de ela cair sobre ele e o estilhaçar.
Ao contrário, o bebé, nascido há tão pouco, tem, nesses momentos, uma expressão de grande preocupação.
No dia do baptizado, chuvoso e frio, atravessei o terreiro empapado com ele ao colo para a capela, os sapatos de tacões enterravam-se naquela papa e a chuvinha miúda de gelo caía na cabeça dele que se não podia tapar sob pena de estragar o penteado. Que a mãe detesta ver desfeito.
O Padre Vasco Pinto de Magalhães e a comunidade receberam na entrada a criança que ia ser consagrada.
Os pais, os irmãos e os padrinhos muito sorridentes tomaram conta dele para este acto de filiação no reino de Deus, e eu sentei-me na primeira fila de cadeiras com a minha famosa máquina, desejosa de colher imagens para a posteridade.
Ele esteve todo o tempo de olhos bem abertos, interessado neste ritual de iniciação ou, diria, fascinado com o empenho dos outros nele, com as promessas dos pais e dos padrinhos e com os votos dos amigos e dos irmãos.
A música do coro e dos instrumentos acrescentou ao ambiente a nota de encantamento.
A Rita leu apressadamente o seu longo e bonito texto dedicado ao João Maria.
Acho que ele gostou de ser assim apresentado e só estremeceu quando foi aspergido com a água do Jordão.
A Senhora da Piedade a quem a capela é dedicada também apreciou a viagem desde o lugar obscuro onde normalmente se encontra na Diocese para esta capela decorada pelo pintor Albuquerque Mendes cheia de luz e de vida onde foi adorada.
À saída o sol inundava o terreiro e as árvores de Outono projectavam no chão uma sombra clara e simples. E toda a gente estava feliz.
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