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Ariadne, Dionísio e o Minotauro

por Zilda Cardoso, em 31.08.08

 

Pedem-me para contar a história que justifica o título do blog.
Começo pelo mito de Ariadne, cruzado com outros mitos como o do deus Dionísio e o do Minotauro, e poderei resumi-lo aqui, assim:
Ariadne, filha do rei de Creta Minos, apaixonou-se por Teseu, filho de Egeu, rei de Atenas.
Ele era um jovem herói capaz de matar o Minotauro – todos gostariam de matar o monstro corpo de homem, cabeça de touro, resultado dos amores insensatos de Pasifae, mulher de Minos, por um touro branco.
Minos tinha pedido a Posídon que fizesse sair do mar um touro para mostrar ser mais digno de reinar do que seus irmãos, e o mais poderoso já que tinha o favor do deus. Prometeu Minos restituir o touro sagrado, mas em vez disso aprisionou-o num complicado labirinto concebido por Dédalo, donde ninguém saía - por não encontrar a saída e por acabar devorado pelo monstro.
O rei de Atenas organizou os jogos atléticos em que o filho de Minos, Andrógeo, ganhou todos os concursos. Mandou-o então combater o touro, sabendo que isso era e querendo que fosse um envio para a morte.
Minos jurou vingança, fez a guerra e Atenas foi cercada. O rei Egeu teve de comprometer-se, para que fosse levantado o cerco, a enviar a Creta periodicamente um grupo de jovens que serviriam de alimento do Minotauro.
Teseu participou desse grupo e entrou no labirinto. Ariadne, apaixonada por ele, decidiu ajudá-lo a encontrar a saída. Engendrou um processo simples: ele levaria um novelo de lã que ela seguraria firmemente à entrada. Ele ia desenrolando o fio à medida que avançava e depois de lutar com o monstro e o vencer (a pitonisa informara-o de que venceria se fosse amparado pelo amor), pôde encontrar o caminho do regresso, onde Ariadne o esperava com novelo e paixão.
Teseu fugiu com ela, mas abandonou-a na ilha de Naxos, onde tinham parado para descansar. Vendo-se só, invocou a deusa Afrodite que lhe prometeu um amante imortal. Foi Dionísio, o deus do vinho e da festa popular, que casou com ela, doce, loira e linda, e lhe ofereceu uma coroa de ouro, cravejada de pedras preciosas. Ariadne fez-lhe prometer que a atiraria ao céu quando ela morresse.
Por isso, podemos ver hoje no céu uma constelação de estrelas brilhantes com a forma de coroa.
Este é o mito.
Contarei mais tarde porque razão a figura de Ariadne me entusiasma.

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publicado às 21:08

Castelo Branco: Camilo e outros

por Zilda Cardoso, em 29.08.08

 

O Jorge Nuno convidou alguns dos seus amigos para um jantar na Quinta. Quiseram que fosse no jardim, mas a iluminação exterior... De modo que, como se fazia escuro, levei-lhes uma dúzia de velas de diversas cores e tamanhos dentro de um copo de metal pesado. Acendi-as todas (vela acima vela abaixo, parecia uma trapalhada com  design artístico) e coloquei sobre a mesa das vitualhas. O ambiente  com aquela luz dourada ficou discretamente festivo, misterioso, sedutor.

Ouvi-os rirem-se, falarem alto, calculo que se divertiram pela noite fora, contando e recontando as suas histórias, sobretudo depois que os jactos de água da rega automática inundaram literalmente a mesa, alagando os que a ela se sentavam. E a comezaina!

Tinha sido um súbito desabar não se sabia de onde, assustador, mas um dos jovens - trabalhador  liberal ou empresário -  habituado a descobrir, a raciocinar célere e a decidir, pediu-me com que  tapar os aspersores. Era só isso.

Deitei mão do que encontrei - uns cestos de cobre de desenho sofisticado, muito impróprios, mas eficazes. Foi o instante do apaziguamento.

Arrisquei então sentar-me  no banco molhado com os da geração recente, e apercebi-me de que havia um Castelo Branco que descendia do par mais conturbadamente romântico que conhecemos:  Camilo e Ana Plácido. 

Ofereceu-me um exemplar do livro feito a partir de quatro cartas de Camilo a um seu amigo de Coimbra.  As cartas pitorescas, respeitantes a um exuberante negócio de burro, são muito joviais, o assunto parece uma anedota sem fim.

