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Reflectir sobre as coisas... faz o cérebro funcionar

por Zilda Cardoso, em 16.01.13

Da minha longa experiência de vida, concluo que é possível, se me esforçar, manter um pensamento activo em todos os momentos, o que faz que me sinta útil e a contribuir com alternativas para a governação do mundo. Só isso! Talvez escolha cooperar para uma organização social com base no conhecimento.

Também posso deixar-me preguiçar tranquilamente e ficar feliz não pensando em nada e dando um sentido de mediocridade à minha vida. Quero dizer, alargar os períodos de tranquilidade e de meditação, de contemplação para lá de intervalos de descanso e cura de excessos, até quase esvaziar o pensamento... Acontece facilmente naquele período da vida, dito a velhice, em que tudo abranda, como diz Agustina - há um abrandamento na maneira de sentir, de ver, de andar...

Posso pensar que já dei o meu contributo e não preciso preocupar-me mais, não necessito esforçar-me por aí além. Posso ausentar-me, meio-adormecida, deixando tranquilamente morrer os neurónios, um a um…

Não tenho qualquer intenção de o fazer. As ideias surgem-me, muitas, arrebatadas numa barafunda. Parecem surgir do nada e, por alguma razão, me fazem lembrar as legendas nos ecrãs de cinema onde, vindas do nada, acabam por fazer sentido.

Entre parêntesis, devo dizer que não penso que posso fazer milhares de coisas diferentes que não são aquelas que me interessa desenvolver, sobre que me importa escrever e, no entanto, escrever. Não vou pensar que é possível, não é. Tenho as minhas preocupações e as minhas memórias. Ouvirei as minhas vozes ou o meu silêncio o que é o mesmo e farei as perguntas para que não encontro respostas. Isoladamente, sem entremetimentos. E então sim, poderei escrever.

O que acontece quase sempre é que as ideias soltam-se na cabeça e dançam desordenadas, trocam os passos, cruzam-se com desvairo, atropelam-se, até ficarem sem força, gastas, e esvaem-se. Não chegam a fazer sentido, a definir-se.

Tenho muito trabalho depois a pescar as que interessam e fazer de cada uma um novo modelo de desenvolvimento antes que desapareçam de todo: tenho que me esforçar por que ganhem sentido. Diverte-me que surjam assim em catadupa, vindas não sei de onde. Dar-lhes sequência lógica… é obra.

Por vezes não consigo, digamos, a maior parte das vezes não obtenho o que quero, isto é, escrever como ninguém escreveu antes, avançar o pensamento e a sensibilidade, cumprir um projecto. Isso causa-me sofrimento, como quando quero escrever e há as tais milhares de coisas sem valor para fazer.

E, sim, tudo acontece lentamente, agora, verifico por mim, comigo, mas posso manipular razoavelmente o meu pensamento. Posso pensar e aprofundar e levá-lo muito longe, esforçando-me. Ou deixá-lo morrer. Como quiser.

Posso juntar-me ao grupo mais interessante dos “mentirosos” – o dos artistas em que incluo os escritores. Pensei em Agustina e na Yourcenar, ambas admiráveis, muito inteligentes e cultas, mulheres que apreciaria interrogar.

Posso fazê-lo através dos seus livros e conversas. Agustina diz que tenta dar as respostas certas, Yourcenar acha que tem que manter os olhos abertos.

É verdade o que dizem… o que contam? Vou ver. Vou aprofundar.

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publicado às 20:17


16 comentários

De Vicente a 17.01.2013 às 17:31

Na vida humana, nem o bem-estar nem a felicidade duram muito. Quando eram felizes, os antigos temiam a inveja dos deuses. Mas não é preciso invocar os deuses; a inveja dos homens basta.

É fácil passar do aplauso ao pelourinho, da glória ao insulto. Sócrates foi condenado à morte, Cipião ao exílio, Galileu foi preso, Lavoisier, o criador da química, foi guilhotinado rodeado dos insultos do povo.

No entanto, a maior parte das vezes não é por causa da inveja que a nossa prosperidade e a nossa felicidade têm fim, mas por acidente, por causa de uma doença grave ou de um desastre económico.

Seja como for, o trauma é sempre repentino, inesperado, e nós reagimos com incredulidade. Parece um pesadelo e parece que em breve vamos acordar. Esforçamo-nos por continuar a nossa vida normal, só que aos poucos percebemos que a ansiedade não é um sonho, mas a realidade.

Para superarmos o trauma, para continuarmos a viver, para encontrarmos paz de espírito, só há um caminho: aceitar a nova situação, compreendê-la, adaptar-se a ela. É como sermos abandonados num novo mundo, desconhecido; não podemos manter os hábitos do passado e deixar-nos paralisar pela nostalgia.

Temos de aprender rapidamente a viver no novo ambiente, a estudá-lo, a perceber as oportunidades que nos oferece, a construir algo de novo nele.

Esta atitude serve, por exemplo, para enfrentar uma doença que nos obriga a tratamentos prolongados que nos deixam debilitados e nos força a mudar completamente de hábitos. Contudo, também se aplica quando ficamos sem um emprego e temos de aceitar outro mais humilde.

Lembro-me de alguns amigos intelectuais húngaros que emigraram depois da revolução: alguns conseguiram continuar a trabalhar em universidades, outros tiveram de passar para actividades comerciais.

Os judeus educados dos países de Leste foram obrigados a fugir da pobreza, das perseguições, dos massacres. Quando chegaram ao Novo Mundo tornaram-se comerciantes, banqueiros, joalheiros, escritores, músicos, cineastas, criaram Hollywood.

