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PRODÍGIO ARDENTE

por Zilda Cardoso, em 16.11.13

 

 

 

 

É um prodígio ardente o que neste momento desaparece apressadamente no horizonte, na água, melhor dizendo. Em frente a mim.

Sei que não vou ter tempo de preparar a máquina fotográfica, mas vou tentar.

Sem êxito! Quando bato a chapa, ele já mergulhou.

  

 

 

Digo, mergulhou, e fico preocupada.

Quero voltar a vê-lo, mas receio já não ter essa oportunidade: ele vai derreter, dissolver-se rapidamente, já deixou avermelhado o horizonte nas proximidades. É um vermelho misturado com azul e é muito bonito.

Ou talvez volte e não tenha acontecido nada de grave.

Deve ser um processo mecânico ou coisa assim.

E amanhã pelas 5... pelas 6, ele irá surgir, como se nada se tivesse passado, no lado oposto da minha paisagem, a erguer-se lentamente.

Passará sobre mim e voltará a mergulhar depois das cinco naquela água azul transformada em turquesa. Presumo que vá  nadando sem se fatigar, com paciência, por dentro da água; arrefecerá, perderá a cor incendiada e a maior parte do calor e da luz.

Durante doze horas, foi o que antes sucedeu, quero acreditar que é o que vai suceder.

Todavia, não posso deixar de recear que ele se canse, que um dia vá deveras fatigar-se e que não o tenha de volta, que não o tenhamos de volta de manhã, amanhã.

O meu desassossego é se não vamos ter amanhã.

Mas trata-se de um ritual mágico, não pode falhar, que ideia se me meteu na cabeça!

  

 

É como quando, deitada, ouço o meu coração bater com força, arritmicamente, divirto-me com isso e penso como seria engraçado ouvi-lo parar. Gostaria de ouvi-lo parar, de ter consciência desse descontinuar e, naturalmente, de ter conhecimento do que será o instante seguinte.

Penso assim porque estou bem-disposta, vem aí um dia cheio de sol e, à tarde, vou a Serralves ver, pela milionésima vez, o Parque no Outono e espreitar a gigantesca exposição de Cildo Meireles.

 

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publicado às 14:43


1 comentário

De Vicente a 17.11.2013 às 17:37

Coração que bate-bate...
Antes deixes de bater!
Só num relógio é que as horas
Vão passando sem sofrer.

Mario Quintana

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