 

 

 

 

O escritor que estava a viver em S. Miguel de Seide, pensava que os burros minhotos eram mais interessados em questões eróticas do que os coimbrões e ele não queria suportar os excessos passionais e os altos zurros amorosos dos seus vizinhos burros. De modo que, como precisava de burro, encarregava o amigo de lhe comprar um daquela região onde seriam mais intelectuais e tranquilos já que a Universidade devia exercer a sua influência por ali. 

 

 

 

 

Mas eu queria saber outras coisas, como...  se haverá algum traço que ligue o actual Castelo Branco ao seu famoso avô?! Voltarei para lhe perguntar.

 

Fotos da Quinta do Casal, de J.N.

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publicado às 18:40

Cultivar amores perfeitos

por Zilda Cardoso, em 29.08.08

 

 

 

 

Acabei de colar num vidro da minha estante um pequeno cartaz com imagens coloridas, reprodução de pinturas propositadamente ingénuas, de amores perfeitos (refiro-me às flores).

No alto como título em letras maiores, aparece a palavra 

 

                                                                       CULTIVEZ

 

Seguem-se as imagens, doze, de diferentes amores, cores e formas diferenciadas, posições várias, talvez haja alguma relação com as legendas.

Depois das imagens, no fundo do cartaz, aparece no mesmo tipo, tamanho e grossura das letras do título

 

                                                           LES PENSÉES POSITIVES

 

Reproduzo as legendas traduzidas de cada amor e que talvez precisemos todos de fixar:

 

abra o seu coração,     partilhe,    aproveite cada instante,   

sorria interiormente,                                                                                                       

aceite a mudança,    estime-se,     confie em si,     recue,    tenha compaixão,    agradeça,    confie na vida,    seja alegre.

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publicado às 11:09

O Senhor dos Perdidos

por Zilda Cardoso, em 29.08.08

 

 

fanfarra 2

 

Durante duas horas, os amigos estiveram a chegar, a cumprimentar-se com grandes abraços e exclamações. Não se viam desde  o ano anterior, ou desde a última reunião da confraria, ou desde a convenção da associação a que pertenciam... E punham a conversa em dia, muito regada com vinho verde fresquíssimo de bela cor pálida dourada.

Francisco Calheiros e Rosarinho cumprem com gosto a velha tradição do Paço de Calheiros: no dia da festa do Senhor dos Perdidos recebem nos jardins da sua Casa. E os amigos vêm de longe e de perto, do sul e do norte... para se encontrarem naquele lugar da encosta de uma das colinas que circundam a vila; e de onde se avista um dos mais belos e grandiosos cenários do Minho.

O Paço cumpre a tradição, a freguesia não cumpre.

A tradição mandava que a procissão entrasse na propriedade, percorresse o belíssimo terreiro de árvores seculares, passasse junto da fonte de pedra monumental até à frente da capela,  onde havia uma mesa devidamente posta (prolongamento do local sagrado que permitia que toda a gente do terreiro ficasse dentro dele). Nesse momento, o padre saudava os presentes, dava a volta à mesa e saía depois pelo mesmo portão da entrada, seguindo o percurso da aldeia. Era um alvoroço, esse excesso de percurso não parecia incomodar ninguém, excepto os que consideraram humilhantemente feudal entrar na propriedade do senhor. Que de resto tem os portões sempre abertos.

 

 

De modo que a procissão deixou de entrar na propriedade, enquanto o almoço dos amigos continuou a realizar-se, como antes. A procissão, que era pretexto para o almoço, ficou arrumada à distância, substituída por ranchos folclóricos que dançam muito bem e cantam e animam o ambiente com prazer visível e entusiasmo.

 

 

Para o almoço tradicional, cada família leva a especialidade da sua casa, mas os Calheiros oferecem a canja, a feijoada, o vinho, outras iguarias.

No fim, há discursos bem humorados, Francisco Calheiros conta com simplicidade o que de importante ocorreu na sua família desde o ano anterior. 

E chega o momento mais esperado, transcendente: ele abre solenemente as portas da sala das sobremesas e é um deslumbramento de cores e de perfumes, de brilhos e da música suave que cada um ouve dentro de si.

 

jpeg

 

Acreditava se me dissessem que a doçaria tinha sido acabada de preparar nas grandes cozinhas do Paço com ovos frescos de galinhas medievais criadas por ali. Por isso, também creio em quem afirma que come doces apenas uma vez por ano, neste dia, nesta casa.

