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Da minha longa experiência de vida, concluo que é possível, se me esforçar, manter um pensamento activo em todos os momentos, o que faz que me sinta útil e a contribuir com alternativas para a governação do mundo. Só isso! Talvez escolha cooperar para uma organização social com base no conhecimento.
Também posso deixar-me preguiçar tranquilamente e ficar feliz não pensando em nada e dando um sentido de mediocridade à minha vida. Quero dizer, alargar os períodos de tranquilidade e de meditação, de contemplação para lá de intervalos de descanso e cura de excessos, até quase esvaziar o pensamento... Acontece facilmente naquele período da vida, dito a velhice, em que tudo abranda, como diz Agustina - há um abrandamento na maneira de sentir, de ver, de andar...
Posso pensar que já dei o meu contributo e não preciso preocupar-me mais, não necessito esforçar-me por aí além. Posso ausentar-me, meio-adormecida, deixando tranquilamente morrer os neurónios, um a um…
Não tenho qualquer intenção de o fazer. As ideias surgem-me, muitas, arrebatadas numa barafunda. Parecem surgir do nada e, por alguma razão, me fazem lembrar as legendas nos ecrãs de cinema onde, vindas do nada, acabam por fazer sentido.
Entre parêntesis, devo dizer que não penso que posso fazer milhares de coisas diferentes que não são aquelas que me interessa desenvolver, sobre que me importa escrever e, no entanto, escrever. Não vou pensar que é possível, não é. Tenho as minhas preocupações e as minhas memórias. Ouvirei as minhas vozes ou o meu silêncio o que é o mesmo e farei as perguntas para que não encontro respostas. Isoladamente, sem entremetimentos. E então sim, poderei escrever.
O que acontece quase sempre é que as ideias soltam-se na cabeça e dançam desordenadas, trocam os passos, cruzam-se com desvairo, atropelam-se, até ficarem sem força, gastas, e esvaem-se. Não chegam a fazer sentido, a definir-se.
Tenho muito trabalho depois a pescar as que interessam e fazer de cada uma um novo modelo de desenvolvimento antes que desapareçam de todo: tenho que me esforçar por que ganhem sentido. Diverte-me que surjam assim em catadupa, vindas não sei de onde. Dar-lhes sequência lógica… é obra.
Por vezes não consigo, digamos, a maior parte das vezes não obtenho o que quero, isto é, escrever como ninguém escreveu antes, avançar o pensamento e a sensibilidade, cumprir um projecto. Isso causa-me sofrimento, como quando quero escrever e há as tais milhares de coisas sem valor para fazer.
E, sim, tudo acontece lentamente, agora, verifico por mim, comigo, mas posso manipular razoavelmente o meu pensamento. Posso pensar e aprofundar e levá-lo muito longe, esforçando-me. Ou deixá-lo morrer. Como quiser.
Posso juntar-me ao grupo mais interessante dos “mentirosos” – o dos artistas em que incluo os escritores. Pensei em Agustina e na Yourcenar, ambas admiráveis, muito inteligentes e cultas, mulheres que apreciaria interrogar.
Posso fazê-lo através dos seus livros e conversas. Agustina diz que tenta dar as respostas certas, Yourcenar acha que tem que manter os olhos abertos.
É verdade o que dizem… o que contam? Vou ver. Vou aprofundar.
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