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Nunca estive apaixonada pelos livros de António Lobo Antunes. Eram originais de mais e davam trabalho a ler e a entender. Que estúpida!
Reconhecia que era um escritor singular, merecedor de todo o reconhecimento internacional, digno do Prémio Nobel e de todos os prémios, difíceis ou impossíveis. Claro que o lia, mas…
Agora estou caidinha pelas suas magníficas crónicas, sou grande entusiasta delas.
É tão interessante o modo como escreve tão inesperado, surpreendente, comovente, tão subtil, tão BOM!
É tão confortável!
Gostava de escrever assim. Não assim, deste modo. Mas assim… de outro, de outro jeito.
Fecho o livro das crónicas e sorrio para o longe horizontal e nítido, azul e azul, observo as ondas que se desfazem e refazem a todo o momento,
as árvores aqui, o vento que faz dançar as folhas vermelhas nos ramos do Outono...
Penso nas crónicas.
Ele é tão cheio de referências subtis, de recordações de infância e de juventude, de solidão, de tristeza e de silêncio…
Sabe criar o ambiente que quer com pequenas palavras, semi-dispersas como peças quase soltas de uma organização complicada que eu agora destrinço com prazer. E reconheço. Construo um mundo que pode ou não ser o dele - o que ele quis construir. E dou-lhe um sentido, o meu.
Na verdade, a sua crónica é tão sem sentido como certo bailado clássico em pontas. Quero dizer, é expressiva, carregada de emoções, sem história a contar ou quase sem, muito técnica, ligada à arte e à música (de que raramente fala), admirável. Sugere uma atmosfera, talvez um argumento, um episódio solto, um guião, como se diz (acho uma graça!), como qualquer obra de arte, à sua maneira, e é o que eu vou tentar descobrir. Não com gestos e movimentos do corpo, não com palavras mais ou menos declamadas, não com toques nem com sopros em instrumentos musicais, não com pincel e tela e tinta, não com cinzel e pedra dura ou outro material qualquer como cola e recortes de papel, não com câmaras fotográficas, não... senão com palavras simples, claras e eficazes.
Palavras que são uma estratégia segura.
Permito-me distinguir uma crónica deste quinto livro de crónicas - "Ó pastorinha de vitral e bruma" - em que fala da sua mãe em termos extremamente comoventes, um verdadeiro poema de amor.A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.