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publicado às 06:32

Apenas dois dias

por Zilda Cardoso, em 25.08.08

foto de J.Cardoso

 

O que podem ser dois dias na vida de alguém cuja esperança de vida ultrapassa os oitenta? Podem ser algo muito importante e impossível de esquecer. Tive esses dois dias, esta última semana: tentei compreender a vida de jovens muito especiais, olímpicos. Eles andam aí, cruzam-se com qualquer nas ruas, nos cinemas, nas discotecas, nos festivais de música, mas... são tão diferentes!

As qualidades do Salvador Mendes de Almeida estão fora das características que definem a cultura dominante em Portugal, segundo José Miguel Júdice a propósito de Pequim (artigo do Público, na última 6ª feira). Nessa cultura, que é a da maioria de nós, temos direitos e não deveres, o esforço e o sacrifício não são valorizados nem o trabalho nem a formação, o sucesso só cria invejas, somos pouco ambiciosos, desistimos quando não podemos ganhar e somos incapazes de autocrítica já que a culpa dos nossos fracasssos é sempre dos outros, etc. etc.

Porém, o Salvador e os seus amigos contrariaram a cultura dominante ao transformarem para mim aqueles dois dias no tempo maravilhoso do melhor dos mundos. Ouvir os seus pensamentos e apreciar os seus sorrisos, não de protocolo, foi o que de melhor e mais agradável realizei nesse pequeno tempo.

Porque eles estão de bem com o mundo apesar de tudo o que acontece - e muitas coisas nada boas já lhes aconteceram.

Não ficaram à espera: deram o primeiro passo; e valorizam o esforço em geral, trabalham, interessam-se, persistem, acreditam que são capazes.

Enfim, vêem o sol e sabem que ele, que agora se põe, vai voltar a nascer amanhã e a iluminar tudo. Para nosso benefício.

 

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publicado às 15:58

Jogos olímpicos

por Zilda Cardoso, em 23.08.08

Não me importo se os portugueses ganham ou não medalhas de ouro. Não me interessa saber se os chineses têm mais do que os Estados Unidos ou se a União Europeia obteve menos medalhas que a China. Para mim, são questões ociosas.

Jogar, jouer, play é tudo brincar. E brincar é brincar, não é tragédia nem drama sequer, não é choro nem birra, renúncia emocional, desilusão definitiva. Não é sentir-se rejeitado nem marcado por um destino fatal, coisas assim.

Jogar é jogar e é brincar: apenas se compreende com muitos sorrisos e boa disposição.

Por isso, apreciei imenso as jovens chinesas no atletismo, sobretudo na ginástica e na dança. As chinesas e as outras. Gostei de ver até que ponto de perfeição pudemos chegar.

Gostei de ver os nadadores com guelras e sorridentes, tubarões ou apenas grandes peixes nos seus ondulados e elegantíssimos movimentos na água.

Apreciei a atleta russa no salto à vara: os preliminares, a beleza do seu olhar não medusado, o corpo a subir, a subir direito, cada vez mais alto apenas com o impulso da vara e o grande impulso da sua vontade.

A vela, a canoagem, o remo... vi que são desportos muito agradáveis para ver e para praticar.

Não gostei nem gosto da maratona (que me perdoem os gregos!) - considero-a uma prova excessivamente excessiva.

Acho fascinante a corrida dos cem metros, prova muito difícil para os que ambicionam obter um primeiro lugar, mas tão rica de características a cultivar por todos!

Finalmente, adorei assistir ao triplo salto de Nelson Évora, apreciei a atitude do atleta, extraordinária de simplicidade, de inteligência e de saber fazer: o seu corpo voou literalmente como há muitos anos tinha visto Nureyev numa sua dança: o bailarino parava no ar por instantes, não tão poucos, Évora voa com todo o rigor, entre os toques no chão.

Nunca tinha visto nada tão bonito como esse voo do seu corpo de pássaro, cheio de souplesse, de segurança de si e de alegria.

 

 

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publicado às 12:57

Entre culturas

por Zilda Cardoso, em 20.08.08

Foto de J.N.

