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Não deixo passar este dia em que vão ser eleitos - a mesa do conselho geral, o conselho fiscal e a direcção do Círculo Literário Agustina Bessa-Luís - sem falar um pouco do que tem sido a minha relação de amizade com a escritora ao longo de muitos anos.
O Círculo Literário A. B.-L. tem por missão estudar e divulgar a obra de um dos melhores escritores portugueses de sempre. E eu gostaria, tal como tenho feito noutras ocasiões, de prestar homenagem a quem, apesar de todas as excecionais características da sua obra, não encontrou o eco que merece e, como diz Eduardo Lourenço, “a que tem direito”.
Talvez, e é essa a ideia da criação do Círculo, esse estado de coisas comece agora a alterar-se: tudo dependerá do dinamismo, interesse e conhecimentos de quem vai dirigir a nova instituição.
Por mim, no momento, quero apenas falar um pouco da minha relação particular com a escritora, da importância de mostrar um lado distinto do seu temperamento, que é um interesse pelos outros, um desejo de ajudar (mas apenas depois de reconhecer as qualidades daqueles a quem ajuda, o que não deixa de ser interessante como reflexão).
Recordo uma entrevista que lhe fiz para O Comércio do Porto onde eu mantinha uma página semanal sobre problemas femininos. Eu própria achei a minha abordagem diferente porque tinha pouco a ver com ressentimentos mas muito com descoberta de novas actividades e ocupações de interesse para as mulheres.
Pode dizer-se que não era feminista? Tínhamos que definir o que entendemos por feminista e ela contribuiu enormemente para revelar esse mundo que é ou era o mundo onde as mulheres se movimentavam e eventualmente abafavam. A sua forma de encarar o tema, e qualquer tema, é sempre inteligente e sábia.
As suas relações comigo foram privilegiadas. Sentia uma cumplicidade nas suas atitudes, um desejo de agradar, sem dúvida e, mais uma vez, uma vontade de apoiar-me que eu, tolamente, nunca quis compreender.
(Vou continuar a falar das visitas, dos chás e do perfume a hortelã que ambas sentíamos quando o carrinho amarelo passava pelos campos e pisava as folhas frescas verdes. E o mundo rescendia).
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