Tudo isto se aplica de uma forma muito particular hoje, com a globalização, a concorrência da China, o rápido desenvolvimento tecnológico. Em pouco tempo, a sociedade transformou--se e os velhos ofícios, os velhos negócios desapareceram. A escola continua a preparar os estudantes para profissões que já não existem. Neste território desconhecido, que devemos fazer?

Observar as pessoas, ver o que lhes faz falta, de que precisam: há oportunidades, necessidade de novas profissões. Não devemos ir para onde vão todos os outros, mas sim para onde vão apenas alguns e onde a procura é maior.

Francesco Alberoni
Jornalista e sociólogo

De Isabel Maia Jácome a 17.01.2013 às 21:24

Como me entristece o meu silêncio... e como sinto necessidade dele!...
...Contraditório? Fase que se estende? Cansaço? Preguiça de ultrapassar ou vencer esse cansaço feito de tanto que me soa a quase nada???
Insatisfação permanente esta... mas que ainda me bloqueia. Abraço amigo... ABRAÇO que preciso e agradeço...
Obrigada, Zilda
Sempre,
Isabel

De Zilda Cardoso a 18.01.2013 às 08:04

O silêncio pode ser muito preenchido com as nossas vozes. É dessas vozes ou do nosso silêncio que partem os nossos projectos para a vida. São feitos das preocupações e das memórias, e aí está tudo que constitui a nossa visão do mundo. Tudo o que somos.
Quando perdemos a memória... deixamos de ser.
Adoro o silêncio cheiinho destas coisas.
Um grande abraço, Isabel, daqueles.

De Isabel Maia Jácome a 18.01.2013 às 23:58

Preencher o silêncio

Preencho o silêncio, sim…
vozes, imagens
memórias e vidas por viver
preencho a cada passo
queira ou não esquecer,
todas as vidas que em mim cabem
todas as palavras que possa
enfim, escrever.

Isabel Maia Jácome

Obrigada, Zilda. As suas palavras, a sua presença, a sua amizade, fazem-me bem. Abraço mesmo!!! SEMPRE!!!, Isabel

De Fábio Gomes a 18.01.2013 às 17:01

É tudo compreensível, mas o novo modelo de desenvolvimento de uma ideia, de uma quebra de preconceito ou o que quer que seja se estrutura assim, quase que sem querer. Eu costumo deixar as ideias soltarem-se na cabeça e dançarem desordenadas o quanto elas puderem. Essa é a nossa metodologia desordenada. Dê graças por isso! Na verdade, nossas ideias se soltam para se chocarem com os acontecimentos imprevisíveis, daí elas ganham sentindo e independência. Tomam rumos diferentes dos quais a gente achava que iriam tomar. Quando a gente percebe, a compreensão se torna doce e incontestável. É claro, nem sempre aplaudida pelos ignorantes que se escondem atrás das falácias dos mais ignorantes que as criaram. Mas sabemos que os nossos conceitos sofreram lapidação e comprovação e que a nossa base é sólida!

De Zilda Cardoso a 18.01.2013 às 17:30

Que doce ouvi-lo! Que bom saber que é bom ter as ideias a dançar desordenadas. Que bom saber que a compreensão virá sem dúvida e tudo ficará definido.
Temos que discutir estes assuntos.

De Vicente a 18.01.2013 às 17:12

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos":

Fernando Pessoa

De Zilda Cardoso a 18.01.2013 às 17:31

Tenho agora o Fernando Pessoa e outros ilustres a comentar o meu blogue?! Que honra!

De Isabel Maia Jácome a 19.01.2013 às 00:02

:) Não posso deixar de sorrir, sempre, quando os leio!
Um abraço cheínho de carinho para os dois!!!
Cada um de sua forma me faz tanto bem!...
Obrigada.
Isabel

De Fábio Gomes a 19.01.2013 às 16:53

Tem uma explicação racional para isso... Ainda existem pessoas que escrevem com a alma e com o coração e não só com a mão. É gratificante vasculhar a internet e saber que ainda existem pessoas que produzem! Que Deus multiplique esses seres humanos!

De Vicente a 19.01.2013 às 20:22

Ora tome, mais um:

Deve haver um lugar onde um braço
E outro braço sejam mais que dois braços
Um ardor de folhas mordidas pela chuva,
A manhã perto nem que seja de rastos.

Eugénio de Andrade

De Marcolino a 20.01.2013 às 12:54

Olá Zilda!
Retive: «há um abrandamento na maneira de sentir, de ver, de andar...».
É fundamental, e salutar, reforça-nos a felicidade para continuarmos a nossa caminhada, de braço dado com a deliciosa velhice.
Abraço de bom fim de semana
Marcolino

De Vicente a 22.01.2013 às 15:28

Temos a mesma pele,
descobri anos depois.
É isso que nos impele
a sermos um, sendo dois.
Amar é ter a mesma pele,
o resto vem depois
(e não falo da cor,
que é indiferente no amor).

Torquato da Luz

Naturalmente que me refiro à pele de galinha....ahaahah

De Vicente a 24.01.2013 às 21:40

Que máquina estranha é o homem. Você abastece-o com pão, vinho, peixe e rabanetes e o que sai são suspiros, risadas e sonhos.

Nikos Kazantzakis

De Zilda Cardoso a 26.01.2013 às 08:50

Que boa reflexão! Optimista e inteligente. Não sairá mais nada além de
suspiros, risadas e sonhos?!
Nada do que está a pensar, mas... lágrimas, p.e.?

De Vicente a 27.01.2013 às 16:35

lágrimas de crocodilo, sim, há muita gente que as chora...mentirosos!

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