 

Na casa do Pedro, é evidente o seu interesse pelo budismo. Há magníficos livros sobre o Himalaia, o Tibete, o Bali... com as mais belas imagens destes lugares que é possível imaginar, e que não é possível imaginar. Há almofadas de meditação, um certo ambiente de tranquilidade que não deixa dúvidas apesar do ruído dos aviões que passam sobre a casa de tantos em tantos minutos, e da estridência das ambulâncias-ao-longe que entra pela sala dentro. Os pensamentos dos mestres estão recolhidos nas 365 páginas com imagens coloridas de um livro que está sempre sobre a mesa da sala de estar. As fotografias do Dalai Lama aparecem um pouco por toda a parte à mistura com as pinturas e as fotografias de arte que mais aprecia.

Há alguns anos que o Pedro estuda com gosto a filosofia, a ética e as técnicas de meditação dos mestres tibetanos. Procura seguir os seus ensinamentos e, sem dúvida, a sua visão do mundo - a maneira de pensar, de entender, de sentir, de experimentar - alterou-se. 

Ele não pensa só em si, e também não pensa só nos outros, aprendeu que "não existe felicidade individual" e que há uma ligação entre a felicidade interior que procura  e a dos que o rodeiam. 

Faz o possível por não perder o seu laço com a natureza apesar dos computadores e de todas as outras máquinas que tem de utilizar. Interessa-se pelas plantas, pelo seu jardim que neste momento sofre a sua ausência (pediu-me que o regasse). As copas altas das árvores recortam-se permanentemente no céu azul e é isso que avistámos da sua sala, lugar onde há luz  vinte e quatro horas por dia.

No presente, o Pedro tem consciência clara de muitas coisas de que não se apercebia antes, e sabe que é preciso uma disciplina constante para renunciar aos velhos hábitos mentais.

Continuará, julgo eu, à procura da sua paz de espírito, mas agora reconhece que ela "tem raízes no afecto e na compaixão". E que é necessário praticar muito para se ser mestre nesta arte de viver feliz. O segredo pode ser aprender a dominar as emoções dolorosas - a cólera, a ambição desmedida, o desejo, o orgulho, o ciúme, o ressentimento... Além de que é apaziguante saber que "um inimigo é uma coisa rara".

Ele procura o equilíbrio entre duas culturas: uma que não quer abandonar de todo e a outra que o atrai.

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publicado às 13:53

Não acontece nada (2)

por Zilda Cardoso, em 19.08.08

Esperarei que o sol se acenda e ilumine as ruas, espelhe no mar e o torne tranquilo.

Aguardei toda a manhã enquanto escutava o seu rugir de fúria e, como não queria vê-lo de perto assim, nem ver as gaivotas voarem desatinadas em várias direcções nem sentir o vento comandar toda esta loucura, apenas ao fim da tarde, fui ao seu encontro.

Chego muito perto dele, acaricio-o como a animal de estimação, brincamos os dois na praia sossegada. Mas fui pensando que estes passeios à beira-mar já não tinham graça.

Talvez antes, quando ele enrolava e desenrolava sobre si próprio com uma raiva espumosa e dificilmente contida; no tempo em que ele era esse tecido rugoso, ondulante, fugidio com larga orla branca de renda... talvez... se tivesse saído de casa nessa hora....

Com desconsolo, subi a escadaria, da praia para a avenida, como é hábito, e então decidi sentar-me no chão, entre os carris, no pavimento, no meio da rua. Os carros circulavam nos dois lados de mim, num sentido e no outro. O lugar era na encruzilhada, onde podia ver as pessoas que desciam para a praia e as que subiam da praia, e os carros que viravam  em redor de mim, espécie de feliz "rond-point", e subiam a rua perpendicular ao mar.

Estava no centro do mundo (embora ao nível do mar), e nada me passaria despercebido.

O que aconteceu foi que as pessoas começaram a aglomerar-se em volta de mim, com risos largos e olhos muito abertos, em grande excitação. Nas varandas e janelas habitualmente desertas, gente séria e comedida, zombava e gesticulava com vivacidade latina, e eu...

Eu esperava o acontecimento com um sorriso de ponta a ponta, encantada que estava com o borborinho.

De súbito, um polícia surgiu do nada, e dirigiu-se-me, todo curvado para mim, a explicar calmamente que  eu não podia estar ali. E se estava sozinha, e se morava longe, e se me sentia bem, e se dois e dois eram quatro ou quantos eram...

Eu disse: Não se aflija, não precisa afligir-se, estou só a ver se acontece alguma coisa!

