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Agradeço a todos a forma amável como receberam a caloira: sem praxes desagradáveis, tudo bom e construtivo.
A minha escrita como a vossa pode fazer o milagre de dar a conhecer outras escritas que se farão companhia. Para mim, é um mundo que se abre. Sabemos todos que há alguém por detrás da escrita e esse quer comunicar. Talvez se criem amizades, é sempre bom tentar e acreditar que é possível.
Havia um mundo fascinante à minha espera e eu não me tinha aprecebido, ou não tinha tido a coragem de tentar entrar.
Permitam-me uma referência especial à Laurinda Alves cuja boa-vontade, carinho e estímulo têm sido tão importantes para mim. E ao grupo do Sapo - a M. João Nogueira e o Pedro Neves - sempre cheios de paciência para aturar a minha ignorância exacerbada. Espero agora deixá-los um pouco em paz.
Cito um pensamento de Khyentse Rinpoché: "If you encounter happiness, success, prosperity or other favorable conditions, consider them as dreams and illusions, and do not attached to them. If you are stricken by illness, calumny, deprivation, or other physical and mental trials, do not let yourself get discouraged, but rekindle your compassion..."
fez um entusiástico festival de aeronáutica no terreiro da frente da nossa casa.
Por trás dos vidros da sala, olhei fascinada durante muito tempo e depois abri a janela como que... a convidá-las para entrar.
Na realidade, só queria observá-las de mais perto, mais ao vivo, melhor.
Não sei o que entenderam, mas passaram várias vezes na frente dos meus olhos a grande velocidade, rasando o meu nariz, e eu... lembrei-me do filme de Hitchcock The birds. Via-as já procurando qualquer abertura e forçando a entrada, picando-me a cabeça, e o pescoço; e eu ensanguentada e apavorada, tentando proteger as crianças no interior da casa...
Ou quereriam divertir-se comigo e riam-se com o meu medo ou com a minha ingenuidade. Voavam loucamente, cruzando-se, descendo a rasar o saibro do chão, subindo com grande energia e logo em seguida simulavam uma queda no tanque dos peixes vermelhos, em voo picado, looping ou coisa assim.
Enquanto quiseram, tiveram-me ali presa ao seu animadíssimo capricho, pensei se devia fechar de novo a janela e ficar na espécie de redoma ou... permitir que elas se vingassem. Porque de súbito me lembrei de um facto horrível: eu tinha destruído os ninhos de cimento armado que elas insistiam em construir todas as primaveras, ano após ano, no lugar onde estendia a secar a minha roupa branca de cama. Eu não tinha nenhum outro lugar e parece que elas também não. De modo que, envergonhadíssima, eu "mandava alguém executar o meu crime" antes que os ovos fossem postos e impedissem de todo a destruição do ninho.
Fui sempre grande admiradora dessas aves passariformes de peito alto, bem desenhadas e aprumadas no seu impecável fato preto e camisa branca. Sei que devem apressar-se para aprisionar a grande quantidade de insectos de que necessitam para alimentar duas ninhadas que nascem entre Maio e Junho. Daí os seus voos enérgicos e agitados. E todo o vigor que despendem nesse trabalho. E a alegria transbordante.
Vingança? Divertimento? Capricho?
Apenas vida a ser vivida.
Hoje é um dia muito especial para mim. Nasceram :
a) este blog
b) um neto novo
que são, mais ou menos, a oitava e a nona maravilha do mundo.
De ambos tenho imagens; de um e de outro, sei o que dizer.
Estou muito emocionada.
Por isso, não vou escrever mais nada, agora e aqui, que é um lugar onde a promessa é descobrir a lógica dos acontecimentos, seguindo o fio de Ariadne. E como a emoção complica qualquer análise lógica, sinto que não estou em codições de a fazer. Me perdõem.
Estou muito feliz.
Conheci há dias uma senhora com a qual me encontrava com alguma regularidade há trinta anos, em casa de amigos, na minha, na sua. Mas só agora a vi.
Tínhamos recebido convite, meu marido e eu, para a sua festa de aniversário que seria em A Tocha, na Galiza, no hotel onde tinham passado a sua lua de mel, muitos anos antes. O convite era assinado pelo marido, e nele eu vi a primeira surpresa agradável: tudo era feito a partir do gosto e das preferências dela: a Luiza quer, prefere, gosta, diz e então vamos fazer a sua festa tal qual.
Estavam mais de duzentos e cinquenta pessoas exibindo em todos os momentos sorrisos de satisfação e de admiração. No dia, houve passeio de barco, coktail e jantar em ambiente requintado, discreto e muito bonito, à luz das velas. As senhoras estavam muito produzidas como a festejada queria, e os homens com as cores da preferência dela.
A verdadeira surpresa começou para mim, quando o irmão da Luiza fez o seu elogio e recitou um poema brincalhão da sua mulher sobre a extrema energia da cunhada, sempre ligada à electricidade na potência máxima; continuou com os discursos dos filhos e de um neto. As palavras espontâneas do rapazinho de treze anos foram muito engraçadas e comoventes de ternura. Em certo momento, receei que se alongasse, mas ele terminava e logo depois retomava o microfone para afirmar: "Ah, é verdade, esqueci-me de dizer, a minha avó"..."O meu avô... sabem... o marido da minha avó...".e continuava imperturbável.