"A senhora sabe onde é a sua casa? Quer que a acompanhe?"

Não, obrigada. Eu vou sozinha (estava desolada) e, sim, estou sozinha! É pena que não possa continuar aqui, havia de acontecer alguma coisa!

Pensei que era melhor ficar de bico calado, senão o homem levava-me para um qualquer Magalhães Lemos donde seria difícil sair, segundo se vê repetidamente no cinema. Para poder escapar, tinha que ter extraordinária e habilidosa e organizada inteligência. E podia demorar anos.

Valia mais não provocar o zelo do agente.

Levantei-me e segui na direcção de casa a passo largo, imensamente divertida, enquanto uma afirmação e uma pergunta leve me dançavam na cabeça:

Não acontece nada.

Nada, nada?

 

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publicado às 20:42

O sonho verde dos portuenses

por Zilda Cardoso, em 15.08.08

O Parque da Cidade corresponde muito bem ao sonho dos portuenses terem uma grande zona verde a substituir as pequenas zonas verdes, jardins e quintas, que foram sendo perdidas a favor da construção urbana.

A ligação ao mar tem todo o sentido numa cidade que é porto - ancoradouro, local de partida e de chegada de barcos e de gente, princípio e fim de viagem que em tempos idos se fazia quase exclusivamente por mar.

Esta zona costeira é privilegiada para a prática desportiva, para passeios e entretenimento, para lazer e meditação. Há rochas metamórficas com milhões de anos do Passeio Alegre até ao Castelo do Queijo; há monumentos antigos como a estátua equestre de D. João VI e modernos como a bicicleta monumental que simboliza e enaltece o esforço individual para conseguimento de objectivos preconcebidos. E há a anémona gigante de rede branca e vermelha, voltada para o mar e para o céu, homenagem ao pescador e à industria tradicional e marítima; e há o castelo...

Mas

Custou ver durante anos a anémona esfrangalhada por mau tempo e maus tratos (no presente recuperada com colorido forte e ainda mais bela).

Custa ver a mágica casa art-deco onde esteve o Colégio Luso-Internacional ser vandalizada até não restar pedra sobre pedra, que é o que vai acontecer. O edifício, que há poucos anos, se erguia em terra, no interior, passando a estrada marginal na frente da sua fachada principal,  pede agora socorro de joelhos na praia, passando a estrada por trás dele a uma boa distância e pelas traseiras. É uma casa encantada, deslocada, onde muita coisa interessante pode vir a acontecer, se quisermos.

Custa ver o lixo a correr pelo chão apesar de alguém sempre a apanhá-lo.

Custa ver os baldes  e as cadeiras de bom design de granito e as redes dos cestos de basquete e os candeeiros danificados.

Tudo isso e, no entanto, desde que o vento não sopre com fúria muita gente usufrui o espaço e os equipamentos e exibe um ar feliz.

Será necessário fazer sempre uma campanha de sensibilização das pessoas para a conveniência de utilizar sem destruir? E estimar não só porque é nosso mas especialmente porque é também dos outros? Para outros usarem? Para todos partilharem?

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publicado às 16:40

Crash!!

por Zilda Cardoso, em 13.08.08

Vinha ainda uma vez de Ponte de Lima para o Porto quando reparei que o computador do meu carro marcava o tempo actual de navegação em vez dos quilómetros que duraria o gasóleo do depósito, como é habitual. Deixei tal qual, e fiquei a pensar, sempre de olho no computador, quantos minutos me levaria a viagem com nevoeiro e trânsito de domingo.

Ao chegar ao Castelo do Queijo tinham passado 58 minutos, ao virar para a minha rua, 59. Entrei na garagem e... já agora... queria deixar o carro no seu complicado lugar exactamente aos 60 minutos, nem mais.

Fiz marcha atrás pela milionésima vez naquele sítio e, varrida de todo da memória a coluna quadrada, fui contra ela, e esmurrei consideravelmente o meu carro novo.

Ficou maltratado e eu... consternada, consumida, ralada.

Que me importavam os minutos?! Mas que me importavam...? Era o diabo à solta que espreitava por detrás da coluna espessa e amarela e eu não o vi. Ele ria-se e eu não ouvi senão o crash quando já não havia nada a fazer.

Reparei então no zero vírgula zero zero do écran: eu tinha chegado no tempo previsto!

 

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publicado às 13:30

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