O ponto alto da festa foi o discurso do marido.
Contou que se conheceram quando ela tinha treze anos e nunca mais deixaram de se ver. Ela disse, "se não casar com este, não caso com mais nenhum", e ele viu o caminho livre quando a mãe dela se apaixonou por ele. Então puderam casar, tinha ela dezoito anos. E assim começou uma vida de cooperação e de paixão que nunca esfriou.
Quando ele esteve em África em missão militar, ela apareceu para organizar a sua casa, apesar da extrema juventude e de estar à espera de bebé. Tem sido assim a inspiradora e dinamizadora de uma vida familiar alargada, sempre disponível e sorridente, generosa e amável para todos.
Quando depois da festa, lhe fui dar um abraço e lhe disse:"não fazia a menor ideia de que estava a tratar com uma grande mulher...", ela respondeu de imediato:"Não faça caso, eles são uns exagerados. Não é nada daquilo!"
Espero que a vida da Luiza, apesar de aqui toscamente esboçada, inspire outras. Voltarei à história para contar alguns pormenores.
Foto de Jorge Cardoso
Descubro um mundo antigo inteiro
de pássaros que cantam
pela transparência da manhã
e fazem em festa os ninhos
nos muros de pedra, nos ciprestes
nas oliveiras, espalhando alegremente
perfumes quentes de roseiras
de morangos silvestres
de frescura de fontes e de brilhos.
O silêncio apenas regressa com o luar.
Então a sombra aquieta-se na noite
e a música é outra e é de longe
ou de mais fundo.
O lugar adormece assim dia após dia
e eu não sei se sonhei se é verdadeiro.
Volto-me para a porta envidraçada e vejo o mar mais impressionista com brilhos intensos aqui e ali, mas menos perturbador. Vejo o mar mais perto de mim.
Se quiser, toco-lhe. É um mar de vidro, impenetrável. Vejo pontos negros, imagino que são redondos. Imagino que são cabeças. E mesclado com as pedras castanhas e esbotenadas, vejo um ramo de gladíolos, uma cesta de frutos. Há garrafas e copos.
Volto-me para o mar, o mesmo, outro.
Aproximo o olhar. Mais perto, mais perto, nenhum corpo há. Há areia. E cor de areia... pernas, braços, troncos. Guarda-sóis e cactos. Panos verdes de relva e uma gigantesca árvore redonda da borracha.
Ainda mais perto, pequenas flores amarelas e... a varanda - a minha varanda de ver o mar.
Foto de Jorge Cardoso
Ela abriu a porta da varanda e as minúsculas pétalas cor de rosa entraram pela sala dentro, rente ao chão, perfumando saborosamente o ambiente.
As roseiras entrelaçavam-se nos ferros da varanda e as flores apareciam de um lado e do outro da grade.
Ficou a pensar se devia ou não varrê-las de novo para fora, para a pedra da varanda...
Deixou-as ficar durante algumas horas e depois... varreu - davam à sala um ar sujo, desacertadamente.
Ilustração de Justo Luís, modificada
Tenho muitas oportunidades de falar de nevoeiro, porque é um estado frequente no meu bairro.
Fico com a ilusão de que o mundo desapareceu e eu estou só, a espreitar e a esperar. A esperar que alguma coisa aconteça ao fim de horas de invisibilidade ou de vazio. Já tem sucedido estar assim dias a fio e eu acho justo que esse tempo seja cortado da nossa vida.
Não deve contar, por exemplo, quando pensamos na idade: tenho estes anos menos aqueles que passei neste sítio desaparecido.
É a única maneira de me sentir feliz e conciliada com ele.
Hoje é o dia da festa na Facha, de Ponte de Lima.
Desde quinta feira, ouvimos os foguetes e a música popular em brados e berros que vêm do alto do monte. Será assim até à noite: não só os foguetes estouram na nossa cabeça, mas também o calor e a entusiástica música gravada e transmitida para quem quer e para quem não quer ouvir.
Da festa religiosa, não tenho muitas notícias, mas da profana nenhuma dúvida me resta, fiquei bem informada. Ela é imposta AOS GRITOS a uma parte considerável da população que não está minimamente interessada.
Um dia será possível reduzir democraticamente os estragos causados...
Sinto-me verdadeiramente aprendiz de feiticeiro com pouco sucesso.
Em cada dez tentativas para entrar e mexer neste novo blog, há uma que resulta, e eu fico exultante. Mas os meus passos, que me parecem sempre os mesmos, com rigor, não resultam de todas as vezes da mesma maneira. Ou antes raramente resultam e, por isso, eu não penetro no mistério. Que é opaco e tem dado cabo das minhas boas intenções de me tornar bloguista compenetrada. E juro que estou interessada.
Porém, deste modo, nunca mais lá chego.
Que pensa o Pedro?
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